New Wonderland escrita por FaynRith
Notas iniciais do capítulo
Olá, como prometi, fui mais rápida!
*importante: baseei-me no capítulo porco e pimenta de "as aventuras de Alice no País das Maravilhas".
Espero que aproveitem!
H O P E
Aguarde o inesperado, Alice.
- Apressem-se! Andem logo, seu bando de folgados! – o pavão ululava pelo grande pátio. Movia-se desengonçado entre os serviçais, com seu terninho amarrotado preso por dois botões.
O Grande Palácio Branco amanhecia em um misto de estresse e ansiedade. Os serviçais percorriam, cabo a rabo, o imenso palacete, seguindo as ordens entrecortadas da governanta pavão. As empregadas varriam desesperadas, os cozinheiros coziam apressados, e os serviçais corriam para seus postos.
- Eles estão aqui! – um papagaio vermelho exclamou do portão. – Eles estão aqui!
Tudo e todos na casa pararam seus afazeres de imediato.
Entreolharam-se com esperanças conflitantes crescendo dentro de si. Podia-se ver a pura agonia espelhada em seus olhos. Engolindo em seco, correram pelos grandes corredores para recepcionar a comitiva de sua amada Rainha Branca, que retornava da batalha contra sua irmã Vermelha.
O pavão desfilava calmo pelo corredor principal, a garganta estava seca. Arrumava seu terninho enquanto filas de serviçais seguiam-na até a entrada principal. Com seus botões, refletia, acalmava-se e,assim, descia a grande escada de granito antes de abrir as portas para o jardim. A fila dividia-se agora em quatro: duas ocupavam os dois lados das escadarias e as laterais da entrada, enquanto as duas restantes entendiam-se da porta ao grande portão com o Pavão lacaio entre ele.
A carruagem real adentrou os portões, seguida pelas tropas.
Trombetas tocaram. A Rainha logo surgiu da carruagem acompanhada de bispos e cavaleiros que relatavam incessantemente problemas e divisas a serem resolvidos. Ainda atarefada, não deixou de sorrir para seus atendentes, que a reverenciavam conforme passava.
- Sua Alteza. – a governanta esticou a asa para tocar-lhe os dedos.
- Oh, Pavão. Obrigada pela calorosa recepção.
- Nada além do apropriado se me permite dizer. – murmurou timidamente, abaixando sua cabeça em reverência.
- Pois para mim parece imprópria.
A Rainha Vermelha e seu valete desceram da última carruagem com os olhos carregados de escárnio e arrogância. Os serviçais abaixaram a cabeça, trêmulos com a presença sombria que aquela mulher ostentava.
- Diga-me, ave, onde meus aposentos temporários serão? – Disse ela, abrindo seu enorme leque.
- Rainha Vermelha, - o pavão sorriu forçadamente, os olhos fitando seus olhos esbugalhados em uma falsa calmaria. – Seus aposentos estão a sua espera no alto da segunda masmorra.
- Acredito que tal cômodo não seja apropriado para uma dama de meu calibre. – murmurou secamente. – Tenho certeza de que não haverá problemas em ocupar os cômodos reais de meu falecido pai.
O pavão fechou a cara. Todos os servos ergueram seus olhares para a mulher vestida de vermelho e para sua estúpida ousadia. Porém, bastou a ela que olhasse ao seu redor para que abaixassem novamente suas cabeças, submissos.
- Esses cômodos estão restritos ao uso da Rainha Branca.
- Tenho certeza de que ela não se importará se eu ocupá-los. - Fechando o leque em um movimento rápido, encarou sua irmã por cima do ombro: - não concorda, Branca?
A Rainha Vermelha fitou sua irmã longamente antes de cerrar seus olhos em um tom sério de desafio.
-Sim, - Branca murmurou - não vejo problemas.
Os serviçais encararam-na perplexos. O pavão lacaio estava prestes a replicar quando Branca interrompeu-a:
- Por favor, leve-a para os aposentos junto com seus pertences. – O pavão pareceu querer argumentar, mas consentiu silenciosamente. – Coelho, convoque todos os superintendentes para a reunião com o Oráculo. Já estarei a caminho.
