-Mamãe!- exclamei. Corri até ela e a abracei com toda a minha força. Ela me abraçou ternamente, em seu rosto não haviam marcas de lágrimas, mamãe não chorava há um bom tempo.

-Seja forte.- Mamãe disse-me através de seu dom, para que só nós soubéssemos. Assenti. Desvencilhei-me dos braços de minha mãe, ela deu um sorriso fraco para mim.

-Nessie.- Meu pai sussurrou maravilhado. Pude ver um brilho de alegria passar por seus tristes olhos negros.

-Olá, Jacob.- minha mãe cumprimentou, fria. A esperança pareceu sumir dos olhos do meu pai, que ficaram opacos, desfocados, vidradiços. Minha mãe olhou para Sally.- Essa deve ser sua filha.- supôs. Sally empinou o rosto, como forma de superioridade. Papai assentiu.- É muito parecida com a mãe.- Disse encarando-a.- Em todos os sentidos.- Concluiu.

                Eu sabia o quanto aquilo deveria ter ferido Sally, já que ela odiava a mãe. Se é que Leah poderia ser chamada assim. Porém ela apenas se manteve quieta, nem ela se atreveria a ir contra minha mãe.

-E onde está Leah?- Perguntou subitamente.- Creio que devo parabeniza-la por educar tão bem seus filhos.- Suspirei. Mamãe estava sofrendo, eu podia sentir. Esse era um dos jeitos dela de fazê-lo, jogar a verdade na cara das pessoas. É óbvio que minha mãe sabia que Leah não morava com eles, assim como sabia de tudo que Sally me fez passar desde que cheguei, Nahuel telefonava para ela todas as tardes.

-Leah não mora conosco, Renesmee.- Meu pai respondeu, educado. Sua dor era palpável.

-Vejo que ela fez o mesmo que fizestes comigo.- Respondeu, seca. Meu pai abaixou a cabeça, sabendo que era verdade. Ela ficou um tempo saboreando sua pequena vitória, sabia que ela se arrependeria de tudo o que disse mais tarde, minha mãe era assim, tentava ser má às vezes, mas nunca dava certo e ela sempre voltava para se desculpar.- Mas eu não vim aqui para isso.- Anunciou.

                Papai não ousou levantar a cabeça. Sabia do que se tratava.

-Não cuidou de meus filhos, Jacob. Deixou que um dos meus bens mais preciosos se fosse para sempre.- O rancor em sua voz ecoava pela sala, fazendo com que o clima pesasse. Papai levantou a cabeça.

-São meus filhos também!- exclamou.

                Minha mãe levantou a mão.

-Não quero ouvir.- ela olhou-o com mágoa.- Tentei confiar em você novamente, Jacob. Mas você me decepcionou. Provou que não merece.- Olhei-a incerta.- Vim levar minha filha embora.

                O mundo pareceu parar por alguns instantes, todos olharam para ela incrédulos, menos Sally, óbvio, ela sorria.

-E Nahuel vai conosco, obviamente. - Agora Sally parou de sorrir. Nahuel pareceu inseguro.- Ordens de sua tia, ela desaprova sua relação. Sem protestos.- Nahuel assentiu. Era estranho ver um homem que era cem anos mais velho que minha mãe obedecendo-a, mas Nahuel tinha respeito por ela, minha mãe já foi sua namorada, e ele a considerava da família.

-Não pode levar o Nahuel!- Sally exclamou.- Ele é meu, não pode obriga-lo a ir. Ele não é seu, nunca foi.- Sally parecia mais aborrecida comigo do que com minha mãe, pois era pra mim que ela gritava.- É tudo culpa sua, Sarah. Você sempre atrapalha minha vida! Sempre, eu odeio você e, sinceramente, esperava que fosse você no lugar do Anthony. Você não merece sua vida, não merece ser a escolhida e não merece ter o amor de todos que eu amo!- Nahuel saiu de perto dela e veio parar no espaço entre mim e minha mãe.

-Estou indo por vontade própria, qualquer um que renegue minha família não me merece por perto. Ou aceita minha família e eu ou renega-nos, já é a segunda vez, Sally. Eu te avisei.- Nahuel nos abraçou pela cintura e beijou o topo de minha cabeça. Sally derramou algumas lágrimas, Ephraim puxou-a para um abraço, ele encarou Nahuel irritado.

-Sarah.- Seth chamou-me, havia esquecido que ele estava ali. Suspirei e olhei-o.- Não pode ir, Mabel. Não pode me deixar.- seus olhos mostravam uma angustia enorme.

