POV RENESMEE

  Eu estava muito confusa com tudo o que aconteceu, o beijo que eu havia dado em Jacob passava em minha mente a todo instante, o gosto dele ainda estava na minha boca. Por Deus!Que beijo foi aquele?

  Queria muito sentir seus lábios sobre os meus novamente, queria isso desesperadamente, mas eu tinha muito medo; muitas mulheres no meu lugar poderiam achar isso uma grande besteira da minha parte, mas as coisas não são assim, eu estou sozinha nesse mundo, achava que poderia contar com Nahuel, mas foi graças a ele que eu vim parar aqui, nunca me apaixonei, eu não sabia o que é amar uma pessoa desse jeito, isso me assusta, se eu me entregar para Jacob e ele acabar me largando depois eu sei que vou sofrer muito, vai ser como cair de um precipício, e não vai ter ninguém para me estender a mão. De todo jeito é muito difícil reprimir esse amor que eu sinto por ele.

  Quando controlei meus ânimos decidi parar de pensar em toda a loucura que tinha se tornado minha vida e fiquei até o almoço na biblioteca. A Claire veio me avisar que o almoço já estava na mesa, eu senti meu coração acelerar e minhas mãos começaram a suar, eu ficaria cara a cara com ele de novo, Senhor me dá forças!

  Ao chegar à sala de jantar me sentei no mesmo lugar que no café, ele já estava no lugar dele; deu para notar que minha escolha de ficar longe o contrariou, mas ele não se pronunciou. Comemos em silêncio e ao terminar eu fui para o quarto; assim que cheguei lá me direcionei para a varanda, em seguida ouvi a porta sendo aberta e logo depois sendo fechada, sabia que se tratava dele, mas mesmo assim minhas pernas tremeram ao ouvir sua voz bem do meu lado:

-Você gosta mesmo daqui hein!

-É esse lugar além de muito bonito me traz uma paz que há muito não sentia.

-Hum. Você é diferente de todas as mulheres que eu conheci.

-Como assim?

-Você pensa muito, é bem racional, do tipo que não se deixa levar por impulsos. Isso é sinal de que você já sofreu grandes perdas, e tem medo de se machucar.

Quando ele disse isso eu dei um sorriso seco me virei para ele e disse:

-Você constatou isso lendo minha ficha?

-Não!Não existe “sua ficha”. Eu seguia o seu ex-noivo e vi vocês juntos, mas não fiz uma investigação tão ampla sobre você, só sabia onde você morava e onde trabalhava. Mas eu sei que não errei nas minhas conclusões.

Eu me virei para frente lentamente, ele realmente me decifrou. Como eu não falei nada ele continuou:

-Quem foi?

-Quem foi o que?

-Que você perdeu.

Eu abaixei a cabeça, suspirei fundo e respondi:

-Meus pais.

-Nossa!Eu sinto muito.

-Sério?Você não parece o tipo de cara que se importa com os sentimentos alheios, ou o tipo de pessoa que se comoveria com isso.

-Eu não sou o cara sem coração que você pensa sabe? Eu tenho uma família que eu amo muito, imagino como deve ser difícil perder os pais, eu me sentiria desorientado sem os meus.

-Desculpa por ter falado aquilo. -falei quase chorando.

-Imagina!Sem problemas. Mas me conta mais sobre seus pais, se isso não te incomoda claro.

-Não incomoda mais, eu prefiro lembrar das coisas boas, dos momentos bons. Os meus pais eram as pessoas mais amorosas que eu já conheci, eles eram muito ligados, de longe dava para perceber que eles se amavam, sempre me apoiaram em tudo, cada conquista minha foi dedicada aos dois, mas há dois anos eles sofreram um acidente de carro e morreram, eu nunca sofri tanto em toda minha vida como naquele dia. Sabe eu nem sempre fui assim, como você fala “tão racional”, eu me divertia mais, eu era feliz, mas comecei a ver o mundo e a vida por outra perspectiva quando perdi os dois.

