New Wonderland escrita por FaynRith


Capítulo 8
Step


Notas iniciais do capítulo

HEY-JO! vou terminar essa fic NESSAS FÉRIAS! /

/it'sapromise



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STEP

Sua liberdade precisa ser conquistada Alice

–Onde você está…

–COELHO!

Maldosamente, a Rainha vermelha ergueu o bichano pelas longas orelhas felpudas. Seus pézinhos se rebateram lamuriados com a ação súbita, quase como se escalassem degraus de ar em direção a sua cabeça pálida e visivelmente irritada.

–LEBRE SUA VERME! - exclamava a Lebre de Março com os olhinhos endoidecidos de ódio. Agitava seus pés e mãos veementemente, na fútil tentativa de escapar de suas mãos. - Solte-me agora!

– Você! Venha até aqui! - A dama, repugnada lançou o bichano para longe e já avançava sobre outro serviçal, nada menos do que a pobre vassoura encabida de segui-la pelo jardim.

–Xenhora...– O cabo tremelicava ao impetuoso avanço da rainha.

Ajeitando o longo vestido com as duas mãozinhas de porcelana, avaliou-a dos fios dourados e limpos no chão, aos detalhes em branco na madeira polida. Esgueirou os olhos. Via nela insegurança, desejos, inocência embutida em uma fraqueza lastimável. Deu de ombros. Serviria.

– Traga-me luvas e um guarda-sol.

Imediatamente a vassoura se envergou antes de ruidosamente afastar-se, atrapalhada em seu próprio passar. Outros súditos lentamente afastaram-se da única criatura vermelha em meio ao jardim monocromático, temerosos de seus mandamentos e ainda incapazes de repudiá-los.

A Lebre, entretanto, arrumou seu terninho e encarou-a no longo corredor de rosas brancas. Uma necessidade incontrolável, pulgente prendia-o a ela. Talvez fosse o mercúrio, o estresse, o cotidiano alienante e aprisionador, mas algo de ensurdecedor a cercava que ele parecia apreciar e interiormente odiar. Sorriu, demasiada tristeza impressa em seus olhos, um grito na garganta.

Ele iria matá-la.

...~...

No colorido inebriante de flores e cogumelos, Alice fugia do apimentado ódio que a perseguia, incessantemente, depois de abandonar a casa da Duquesa. Grunhiu irritada, sentindo suas articulações gemerem com o esforço intenso. O céu agora de um profundo azul negrume fez com que um grito mudo preenchesse seus pulmões. Resolveu finalmente deitar-se abrigada por uma larga folha quando seu estômago rugiu, faminto. Retirou um pedaço pequeno de pão e uma garrafa mínima de água que carregava em sua cintura quando, prestes a deliciar-se, um sussurro pareceu suspirar em seus ouvidos.

– Não pare.

Rapidamente Alice levantou-se e empunhou a espada. De tão brusco que foi seu movimento, o corte em suas costas reabriu e um pobre gemido escapou entredentes. Murmurou, cansada:

– Apareça.

– Continue a fugir. - Uma criaturinha rosada e levemente familiar apareceu entre os ramos. Tinha uma voz leve, suave, tranquilizante.

– Você é aquele bebê da Duquesa, o que libertei em minha primeira visita.

– Obrigado. - O menino porquinho sorriu e elegantemente fez uma reverência.- Ela me mantinha em condições que julgam correto mas que apagavam lentamente o que me era essencial.

– Bem, não há de quê. - Sussurrou enquanto sentava-se na relva. A espada caiu entre seus dedos frouxos.

– Não é delicioso? – O menino murmurou. Seus olhinhos feios refletiam uma beleza muda, inexplicavelmente atraente, importante. Algo que faltava a Alice. - Fugir, eu digo.

