Acordei com uma enorme dor de cabeça, pressentindo que algo bom aconteceria hoje. Encontrei Seth na sala, resolvi falar com ele.

-Seth, posso falar com você?- perguntei educadamente. Ele desvirou os olhos da tv e grudou-os em mim, com expectativa, respirei fundo e comecei a falar.- Queria lhe agradecer.- eu disse, ele sorriu.- só não sei o que posso fazer.

                Ele pareceu pensar um pouco.

-Venha passear comigo hoje.- ele disse. Sorri.-  Claro, se você quiser.

-Já volto, vou trocar de roupa.- Seth sorriu e voltou a olhar tv. Voltei para o meu quarto, coloquei um biquíni rosa e um vestido branco por cima, olhei me um pouco no espelho e decidi amarrar os cabelos, prendi-os em um coque alto.

                Eu já estava na porta da sala de música quando esbarei em Anthony, que carregava um bolo enorme, como resultado eu fiquei completamente cheia de bolo.

-Droga, Anthony!- esbravejei.

                Não demorou para que todos estivessem ali. Ephraim fazia algumas piadinhas, mas nenhuma delas se comparou com a de Nahuel, que acabara de chegar do mercado.

-O que aconteceu aqui?- ele perguntou surpreso, começou a rir quando percebeu. Percebendo minha irritação ele parou de rir.- Nossa, Mabel, acho que você nunca esteve tão gostosa.- falou após passar a mão em meu ombro coberto de glacê. Todos pararam de rir e Seth rosnou alto, Sally acompanhou-o.

                Meu pai olhava irritado para Nahuel, assim como Anthony e Ephraim. Foi minha vez de rir, não da minha família ou da piadinha, mas sim da cara de assustado de Nahuel.

-Vou trocar de roupa- eu avisei tentando de todas as formas sair daquele local, a tensão ali era palpável.- E vocês limpem isso. –todos continuavam fitando Nahuel com raiva.- Vem, Nahuel!- nós vamos sair com Sally e Seth.- pisquei para eles.- vamos procurar uma roupa para você.- Nahuel assentiu e eu pisquei para Seth.

                Eu ainda estava irritada com Sally, triste na verdade, mas algo me dizia que Nahuel gostava dela, de uma forma bem estranha, mas gostava, e tudo que eu não queria é que meu melhor amigo sofresse.

                Eu coloquei outro vestido e Nahuel colocou uma regata branca e uma bermuda jeans. Descemos as escadas conversando, alheio a tudo, até o momento em que eu tropecei, cairia com tudo no chão se Nahuel não me segurasse. O clima ficou estranho, nossos rostos estavam muito próximos, eu podia sentir sua respiração acelerada próximo ao meu nariz. Sentimos um presença ao nosso redor, sabíamos que eram Nahuel e Sally, coloquei minha mão na bochecha de Nahuel.

-Que situação estranha.- ele pensou,divertido.

-Nem fala.- retribui.- Vamos dar um susto neles, acho que eles pensam que somos namorados. Nahuel pareceu gostar da ideia, fitei Sally pelo canto do olho e não pude deixar de lembrar do acontecimento com Seth. Nahuel olhou me horrorizado e rosnou baixinho, para que só nós ouvíssemos.

                Aproximei mais nossos rostos e, quando nossas bocas estavam quase coladas comecei a rir, seguida por Nahuel. Seth e Sally nos olharam surpresos.

-Vamos logo, antes que a Mabel caia de novo.- mostrei-lhe a língua.

                O caminho todo até a praia foi percorrido em silêncio, em vários momentos eu quis rir, acho que Seth e Sally ficaram um pouco brabos conosco, eu e Nahuel conversamos mentalmente durante boa parte do caminho.

                Nahuel parecia um pouco tenso, como se estivesse irritado, mas eu sabia que não era comigo, mesmo assim, era por minha culpa. Descemos do carro e andamos até a beira da praia.

-Quem vai entrar no mar comigo?- perguntei para eles. Seth olhou-me sério.

