- Mãe, eu não agüento mais isso! Eu não agüento mais andar cercada de seguranças me vigiando, não agüento mais não poder sair e caminhar pela rua normalmente sem fotógrafos e jornalistas na minha cola, eu não agüento mais ter de parecer uma pessoa que eu não sou, apenas para agradar aos outros! Eu não agüento mais ter minha vida e minha privacidade invadida a todo o momento! Eu não agüento mais! – desabafei para minha mãe, que me encarava com pena.

- Oh querida, eu entendo, mais isso tudo é para o seu bem! Eu sinto muito. – disse me dando um beijo em minha testa e se retirando do escritório.

Levantei-me da poltrona de couro preta e subi as escadas em direção ao meu quarto. Joguei-me literalmente na cama com a cara no travesseiro. Isso é injusto, eu não escolhi essa vida, por que tem que ser assim? Eu ODEIO a minha vida. Ouvi a porta ser aberta, mais não movi um músculo sequer.

- Querida, não fique assim! – disse meu pai, se sentando na poltrona ao lado da cama e afagando meu cabelo.

- Como pai? – questionei retirando minha cara do travesseiro e o encarando – Você acha que eu gosto da minha vida?

- Deveria gostar! Afinal, você tem tudo que quer. Sua mãe e eu fazemos de tudo para que você seja feliz, você sabe disso.

- Sim, eu sei. Mais a questão é: eu não sou feliz! – suspirei – Eu não quero parecer uma filha ingrata, mais entenda, eu só queria ser uma filha normal. Queria poder ter uma vida normal... Pai, por favor, realmente há necessidade de eu andar com seguranças atrás de mim o tempo todo?

- Miah, já conversamos sobre isso! Por favor, não insista. Você não sai desta casa sem seguranças. Entendeu? – disse calmo

- Mais pai...

- Miah! – me interrompeu severo – estamos entendidos?

- Sim! – disse séria. Ele realmente não iria ceder.

(...)

- Sta. Conelly, está na hora de sua aula de etiquetas! – disse o mordomo atrás de mim na varanda

- Ah sim, claro! Eu já vou descer. – garanti-lhe com um sorriso.

Que droga, eu odeio aulas de etiquetas. Eu faço isso praticamente desde que nasci.

Caminhei em direção sala de aula, e dei uma leve batida na porta antes de entrar.

- Entre! – disse uma voz doce, do outro lado da porta.

- Bom dia, Sra. Russefield! – disse educadamente sorrindo.

- Bom dia, Miah! Vamos começar a aula? – indagou sorrindo. Apenas assenti. – Ótimo, sente-se. – me sentei e ela se sentou bem a minha frente, na confortável poltrona.

- Nunca se põe na mesa a terrina da sopa. A sopa, a salada, o queijo e a fruta só se servem uma vez. A sopa deve servir-se bem quente, para dar tempo a que se estabeleça a conversação à mesa. Quando se serve queijo , deve cortar-se em fatias compridas se for "gruyére" ou um queijo grande. Se for pequeno corta-se em forma de pequenas cunhas...

- Sra. Russefield, desculpe-me interromper.. Mas.. A Sra. Poderia lembrar-me, por que eu estou aprendendo sobre cozinha, comidas e etc.? Eu pensei que fosse aprender somente sobre, cumprimentar, manter a postura...

Ela riu, controladamente.

- Querida, entenda! Antes de ser princesa, você é mulher. Um dia será rainha, comandará o palácio. Você necessita saber sobre tudo que a cerca. Compreende? – disse carinhosamente.

- Sim.

- Podemos continuar? – indagou e eu apenas assenti – Ótimo. Com morangos ofereça açúcar; com melão ofereça sal e açúcar. Quando se serve galinha, faça-o de modo que os convidados vejam as porções com boa apresentação. Nunca se deve pôr na travessa o pescoço do animal nem a sua carcaça. No fim da refeição e depois de todos terem terminado, a dona de casa deve tomar a iniciativa de se levantar, pondo o guardanapo ao lado do prato, sem o dobrar. Está entendendo tudo?

