Salvation escrita por MilaBravomila


Capítulo 18
Capítulo 18




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O vestido me prendeu, ou melhor, ela me prendeu. Estava linda. Não estava errado ao achar que lhe cairia bem a roupa, ainda mais porque era exatamente do tom de seus olhos. Eu só podia estar ficando louco, olhando-a daquele jeito, então, preferi não encará-la mais. As palavras de Anariel rodavam em minha cabeça “Qual o seu verdadeiro envolvimento com a vampira?” Sinceramente, eu já não sabia mais.

Eu queria realmente saber o que ela tinha de especial, porque era tão diferente dos outros. Mas talvez, só talvez, isso fosse um pretexto que criei. Pai, o que eu estou fazendo?

Saímos e levamos um susto ao ver a fila na entrada do The Klub. Com tudo o que tínhamos feito, nem nos lembramos do detalhe da entrada. Michaela pediu uma caneta e saiu. Vimos quando ela se aproximou do segurança e cochichou em seu ouvido. Segundos depois ela nos chamava.

- Como será que ela fez isso? – Anariel perguntou intrigado enquanto andávamos até ela.

- Bom, eu gostaria de saber. – respondi.

O lugar estava cheio de adolescentes e apesar de passarmos mais de uma hora esperando e observando, não vimos ninguém do bando de Julius, nada. Decidimos nos separar para ver se tínhamos mais sorte e é claro que Anariel não confiou em Michaela para que ficasse sozinha. Fui com ela.

Paramos em um lugar estratégico, próximos o suficiente da entrada da área VIP. Ali poderíamos ver se alguém importante aparecesse. Ela disse que estava surpresa por me ver beber.

- Faz parte do que tenho que fazer. – respondi.

Eu odiava cerveja ou qualquer bebida alcóolica, mas eu precisava estar completamente camuflado. Tinha sempre que tomar o cuidado para não passar da conta. É claro que meu limite de tolerância era bem maior que o dos humanos, então eu nunca precisei me preocupar com isso, exatamente.

Então eu vi quando uma garota tropeçou e veio para cima de Michaela. Não sei se ela não viu, ou se se deixou esbarrar, mas sei que tive que segurá-la. Peguei seus braços e a equilibrei. Ela levantou devagar e ficamos muito próximos.

- Obrigada. – ela disse baixinho.

Não disse nada, simplesmente não pude. Estávamos muito próximos para que eu pensasse em qualquer outra coisa. Eu via as pessoas a minha volta e sabia que estava no meio de uma missão, mas... eu não sei, só via Michaela a minha frente.

Ela tentou se soltar de mim, mas não deixei. Não queria que se afastasse. Fiz uma leve pressão e a puxei pra mim. Eu não sabia o que queria, não sabia o que estava fazendo, eu só via o olhar dela preso ao meu. Que meu Pai me perdoe, mas era como se ela estivesse olhando através de meus olhos, dentro de mim.

Estávamos praticamente abraçados e eu sentia o espaço entre nós diminuir cada vez mais. Ali, naquele momento, eu não era mais eu, Gabriel, o Anjo, o enviado de Deus. Eu era Gabriel, o homem. E o homem em mim a desejava mais que tudo, mais que ao ar. Eu queimava onde meu corpo tocava o dela e quando as palavras de Anariel voltarão a mim, eu rezei.

Orei ao meu Pai, o criador e a única salvação. Em minha língua antiga, roguei por força, pedi que estivesse ao meu lado para que eu pudesse resistir a ela. Então senti a presença de Anariel e ele estava um pouco tenso. Virei-me imediatamente e vi que ele vinha em nossa direção. Ao fundo, um grupo de vampiros se encaminhava para a área VIP.

Vi quando um dos vampiros acompanhado olhou em direção a Michaela. Automaticamente entrei na frente dela, tapando sua visão. Comecei a dançar pra disfarçar e Anariel me seguiu, meio sem jeito. Eu tinha que me concentrar, qualquer deslize podia resultar em uma tragédia. Mas era muito difícil com Michaela dançando a minha frente e tudo piorou quando ela passou um braço ao redor do meu pescoço e começou a rebolar insinuante.

- Eu conheço o cara que está atrás, é um dos gerentes de Julius, é do grupo de confiança dele. Conseguimos.

Mal absorvi o que meu irmão falou, estava muito concentrado em meu corpo. Não queria deixar transparecer o quanto desejava a vampira a minha frente. Ela estava me provocando, tentando me seduzir e eu estava resistindo ao máximo.

Michaela passou o outro braço em torno do meu pescoço e dançamos agarrados. Deus, eu tremi. Orei mais uma vez, só que em silêncio. Precisava resistir e a tensão de Anariel ao meu lado me ajudou. Ela, no entanto, continuava a me provocar, me tentar.

As mãos dela desceram pelo meu peito e uma delas me puxou pela gola da camisa. Usei de todas as forças para não corresponde-la. Eu podia sentir a sexualidade que ela emanava e tudo vinha pra mim como ondas, fortes, constantes. Por um momento, eu senti que não conseguiria não beijá-la. Mas então, ela tremeu.

Percebi uma coisa diferente vinda dela. Michaela estava assustada e não respirava. Segurei-a pela cintura e perguntei o que tinha acontecido.

- É ele, Gabriel, o vampiro que me transformou. – ela respondeu.

Quando me virei, o vampiro já tinha subido para a área VIP.

- O que disse? – Anariel perguntou chegando mais perto de nós. Eu a soltei.