-Você vai ficar longe do mar.- advertiu, olhei-o debochada. Dei-lhe um sorriso malicioso e corri em direção ao mar, Seth correu atrás de mim, meu riso era bem audível, tive a certeza de ter visto Seth sorrir quando a primeira onda o atingiu. Fui mais para o fundo, até ser consumida pelas ondas, ainda podia ver Sally e Nahuel na praia, eles não me pareciam muito bem.

                Procurei Seth por todo o lado, quando não o encontrei me desesperei, comecei a chamar seu nome, mas ninguém parecia me ouvir. Senti as lágrimas vindo, até que braços quentes me envolveram, virei-me e abracei-o com todas as minhas forças.

-Calma, eu estou bem.- ele disse calmo.- Tentei te dar um susto, mas acho que peguei pesado.-Ele disse, assenti.

                Olhei para cima e vi aqueles grandes olhos negros me fitando. Aproximamos nossos rostos, estávamos quase tocando nossos lábios quando ouvimos uma discussão. Afastei-me depressa e corri meus olhos pela praia, pude ver Nahuel e Sally alterados. Olhei Seth por um segundos, desvencilhei-me de seus braços e só então nadei até a praia.

                Nahuel gritava com Sally.

-Por que eu prefiro ela!- ele gritou.- Vou ficar sempre ao lado dela, eu amo a Sarah, ela é tudo para mim, sempre foi e sempre será!- ele gritou, lembrei-me que Nahuel havia visto minha discussão com Sally, suspirei e caminhei até eles.- eu te odeio, Sally.-ele gritou no ápice de sua raiva.- Te odeio por desgraçar a vida de Renesmee, por ser o motivo de Sarah e Anthony não terem um pai, por destruir tudo, odeio a você e seu irmão, mas principalmente a você, porque Ephraim protege Sarah, age como um irmão para com ela, enquanto tudo o que você faz é tentar derrubá-la!

-Já chega, Nahuel!- gritei, estava mais irritada comigo mesma do que com ele. Era tudo culpa minha.- Não diga coisas que não sente, vai arrepender-se depois. Sabe disso.- Nahuel me olhou com raiva. Corri até Sally e a abracei, Seth olhou-me incrédulo.- Anda, Nahuel! Peça-lhe desculpas.- senti meus olhos queimarem e uma luz emanar de mim, pensei ser fruto de minha imaginação, por isso ignorei, não podia estar acontecendo novamente, eu treinei muito para controlar meus poderes.- Nahuel!- gritei novamente. Sally chorava muito, Nahuel apenas olhava-me surpreso, assim como Seth.

-Sarah, seus olhos!- Nahuel gritou. Fechei-os com força.- Nahuel, por favor!- gritei. Ele correu até mim e tirou Sally de meus braços. Eu olhei-o com calma e suspirei.- Prometa-me.- pedi, ele assentiu e levou Sally para longe de nós.

                Senti a areia abaixo de meus joelhos,logo braços quentes me envolviam.

-Sarah, você está bem?- ele perguntou preocupado. Assenti. Senti a luz ao meu redor ficar cada vez mais fraca e meus olhos pararem de arder. Olhei-o com um meio sorriso, Seth ainda estava preocupado. Eu abracei-o com toda a força que me restou. Seth era meu porto seguro, era nele que eu confiava, o único que eu amava. Virei-me para ele e sorri, ele retribuiu colocando uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha.

-Desculpe fazer você passar por tudo isso.- eu disse rindo. Ele balançou a cabeça negativamente.

-Não é culpa sua. Você só tem um imã para problemas.- Ele disse pensativo, ri dele e bati levemente em seu braço.

                Lentamente nossas risadas foram cessando, nos encaramos por alguns segundos e aproximamos nossos rostos, seus olhos prendiam os meus como enormes imãs negros. Sua boca tocou levemente a minha, sorri ao toque, Seth fez o mesmo. Minha mão foi para seu cabelo e a dele foi para minha cintura, beijamo-nos mais um pouco, encerramo-lo com diversos selinhos.

                Seth pegou minha mão e puxou-me para uma caminhada, ele entrelaçou nossos dedos, caminhamos a beira mar. Eu olhava a paisagem ao nosso redor, Seth me parecia pensativo.

