New Wonderland escrita por FaynRith


Capítulo 7
Hope


Notas iniciais do capítulo

Olá, como prometi, fui mais rápida!
*importante: baseei-me no capítulo porco e pimenta de "as aventuras de Alice no País das Maravilhas".
Espero que aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/142466/chapter/7

H O P E

Aguarde o inesperado, Alice.

- Apressem-se! Andem logo, seu bando de folgados! – o pavão ululava pelo grande pátio. Movia-se desengonçado entre os serviçais, com seu terninho amarrotado preso por dois botões.

O Grande Palácio Branco amanhecia em um misto de estresse e ansiedade. Os serviçais percorriam, cabo a rabo, o imenso palacete, seguindo as ordens entrecortadas da governanta pavão. As empregadas varriam desesperadas, os cozinheiros coziam apressados, e os serviçais corriam para seus postos.

- Eles estão aqui! – um papagaio vermelho exclamou do portão. – Eles estão aqui!

Tudo e todos na casa pararam seus afazeres de imediato.

Entreolharam-se com esperanças conflitantes crescendo dentro de si. Podia-se ver a pura agonia espelhada em seus olhos. Engolindo em seco, correram pelos grandes corredores para recepcionar a comitiva de sua amada Rainha Branca, que retornava da batalha contra sua irmã Vermelha.

 O pavão desfilava calmo pelo corredor principal, a garganta estava seca. Arrumava seu terninho enquanto filas de serviçais seguiam-na até a entrada principal. Com seus botões, refletia, acalmava-se e,assim, descia a grande escada de granito antes de abrir as portas para o jardim. A fila dividia-se agora em quatro: duas ocupavam os dois lados das escadarias e as laterais da entrada, enquanto as duas restantes entendiam-se da porta ao grande portão com o Pavão lacaio entre ele.

A carruagem real adentrou os portões, seguida pelas tropas.

Trombetas tocaram. A Rainha logo surgiu da carruagem acompanhada de bispos e cavaleiros que relatavam incessantemente problemas e divisas a serem resolvidos. Ainda atarefada, não deixou de sorrir para seus atendentes, que a reverenciavam conforme passava.

 - Sua Alteza. – a governanta esticou a asa para tocar-lhe os dedos.

 - Oh, Pavão. Obrigada pela calorosa recepção. 

- Nada além do apropriado se me permite dizer. – murmurou timidamente, abaixando sua cabeça em reverência.

- Pois para mim parece imprópria.

A Rainha Vermelha e seu valete desceram da última carruagem com os olhos carregados de escárnio e arrogância. Os serviçais abaixaram a cabeça, trêmulos com a presença sombria que aquela mulher ostentava.

 - Diga-me, ave, onde meus aposentos temporários serão? – Disse ela, abrindo seu enorme leque.

- Rainha Vermelha, - o pavão sorriu forçadamente, os olhos fitando seus olhos esbugalhados em uma falsa calmaria. – Seus aposentos estão a sua espera no alto da segunda masmorra.

 - Acredito que tal cômodo não seja apropriado para uma dama de meu calibre. – murmurou secamente. – Tenho certeza de que não haverá problemas em ocupar os cômodos reais de meu falecido pai.

 O pavão fechou a cara. Todos os servos ergueram seus olhares para a mulher vestida de vermelho e para sua estúpida ousadia. Porém, bastou a ela que olhasse ao seu redor para que abaixassem novamente suas cabeças, submissos.

- Esses cômodos estão restritos ao uso da Rainha Branca.

- Tenho certeza de que ela não se importará se eu ocupá-los. - Fechando o leque em um movimento rápido, encarou sua irmã por cima do ombro: - não concorda, Branca?

 A Rainha Vermelha fitou sua irmã longamente antes de cerrar seus olhos em um tom sério de desafio.

 -Sim, - Branca murmurou - não vejo problemas. 

Os serviçais encararam-na perplexos. O pavão lacaio estava prestes a replicar quando Branca interrompeu-a:

 - Por favor, leve-a para os aposentos junto com seus pertences. – O pavão pareceu querer argumentar, mas consentiu silenciosamente. – Coelho, convoque todos os superintendentes para a reunião com o Oráculo. Já estarei a caminho.