-Uma vez você preferiu Sally para não fazê-la sofrer, hoje eu prefiro minha mãe e Nahuel para não me fazer sofrer.- respondi, não consegui olhá-lo.- Eu te amo Seth, mas não posso ficar aqui onde tudo me lembra meu irmão. É recente demais, eu preciso.

                Implorei para que ele não me fizesse olhá-lo, mesmo sabendo que ele o faria.

-Olhe para mim e diga que não me quer por perto.- Aconcheguei-me mais no peito de Nahuel e não disse nada.- Me leve com você então.- ele implorou. Olhei para minha mãe, como que pedindo autorização, ela negou com a cabeça. Precisam mais dele aqui, Sarah. É o melhor a se fazer, eu sei o que sente, mas vai passar. É melhor para ele. Acredite. Ela pensou.

-Sally precisa de você.- Respondi. Meu pai me olhava incrédulo.- Fique com ela, é o justo.

-Não vou deixar que leve minha filha.- Jacob disse. Mamãe olhou-o com um sorriso cínico.

-Está louco para perder sua outra filha, não é?- perguntou aos berros.- Viu o que eles fizeram com Anthony, farão o mesmo com Sarah se ela ficar aqui. É isso que quer? Quer que sua filha morra por um capricho seu?- provocou. Não era um capricho de meu pai, e, futuramente, eu saberia, eles não fariam o mesmo para mim, mas, nesse momento, enquanto eu ainda não sabia de nada, aquilo me pareceu certo.

                Creio que meu pai pensou o mesmo. Ele abaixou a cabeça em rendição.

-Vá pegar suas coisas, Sarah.- Fomos eu e Nahuel, ele para seu quarto e eu para o meu, passei pela sala de música lamentando-me por não ter tocado no piano. Subi até meu quarto, olhei-o pela última vez, sentiria muita falta desse lugar. Peguei todas as minhas roupas, mas fiz o favor de deixar algumas fotos para que se lembrassem de mim, deixei uma foto minha e Seth e outra de mim, Anthony e Ephraim no criado mudo. Derramei uma única lágrima, deixei várias roupas no closet, como promessa de que um dia voltaria.

                Encontrei com Nahuel no corredor, lancei lhe um olhar triste, que ele retribuiu com um abraço e um beijo no topo de minha cabeça. Descemos as escadas com as mãos no corrimão dourado que havia ali, não o havia notado até este dia.

                Olhei para Ephraim, havia deixado uma carta para ele no meu quarto, esperava que ele fosse lá depois que eu fosse embora. Na carta eu pedia que ele cuidasse de Sally e do vovô Billy, pedia que se cuidasse também. Prometi que voltaria.

                Mamãe pegou minhas malas e levou-as até o carro que ela havia alugado. Entrei e fiquei olhando minha família e o lugar onde morei por tão pouco tempo mais já amava, queria que meu irmão estivesse comigo, o banco de trás do carro tornava-se grande demais sem ele.

                Mamãe ligou o carro e eu olhei para trás, pude ver meu pai virando de costas, tive certeza de que ele me via. Papai nos deixou ir mais uma vez, mesmo que fosse para me proteger aquilo doía. Era como se ele tivesse nos deixado, mesmo sabendo que era eu quem estava se afastando. Toquei no colar que havia ganhado de meu avô numa tarde, ele disse que era de minha avó. Era um coração com meu nome em cima, era uma espécie de relicário quileute, dentro dele coloquei duas pequenas fotos de mim e Seth. Vovô me deu ele em uma tarde em que fomos para o penhasco.

                Com o colar entre as mãos, fiquei olhando a paisagem que passava ao redor do carro. Não sei quanto tempo durou a nossa viagem, sei que quando me dei conta já estava dentro do avião, sobrevoando a pequena cidade de Forks. Eu não sabia nosso destino, e também pouco me importava. Por mais que eu tentasse me convencer do contrário, lá no fundo eu sabia que nada seria o mesmo. Sempre haveria aquele pedaço que faltaria, o espaço vazio no álbum de família, a falta de alguém nas lembranças, isso era algo que ninguém poderia mudar.

                Não sabia o quanto isso seria o suficiente, não sabia se aguentaria. Ter o para sempre pela frente não me animava em nada, muito menos saber que teria de suportar tudo o que viesse sem meu irmão, sem meu protetor, meu porto seguro.

Para sempre.