- É ele, o vampiro que acabou com minha vida, é ele!

Michaela estava exaltada e eu senti que estava com raiva. Isso não era bom, ela podia nos expor agindo daquele jeito.

- Michaela, calma. – eu disse.

- Calma é o cacete! Aquele cara acabou com minha vida! Eu vou mata-lo!

Dizendo isso ela deu um passo a frente e Anariel e eu nos adiantamos. Ela soltou um pequeno rosnado e mostrou os dentes em sinal de alerta. Anariel se preparou, mas eu intervim.

- Michaela, se você subir, eles te matam e tudo está pedido, você me ouviu? Tem que parar com isso, temos que ir agora.

Minha voz era firme e clara. Ela me encarou e eu vi a fúria em seus olhos. Ela queria vingança. Com agilidade, Michaela girou e tentou correr pelo lado oposto ao que Anariel estava. Eu fui mais rápido e a abracei por trás, prendendo-a firmemente. Ouvi quando ela rosnou em protesto e algumas pessoas olharam.

- Michaela, você sabe que se subir, vai ser morta em um minuto. Não posso impedir você se tomar essa decisão, mas te peço, por favor, pra não me deixar te soltar.

Eu a apertava e impedia que se movesse. Minhas palavras eram sóbrias em seu ouvido. Como um Enviado de Deus, era meu dever respeitar o livre arbítrio. Eu não podia intervir se ela decidisse seguir o vampiro, mas rezava para que não fosse.

Ela ainda fez força, mas aos poucos foi parando e ouvi Anariel dizendo às pessoas em volta, com uma naturalidade disfarçada, que era apenas uma discussão de namorados. Mantive meu aperto contra ela, até que se acalmou um pouco.

- Por favor, eu preciso sair daqui. – ela disse pra mim e eu senti que estava se controlando para não ceder aos instintos.

- Anariel, vigie o vampiro o máximo que conseguir. Vou voltar pro hotel com ela.

Meu irmão acenou uma vez e eu sabia que podia confiar em sua competência. Apertei a mão fria dela entre a minha e a guiei por entre os jovens bêbados até estarmos do lado de fora. Ela parecia nervosa, mas controlada.

Andamos a passos rápidos pelas ruas e tomamos um táxi. A viagem de volta foi silenciosa e eu sabia que muitas coisas a perturbavam naquele momento. Finalmente chegamos e quando entramos no quarto, Michaela se pôs a nadar de um lado para o outro, impaciente.

- Eu não acredito! – ela disse, ainda bastante alterada – Aquele filho da puta é um dos delegados de Julius! Como pode? Como eu não o vi naquele dia no La Fontera?

- Ele simplesmente não estava lá, Michaela. Se acalma.

- Me acalmar? Você tá de sacanagem com a minha cara, Gabriel? – ela colocou a mão na cintura.

- Não, eu só estou dizendo que não adianta você ficar assim. Agir por impulso pode trazer consequências graves.

- AH, é? E o que de pior poderia acontecer? Segundo você e seu irmão idiota eu já estou meio-morta mesmo! Que diferença faz?

Não respondi, mas senti que meu coração acelerou. Não a imaginava morta, em hipótese alguma. Céus, o que eu estava pensando? Era o meu dever mata-la, não socorrê-la! O que me importava se ela quisesse ir até o vampiro e se suicidar?

- Então faça como quiser. – eu disse sentando-me sobre a cama.

Eu precisava disso, precisava me convencer que ela não era diferente de nenhum outro e estava apenas sendo uma pequena ajuda para pegar Julius.

Ela me olhou surpresa, parece que minhas palavras a afetaram. Respirou fundo algumas vezes e me encarou. Eu pensei por um instante que a tinha magoado, mas isso era ridículo. Então ela cruzou os braços sobre o peito e disse marota:

- Você mente tão mal, Gabriel.

- Mentir? Eu só estou dizendo que não posso interferir se você quiser ir até lá.

Ela andou até mim e parou na minha frente.

- Então não liga se eu morrer hoje a noite?

Mas o que estava acontecendo? Há um minuto ela estava nervosa e querendo vingança contra o cara que a transformou e agora isso? Estava me testando?

- Eu não disse que não ligaria, apenas que não poderia fazer nada pra impedir. – respondi seriamente.

Ela me encarou em silêncio.

- Sabe... ele representa tudo em mim que eu não gosto. Eu só queria a chance de tirar dele o que ele tirou de mim.

Ela foi sincera comigo e senti que aquelas palavras doíam nela. Eu levantei e continuei encarando-a.

- A vingança nunca é o caminho, Michaela.

Ela riu.

- Você está tentando me ensinar a andar na linha?

- Estou tentando te mostrar o que é errado.

- Então, qual é o caminho certo pra mim, Gabriel?

Ela deu um passo a frente e isso nos deixou a centímetros de distância. Meu corpo inteiro latejava e eu podia ouvir claramente o que estava implícito naquela pergunta. Como fiquei calado – me concentrando – ela continuou.

- Sabe, eu só saí de lá por sua causa.

Quando ela falou isso, eu não soube o que senti. Seria verdade? Como era possível um vampiro ouvir um enviado de Deus, desistir de seu ataque, assumir o auto-controle? Como Michaela me escutou?

- Por quê? – eu perguntei desejando imensamente poder enxergar o verde de seus olhos.

- Eu não sei. – ela sussurrou pra mim.


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Notas finais do capítulo

aiaiai.. não sei não é resposta... já dizia minha mãe...

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