(...) se sentiam responsáveis por elas, por que se as levassem talvez poderiam ser mortas por alguma criatura, mas se as deixassem sozinhas, elas com certeza iriam ser mortas.

─ Dean, acha que seria um problema levar as duas com a gente? ─ Sam disse com sua voz gutural, quase baixa demais pra que Dean ouvisse.

Mas depois de alguns instantes ele responde, tão baixo quanto ─ Cara elas são duas malucas com poderes. Se largarmos elas duas vão sair por ai fazendo bagunça.

Sam olhou confuso para o irmão, mas assentiu. Estava decidido então.

Eram três da manhã quando o telefone daquele minúsculo apartamento tocou

─ Que droga! ─ disse Ella acordando mal humorada ─ Que horas são, hein?

─ Sei lá! Atende logo essa porcaria. ─ Lilly se virou de lado e voltou a dormir.

─ Quem é?

─ Oi, Ella? É o Sam.

─ Sim. Claro... Oi Sam. ─ Ela coçou os olhos ficando mais atenta

─ Desculpe a hora, mas queremos que venham com a gente e precisamos sair agora.

─ Pra onde? São três horas da manhã!

─ Desculpe, mas tinha que ser agora. Temos que ver uma pessoa que pode nos ajudar a achar o demônio.

─ Ah! Tudo bem então!

─ Então vão com agente?

─ Sim! Vou acordar... ─ Ela olhou a irmã esparramada na cama ─ Tentar acordar a Lilly. Que horas vocês vêm?

─ Assim que acabarem de se arrumar desçam. Não precisam trazer nada.

“Nós não temos nada mesmo...” Ella se levantou pensando em como seria sair da cidade pela primeira vez em 23 anos. Lilly também queria sair da cidade, mas se sentia presa a tudo que tinham vivido ali. Elas tinham passado a vida toda em Ocala e ela considerava uma perda sair da cidade. Era aquela a cidade onde tudo tinha acontecido, não podia deixar tudo de lado desse jeito. E Ella estava mais que ninguém, ciente disso.

─ Lilly! ─ disse Ella sacudindo a irmã gentilmente

─ Quem era? ─ perguntou Lilly se espreguiçando enquanto levantava da cama.

─ Era o Sam. Ele disse pra arrumarmos poucas coisas, que ele viria nos buscar.

Ella viu Lilly baixar a cabeça olhando pro chão. ─ Lilly, por favor ─ disse Ella sentando do lado da irmã ─ vamos, não me diga que vai desistir agora! A gente tem a oportunidade de achar quem matou nossos pais, a tia Rachel e o Leo. Além, de saber quem nós somos de verdade, de onde vêm esses poderes. Vivemos esse tempo todo fingindo que acreditávamos no que tia Rachel contava e se não fosse pelo respeito que tínhamos por ela já saberíamos de onde eles vêm. Por favor, não jogue essa oportunidade pro alto. Não temos mais nada a perder, nem a que nos apegar aqui.

─ Eu sei, mas... ─ disse Lilly num suspiro

As duas se olharam por longos segundos. Então Lilly lançou um olhar que Ella percebeu que a irmã tinha se rendido, então sorriram e se levantaram. Elas não tinham o que arrumar, só as roupa que estavam no dia do incêndio e os casacos de couro que Leo lhes tinha dado de aniversário.

─ É isso ai, acho que estamos prontas. ─ disse Ella abrindo a porta enquanto Lilly deixava um recado pra camareira dizendo que iriam sair por uns dias, e que os dias que ficaram já estavam pagos.

─ É já podemos ir.

Elas desceram pra portaria e imediatamente encontraram Dean e Sam encostados no carro. Quando Dean as viu levantou as mãos. Poucos cumprimentos e Lilly e Ella entraram no carro enquanto eles sentavam na frente.

─ Vamos? ─ perguntou Dean apertando o volante

─ Uhum! ─ Sam respondeu numa expressão que aqui quer dizer ❝Não quero falar nada, mas sim, você pode ir!❞

Dean aumentou o som do carro que tocava sua fita do AC/DC.

─ Gosto dessa música. ─ Ella balançou a cabeça no ritmo do solo de "Back in Black"

Sam rolou os olhos se afundando no banco do carona.

─ Não acredito que você não gosta! ─ Lilly olhou indignada ─ Como alguém pode não gostar de rock?

─ Tem muita gente com bom senso por ai que não escuta esse tipo de porcaria anos oitenta.

Os vidros estavam abertos e o vento estava entrando. A musica estava cada vez mais alta pra Sam e ele não conseguia se concentrar em mais nada além da musica, até que começou a se balançar no ritmo.

─ Ta bom, Lilly já pode parar ─ Ele disse tapando os ouvidos.

Lilly soltou uma gargalhada sonora. ─ Viu que não é tão ruim assim?! ─ E de repente ela parou de falar e ficou muito seria. ─ Como sabia que era eu?