A Rainha Branca, silenciosamente, subiu as escadas atapetadas de veludo vermelho enquanto seus súditos observavam-na abismados, sem entender seu comportamento.

- Leve meus pertences com cuidado. – A Rainha Vermelha estalou os dedos, e dois macacos trouxeram sua imensa mala e lançaram-na aos braços do pavão. – Pretendo esticar minhas pernas antes de adentrarmeus aposentos.

E, dando as costas com uma pompa inigualável, a dama saiu pela porta de mogno até o grande Jardim. Logo que ela desapareceu, o pavão deu a mala a dois peões que a carregaram escadaria acima.

- Vassoura! – exclamou irritada. – Corra até aqui!

- Sim, madame! – ela disse enquanto surgia debaixo da grande escada.

– Em que posso axudá-la?

- Acompanhe aquela cobra pelo Jardim. Sinto que não suportarei vê-la nem mais um instante.

- Mas eu...

- Ninguém está apto. Só vá lá e assegure-se de que ela não escape. – vendo que ela ainda não se movia, tornou a gritar: - Vá logo! Quantas vezes terei de repetir?

- Sim, senhora, madame, já extou a caminho! – Disse Vassoura enquanto corria atrás da Rainha, que encarava as rosas brancas dos portões com nojo.

O exército não percebeu a presença da Rainha Vermelha ao passar pelo Grande Jardim, pois estavam todos muito atarefados com os armamentos e os feridos. A lebre de março ergueu, entretanto, suas orelhas instintivamente, os olhos intensos acompanhavam a mulher de vermelho no mar de flores brancas.

- Hum... Nós já chegamos, não? – perguntou Tweedledee no meio do exército de baralhos, que marchavam desorganizados pelo Jardim.

- Mas é óbvio que não! – Tweedledum respondeu. – Não está vendo as rosas brancas? É claro que ainda estamos na floresta.

- Deixem de serem bobos, seus tolos. – Grunhiu a Lebre de Março, balançando ameaçadoramente uma xícara inglesa. – Estamos indo tomar chá no baile das sete. Só fomos pedir informação para aquela placa, e aquele caminho é aqui atrás da mesa. Agora estamos vendo essa coisa grotesca vermelha pegar café porque acabou a madeira.

- Eu gosto de madeira. – Humpty Dumpty declarou. – Não é pontiaguda...

- Onde está Alice?

Os quatro olharam para a origem da pergunta. O Chapeleiro mantinha os olhos violetas vagos e distantes. Com o chapéu em mão, mexeu em seu cabelo ruivo bagunçado, como se algo lhe viesse à mente.

- Onde está Alice?

●▬▬▬▬▬๑۩۩๑▬▬▬▬▬▬●

- Já é de manhã... – Alice murmurou. Encarou o céu alaranjado enquanto perambulava pela densa floresta. Apertou com força o machucado em suas costas, soltando imediatamente um gemido agonizado.  – Como será que todos estão?

- Ei, você!

Alice virou-se para o chamado inesperado. Um sapo verde de cabelos encaracolados e olhos esbugalhados estava enfiado em um libré solto, encarando-a preguiçosamente. Fez um assobio que Alice supôs ser sua respiração.

- Lembra-se de mim?

- Lacaio-sapo? – Alice questionou, após refletir por um instante.

- Ora, sim! Mas é óbvio. – Respondeu o sapo com o peito estufado. – Suponho que tenha vindo ver minha mestra.

- A Duquesa? – Alice aproximou-se do sapo com sua respiração pesada. Estranhou o comportamento mais adequado à sua posição como servente. – A casa dela é por essas bandas?

- Ora, sim! Mas é óbvio. – O Sapo deu meia volta. – Vou levá-la até lá.

- Não quero ir! – Ela interrompeu-se, pensando em como fora rude. – Tenho outros afazeres no momento...

- Ora, sim! Mas é óbvio. – O sapo lacaio aproximou-se ameaçadoramente. – Por isso, os levarei conosco.