-Sim.. Continue. – sorri

- Existem várias maneiras de cortar as cebolas e não aparecerem àquelas lágrimas que incomodam , umas das melhores maneiras de descascá-las sem chorar, é cortar um limão com a mesma faca que vai utilizar para a cebola. O sumo que fica na faca é suficiente para impedir as lágrimas. Se , em viagem as gravatas do seu companheiro saírem amarrotadas da mala , e não tiver nenhum ferro por perto, não desespere, experimente encher uma garrafa com água bem quente e enrole-a a volta dela, o calor fará com que elas fiquem sem rugas. Se desejar perfumar requintadamente o ambiente de sua casa, quando receber amigos para jantar, ou para um serão, deite uma gota de perfume nas lâmpadas dos candeeiros. Quando os acender, o calor da lâmpada ajudará a libertar o aroma... bom, vamos fazer uns exercícios agora, ok?

- Tudo bem. – forçei um sorriso

(...)

Após horas, - três horas, especificamente. – de exercícios. Finalmente estava livre daquela sala. Subi para o meu quarto e tomei um banho quente.

- Querida, você está aí? – disse minha mãe, dando leves batidas na porta.

- Sim mãe, entre, está aberta!

- Vejo que acabou de sair da aula de etiquetas, certo? – sorriu

- Sim... – sorri forçado

- Bem, seu pai e eu queremos falar com você. – disse suavemente

- Aconteceu algo? – indaguei preocupada, mesmo com sua expressão não demonstrando nada sério.

- Não meu amor, está tudo bem! – garantiu-me – desça para o jantar, quando terminar de se arrumar, ok?

-Ok!

Minha mãe saiu do quarto e eu terminei de me arrumar. Desci para a sala de jantar.

- Então, o que querem falar comigo? – perguntei hesitante ao me sentar à mesa.

- Diga você, querido! – falou minha mãe enquanto as cozinheiras se aproximavam, mas meu pai fez um sinal para dete-las.

- Bem, Miah.. sua mãe e eu conversamos e.. resolvemos mandá-la para um colégio interno!

- Como assim?! Colégio interno? Vocês vão me mandar para um colégio interno? – indaguei confusa.

- Filha, você disse que estava cansada dessa vida. Que queria ser normal. Nós estamos te dando essa chance! – disse minha mãe, carinhosamente.

- Me mandando para um colégio interno? – indaguei incrédula.

- Não é bem assim, Miah! No colégio você não vai precisar de seguranças e vai poder aproveitar mais sua vida, sem os fotógrafos colados a você. – explicou meu pai.

- Quer dizer que... lá eu não vou ter que ser seguida por eles?! – disse desviando o olhar para um segurança parado um pouco distante da mesa.

- Exatamente! – disse minha mãe.

- Isso é sério? – perguntei sorrindo

- É claro que sim! Sua mãe e eu não mentiríamos pra você, jamais.

- Obrigada. – arfei – Quando eu viajo? – perguntei sorrindo

- Amanhã de manhã. – disse minha mãe sorrindo também.

- Obrigada, eu amo vocês! Posso me retirar?

- Mas querida, você nem comeu!

- Estou sem fome, mãe! eu prometo que como algo amanhã, antes de sair, ok? – disse me levantando.

- Tudo bem.

- Miah, que fique bem claro, que essa é a primeira e ultima vez que você sai da mesa antes de todos, ok? Uma princesa não deve praticar tal ato. – disse meu pai.

- Puxa pai! você diz como se eu cometesse um pecado!

- Na realeza isto é um pecado!

- Ok, com licença. – me levantei e corri, literalmente, para o meu quarto. – O que é isso? – perguntei ao ver uma empregada fazendo minhas malas.

- Suas malas, alteza! Sua mãe me pediu para fazê-las. – respondeu a mulher.

- Ok, obrigado! – sorri. Ela sorriu também e saiu do quarto. Coloquei meu pijama e deitei-me na cama. Eu não vejo a hora de amanhã chegar.