No começo, eu me assustei. De verdade. A mulher apareceu do nada, e todos de repente ficaram alertas.

Mas eu podia jurar que eu a conhecia de algum lugar.

Sam me afastou e eu fiquei atrás dele enquanto Bobby pegava sua espingarda e Sam sacava uma faca do cinto. A mulher se virou para mim e vi seu rosto. Minha primeira reação foi medo, mas depois foi substituída por choque.

O medo, no primeiro momento, foi cortante. Era como se eu estivesse vivendo aquilo tudo de novo. Sabe, quando aquele negócio saiu de dentro da mulher do motel.

Quando eu vi aquela mulher parada bem ali, nos olhando depois de gritar como uma louca, meu instinto ascendeu e eu quis fazê-la sair dali, mas depois que eu realmente reparei quem ela era, tudo mudou.

Eu a conhecia; daquilo eu tinha certeza. Eu conhecia aqueles olhos pretos, mas que por trás eu sabia que existiam um azul brilhante que transmitia para mim segurança. Aqueles cabelos que quando nós brincávamos, ficavam todos sujos de areia a mãe dela brigava com ela e a fazia lavá-lo todo.

Eu a conhecia.

- Anny? – eu perguntei saindo de trás de Sam.

Sam me puxou para perto, e eu fui me choquei contra o seu abdômen. Ele segurou a minha cintura como que para me proteger, e eu me virei para ele.

Eu encarei seus olhos verdes e toquei seu braço. Um pequeno sorriso de formou no canto da minha boca enquanto eu observava Sam.

- Está tudo bem. – eu me soltei e me virei para aquela menina que ainda me olhava.

- Kera, ela pode ser perigosa. – Sam rebateu.

Eu levantei uma sobrancelha e eu vi algo cruzar o rosto de Sam. Ele queria me proteger, isso eu podia sentir, mas eu estava pedindo. Eu sabia quem ela era.

- Sam. – eu apenas disse e ele me soltou e por um momento eu me senti desamparada. Por um momento eu quis voltar para os seus braços e ficar lá.

- Ke-Kera? – Anny perguntou. Eu fechei meus olhos apenas deliciando aquele momento. Sua voz não havia mudado nada.

- Anny! – eu não me contive. Eu corri para abraçá-la e ver que ela não tinha mudado nada.

Ela me abraçou de volta e me tirou do chão. Com facilidade, ela me rodou no ar e eu me senti livre de novo. Eu podia sentir as lágrimas manchando a minha bochecha e indo em direção à dela. Ela sorriu contra o meu rosto e me colocou de volta no chão.

Eu me separei para observá-la e ver que ela sorria como nunca para mim.

- Você cresceu tanto! Desde a última vez que nos vimos, você era tão pequena! – ela cantarolou.

Eu podia sentir Sam atrás de mim pronto para qualquer coisa que pudesse dar errado. Eu podia sentir sua tensão, mas eu sabia que ele não estava fazendo por mal, afinal.

- Você também. Você não sabe o quanto eu estou feliz por te ver de novo. – eu suspirei e limpei as lágrimas que teimavam em sair.

Ela me abraçou de novo e limpou meu rosto. Seu toque era gelado, o que eu estranhei. Então, eu me liguei e me perguntei o porquê dela estar aqui.

- Samuel Winchester, o que diabos... – Dean começou e não terminou.

Ele olhou para Anny e abriu um grande sorriso. Safado.

- Dean, essa é a Anny. – os apresentei.

Dean chegou perto de Anny e a olhou de cima abaixo. Dean nunca mudaria. Ele sabia que ela era linda e iria usar isso de alguma maneira.

- Olá. Dean Winchester. – ele se apresentou e apertou a mão dela.

- Anny. – ela apertou a mão dele de volta.

Os dois quebraram o aperto de mão e Dean se voltou pra Sam. Dean fechou a cara e Sam congelou no lugar.

- O que você está fazendo aqui? – Dean perguntou.

- Falando com Bobby. – Sam respondeu calmamente.

- E por que eu não estava aqui? – Dean perguntou.

Merda, nós nos esquecemos dele.

- Dean, fui eu quem não quis te acordar. – eu respondi por Sam e ele respirou aliviado. Dean se virou para mim e eu continuei. – Estava estampado na sua cara que você estava exausto.

Dean pensou por um minuto e assentiu. Eu me voltei para Anny que ainda me olhava.

- Bem, o que te trás aqui? – perguntei.

- Você. – ela respondeu sem rodeios.

- É claro que é ela. E por favor, me diga como você entrou aqui? – Bobby perguntou.

