Senti um cheiro gostoso e doce. Era de chocolate. Quando abri os olhos eu vi o azul escuro e perfeito dos olhos do meu Anjo.

- Gabriel?

- Eu estou aqui, meu amor.

Sorri bobamente. OK, eu estava me sentindo como se tivesse sido mastigada e regurgitada três vezes, mas ouvir Gabriel me chamando de meu amor, fez um sorriso automático surgir em meu rosto. Eu estava bem, tão leve... diferente.

Olhei ao redor. Era um hospital, um quarto bonito e aconchegante de hospital. Na mesinha ao meu lado havia um jarro de flores. Lírios brancos, meus favoritos. Também havia uma barra de chocolate, uma xícara fumegante e a foto que tirei com minha família na festa dos gêmeos, há algum tempo atrás. Eu sabia que não podia sentir o gosto do chocolate, mas isso não me importava agora.

Tentei sentar, mas senti dor.

- Calma... você está fraca, precisa ir devagar. – ele falou sorrindo, me segurando.

- Fraca? Como assim? O que eu estou fazendo em um hospital?

Eu estava confusa e desnorteada. Vampiros não precisavam de cuidados médicos. Geralmente, eles matavam os médicos! Mas havia uma coisa diferente. Eu sentia dor, mas não sentia meu corpo se recuperando como normalmente.

- Você se lembra o que aconteceu? – ele perguntou enquanto me ajudava a sentar, bem lentamente. Aquilo doeu pra cacete.

- Eu... lembro de ir atrás de você na Itália... lembro de entrar na capela e que... que um dos Anjos me matou... não matou?

Tudo estava confuso e parecia nublado, mas era isso... eu tinha certeza que era isso. Ele sorriu e eu vi as covinhas em seu rosto perfeito.

- Você está viva, Michaela. Está viva.

É... eu estava viva... viva e diferente.

- O que há de errado comigo, Gabriel? Eu sinto que tem algo diferente, mas não sei o que é.

Ele voltou a sorrir e esticou a mão. Passou-me a barra de chocolate.

- Acho que vai descobrir depois que comer.

Eu o encarei sem entender. Ele estava de sacanagem com a minha cara, só podia. Sorridente, rasgou o papel e quebrou um pedacinho. Ofereceu-o a mim.

- Ai, você quer que eu quebre seu nariz? – perguntei zangada.

- Só come, Michaela.

Nem deu tempo pra pensar, ele encostou o chocolate em minha boca e eu senti o maravilhoso gosto do cacau. Deus, era o céu! Eu comi e pedi mais. Não sabia o que estava acontecendo, mas eu queria aproveitar aquele momento único de delírio.

- Como... como eu estou sentindo o gosto? – minhas palavras saíram atropeladas e Gabriel veio em minha direção e me beijou. Me beijou com vontade, com saudade. Eu retribuí e senti como se fosse a primeira vez que o beijava de verdade. Era diferente, leve, gostoso. Eu senti Gabriel comigo totalmente.

- Você é humana novamente. – ele falou entre os beijos – É humana de novo.

Parei e o encarei.

- Na capela dos Filhos da Luz, você se sacrificou por mim e por isso, recebeu sua vida de volta, sua vida de verdade.

Eu sabia que era verdade. Isso fazia sentido pra mim, pois explicava o que eu sentia. Explicava o gosto do chocolate e de Gabriel em minha boca, explicava a dor horrenda em minhas costelas e a leveza que estava sentindo.

- Como?...

- Você me salvou e recebeu sua vida em troca.

Sorrindo e chorando, eu o abracei e ignorei a dor do movimento. Minha vida, minha humanidade estavam de volta. Eu era eu novamente e isso era maravilhoso.

Depois de um tempo, no qual me recuperei e devorei a barra de chocolate e o chocolate quente, Gabriel me ajudou a levantar. Devagar ele me levou até a janela do quarto, que estava com a leve cortina esverdeada fechada. Eu podia ver a claridade que vinha de fora e ela não me incomodava os olhos.

Tremendo, eu segurei a cortina e empurrei para o lado. O que senti, não teve preço. O calor suave do sol acariciou minha pele. Morno e lindo. Eu olhava para meu corpo iluminado pelo sol da manhã e sorria sem acreditar. Senti Gabriel me abraçar pro trás, suavemente, e me apoiei nele. Ficamos ali por um longo tempo, iluminados pelo sol que há dez longos anos eu não via. Sentindo o calor e a vida que me foram tirados.

...

Senti os beijos dele em meu pescoço e sorri. Gabriel sempre me acordava com beijos e sempre dizendo que me amava. Abri os olhos para ver a perfeição do meu Anjo e me afogar no mar azul profundo de seus olhos incríveis.

- Eu te amo... Eu te amo... Eu te amo...

Gabriel dizia as palavras que eu mais gostava de ouvir, enquanto me cobria de beijos. Os lábios mornos e macios desceram pelos meus seios e pararam em minha barriga levemente pronunciada. Ele ficou ali, acariciando e beijando a vida que se formava. Era sempre assim com ele, perfeito.

Nós nos casamos alguns dias depois que saí do hospital. Foi lindo. Os Filhos da Luz estavam lá e Anariel foi nosso padrinho. Minha família também estava e eu lembro até hoje dos votos dele:

“Michaela, você é a luz da minha vida, meu amor, minha felicidade. Você me mostrou a verdade, o caminho e a verdadeira salvação. Eu prometo te amar por toda a eternidade e dedicar a minha vida pra te fazer feliz.”

Eu passei por muita coisa em minha vida. Fui morta, matei, virei as costas pra vida, pro amor e pra minha humanidade. Mas Gabriel me resgatou, me mostrou o verdadeiro caminho. Ele diz que eu o salvei, mas na verdade, foi exatamente o contrário.

Meu nome é Michaela, uma ex-vampira que aprendeu a amar, e que encontrou a felicidade nos braços de Gabriel, o Ser Alado que me mostrou o verdadeiro caminho para a Salvação.

FIM