-Pergunte.- eu disse, de repente. Paramos de andar, ele olhou me confuso por alguns minutos, só então tomou fôlego e perguntou:

- O que você tem com o Nahuel?- Ele parecia preocupado, meio temeroso. Eu ri. Sentamo-nos na areia e eu fitei o vasto oceano.- Sabe, de manhã vocês estavam quase se beijando e, sei lá. Não sei o que vocês sentem um pelo outro. Sinceramente não sei.- fitei-o por um segundo, depois voltei a fitar o oceano. Seth tentou se levantar, mas eu puxei-o de volta.

- Nahuel é muito importante pra mim e para Anthony, Seth.- eu disse sem fita-lo.- Não mentir para você e dizer que não o amo, eu amo Nahuel, sempre vou amar.- Seth ficou tenso, passei minha mão por seu ombro e forcei-o a me encarar.- Nahuel é meu pai, Seth.- eu disse calma, ele me fitou curioso.- É assim que eu o vejo, ele e minha mãe namoraram por uns anos, eles não se amavam, mas eram muito amigos, e ele a fazia feliz.- voltei a fitar o mar.- Desde então eu o chamo de pai, é pra ele que eu mando meus presentes, eu costumava vê-lo todo o mês quando morávamos no Brasil, foi ele que me treinou e foi ele quem me ensinou tudo o que sei.- Seth abraçou-me e beijou o topo de minha cabeça.

- Ele é o impriting de Sally.- Seth disse cheirando meu cabelo.

-Eu sei.- respondi virando-me para encará-lo.- Sem querer deixei que Nahuel visse o que ela fez, acho que ele agiu por instinto. Nahuel me trata com filha, foi só esse ano que parei de chama-lo de pai. Nós somos muito ligados, e só o fato de me ver sofrer já o fez pirar, acho que isso sempre vai ser assim.

Seth beijou-me. Beijei-o. Beijamo-nos.

Sorrimos.

Voltamos para casa de mãos dadas, sem pressa.

-Soube que tem poderes.- ele disse quebrando o silêncio.

Assenti, temerosa. Não queria que Seth soubesse dessa parte da minha vida, meus poderes eram muito bons, sim, mas eu não me orgulhava deles, nem um pouco, mesmo eles tento me salvo de diversos problemas.

-Tenho sim.- disse simplesmente. Não queria prolongar o assunto, não era algo que me agradasse.

-Pode me dizer?- ele perguntou me parando. Suspirei.

-Sou uma manipuladora e clono poderes.- eu disse rapidamente. Comecei a caminhar mais rápido, porém Seth parou em minha frente. Suspirei novamente.- Ande, Seth. Quero passar!- estava irritada, Seth finalmente havia conseguido.

- Por que está fugindo de mim?- ele perguntou-me triste.

-Ora, Seth, não estou fugindo de você.- ele me olhou desconfiado.- É sério.- suspirei.- Olha, não gosto de falar sobre meus poderes, não é algo que me orgulhe. Acha que ser uma manipuladora é legal? Eu não gosto de entrar na mente das pessoas, mesmo sabendo que posso e o lance de clonar poderes...Olha, ler mentes é para o meu avô e bloqueá-las é para a minha avó, geralmente eu só posso usar os poderes que clonei por alguns meses ou no máximo um ano e meio, só que quando eu clonei os poderes de meu avô e de minha avó eles não foram embora, ainda tenho eles, Seth. Deve ser por causa do sangue, sei lá.- eu falava enquanto caminhava rapidamente, eu estava claramente nervosa, qualquer um poderia ver.

                Só percebi que estava correndo quando parei em frente a minha casa, as luzes estavam ligadas, e algo me dizia que meu pai espiava pela janela. Eu já estava abrindo a porta quando Seth me chamou.

-Sem beijo de boa noite?- ele perguntou meio chateado. Desci as escadas correndo e me joguei em seus braços, ficamos ali por mais alguns minutos e então eu entrei, meu pai me esperava com o rosto severo.