Eu e Miku estávamos sentados, encostados nas paredes do labirinto que eram cobertas por folhas e rosas vermelhas, havíamos desistido de correr há muito tempo, parecia que esse lugar não tem saída, é como se ficasse mudando de formato- isso é só minha impressão, certo?- para que nunca conseguíssemos sair de lá, contudo, eu podia sentir o cheiro enjoado de Vossa Alteza Piko se aproximando, ainda que muito distante, e acredite, eu não quero encontrar com ele em muito tempo. Tive bastante tempo pra pensar em como resolver essa situação toda... Mas não consegui encontrar nenhuma resposta. Eu estava com fome e com uma ferida nas costas. Apenas descansávamos um pouco antes de recomeçar a nossa caminhada., decidi começar uma conversa:

 -Então... Qual a dessa espada?-Perguntei, com certa curiosidade.

 -Ela pertence á Alice...Essa espada sagrada talvez seja a chave para o que procuramos...-Respondeu, admirando a Espada Vorpeira com o olhar fixo, como se estivesse tentando ver além da lâmina, o vestido da garota estava sujo e um pouco rasgado, e eu duvido que eu estivesse mais apresentável que ela.

 -Huum... E o que procuramos?

 -Não sei... -E então, suspirou de maneira cansada. Eu entendo Hatsune, isso é confuso demais pra mim também. Pra todos nós.

 Isso se seguiu de um longo e perturbador silêncio, eu geralmente até gosto de fica em silêncio... Mas esse não era o caso.

 -Acho que devemos continuar andando!-Afirmei, tentando sorrir de maneira convincente.

 -Sim, o caminho de volta não irá se achar sozinho certo?-Respondeu, soltando uma risadinha logo em seguida. É, Miku, talvez o caminho não se ache. É disso que tenho medo.

 Ela se levantou e esperou-me para fazer o mesmo, levantei e fiz uma careta de dor, afastando-me em cerca de três passos... Droga de feridas, Miku me olhou com certo receio, e perguntou:

 - Está tudo bem?

 -Não... Aquele maldito pássaro arranhou as minhas costas, acho que está doendo!

 -por Deus! Por que não me avisou?-Exclamou agitada, levando as mãos as boca. Não era tão ruim assim... Né?

 -Não achei que era o momento para isso, além do mais, o que você faria?

 -Não escutou o que eu disse?! Eu tenho fator de cura! Céus! Deixe-me ver isso!-Ralho comigo, Hey, se acalme, garota nervosa...

 -Calma! Não é como se eu fosse morrer!-Gritei de volta (mas tarde eu percebi como era indiscreto discutir assim quando se está sendo seguido por uma Rainha Travesti).

 Miku me olhou de uma forma que eu entendi o que ela queria dizer, é, talvez eu pudesse acabar morrendo por isso, acho que o meu rosto embranqueceu. Tirei a camisa do “cosplay” que estava usando, esperando o diagnóstico da garota.

 -Oh!...Err... Nem está tão ruim!-Anunciou, falhando em tentar passar confiança.

 -Mentirosa!

 -Err... Eu? Bem... Deixe-me cuidar disso!-Ela disse, parecendo nervosa. Tive a impressão de que fui seu primeiro paciente, e isso não ajudou para que eu me sentisse melhor naquela hora. Sua mão foi rodeada por uma espécie de luz azul, depois ela e depositou sobre as minhas costas, eu senti uma dor ardente:

 -AHHHHHH! Isso dói!-Gritei, parecia que ela tinha esfregado sal grosso ali. E acredite, eu já tinha passado por isso antes.

 -Eu sei que dói... Mas eu estou tentando retirar o veneno, além do que...Está infeccionado!-Explicou, sua expressão estava endurecida, como se estivesse se concentrando muito naquilo.

 -Ve-Veneno?

 -Sim! Veneno! Agora calado!-Finalizou a conversa, ainda bastante concentrada.

 Eu me calei, por vezes, lágrimas de dor surgiam nos meus olhos, pois ela parecia ficar cada vez pior, eu arranhava o chão e mordia o lábio inferior (estou admirado que não tenha sangrado).

 Estávamos andando lado a lado agora, minhas costas ardiam, seria muito mais fácil se eu pudesse colocá-la nelas e sair correndo o mais rápido possível, porém, Miku disse que elas ainda doeriam por algum tempo, mas que agora eu não morreria por causa do veneno. Reconfortante não acha? Por isso estávamos agora nesse agradável passeio ao redor de espinhos.

 -Você quase me matou sabe?-Resmunguei, ainda podendo sentir as dores nas minhas costas.

 -Deixe de ser tão infantil!-Resmungou de volta. É, acho que duas pessoas com fome, cansadas e maltratadas não são as melhores de ter uma conversa.

 -Você vai ver o infantil quando eu der um soco na sua cara!-Devolvi, sem pensar, com a voz alterada, podia jurar que meus olhos estavam vermelhos.

 Hatsune parou de andar de repente e me olhou com uma expressão assustada. O que tinha acontecido comigo?