A Rainha Branca, silenciosamente, subiu as escadas atapetadas de veludo vermelho enquanto seus súditos observavam-na abismados, sem entender seu comportamento.
- Leve meus pertences com cuidado. – A Rainha Vermelha estalou os dedos, e dois macacos trouxeram sua imensa mala e lançaram-na aos braços do pavão. – Pretendo esticar minhas pernas antes de adentrarmeus aposentos.
E, dando as costas com uma pompa inigualável, a dama saiu pela porta de mogno até o grande Jardim. Logo que ela desapareceu, o pavão deu a mala a dois peões que a carregaram escadaria acima.
- Vassoura! – exclamou irritada. – Corra até aqui!
- Sim, madame! – ela disse enquanto surgia debaixo da grande escada.
– Em que posso axudá-la?
- Acompanhe aquela cobra pelo Jardim. Sinto que não suportarei vê-la nem mais um instante.
- Mas eu...
- Ninguém está apto. Só vá lá e assegure-se de que ela não escape. – vendo que ela ainda não se movia, tornou a gritar: - Vá logo! Quantas vezes terei de repetir?
- Sim, senhora, madame, já extou a caminho! – Disse Vassoura enquanto corria atrás da Rainha, que encarava as rosas brancas dos portões com nojo.
O exército não percebeu a presença da Rainha Vermelha ao passar pelo Grande Jardim, pois estavam todos muito atarefados com os armamentos e os feridos. A lebre de março ergueu, entretanto, suas orelhas instintivamente, os olhos intensos acompanhavam a mulher de vermelho no mar de flores brancas.
- Hum... Nós já chegamos, não? – perguntou Tweedledee no meio do exército de baralhos, que marchavam desorganizados pelo Jardim.
- Mas é óbvio que não! – Tweedledum respondeu. – Não está vendo as rosas brancas? É claro que ainda estamos na floresta.
- Deixem de serem bobos, seus tolos. – Grunhiu a Lebre de Março, balançando ameaçadoramente uma xícara inglesa. – Estamos indo tomar chá no baile das sete. Só fomos pedir informação para aquela placa, e aquele caminho é aqui atrás da mesa. Agora estamos vendo essa coisa grotesca vermelha pegar café porque acabou a madeira.
- Eu gosto de madeira. – Humpty Dumpty declarou. – Não é pontiaguda...
- Onde está Alice?
Os quatro olharam para a origem da pergunta. O Chapeleiro mantinha os olhos violetas vagos e distantes. Com o chapéu em mão, mexeu em seu cabelo ruivo bagunçado, como se algo lhe viesse à mente.
- Onde está Alice?
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- Já é de manhã... – Alice murmurou. Encarou o céu alaranjado enquanto perambulava pela densa floresta. Apertou com força o machucado em suas costas, soltando imediatamente um gemido agonizado. – Como será que todos estão?
- Ei, você!
Alice virou-se para o chamado inesperado. Um sapo verde de cabelos encaracolados e olhos esbugalhados estava enfiado em um libré solto, encarando-a preguiçosamente. Fez um assobio que Alice supôs ser sua respiração.
- Lembra-se de mim?
- Lacaio-sapo? – Alice questionou, após refletir por um instante.
- Ora, sim! Mas é óbvio. – Respondeu o sapo com o peito estufado. – Suponho que tenha vindo ver minha mestra.
- A Duquesa? – Alice aproximou-se do sapo com sua respiração pesada. Estranhou o comportamento mais adequado à sua posição como servente. – A casa dela é por essas bandas?
- Ora, sim! Mas é óbvio. – O Sapo deu meia volta. – Vou levá-la até lá.
- Não quero ir! – Ela interrompeu-se, pensando em como fora rude. – Tenho outros afazeres no momento...
- Ora, sim! Mas é óbvio. – O sapo lacaio aproximou-se ameaçadoramente. – Por isso, os levarei conosco.
E, em um rápido movimento, levantou-a pela cintura. Alice tentou reagir, mas o sapo era surpreendentemente forte – e rápido. Logo, a menina já estava sentindo o cheiro de pimenta forte, que a casa da Duquesa exalava.