– Parece-me que sim - Ela suspirou. Se pudesse fugir ou mesmo escapar da complexa escolha na qual se encontrava; entre a coroa e o retorno ao seu mundo. Uma aventura grotesca entre os dois reinos para o eclodir de uma guerra vazia. Fora enganada, suas esperanças que fincavam-se em pilares agora esdrúxulos, falsos, irritantes, foram destituídas de qualquer valor. E o que lhe parecia pior; dependia novamente do mando de outros, de sua boa vontade para prosseguir. Escapar daquela loucura parecia algo cansativo e entediante. E a cada passo, descobria que nada sabia, que nada seria capaz de alcançar naquele lugar inquietante onde as normas pareciam fugir do contexto. Dependente, frágil, parecia estar de mãos atadas no trilhar de seu próprio destino.

Isso tudo a irritava tanto.

– Você precisa fugir, Alice!

– Não acho que a Duquesa venha me achar tão longe de sua residência.

– Não me refiro a ela. - Ele, galante, emergiu ao seu lado. De perto, podia ver finas marcas de expressão em seu rosto. - Querem a sua cabeça.

Os olhos do menino cintilavam cristalinos numa tristeza muda. Ainda assim, a expressão dela não pode conter-se numa expressão amargurada. Ela compreendia que a população talvez a traísse para evitar uma possibilidade de guerra ou a derrubada da rainha, mas a ideia ainda não havia amadurecido em sua mente. Ele sorriu. Sua expressão cedia a tranquilidade de um conhecimento desconhecidamente puro. Ela desejou poder contemplá-lo por mais tempo.

– Precisa disto em sua jornada. - Ele arrancou algo de seu bolso. - Em minha liberdade, consegui isso e agora posso concedê-lo a você.

Límpido. É assim que poderia descrevê-lo. Em suas delicadas mãos, tinha um peso exorbitante mesmo que não fosse nada. Nem mesmo luz, nem mesmo material. Ainda assim era paradoxalmente substancial. Ela fechou os olhos e aquilo penetrou sua grossa armadura. Sua mente pareceu envelhecer e algo escuro abrangeu sua existência.

Não retorne ao castelo.

Aquela voz, novamente. Um rastro azul percorreu seus olhos, hipnotizante. Ainda sentada, imagem de uma figura esbelta e belamente feminina fixo seu olhar. A sua mera presença trouxe à campina tranquilidade e uma sensação de segurança inebriante. A voz ressonava em seus ouvidos dócil e suave, mas, no fundo de seu âmago, repercutia em grandes ondas que estremeciam seu corpo com uma atordoante melancolia. Ela sentiu uma inexplicável vontade de chorar. Estava enlouquecendo?

Alice...

...~...

– Alice não está no castelo!

A taberna entrou em alvoroço com o comunicado. A música parou de imediato, as vozes elevaram-se enquanto os casais paravam de dançar. Um pobre coelho branco que deliciava-se com vinho tinto sentiu-o escorrer pelos lábios enquanto sua mandíbula caía, perplexa.

– Como assim?

– Ela morreu?

– Não, ela morreu! Nossa heroína?

– Mas ela não terminou a Guerra ao matar o dragão?

– Ela não matou o dragão?

– Foi engolida!

As moças, tão inofensivas anteriormente, agora erguiam suas vozes marcadas pelo pânico, violentas, empurravam-se e subiam em cima das mesas. A confiança tão firme que os rapazes exibiam agora esvaziava-se, tornando-o os rabugentos, amendrontados, ciumentos. As amizades evaporaram numa pequena verdade encoberta de mentiras e logo, acusações e exigências ecoavam pelo estabelecimento. A guerra! A guerra!

No meio do alvoroço que engrossava a cada nova teoria, o mais fiel serviçal da Rainha Branca contornou o caos de cadeiras e pessoas, desviou os copos e ignorou os gritos que tornavam a idéia ainda mais estarrecedora. Saiu do sufocante bar para respirar um tanto do céu estrelado.

Suas pernas tremelicavam enquanto corria pelos corredores de casas, um lenço na mão, um único pensamento em sua mente.

Alice, a menina.

Estaria desaparecida?


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Notas finais do capítulo

ESPERO QUE ESTEJAM GOSTANDO! Se tiverem sugestões ou observem problemas na grafia, eu agradecerei as críticas! /kkprecisodeumbeta

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