Pov: Annabeth.

Ele estava parado me encarando com um olhar que misturava surpresa e raiva, eu estava pronto para ouvi-lo gritar comigo. Estava pronta para mais uma briga e mais um punhado de lágrimas, mas tudo o que eu tinha era um silencio ensurdecedor que estava me matando aos poucos, passaram-se alguns segundos e nada, estava começando a temer ainda mais sua reação, foi quando resolvi para de encarar o chão e olhar bem em seus olhos. Eles não pareciam muito raivosos e sim amargurados. Ele olhou diretamente para mim e bem baixo disse:

-Não podia ter me contado isso antes...?

-Desculpa... Eu não quis que fosse assim, você já tinha uma vida e eu não podia estraga-la.

-Eu... Nunca tive uma vida, não sem... Você. – Nossa discursão era baixa, sem gritos, não precisava.

-Você não precisava disso... Você começou a se reconstruir de novo, eu não podia te atrapalhar.

-Você me escondeu uma filha... Por cinco anos... Uma menina Linda!

-Me desculpa...

-Desculpas não vão trazer o tempo de volta...

-Eu sei disso, mas eu tenho de resgatar a minha filha. E preciso saber se vai me ajudar.

-Não. –meu coração parou de bater. – Vou te ajudar a resgatar a “nossa” filha. –dei um sorriso fraco, era muito bom ouvir isso.

Pov: Autora.

Tudo não passou de um borrão para os dois, logo depois de uma conversa inspiradora como essa. Os dois passaram a fitar o horizonte da sacada destruída, era estanho estarem perto, por dentro, eles não queriam ser tão discretos, mas não podiam fazer muita coisa, não eram mais os adolescentes de antes, não haveria comoções ou cenas dignas de filmes, não podiam voltar no tempo.  Mas isso não tirava da boca um gosto amargo, das palavras ditas sem anestesia, apenas ditas. Um dia eles imaginaram voltar a se ver, mas não foi exatamente assim, apenas queriam consertar os erros, mas não tinham opção, não podiam fugir de realidade, mesmo que quase sempre suas vidas fossem envolvidas pelas fantasias do mundo deles, como por exemplo, o fato de serem semideuses, como se pode pedir para ser forte quando o mundo conspira contra sua sanidade e força. Se às vezes a tudo parece um grande beco sem saída, somos obrigados a encontrar a resposta, mas quando não há resposta para ser encontrada?

Tantas vezes eles apenas pensavam um no outro, sempre com perguntas já formuladas na mente: “Onde você está agora?” ou “O que está fazendo”.  Mas nunca obtinham uma resposta, doía saber de tudo agora, sem ter como reverter o que já passou. A respiração parecia pesada, eles estavam tentando ser forte naquela hora, não podiam demonstrar fraqueza, mesmo querendo. O que você pode chamar de orgulho, eles chamam de força, estava na hora de ser forte, por Helena. Eles precisavam se unir para salva-la, mas conseguiriam, depois de tanto tempo?  E os fantasmas do passado? Voltariam a assombra-los a todo o momento? Eles não são mais os jovens de antes, não tem mais aquele cuidado de não machucar o outro, afinal, eles não são mais nada, apenas conhecidos, quem sabe podemos chama-los de “amigos”, o que fazer quando a vontade de demostrar carinho for muito grande, como voltar a viver preso ao que já passou? Como seguir em frente, sabendo as mudanças chegaram e se tem que viver com elas?

Tudo parou, Annabeth estava cansada e não pode deixar de adormecer em um cantinho quente na sala de estar destruída, fora a delegacia, nada ajudara com o depoimento e sabia que não adiantaria nada, afinal, nada mortal poderia deter a criatura que fez isso. Percy olhava para a mulher adormecida, ela conseguia ser bonita até dormindo, ele não pode deixar de lembrar como ela ficava linda dormindo assim no antigo apartamento deles. Pode ver que Thalia se aproximava e virou para vê-la.

-Percy, pode fazer um favor para mim?

-O que?

-A Annie tá muito mal, todos estamos, mas... Sei que é difícil pra vocês, mas não deixa a Annie ficar aqui sozinha, não aqui. –ela olhou ao redor. –Não vai fazer bem a ela.

-Tudo bem, vocês já vão para o acampamento?

-Já, acho que Quíron vai querer mais respostas e a Annie não vai querer lembrar-se de tudo...

-Obrigado.

-Pelo que?

-Por tudo, por vir aqui, por cuidar da Helena e da Annie quando eu...

-Percy, não é bom lembrar-se disso, somos como uma família lembra? É isso que fazemos e você nem a Annie tiveram culpa do que aconteceu, não podem se julgar agora.

-Você está certa. Bom... Cuidado na estrada.

-Pode deixar... Cuidado com a minha amiga.

E assim eles foram deixando-os sozinhos. Percy sabia que Thalia estava certa, não seria certo deixar Annabeth ali, não assim. Foi até onde ela estava e a pegou no colo, ela ainda era leve, sabia o que tinha de fazer, mas nada tornava isso mais fácil, era devam muitas lembranças...

Chegando a casa, abrindo a porta com muito cuidado para não acorda-la, ele entrou, o frio da maçaneta fez seu corpo tremer bastante, ele não queria se sentir assim, mas a sensação de estar tão perto dela o deixava confuso. Eles passaram pelos corredores, Percy não podia negar que o cheiro dela em sua pele o fazia ter vontade de esquecer tudo, para que ambos voltassem a ser o que eram antes, mas nada aconteceria, o tempo não volta. Ele a colocou bem devagar em sua cama, que eles já dividiram tantas vezes, mas agora não passava de um deja vu, sem ligação especifica. Ela parecia se encaixar perfeitamente ali, como antigamente, ele não pode evitar, sentou-se perto dela e ficou observando-a dormir por um tempo, mas o sono começou a lhe chamar, a cama pareceu macia e quente, afinal era uma noite fria, e assim ele acabou pegando no sono ao lado dela. Foi um sono tranquilo, apesar de tudo, ela estava ao seu lado, fazendo o mundo parar devagarinho, e assim, ele não pode deixar de abraça-la, nem que fosse pela última vez, ele queria apenas abraça-la sem compromisso, sem brigas sem trazer de volta as magoas e fantasmas do passado, ele apenas queria ter, nem que por apenas algumas horas, os antigos sentimentos.