The Ghost Of You Still Loves Me. escrita por Miss McLean


Capítulo 1
A knife in his hands.




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20h08min, 27 de fevereiro de 2000.


Eu estava sentado na sala, mudando o canal da TV a toda hora, nada de bom para fazer, não havia algo que prendesse minha atenção. Eu estava sozinho. John saira para comprar qualquer coisa. Eu e ele morávamos na mesma casa por que crescemos juntos e éramos muito amigos desde pequenos. Crescemos com a ideia de que estudaríamos em alguma universidade e dividiríamos uma moradia. John tinha a sua namorada, Megan, e ela era legal. Nos dávamos bem. Era sempre uma felicidade quando nos encontrávamos, os três, em algum barzinho, e conversávamos por horas e horas. Eu não tinha nenhuma companhia. Não tinha namorada. Eu ainda não havia encontrado alguém que me fizesse feliz de verdade. Tive namoricos bobos da adolescência, mas nada muito intenso. Só me lembro mesmo é de Louise, que foi a que mais me deixou empolgado. Ficamos juntos por pouco tempo, mas valeu muito a pena. Eu sou o Gerard. Tenho 23 anos. Estou no último ano da faculdade de Belas Artes. Concluo no fim desse ano e estou ansioso para poder exercer minha profissão com diploma. Era um sonho de criança ser cartunista e fora bem difícil chegar até aqui. John sempre me deu forças e também graças à ele, estou quase lá.

Continuei tentando me distrair com a TV. E desisti logo em seguida. Sai um pouco, fui andar. Estava frio e era uma boa oportunidade para pensar nos meus projetos pessoais depois de concluir a faculdade. John não voltaria cedo, provavelmente iria encontrar Megan depois. Era um final de semana normal e eu recebi convites para sair dos meus colegas de classe, mas eu preferi permanecer em casa. Era difícil, mesmo morando na mesma casa, encontrar John. Eu não quis ir para a casa dos meus pais naquele final de semana, eu queria relembrar os velhos tempos com meu amigo de infância. Eu o considerava meu irmão e passei mais tempo com ele do que com o meu irmão de verdade, Michael, que faria 18 anos naquele ano e que eu chamaria para dividir também o espaço com a gente. Meus pais se sentiriam tranquilos porque eu ficaria responsável pelo caçula. Apesar de eu ter tido problemas com bebidas e drogas, eu já havia me curado e por isso não havia concluido a faculdade 2 anos antes. Não sei por que me senti na necessidade de fazer aquilo, mas eu fazia sem pensar e até gostava no início. Quando me senti extremamente vencido, John esteve do meu lado e por isso o considero meu irmão de verdade. Ele me ajudou bastante, e ajudou meus pais a se sentirem seguros com meus problemas. O único vício que não abandonei fora o do cigarro, o qual usei para me ajudar a pensar naquela noite fria.

Andei pelas ruas, avistei pessoas, famílias... E eu me perguntava quando eu formaria a minha. E se demoraria. Tudo bem, eu estava novo, mas sempre fui um romântico e sentimental. E eu sentia falta de alguém que eu não sabia quem era ainda...

Voltei para casa. Estava tudo escuro, do mesmo jeito que deixei quando sai. Ia subir para meu quarto quando vi John desolado, chorando muito, e fui até ele, queria saber o porquê, o que acontecia com ele, pois era muito difícil vê-lo triste assim, ainda mais depois de ter visto Megan. Ele estava na mesa da cozinha, e acendera a luz mais suave, a qual usamos sempre de noite, para deixar o ambiente um pouco mais iluminado. Olhei o relógio, eram 23h43min.

- Ei John, o que houve?

John estava com uma fisionomia que eu nunca vira antes. Ele estava com ódio, com raiva, com mágoa, sei lá. Ele não era o John que conviveu e convivia comigo por anos. Ele estava totalmente diferente de quando eu o vi da última vez. Eu o tinha visto há poucas horas.