 -Desculpe... Eu... Eu não quis... -Comecei à formular uma desculpa, sem sucesso nisso.

 - Não, está tudo bem... Eu entendo que isso acontece quando você entra demais no personagem!-Falou, com a voz triste. O que ela quis dizer? Não continuei a conversa, em vez disso, segui em silêncio.

 Andamos um pouco, me surpreendi quando as rosas vermelhas se tornaram brancas e chegamos numa linha reta, ela seguia um pouco mais em frente e se podia ver duas pessoas, uma do lado esquerdo e outra do direito. Eu e Miku nos entreolhamos e corremos em direção a elas. E naquele momento, nem pensamos na possibilidade de serem inimigos.

 Eram um garoto e uma garota, estavam, respectivamente, nos lados direito e esquerdo dos caminhos que devíamos seguir, era aquilo, a rota deveria se dividir ao meio, o que significa que apenas uma daria no lugar correto. Ou não.

 -Sejam bem vindos!-Cumprimentou a garota de cabelos loiros presos em um rabo de cavalo e olhos azuis, ela me lembra alguém... Hum, não pode ser, ela só deve se parecer comigo e a Rin. Usava uma espécie de uniforme escolar com uma gravata e uma longa saia.

 -Caramba! Vocês demoraram! Eu já devia ter ido embora!-Disse o garoto, debochado, estava encostado no labirinto com uma expressão de tédio. Era muito parecido com a garota e usava prendedores de cabelo na franja, como alguém que eu conheço, e também usava uma bermuda, sua camisa presa por um laço de marinheiro. Eram ambos muito familiares pra mim. Familiares até demais.

 -Ninguém perguntou pra você o que faria... Não estou te forçando à ficar aqui, sabe?-Resmungou para o outro, ainda com um sorriso no rosto, mas seu olhar era ameaçador.

 -Até parece que não... Você ficou “Ah! Rinto! Não é sempre que nos pedem favores... Por favor, fique mais um pouco!” E além do mais, não precisa ficar tão ressentida só por causa daquilo!-Exclamou, imitando a voz fina da garota de forma cômica.

 -Quem são vocês?-Perguntei, um pouco mais receoso em relação aos dois.

 -Meu nome é Rinto, essa é a minha irmã gêmea mais nova, a Lenka!-Respondeu-me, com certo tédio na voz-Cara, você é baixinho mesmo, hein?-Debochou, colocando a mão sobre a minha cabeça.

 -Éramos tão parecidos, mas agora você ficou diferente... É bom, não é? Conhecer esse seu outro lado?-Perguntou, parecendo melancólica e misteriosa ao mesmo tempo. Mesmo assim, eu me sentia bastante confortável ao lado dela, como se já a conhecesse há muito tempo... Espera será que? Olhei com certa dúvida para ela, e como se entendesse o meu recado, fez que sim com a cabeça... Oh! Isso era uma surpresa.

 -Eu tenho muitas coisas pra falar com você!-Falei.

 -Mais tarde, o tempo irá nos permitir!Em breve, eu prometo!-Ela disse, pegando a minha mão e sorrindo - Agora o tempo corre e vocês precisam voltar!-Disse com certa seriedade, voltando a se postar ao lado do irmão.

 -Hey!Cara, não conte sobre isso pra Rin... Eu quero que ela descubra sozinha!-E depois piscou, sorrindo com certa diversão.

 -Antes, preciso lhe entregar uma coisa!-Disse Lenka, retirando o laço que prendia o seu cabelo e o deixando solto, amarrou o laço na minha mão, olhei pra ela com uma expressão de quem espera explicações- Você vai saber quando usar! Mas o faça sabiamente!- Exclamou, como um velho sábio que dá conselhos. Certo, vou usar um laço da maneira mais sábia o possível.

 -Uh! Tem certeza disso?-Perguntou Rinto pra a garota, como se ela tivesse acabado de me dar um grande tesouro.

 -Tenho sim, ele está pronto!-Sorriu pra mim novamente, de maneira misteriosa.

 - E pra qual direção devemos ir? Direita ou esquerda?-Perguntou Miku, finalmente falando alguma coisa, mas ainda de maneira receosa, como se tivesse acabado de interromper uma grande cerimônia ou coisa assim.

 Rinto soltou uma gargalhada, como se finalmente estivesse se divertindo ali.

 -Nem direita nem esquerda!-Respondeu ele, ainda entre risos.

 -Vocês não têm que ficar fazendo a curva toda vez que se depararem com uma barreira, devem seguir em frente!-Respondeu, e uma grande porta de madeira surgiu entre os dois.Eles se despediram, cada um correndo pra sua respectiva direção. Eu olhei pra Miku, que assentiu, entramos pela grande porta e tudo ficou claro, uma luz branca quase cegou meus olhos.

"Siga para frente, sem se importar com o que aconteceu acabe com o seu sofrimento, sorria e siga confiante em seu caminho." (O. S. Marden)

Continua...