E, em um rápido movimento, levantou-a pela cintura. Alice tentou reagir, mas o sapo era surpreendentemente forte – e rápido. Logo, a menina já estava sentindo o cheiro de pimenta forte, que a casa da Duquesa exalava.

- Huh? - Por um breve instante, Alice teve um vislumbre de uma criaturinha rosada entre os arbustos da casa. Parecia-lhe levemente familiar.

- Duquesa, senhora! – exclamou o sapo com Alice sobre os ombros. – Trouxe a convidada!

- Convidada? Que convidada? Eu que fui convidada... – A voz aguda e ranzinza da Duquesa grunhiu de dentro da casa.

Logo que adentraram na casa escura e apertada, Alice não pode deixar de tossir e cerrar os olhos: o único aposento ainda mantinha aquele cheiro de pimenta ardida que vinha da cozinha.

- Ora, se não é aquela menininha estranha de anos atrás... – provocou a dama ao vê-la sobre os ombros de seu lacaio.

- Duquesa, - Alice murmurou com olhos lacrimejando pela pimenta. – É um prazer revê-la novamente.

- Está machucada. – Observou a Duquesa após o lacaio tê-la deixado sobre a cadeira. Tossiu piamente assim como todos no cômodo, exceto a cozinheira.  – Sinceramente, não estou surpresa. Um pouco de pimenta vai ajudá-la.

E, antes que pudesse retrucar, a cozinheira lançou-lhe uma poeira densa de pimenta que a fez tossir e contorcer-se. Ela caiu da cadeira com os punhos cerrados de pura agonia. Ergueu-se do chão, irritada:

- Por que jogou pimenta sobre mim? Isso não me ajuda com o ferimento, apenas o irrita. – Murmurou, com os olhos lacrimejando.

- Ora, sim! Mas é óbvio. – O sapo retrucou de praxe. – Veja seus ferimentos.

- Não! – Alice berrou. – Não consigo ver ou respirar com toda essa pimenta no ar. Por que vocês usam tanta pimenta?!

- Continua rebelde e mal educada! Ainda pensa em revoluções? – A Duquesa encarou-a com olhos pesados, sem levantar-se da cadeira.

- E você ainda é convidada para jogar croqué com a Rainha Vermelha?

- Não, infelizmente. Desde que meu bebê escapou, não tive muito interesse – essa última palavra pareceu à Alice um pouco inadequada – a socialização. Mas, recentemente, fui convidada para um jantar de comemoração no castelo Branco, pela vitória no tabuleiro. Estou pensando em ir, embora não encontre roupas adequadas.

Subitamente, a cozinheira começou a lançar tudo o que tinha a seu alcance sobre a Duquesa e Alice. Alice abaixou-se, lembrando-se da algazarra que ouvira antes de adentrar a casa. Muitos pratos e louças atingiram a Duquesa, mas ela parecia nem notar. Apenas quando uma mamadeira atingiu-lhe o nariz, virou-se irritada para cozinheira, que estava novamente de bruços para a sua sopa.

- Precisa de mais pimenta – observou a Duquesa friamente.

- Um jantar de comemoração? – Alice perguntou enquanto se levantava de baixo da mesa.

- Sim, - ela fez um gesto ao lacaio, que, tossindo muito, entregou-lhe uma cartolina do tamanho de um almanaque. – Mas não que isso seja da sua conta. Sei que não foi convidada.

Empertigada com a resposta, retrucou sem pensar muito:

- Saiba que esse jantar foi feito à minha honra e a todos os que batalharam ao lado da Rainha. Se alguém tivesse de ser convidada, seria eu; e não, você, que mal soube cuidar do seu nenê.

O último comentário pareceu ofender a dama, que, em um movimento, levantou-se da cadeira e avançou ameaçadoramente até Alice - que, naquele momento, regredia ter se levantado:

- Como ousa? – A Duquesa sibilou. – Cortem-lhe a cabeça!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? O que vocês acham que o Oráculo dirá a Rainha Branca? Ou o que a Duquesa fará a Alice? Ou será que a menina conseguirá chegar a tempo do castelo? E as fantasias de Alice? Teria sido um truque de Absolem ou do Gato de Cheshire?
...Descubram em menos de um mês!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "New Wonderland" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.