-Você deve ter sofrido muito...

-Ah sofri sim!Quando eles se foram quem me deu apoio foi o Nahuel.

Vi que Jacob fechou os punhos com força e fechou a cara.

-Você ainda é apaixonada por ele não é?

-Não!Eu nunca fui apaixonada por ele.

Notei que ele relaxou automaticamente, mas seu rosto possuía uma expressão de dúvida:

-Como?

-Eu nunca amei o Nahuel.

-Então por que ia se casar com ele?

-Bom, nós namorávamos desde o colegial e continuamos enquanto eu fazia faculdade. Meus pais não eram muito fãs do nosso relacionamento, minha mãe dizia que ele não era homem para mim, que eu não seria feliz ao lado dele, eu já estava começando a considerar tudo o que eles me diziam quando eu percebi que estava com o Nahuel por hábito, não por amor, mas aí meus pais morreram e ele era a pessoa mais próxima de mim na época, e foi em quem eu me apoiei quando o meu mundo acabou. Depois disso eu decidi continuar com o Nahuel,por puro comodismo da minha parte.

-Por isso você nunca foi para a cama com ele?

-É, eu sempre dizia que queria me casar virgem, mas era um jeito de escapar dele até nosso casamento, minha mãe teve a primeira vez dela como meu pai, e foi por amor sabe?Eu queria isso para mim, mas também sabia que não era com Nahuel que eu iria encontrar, então evitaria até quando fosse inevitável, no caso, até estarmos casados; mas enquanto eu não cedia ele procurava em outras.

-E você sabendo continuava com ele?-perguntou espantado.

-Sim!Eu nunca liguei na verdade.

-Caramba!Você realmente não gostava dele.

-Mas e você?

-Eu o que?

-Como era a sua vida?

-Minha vida? Eu fui um garoto normal até os 19 anos, foi quando eu entrei para esse mundo. Meu pai comandava o rede de tráfico, mas ele começou a ter complicações de saúde, e não podia ter muitos aborrecimentos, o que nesse meio é o que não falta, então eu assumi o lugar dele.

-Como você encarou isso?

-No início foi muito complicado, eu não queria isso para mim, mas meu pai precisava da minha ajuda, eu não ia simplesmente ignorar. Depois eu me acostumei, vi que era isso que eu era, e resolvi fazer as coisas direito, então me dediquei aos “negócios”. Isso afeta muito seu lado sentimental, eu virei uma pessoa fria e calculista, só me importava comigo ou minha família. Mas isso foi antes.

-Antes do que?

Ele olhou para mim e deu um leve sorriso.

-Tudo há seu tempo pequena!Mas me diz, você é médica certo?Em que área você se especializou?

-Cardiologia, desde que eu entrei para a faculdade sabia que esse era o ramo que eu iria seguir.Qual seu passa tempo predileto?

-Antes eu amava mexer com carros e andar de moto, eu ia fazer engenharia mecânica.E você?

-Bom eu gosto de muitas coisas: assistir bons filmes, ler bons livros, amo ir à praia e pode parecer infantil, mas eu amava ir para o parque de diversões.

-Nossa!A renomada cardiologista gostava de ir ao parque?-falou rindo

-Gostava sim!Lá eu me sentia livre, e sempre me trazia lembranças boas.

-Hum, interessante.Hoje à noite nós vamos à casa dos meus pais e vamos jantar lá.

-Por quê?

-Faz tempo que não visito os dois.

-E por que quer que eu vá?

-Eu quero que eles te conheçam.

-Continuo sem entender.

-Como eu já te disse, tudo há seu tempo, ah!Mas não vista nada formal, quando sairmos de lá eu tenho uma surpresa para você.-falou saindo do quarto.

  Eu fiquei sem entender nada, por que ele quer que eu conheça os pais dele?E que surpresa é essa?

   O Jacob está misterioso de mais para o meu gosto.