- Huh? - Por um breve instante, Alice teve um vislumbre de uma criaturinha rosada entre os arbustos da casa. Parecia-lhe levemente familiar.
- Duquesa, senhora! – exclamou o sapo com Alice sobre os ombros. – Trouxe a convidada!
- Convidada? Que convidada? Eu que fui convidada... – A voz aguda e ranzinza da Duquesa grunhiu de dentro da casa.
Logo que adentraram na casa escura e apertada, Alice não pode deixar de tossir e cerrar os olhos: o único aposento ainda mantinha aquele cheiro de pimenta ardida que vinha da cozinha.
- Ora, se não é aquela menininha estranha de anos atrás... – provocou a dama ao vê-la sobre os ombros de seu lacaio.
- Duquesa, - Alice murmurou com olhos lacrimejando pela pimenta. – É um prazer revê-la novamente.
- Está machucada. – Observou a Duquesa após o lacaio tê-la deixado sobre a cadeira. Tossiu piamente assim como todos no cômodo, exceto a cozinheira. – Sinceramente, não estou surpresa. Um pouco de pimenta vai ajudá-la.
E, antes que pudesse retrucar, a cozinheira lançou-lhe uma poeira densa de pimenta que a fez tossir e contorcer-se. Ela caiu da cadeira com os punhos cerrados de pura agonia. Ergueu-se do chão, irritada:
- Por que jogou pimenta sobre mim? Isso não me ajuda com o ferimento, apenas o irrita. – Murmurou, com os olhos lacrimejando.
- Ora, sim! Mas é óbvio. – O sapo retrucou de praxe. – Veja seus ferimentos.
- Não! – Alice berrou. – Não consigo ver ou respirar com toda essa pimenta no ar. Por que vocês usam tanta pimenta?!
- Continua rebelde e mal educada! Ainda pensa em revoluções? – A Duquesa encarou-a com olhos pesados, sem levantar-se da cadeira.
- E você ainda é convidada para jogar croqué com a Rainha Vermelha?
- Não, infelizmente. Desde que meu bebê escapou, não tive muito interesse – essa última palavra pareceu à Alice um pouco inadequada – a socialização. Mas, recentemente, fui convidada para um jantar de comemoração no castelo Branco, pela vitória no tabuleiro. Estou pensando em ir, embora não encontre roupas adequadas.
Subitamente, a cozinheira começou a lançar tudo o que tinha a seu alcance sobre a Duquesa e Alice. Alice abaixou-se, lembrando-se da algazarra que ouvira antes de adentrar a casa. Muitos pratos e louças atingiram a Duquesa, mas ela parecia nem notar. Apenas quando uma mamadeira atingiu-lhe o nariz, virou-se irritada para cozinheira, que estava novamente de bruços para a sua sopa.
- Precisa de mais pimenta – observou a Duquesa friamente.
- Um jantar de comemoração? – Alice perguntou enquanto se levantava de baixo da mesa.
- Sim, - ela fez um gesto ao lacaio, que, tossindo muito, entregou-lhe uma cartolina do tamanho de um almanaque. – Mas não que isso seja da sua conta. Sei que não foi convidada.
Empertigada com a resposta, retrucou sem pensar muito:
- Saiba que esse jantar foi feito à minha honra e a todos os que batalharam ao lado da Rainha. Se alguém tivesse de ser convidada, seria eu; e não, você, que mal soube cuidar do seu nenê.
O último comentário pareceu ofender a dama, que, em um movimento, levantou-se da cadeira e avançou ameaçadoramente até Alice - que, naquele momento, regredia ter se levantado:
- Como ousa? – A Duquesa sibilou. – Cortem-lhe a cabeça!
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E então? O que vocês acham que o Oráculo dirá a Rainha Branca? Ou o que a Duquesa fará a Alice? Ou será que a menina conseguirá chegar a tempo do castelo? E as fantasias de Alice? Teria sido um truque de Absolem ou do Gato de Cheshire?
...Descubram em menos de um mês!