- VOCÊ É O CULPADO! SÓ VOCÊ!

- Culpado de quê? O que você está falando? John, fala direito, me explica o que aconteceu.

John mal conseguia falar. Ele gritava apenas que eu era o culpado, ele cuspia, ele estava descontrolado.

- John, fala comigo! Eu sou o culpado de quê?

- A minha vida toda eu estive com você. Eu fui seu amigo de verdade, eu te ajudei quando você precisou. Você está aqui graças a mim e você sabe disso, por que você fez isso?

- Eu concordo que sempre fomos amigos, mas eu ainda não sei do que você está falando.

- Você nunca vai ser melhor que eu! Você nunca foi melhor que eu!Eu não entendia o que ele estava falando. Eu queria saber porque o meu irmão estava daquele jeito e só sabia me culpar por isso.

- Megan... - ele bateu com força na mesa e depois caiu da cadeira, se jogando ao chão, ainda em prantos.

- Megan...

Ele não concluia.

Megan? O que será que tinha acontecido?

Cheguei mais perto dele e agachei para ampará-lo, eu fiquei desesperado.

- O que houve com Megan? FALA JOHN, FALA!

- Não encosta em mim! Sai de perto de mim! Você nunca mereceu minha amizade, nunca...

- Por favor, o que eu tenho a ver com Megan e com o que você está dizendo?

- ELA TE AMA! Ela me disse que não quer ficar comigo, que nunca quis desde que te conheceu. Ela só se aproximou de mim por causa de você.

Eu fiquei atordoado. John estava com Megan há algum tempo e ele me contava sobre ela empolgado, dizia ter planos para um futuro com ela. Uma vez, lembro bem, ele sofreu muito por ter sido trocado por um outro rapaz que ele não gostava desde mais novo e ele amava demais a sua namorada. Passou um filme na minha cabeça daquela época, de tudo o que fizemos para ele superar. Eu não sabia o que dizer, eu não sabia o que fazer. Meu amigo agora estava me culpando por um sentimento que eu não tinha culpa de outra pessoa sentir. Meu irmão estava furioso comigo por algo que não me dizia respeito, se eu não fiz nada. E eu sei que ele poderia acabar com a nossa amizade de anos naquele instante por estar totalmente magoado, por ter se sentido usado.

Eu me afastei, enquanto o via chorar no chão. Eu ia sair dali e ia voltar para a rua. Eu não sabia o que seria de nós no dia seguinte. E eu tinha certeza de que eu não tinha a menor culpa do que Megan havia dito ou feito. Eu a tratava normalmente e ela pode ter confundido isso, mas eu não tinha como saber o que ela pensava. Ela parecia gostar de John. Ou não. Pensando melhor, ela parecia que gostava dele em tentativas frustradas para me fazer ciúmes.

Eu ia andando, quando John gritou:

- AONDE VOCÊ VAI? VAI ENCONTRAR COM ELA? VAI FICAR COM ELA?

- John, eu não sabia de...

- CALA A SUA MALDITA BOCA! Você sabia o quanto ela significava para mim. Você falava dela junto comigo, você dizia que daríamos certo. E no entanto, ela só queria você o tempo todo. E você vai aproveitar isso e vai ficar com ela, não vai?

- John, eu jamais trairia você. - voltei em direção a ele e me agachei. - eu não faria isso com meu irmão cara, você fez muito por mim, que tipo de pessoa você pensa que eu sou?

- Já disse pra não encostar em mim. - Ele disse, entre dentes - É por isso que você sempre achava divertido a companhia dela, é por isso que você nunca ficou com ninguém, é por isso! Você e ela já estavam juntos!

- John, não viaja! Eu não tenho nada com Megan e nunca terei. Não acredito que estou ouvindo isso do meu melhor amigo.

- Você não é mais meu amigo. E se ela não ficar comigo, também não ficará com você!