- Castiel. – ela respondeu.

- Castiel? Mas ele não estava sumido? – perguntei.

- Bem, ele me disse que você precisaria de mim. E aqui estou eu. – ela me respondeu.

Eu estava a ponto de começar a falar novamente quando Sam me cortou e começou a falar.

- Não, não. Vamos devagar. – Sam nos repreendeu. – Primeiro, sentem-se e depois nos conversamos.

Eu assenti e me sentei ao lado de Dean e ele passou o braço pelos meus ombros e me segurou perto dele.

Anny se sentou na poltrona e Bobby se sentou ao lado de Sam, que parecia incomodado.

E por que ele estava assim? O Sam andava tão estranho ultimamente. Ele não conversava muito, ficava quieto de repente e quase nunca sorria. E bem, ele era totalmente o contrário de Dean.

Dean era tão pra cima apesar de tudo. O que eu admirava nele era isso. O Dean tinha me contado que Sam era um pouco problemático, e disso eu não duvidava. Não depois do que Dean me contou.

Anny sorriu para mim e instintivamente, e eu retribui. Dean ficou rígido abaixo de mim e eu me incomodei com aquilo pela primeira vez.

- O que querem saber? – ela perguntou.

- Tudo. Isso é obvio. – Sam foi curto e grosso.

Eu o repreendi com um olhar e ele rebateu com um olhar tipo “O que foi?”. A minha real vontade era ir lá, e socá-lo como nunca. Tudo bem Sam não aceitar Anny, mas ele poderia pelo menos tentar conhecê-la.

- Não, vocês precisam saber o principal. O principal não é tudo. – Anny jogou essa para Sam. Ele fez uma cara indecifrável e desviou seu olhar de Anny e ela continuou. – Você é mais importante do que todos aqui sonham.

- Epa, espera aí. Vamos por partes. – eu a cortei. – O que, exatamente, eu sou?

- Lembra do bilhete? – ela perguntou e Dean ficou rígido novamente.

- Bilhete? Que bilhete? – Sam perguntou, passando seu olhar por mim e por Anny.

Eu sorri culpada e levantei a mão. – Culpada. Eu me esqueci de falar com vocês sobre o bilhete.

Eu me livrei dos braços de Dean e me levantei, tirando o papelzinho do bolso. Eu o peguei e o entreguei a Sam. Ele o pegou, abriu e leu em silêncio. Depois, levantou a cabeça e olhou para Bobby.

- Impossível. – ele sussurrou.

- Lamento te decepcionar, mas é a mais pura verdade. – Anny riu.

Sam ficou encarando o bilhete como se estivesse esperando que ele lhe desse alguma resposta. Ele parecia tão assustado, tão atônito que nem percebeu quando eu o chamei.

Eu resolvi dar um tempo pra ele pensar. Eu sabia que aquilo não era uma coisa fácil, nem pouco perigosa, mas ele precisava pensar; apesar de tudo.

Mas o pior era que eu sabia que aquilo ainda estava para piorar, e se apenas aquele bilhete o deixou daquele modo, eu não sabia que se o viesse a seguir, poderia fazer algum mau pior e que se talvez ele e Dean se machucassem muito.

Sam entregou o bilhete a Bobby e ele o leu. A reação de Bobby foi melhor; ele apenas assentiu e voltou a me olhar. Bobby tinha um brilho estranho no olhar, e eu queria saber o que era aquilo. Ele se levantou e me entregou o bilhete, mas antes que eu pudesse guardar, Dean o pegou da minha mão e leu.

Ele o leu, e suspirou no meu cabelo. – Bem, então? Como descobrimos o que fazer?

Anny se levantou e andou de um lado pro outro, com a mão no queixo.

- Bem, pelo o que Cass me disse, ela está em periogo. – Anny disse.

Dean se mexeu e virou a cabeça para olhá-la.

- Isso nós já sabemos. – ele rosnou para ela.

Anny se virou para ele e seus olhos escureceram um pouco. Bem pouco. E por dois segundos eu vi Dean segurar a respiração e ficar imóvel. Anny de repente, piscou os olhos e eles voltaram ao normal.

Então eu me virei pra ela e tentei resolver essa questão logo.

- Anny, acalme-se, sim? Sente-se e aí nós conversamos. – ela se sentou e eu me aconcheguei mais em Dean. – Eu pergunto e você responde, ok?

Ela assentiu e eu olhei para todos. Eles assentiram e eu comecei a perguntar.

- O que eu sou?

- Metade anjo e metade demônio. - ela apenas respondeu e eu congelei no lugar.