Eu não vou dizer que gostava de torturar a vampira, mas era extremamente necessário. Ainda lembro da primeira vez que a vi, naquele beco, e de como ela me poupou a vida. Ela tinha tudo para me imobilizar, mas não o fez e eu ainda tenho a sensação de que tem um motivo por trás, mesmo que ela não saiba.

Depois daquele encontro eu a segui. De fato, descobrir onde morava não foi um problema. Era uma casa bonita, embora fosse pequena. Morava sozinha, e durante vários dias percebi que evitou sair às ruas. Prudente da parte dela. Michaela, como me disse que se chamava, estava em um sério problema. Se dissesse aos outros sobre minha identidade, estaria bem no meio do furacão.

Obviamente eu fiquei de olho. Se por acaso ela tivesse a intenção de me denunciar, certamente eu teria que mata-la. Mas ela se restringiu ao silêncio. Durante esse tempo, eu consegui ainda me sair bem capturando mais vampiros envolvidos na chefia da região. No meu último encontro com um deles, tive uma luta dura. Com dificuldade consegui arrancar alguns nomes e o desse tal Julius me chamou a atenção.

Dois dias depois eu encurralei mais um vampiro, um civil, que me citou o nome de Julius mais uma vez. Foi então que, na noite anterior, segui alguns rumores pela cidade. Ouvi dizer que a guerra pelo território deixado por Soxx estava aumentando e que Julius viria pessoalmente. A notícia ruim era que, ao que parece, Julius era mais velho e poderoso que Soxx e alguns vampiros que o cercavam eram muito fortes também.

Eu teria que ser prudente, mas minha intuição dizia que não poderia ter a mesma abordagem que tive com Soxx. Foi então que pensei em usar Michaela e me aproximar de algum jeito do Filho do Pecado.

No início da noite eu percebi uma agitação dentro da casa. Michaela estava impaciente e tinha resolvido sair. Na certa, caçaria algum humano inocente. Decidi segui-la. Mantendo a distancia eu vi quando ela entrou em duas boates, das quais saiu rapidamente. Tentou uma terceira. Como ela demorou a sair, eu entrei.

Ela estava dançando insinuante para dois jovens humanos, que bebiam no bar. Eles estavam completamente domados por ela, que dançava e os prendia com o corpo e o olhar. Michaela era muito bonita, atraente, e chamava a atenção de muito machos por onde passava. Mas era decidida e eu percebi sua preferência pelos humanos.

Não demorou muito, ela os levou para fora. Certamente estava planejando uma noite de intensos prazeres carnais e, possivelmente, também se alimentaria se quisesse. Eu os segui e me surpreendi quando percebi que o destino era a própria casa. Isso só podia significar que ela não pretendia deixa-los vivos.

De fora, eu podia ouvir os sons. Aproveitei-me deste momento de fragilidade para entrar em sua casa por um dos quartos. Foi difícil não fazer barulho, pois parecia que a janela não era aberta há séculos. Era um quarto que mais parecia um escritório. Havia um computador ultrapassado sobre a mesa e uma esteira de exercícios do outro lado.

No interior da casa eu ouvia melhor os gemidos que faziam e os sons molhados do ato sexual. O lugar estava impregnado pela sedução da vampira. Era tão forte, que me atingiu.

Materializei minha espada e andei pelo corredor escuro que ligava os outros cômodos à sala, onde estavam. Ali a essência de sexo era quase que insuportável. Meu corpo também respondia a ela. Esse era um dos efeitos desagradáveis de se ter um corpo humano, mesmo sendo imortal. Por um instante eu compreendi como era possível a existência dos nephilins nesse plano. Os anjos caídos podiam ser facilmente envolvidos por esta doce e envolvente atmosfera.

Tratei de orar, enquanto observava a cena grotesca. Era incrível como ela estava sendo usada e, ao mesmo tempo, em como detinha o controle sobre os jovens. Ela estava em êxtase e eu vi quando o momento de interferir chegou.

Depois que os garotos foram embora eu a questionei sobre Julius. As respostas dela eram verdadeiras e batiam exatamente com as informações que eu tinha. Ela riu quando eu disse que me ajudaria a pegá-lo, mas ela não tinha escolha. Michaela sabia que se não cooperasse, eu tiraria sua não-vida de uma vez por todas.

Eram por volta das três da manhã quando saímos. Ela tinha se banhado e se arrumado como pedi. Estava muito atraente. Certamente ela chamaria a atenção de qualquer vampiro macho que quisesse. Apesar de não saber exatamente onde na cidade Julius estaria, eu tinha um palpite que ele começaria pelo lugar que foi o refúgio de Soxx. Então, fomos para o La Fontera procura-lo.

- O plano é simples, Michaela. Você dança, chama a atenção dele se ele estiver aqui. Faça-o querer te ver novamente, provoque-o. Eu sei que consegue fazer isso. Eu vou estar aqui, observando tudo e não pense que não saberei se me trair. Sabe que vou mata-la, não sabe?

Ela me fitou com raiva, estava sendo encurralada.

- Se eu for pra cama com ele, deixe-o terminar o serviço antes de mata-lo, estamos combinados? – Michaela usou do sarcasmo mais uma vez.

Eu acenei e sorri também sarcástico. Observei do bar quando ela se afastou. Muito tentaram agarrá-la, mas ela os rejeitava sabiamente. Essa era uma das coisas que eu não compreendia nessa raça. Os machos tinham a necessidade de conquistar a fêmea antes de ter algo com ela, embora depois tudo ocorresse de forma muito violenta. Talvez por isso Michaela preferisse humanos.

Ela dançou. Um pouco travada no início, mas logo ela relaxou, não completamente, é claro, pois sabia que eu estava ali. Confesso que a beleza de Michaela estava começando a me incomodar. Era impossível controlar as reações físicas que tinha. Mas isso não importava, minha mente estava focada demais no serviço para dar atenção ao corpo material.

Meia hora depois eu vi uma movimentação em uma das portas laterais. Olhamos ao mesmo tempo, a vampira e eu, e sabíamos que Julius havia chegado. Eu sentia a presença dele, forte, vibrante. Aquela era a chance, ele tinha que olhar para Michaela antes de chamar qualquer outra.

Levantei rapidamente e fui na direção dela. Empurrei-a.

- WOW, o que você está fazendo? – ela perguntou exaltada. Ouvia um rosnado baixo em seu peito.

- Chamando a atenção. – respondi.

- Vem comigo gata, a gente vai se divertir. – eu falei com a voz alta, imitando perfeitamente um bêbado tarado.

Eu apertava o braço dela, puxando-a para mim.

- Me solta! – ela falou retirando o braço.

Olhei de relance para o lado e vi que os olhos de Julius estavam nela. Eu me mantive de costas pra ele, não o deixei perceber meu olhar, mas não precisou, ele já estava desejando-a.

Com um aceno de cabeça, ele mandou um dos seguranças vir busca-la.

- É a sua chance, pense bem no que vai fazer. – falei pra ela em seu ouvido e me afastei antes do segurança chegar até ela.

Vi que trocaram poucas palavras e ela me enviou um olhar rápido e felino antes de acompanha-lo. Agora eu deveria esperar e rezar, sempre rezar.