Salvation escrita por MilaBravomila


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpem a demora, mas tenham paciencia, por favor... até o dia 20... #nervosaakiii

boa leitura!



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O jantar, como eu previ, foi insosso e horrível. Era uma tortura poder sentir aqueles cheiros maravilhosos e apenas poder lembrar de como era o gosto da batata corada ou do arroz. Meu organismo não usava mais aquele tipo de coisa para se nutrir, mas o meu olfato apurado às vezes me irritava.

Eu tentei saber mais sobre a descoberta de Gabriel, sobre esse papo de eu ser filha de um Arcanjo, mas não pudemos conversar na presença de tanta gente. Ele parecia normal diante de todos, mas eu percebi um leve ar de tranquilidade, de satisfação. Era quase como se ele tivesse descoberto o que tanto queria sobre mim, mas aquilo não fazia sentido, primeiro porque ele só podia estar enganado, eu não podia ser filha de Miguel, e segundo, porque não era tão raro assim ser filho de um anjo... ou era?

Quando saímos da casa de Annelisse, a palavra nephilin não parava de martelar na porra da minha cabeça. Caminhamos de volta pro hotel. Era essa coisa boba e legal que estava rolando entre a gente, sabe, nós preferimos ir e voltar a pé – de mãos dadas... fala sério.

Ele falou sobre muitas coisas na volta pra casa, mas eu não prestei muita atenção, queria mesmo eram respostas. Quando entramos no quarto eu não pude mais me conter.

- Gabriel, você não se enganou lá na casa de Annelisse, sobre meu... pai ser um... Anjo?

Ele sentou na cama e desabotoou o primeiro botão da camisa azul, meu corpo tremeu levemente.

- Não, eu tenho certeza. Se aquele era seu pai, coisa que nós sabemos ser verdade, então você é filha de Miguel. E isso explica muita coisa.

Eu comecei a me agitar, detestava quando as pessoas entendiam as coisas e eu ficava de fora.

- Mas como assim? Explica coisas? Que coisas?

- Bom, primeiro foi a sensação que tive quando te conheci, no bar de Soxx. Você se aproximou pra falar com uma conhecida que estava no balcão comigo. Eu não vi seu rosto, mas por um instante irrisório, que só agora eu me dei conta, eu senti algo em você.

Ele respirou fundo e continuou.

- Depois no beco, quando você se esquivou de meu ataque e revidou. Você tinha tudo pra me imobilizar e se salvar, mas não me atacou.

- É eu sei, tive uma puta dor de cabeça, foi por isso que eu não ataquei você. – falei, lembrando da sensação, que aliás, eu senti todas as outras vezes que estive prestes a ataca-lo – Mas o que isso significa?

- Bom, eu não sei exatamente. Acho que você deve ser a primeira nephilin que é transformada, sei lá. Mas de algum jeito, o seu corpo impediu que você me atacasse, foi algo além de você. Foi seu sangue.

Andei até ele, sentando-me ao seu lado na cama. Não conseguia pensar direito.

- Mas Gabriel, eu sou uma vampira, uma Filha do Pecado, o sangue que corre em minhas veias não é meu.

Ele me encarou por um tempo, estava tentando achar uma explicação.

- Além disso – eu continuei – foi um vampiro que me transformou, o tal de Andrew, e ele disse que foi a mando de um Anjo. Você acha que Miguel poderia ter feito isso, Gabriel? Você acha mesmo que um Anjo poderia fazer uma coisa dessas?

O azul profundo que eu tanto amava estava confuso a minha frente. Ele estava tentando, mas assim como eu, não conseguia entender. Foi um tempo depois que sua suave voz me atingiu.

- Michaela, eu não tenho todas as respostas, mas eu sinto que isso... isso que descobrimos é a verdade, apesar de eu não saber os detalhes. Olha, você é a única de sua espécie que já tocou na espada sagrada de um Anjo e sobreviveu. Tem alguma coisa em você que é diferente e a descendência de Miguel poderia explicar isso e o fato de você não conseguir me atacar.

- Mas... – protestei – isso não faz sentido. Se eu fosse nephilin Andrew não me transformaria Gabriel, ele me mataria. Quando ele provou de meu sangue, ele pode sentir o que eu era e teria me matado. Além de um ser descendente direta de um Ser Alado e sua inimiga natural, ele não conseguiria parar a alimentação, não mesmo.

- Como assim, Michaela, o que quer dizer? – ele me perguntou.

- O sangue de vocês é superior a qualquer sangue humano. É mais forte, mais denso, e muito mais saboroso. Mesmo sendo nephilin, eu teria traços disso em minhas veias, e eu tenho absoluta certeza que Andrew não pararia.

- Mas você parou... quando me mordeu.

Eu o encarei. Sua intervenção tinha sido precisa. Na verdade, isso era uma das milhares de coisas que eu não sabia explicar. Lembro até hoje da sensação que foi ter o sangue de Gabriel em minha boca pela primeira vez. Foi a maior explosão de calor e força que eu já tinha recebido. Mas inexplicavelmente eu parei de sugar dele, mesmo me encontrando naquele estado lamentável.