Ele levantou rapidamente e abriu a gaveta de talheres.

- Eu nunca vou te perdoar.

- O que você vai fazer? - eu estava apreensivo.

- O que você acha? - ele pegou uma faca.

- John, você está fora de si. Não faça isso. Eu nunca lhe fiz nada. Se você quiser, vou embora da cidade, mesmo sem ter culpa, mas não faça nada do que vá se arrepender depois.

- Eu não vou me arrepender. Você destruiu uma vida que eu mal construí. Megan disse que você sempre foi o tipo de homem perfeito, ela disse que você a deixava sem ar e que ela queria te tocar e quando estávamos juntos, era em você que ela pensava, era você que ela queria... Gerard, você não vai ficar com ela. Você também não viverá para contar essa história.

Eu comecei a chorar. Eu não acreditava no que ouvia e via. Eu perdia uma das pessoas mais importantes para mim e uma vida inteira naquele momento. Não me movi, não relutei. Eu apenas deixei acontecer. Ele veio para cima de mim, me dando facadas profundas e muito mais do que meu corpo, a minha alma sangrava por todas as nossas lembranças. E tudo o que aquela hora, 00h07min marcava, era o início da minha morte. Bem lenta, bem doída. Eu apenas via o meu amigo e irmão de todos aqueles anos se tornando meu assassino e chorando por isso. Não sei se chorava por matar alguém ou por matar o único cara que foi fiel a ele todos esses anos e que morreria fiel à ele. Depois de 5 vezes cravar e retirar a faca, ele me largou. Lembro de ficar agonizando e sentir o sangue se escorrer. Lembro de vê-lo com as mãos na cabeça e eu ouvia, muito longe, a sua voz pedindo perdão, e andando pela cozinha, sem rumo, buscando um telefone para ainda tentar me salvar. John havia feito algo irreversível. Duas facadas no peito, uma no estômago, uma perto do pescoço e uma última no braço direito. Eu estava morrendo. Eu vi tudo se esvair em questão de minutos. Eu usei a minha última força para chorar em silêncio. Lembrei dos meus pais e de Michael. Lembrei de tudo o que pensei durante o dia. Lembrei da minha infância e da minha conturbada fase da adolescência. E eu tinha apenas que acreditar e me conformar que o único que me salvou de mim mesmo, acabara de tirar tudo de mim. Não só meu sangue e meu ar. Ele tirou de mim um mundo que eu buscava conhecer, tirou de mim a oportunidade de fazer a diferença, de ser o profissional e um futuro marido e pai de família. Ele feriu meus sonhos, ele destruiu tudo em poucos minutos. E no meu ultimo suspiro, antes de fechar meus olhos, eu o vi perto de mim e ele chorava copiosamente. Não o ouvia mais. Eu... fechei meus olhos. E era decretado o meu fim em vida. Talvez outro lugar me esperasse. Ou seria um "até nunca mais".