─ Vamos dizer que você tem certo poder de persuasão e eu já tinha reparado isso.

Ela prendeu o cabelo num coque, pensativa.

Todos estavam calados agora, Dean não tirava os olhos da estrada e Ella não tirava os olhos de Dean. Lilly reparou isso, na verdade Lilly estava prestando atenção em tudo que estava acontecendo no carro, cada sentimento, cada emoção que passava pelo coração de cada um e em especial o de Sam. Lilly estava realmente intrigada com a forma que Sam tinha falado de seus poderes. Houve dois momentos em que ele olhou pelo retrovisor o rosto que o observava.

Ella por outro lado estava interessada nos pensamentos de outra pessoa. Olhava Dean, revirando cada pensamento que tinha lido dele na noite anterior. Dean era pra ela como um espelho. Podia ver nele, a mesma preocupação com o irmão mais novo, sempre pensando nas coisas mais ajustadas quanto possível pra proteger Sam, assim como ela se sentia com Lilly. Dean já estava menos desconfiado e até considerava boa à ideia de as garotas caçarem com eles. Ou pelo menos tentar.

Em algum ponto da estrada eles pararam pra comer hambugers em uma lanchonete.

Já era noite quando Dean disse ─ Já estamos quase lá!

Dean foi desacelerando até parar na frente de um bar, no meio da estrada, construído com madeira. E um letreiro enorme de neon que formavam duas palavras que Lilly demorou a entender.

─ Aí está o Road House. O bar mais mal frequentado dos Estados Unidos.

─ Se é tão mal frequentado, então porque viemos aqui? ─ perguntou Ella.

Dean e Sam entraram despreocupados no bar seguidos por duas irmãs completamente deslocadas naquele lugar cheio de homens bêbados falando alto.

─ Totalmente conveniente aquele comentário do Dean ─ disse Lilly olhando pra Ella que tentava se esquivar de um bêbado. Elas os seguiram até um balcão no centro do bar.

─ Oi Ellen ─ Dean e Sam cumprimentaram uma mulher que aparentava uns quarenta anos e abriu um sorriso enorme quando viu os garotos.

─ E ai rapazes. O que fazem por aqui?

─ Viemos falar com o Ash, ele ta aí? ─ perguntou Dean

─ Ah, o Ash ta sim. Vou chamar ele. ─ Ellen saiu por debaixo do balcão sem sequer notar a presença das garotas e foi atrás de Ash passando pela multidão que enchia o bar. Dean e Sam se sentaram nas cadeiras de costas pro balcão pra esperar e olharam as duas garotas que observavam todos os cantos com uma expressão de surpresa e repulsa.

Uma garota loira muito parecida com Ellen apareceu e pulou no pescoço de Dean.

─ Oi Dean pensei que nunca mais ia ver você por aqui.

─ Oi Joh ─ ele retribuiu o abraço.

Ella olhou a garota como se quisesse fuzilá-la, – depois ela disse que foi por que Joh tinha lhe empurrado, mas na hora Lilly viu ciúmes. – E antes que Joh pensasse em qualquer outra aproximação, ela se aproximou dos rapazes e começou a falar despreocupadamente.

─ Já é a segunda ‘amiga’ ─ todo mundo percebeu a ironia ─ de vocês que não nos apresentam. Prazer ─ disse dando dois beijinhos na bochecha de Joh ─ Meu nome é Ella e essa é minha irmã Lilly.

Joh estava sem entender direito, mas cumprimentou as irmãs e saiu com um tchauzinho sem graça.

─ RÁRÁRÁ ─ Dean caiu na gargalhada. Os três olharam pra cara dele. ─ Que foi, cara? ─ Sam franziu a testa ─ rárá... Ella espantou Joh... rá... Melhor que nós... rárá... Espantamos demônios. RÁRÁ ─ Ela olhou seria pra Dean sem achar a menor graça enquanto Sam e Lilly também começaram a rir.

─ O que é? Engoliu um palhaço, Dean? Porque não estou consigo ver a graça. ─ Disse saindo de perto deles

Ella foi saindo no meio daquele monte de gente pra uma porta que tinha lá no fundo do bar quando sentiu uma mão em seu braço.

─ Ei ─ era sua irmã que estava ali ─ Não precisava se chatear. Foi só uma brincadeira.

─ Sei disso, só me senti exposta demais pra continuar lá.

─ Hihi alguém ficou com ciúmes! ─ Lilly puxando a irmã pra um abraço apertado. ─ Sua boba. Não devia ter dado tanta bandeira. Se você ainda não percebeu o Dean é tão idiota quanto o Leo ─ sorriu com a lembrança do irmão. ─ Ele vai arranjar todos os motivos do mundo pra fazer uma brincadeira de mau gosto. Vamos sair ali pra tomar um pouco de ar fresco, tem muita gente aqui.

Elas saíram pela porta dos fundos e se sentaram no meio fio do lado do lixo.