- Se ele estivesse sendo ameaçado, ou tivesse com medo de alguém, ele teria parado, Michaela. O seu extinto de sobrevivência ainda é maior que o do prazer ou luxúria. Andrew estava sendo pressionado, encurralado, ele mesmo nos confessou isso aquele dia. Se um anjo como Miguel o mandou fazer, qualquer um no lugar dele teria feito a mesma coisa.

- Mas o que impedia Miguel de voltar e matá-lo depois que me transformasse, Gabriel? Andrew não tinha garantia nenhuma que Miguel cumpriria com sua palavra.

- Você está enganada. Se Miguel deu sua palavra, ele nunca voltaria atrás. Anjos não enganam não mentem, Michaela, jamais.

Eu senti um incômodo no estômago. As palavras de Gabriel estavam começando a fazer sentido e isso estava se tornando um pesadelo. Respirei fundo várias vezes e deitei, apoiando a cabeça no macio travesseiro. Ele se inclinou e ficou apoiado sobre o cotovelo. Com a outra mão, pegou uma fina mexa do meu cabelo e ficou tentando enrolar em um dos dedos.

- Você disse que seu pai sofreu o acidente quando você ainda era pequena... a cronologia dos fatos está muito encaixada. Você nasce, ele volta pra casa e me manda pra cá. Eu não sei o motivo disso tudo, mas eu sei de uma coisa com absoluta certeza...

- O quê? – perguntei encarando-o chorosa.

- Que ele queria que eu te encontrasse.

Era muito fácil me perder no azul profundo que eram seus olhos. Um oceano de felicidade no qual eu era grata em me afogar. Mas naquele momento, eu não estava mergulhando em Gabriel, eu estava apenas me deixando levar por ele, boiando a deriva num oceano de lembranças, pensamentos, sensações.

Eu não sabia bem o que estava sentindo. Há algumas horas atrás eu nem fazia idéia de quem era meu pai, ou mesmo me lembrava de seu rosto. Depois de descobrir quem ele era, tudo se tornou confuso e doloroso. Sinceramente eu não estava nem aí pro fato dele ser um Anjo, Arcanjo, o que fosse, nem mesmo de eu ser uma mestiça – nephilin. A única coisa que eu me perguntava era o porquê, o motivo, a razão pra ele ter feito tudo isso.

- Se meu pai era um Anjo, como ele pode ter morrido atropelado? – eu perguntei zombeteira, nada mais me importava agora.

Gabriel não respondeu de imediato. Eu sabia que, sendo um Anjo e mais rápido e forte que qualquer humano ou até mesmo vampiro, ele não teria sido pego assim. E eu acho muito pouco provável que tenha se suicidado, afinal, isso era pecado, não?

- Bom, isso só pode significar uma coisa, Miguel cumpriu sua missão.

- O quê? – perguntei confusa.

Gabriel continuou alisando a pequena mecha em meu cabelo e eu já estava tendo arrepios em algumas partes do corpo.

- Quando um de nós vem a este plano, só retorna depois de cumprir sua missão. Se morremos em batalha, cumprimos nossa missão, se morremos por salvar a vida de um humano ou se vivemos muitos anos e temos filhos, também. Nada acontece por acaso, Michaela, tudo tem sua hora e sua razão de ser.

- Blá, blá blá, Deus é o chefão. Me polpa dessa, Gabriel.

Eu levantei e sentei, não queria ouvir aquele papo de Deus ser o todo-poderoso dono do mundo e do destino. Isso pra mim não colava.

- Não fala assim, Michaela, não tenha ódio.

Ele veio pra perto e vivou meu rosto em direção a ele.

- Ódio, Gabriel? Eu não tenho ódio de Deus, eu não posso odiar alguém ou alguma coisa que não existe. Tudo bem, existem Anjos e vampiros, assim como existe o preto e o branco. Ponto. Não me faz acreditar em um ser supremo e infinitamente bom e justo porque eu sei que ele não está lá, sentado em sua nuvem dourada, olhando por nós. Não existe ninguém lá Gabriel porque se existisse... eu não teria me tornado o que sou hoje.

Ele ouviu tudo calado e seu olhar era tudo o que menos imaginei. Tinha tanto amor e compaixão que me incomodou. Eu esperava que ele brigasse comigo por dizer aquelas coisas do Deus dele, mas não. Gabriel não era assim.

Ele acariciou meu rosto e murmurou algumas palavras naquela língua esquisita e enquanto fazia isso, continuava me olhando com o maior amor do mundo. Eu me senti tão estranha e quente e triste. Era como se ele tivesse me confortando, quando eu não precisava de conforto.

Mas eu estava ali, sendo compreendida e amparada, sem precisar, precisando. Gabriel era o único que me compreendia.

- É tão injusto... – eu disse enquanto sentia as lágrimas quentes escorrendo em meu rosto – eu perdi a vida quando me transformei e me a tive de volta quando você apareceu... e agora você vai embora. Me diz Gabriel, que pai faz isso aos seus filhos?