**

Acordei. Eu estava em um lugar lindo. Lembrava apenas de ter visto sangue, muito sangue antes de acordar. E não conseguiria descrever o quão lindo era o lugar em que eu estava. Parecia uma terra nunca descoberta, mas não tinha flores e nem arvores. O sol parecia estar se pondo e o ceu era vermelho, e tinha algumas estrelas. Era quase noite, mas tinha um sol. Não fazia frio e nem calor. Ou fazia e eu não sentia... Era sempre assim, nunca diferente. Até eu conhecer o lugar aonde eu estava, eu não me lembraria de nada. E não veria nada. Depois de muito andar e sem saber para quê e para onde, eu senti um arrepio. E eu comecei a ouvir vozes. Vozes que ouvira antes. E uma cena apareceu na minha frente como se fosse uma tela de cinema. O sangue eu via era o meu próprio. Aquela cozinha, aquela faca e ele... John. Eu fiquei assustado e olhei meu corpo inteiro, procurando as tais feridas que eu estava vendo em mim mesmo naquela cena. Eu via meu próprio corpo sem vida. E eu não tinha o direito de chorar por ver aquilo, eu não poderia voltar e desfazer o que havia acontecido. Ainda via também John chorar sobre ele e pedir perdão sem cessar. Ele havia me matado por um momento de loucura. E eu havia me perdido em um mundo sem explicações. O pior de tudo era vê-lo carregar meu corpo depois de horas ali parado sem saber o que fazer. Eu não conhecia esse lado tão covarde daquela pessoa, que eu já não chamaria mais de amigo. Ele pegou a faca que usou e fez com que parecesse um suicídio. Ele sairia de lá em poucos minutos, limpando toda e qualquer suspeita de que fora ele quem me matou e iria atrás de Megan, fingindo estar desolado pelo fim do relacionamento deles. Ele afirmaria não ter estado em casa e conseguiria um álibi para concluir seu disfarce. Quanta decepção em vida e também em morte. Eu convivi com um estranho por anos e o chamava de meu amigo. E ele nunca admitiria que tirou a minha vida. Não teria essa coragem.

Ainda assistindo àquilo tudo, as horas passaram e encontraram um corpo esfaqueado na casa 36. Minha casa, meu corpo. Eu vi a investigação ocorrer, eu vi o desespero dos meus pais ao saber que morri, eu vi o fingimento de John ao afirmar que eu sofria de depressão e que já tentara fazer isso antes. Eu vi Megan inconsolável. Ela realmente gostava de mim e daria um fim na vida que levava com John. Mas ninguém jamais desconfiaria de que foi ele, o menos suspeito, que teria feito aquilo.John provou para a polícia, depois de arrumar a cena do crime toda, que eu tomava antidepressivos. Sim, eu os tomava na epoca em que me perdi no vicio com drogas e bebidas. Mas isso seria o alibi perfeito para alguém que queria fazer parecer uma cena suicida. Ele afirmou que eu já não os tomava e tirou toda a suspeita de cima de si mesmo. Disse também que eu já havia tentado fazer isso antes e bem... eu tentei. Mas foi tão frustrante pegar uma faca e me fazer feridas, ver o sangue escorrer e imaginar alguém me encontrando, e claro, eu desisti rapidamente. O fato é que ele conseguiu convencer. Inocente. Ele não era, mas passou a ser. Sofri muito naquele universo desconhecido ao assistir tudo sem poder fazer nada. Eu vi pessoas que nunca pensei que chorariam porque morri. Eu vi meu enterro e eu gritei... em vão. Eu não deveria ter morrido. Eu não deveria. Por que aquilo me aconteceu? Por quê? Eu não sabia o que era amor de pai para filho, de marido e mulher, amor pela profissão, valores familiares construídos por mim... E eu nunca saberia. Mas eu só deixaria a morte ser tranquila naquele lugar, tão sozinho, quando alguém pudesse desvendar a real história e o verdadeiro culpado fosse descoberto e pagasse por absolutamente tudo o que ele me causou de todas as formas.

Eu continuo aqui tão preso e isolado. Não existe dia ou noite. Não existem outras pessoas. Isso deveria ser um sinal de que ainda vou encontrar alguém que possa me ajudar a sair daqui e finalmente descansar em paz. Não é um desejo de vingança e sim um desejo eterno de justiça. Eu não tinha o menor pesar na consciência sobre o ocorrido naquele início da madrugada do dia 28/02/00. Eu fui vítima. E meu espírito precisava ser livre. Mas naquele lugar, como eu poderia? Algo sempre me soprava que aquele céu vermelho e de estrelas, seria ocupado pela vida de outra pessoa, e essa tal pessoa me salvaria daquele abismo tão bonito, intenso e doloroso. Depois de anos, eu o encontraria. Ele, somente ele, poderá ser meu ponto de segurança em um mundo que eu já havia sido excluído pela morte.


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Notas finais do capítulo

blé. q



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