Ele me abraçou apertado e as lágrimas continuaram a sair de mim. Eu estava me sentindo desolada, sentia que a vida que Gabriel me trouxe de volta, estivesse indo embora aos poucos. A qualquer momento, Anariel chegaria ao conselho que Gabriel mencionou e eu o perderia, talvez pra sempre. Isso eu não podia suportar.

 - Eu te amo tanto, Michaela.

A voz doce de Gabriel soou calma em meu ouvido, enquanto ele me embalava nos braços. Aquilo, eu percebi, era o que me mantinha viva agora.

- Então me ama, Gabriel, me dá um motivo pra viver.

Eu estava com os olhos fechados. Apenas expressei verbalmente o desejo do meu morto coração. Senti a mão dele em minha nuca e sues lábios pressionando os meus intensamente. Gabriel estava ali, urgente, apaixonado. Ele me mostrou o amor em sua forma mais pura e poderosa. Cada beijo, cada toque, era fogo em mim.

Senti Gabriel em mim por completo, duro, latejante, indescritível. Invadindo-me com a selvageria suave que só ele conseguia, só ele podia. Eu era dele por completo, por inteira. O corpo dele entrava no meu do jeito certo eu me perdi em meu próprio desejo. Agarrei seus braços fortes, arranhando, implorando por mais. Gabriel me correspondia, sempre me dava o que eu queria dele, nunca negava, nunca hesitava.

Arqueei-me sob seu corpo perfeito, gemendo alto, quando ele quase me levou ao clímax. Gabriel me olhou diretamente nos olhos com aquele azul incrível e brilhante. Com a voz rouca de desejo ele sussurrou:

- Michaela, eu quero estar em você... quero você...

Eu não entendi suas palavras no delírio em que estávamos, mas ele me apertou contra si e senti a deliciosa dor de ter tudo dele em mim. Não consegui nem gritar de prazer porque ele me apertava muito contra si. Senti seu pescoço em minha boca, como uma ordem, e entendi finalmente o que ele quis dizer.

Ele fez pressão mais uma vez dentro de mim e eu gemi. Era urgente demais. Minha boca salivou instantaneamente e eu senti a antecipação da mordida, do gosto de seu sangue sagrado.

Minha respiração era ofegante demais, eu não estava em mim. Além de todo o prazer que estava sentindo com ele, Gabriel me pediu a única coisa que eu não queria dar. Não queria mordê-lo, não queria tirar seu sangue.

- Quero você Michaela, quero estar em suas veias.

Santo céu, meu corpo estava em êxtase e sua voz de comando em meu ouvido não me deixou opção. Mordi fortemente o pescoço exposto do meu Anjo. Gememos juntos. Ele pelo prazer da mordida e eu pela euforia de seu sangue.

Gabriel gemia alto em meu ouvido, expressando tudo o que seu corpo sentia por mim. Eu me afoguei. Não no oceano azul profundo de seus olhos, mas no vermelho vivo de seu sangue divino. Afoguei-me no prazer único daquele momento, na onda de seu orgasmo, na profundidade de meu amor sem fim.

Agora ele estava dentro de mim de todas as formas e eu senti a explosão de tudo isso como uma onda avassaladora e sublime.

...

Já devia ser dia lá fora, mas eu ainda estava em estado de torpor. Gabriel estava deitado ao meu lado, me abraçando, me carinhando o rosto, como sempre.

- Você é tão linda.

Eu olhei pra cima e senti uma coisa esquisita no rosto. Ele sorriu lindamente.

- Não sabia que eu conseguia te fazer ficar vermelha.

Então era essa a razão daquela sensação.

- Tá, pode parar agora. – eu falei virando a cabeça pro outro lado. Não queria que ele me visse ruborizada... eu nem sabia que podia ficar assim!

Ele riu, me puxou de volta e me beijou suavemente. Preguiçosamente nós levantamos e fomos tomar banho. Foi tão gostoso. Eu me senti uma menina novamente, rindo e brincando de fazer topetes e barbas nele com a espuma do shampoo.

Senti as mãos delicadas do meu Anjo me secando com a toalha macia, na qual ele me enrolou. Fiz o mesmo com ele e depois voltamos para a cama. Enquanto eu trocava os lençóis, Gabriel se certificou de fechar bem a cortina grossa e bonita. Eu deitei na cama e fiz com o dedo para ele me acompanhar.

Gabriel caminhou pra cama, mas parou no meio do caminho. Algo estava errado. Ele ficou rígido, tenso, imóvel. Mediatamente eu saltei da cama e fui em sua direção.

- Gabriel! Gabriel! – chamei desesperada, mas o corpo atlético dele não se moveu.

Senti meu coração acelerar como nunca na vida, parecia que ía saltar pela boca. Tudo não durou mais que dez segundos, mas pareceu uma eternidade, estática e congelada. O tempo é mesmo relativo.

Então ele piscou e seus olhos desfocados voltaram ao normal. Ele me olhou com a expressão de dor antes de dizer:

- O conselho dos Filhos da Luz. Eles estão me chamando.

E foi assim. Eu tinha voltado à vida quando Gabriel apareceu e agora, eu morreria outra vez.


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Notas finais do capítulo

>> é, estamos chegando lá!! o/

reviews???