Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 39
Capítulo 39 - Pai




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"All is a riddle, and the key to a riddle...is another riddle" (*)

~ Ralph Waldo Emerson

Capítulo 39 - Pai

 Mesmo extremamente ansiosa devido aos últimos acontecimentos, Monalisa tentou levar o resto do dia de forma normal. Após fazer seu trabalho de História junto com Ariadne na casa dela, a garota retorna para sua própria casa ainda com o pensamento no que acabara de ouvir na agência especial naquele dia. Em resumo, o Labirinto que ela acreditava ser único era apenas o disfarce de um Labirinto ainda maior. Como deveria ser o verdadeiro Labirinto? De todo modo, não poderia apenas ficar especulando. Se chegou tão longe, não podia mais voltar atrás. O caminho à sua frente podia ser longo, mas o caminho que percorreu também foi longo. Não dava para simplesmente jogar tudo fora. Estava envolvida com tudo aquilo até o pescoço.

 A mocinha chega em casa e dá de cara com sua mãe, sentada no sofá lendo uma revista. Claro que ela se sente arrepiada (afinal, sabia que sua mãe não tinha uma verdadeira face amigável), mas parece que Eleonora ainda não estava assumindo sua forma de vírus. Sim, vírus é um codinome para agentes do Labirinto programados para manter Monalisa dentro do Labirinto custe o que custar. Precisam deixá-la alienada, alimentando-se de sua alienação. Realmente como um tipo de infecção, mas ainda assim era questionável. Ariadne sempre fazia questão de enfatizar de que se o lado de fora do Labirinto fosse ruim, os vírus seriam os bonzinhos da história. Ainda assim, Monalisa estava disposta a sair.

- Err...oi, mãe. Chegou cedo, né? - falou ela, sem esboçar muita emoção.

- Ahan - concordou a mãe, tão quieta quanto a filha - Consegui sair mais cedo. Onde você estava?

- Terminando um trabalho na casa de uma colega. Pensei que chegaria antes de você.

- Oh, tudo bem - fala Eleonora, sem tirar os olhos da sua revista - Deve estar com fome, não é? Vou preparar alguma coisa.

- Tá - é tudo que Monalisa responde. Realmente era sua mãe ausente de sempre. Quando assumia a personalidade de vírus, agia como uma mulher atenciosa e comunicativa. A loirinha nunca sabia quando a verdadeira personalidade dela iria surgir (a primeira vez que isso aconteceu foi de repente), por isso se mantinha afastada de sua mãe o máximo que conseguia.

- Seu pai vai voltar tarde de novo - comentou Eleonora - Podemos jantar cedo.

- T-Tá..

 Esse era outro detalhe que só agora Monalisa estava começando a perceber. Faz dias que sequer falava com o seu pai. Tentava imaginar o que ele poderia estar fazendo e, mais estranho que isso, tentava adivinhar que tipo de personagem ele poderia ser no Labirinto. Mal sabia ela que a resposta para essa pergunta viria mais rápido do que pensava. Mais precisamente, em seu próximo sonho. Como Ariadne havia alertado, o próximo sonho daria alguma pista de onde encontrar o Mestre das Chaves. Não muito tempo após o jantar, Monalisa se vê em mais um sonho. Mas dessa vez parece que não havia nenhuma garota que cobrava um olho para tirar água do poço...

 Dessa vez o ambiente também era escuro, mas havia algumas tochas acesas nas paredes que permitiam a Monalisa enxergar o cenário, mesmo que de forma não muito clara. O lugar parecia com uma prisão, mas não uma simples cela, as grades cercavam uma área bem ampla, praticamente do tamanho de sua casa. A garota olha para si mesma. Usava um vestido preto e curto, unhas pintadas de preto, meia-calça também preta e botas de couro. Era uma roupa que não combinava em nada com seu estilo, mas a parte mais estranha era que além de tudo isso ela tinha asas. Sim. Longas asas negras. Não sabia como usá-las para voar, mas tinha asas. E mesmo que soubesse voar, não conseguiria sair da prisão. Olhando com mais atenção, dando mais alguns passos até as  grades mais próximas, percebeu que o lugar onde estava não era mesmo uma prisão comum. Era mais parecido com uma gaiola. Sim, uma gaiola para pássaros.

 Ao tentar ver o que havia fora da gaiola, deu de cara com um grande abismo. Sua prisão estava suspensa no ar. Ao olhar para cima, viu que as grades se uniam em um único ponto. De fato, estava pendurada. O que ela era? Um pássaro em uma gaiola? Eis que ela ouve um barulho. Um tipo de porta se abrindo. Ela volta os olhos na direção dessa porta e dá de cara com ninguém menos que o seu pai. Era ele mesmo. Seu pai, usando roupas antigas e uma capa preta. Além disso, outro fato que saltava os olhos era seu tamanho: ele era simplesmente gigante. Não restava dúvida: Monalisa estava para seu pai na mesma proporção que um pequeno pássaro está para um adulto.

- Como vai, minha querida? - disse ele, aproximando-se da gaiola - Como está se sentindo?

 Monalisa queria responder, mas sua voz simplesmente não saía. Ela não conseguia emitir nenhuma palavra. A garota agita as grades, como se quisesse sair. Mas não conseguia emitir um único som.

- Está com fome? Logo trarei mais comida, não se preocupe.

 Não. Ela não estava com fome. Tudo que queria era sair daquela prisão. Mas aquele homem não parecia estar percebendo isso, ou então, percebia, mas não tinha a menor intenção de abrir a gaiola. A garota percebe claramente que ele segurava um molho de chaves, sendo que uma delas certamente seria capaz de destrancar a porta de sua gaiola, mas por mais esforço que fizesse, ela não conseguia chamar sua atenção. Monalisa desiste de agitar as grades e cai de joelhos no chão.

- O que foi? Não está com fome? - perguntou o homem - Ora, minha querida...se a sua voz não chegar até mim, nunca vou saber o que você quer.

  Em lágrimas, Monalisa tenta gritar, mas sua voz simplesmente não saía. Por fim, o homem sai da sala e deixa-a sozinha em sua gaiola. Presa e sozinha. Um pássaro privado de voar. Um pássaro com asas, mas  incapaz de levantar voo. Esse foi seu sonho. Assim que abre os olhos, a garota coloca as mãos na testa, balança a cabeça e se senta na cama. Mais um sonho premonitório e mais uma anotação em seu caderno. Não havia dúvidas. O homem gigante em seu sonho era seu pai. Sim, seu próprio pai a quem ela não costumava ver muito durante os últimos dias. Seria ele? Espere, seria seu pai, seria a pessoa que morava bem debaixo do seu teto aquele a quem ela estava procurando? Na visão de Ariadne, a resposta era um sonoro sim.

- Oh, isso corta um bom caminho - diz a ruivinha, assim que Monalisa lhe apresenta seu caderno com o último sonho - Já sabemos a quem recorrer para conseguir a chave que estamos procurando.

- Impossível. Está querendo dizer que..

- Isso mesmo, Mona - sorri Ariadne, com toda a calma do mundo - O Mestre das Chaves é o seu pai!

- Ele é mesmo o Mestre?

- Alguém que guarda a chave do seu destino. O seu sonho é bastante claro. A prisão é um símbolo para o Labirinto e seu pai é aquele que detém o poder para abrir as fechaduras dessa prisão.

- Eu já imaginava algo assim...então ele é mesmo o Mestre. Não é nenhum intermediário.

- Mas isso não deixa as coisas mais fáceis - observa Ariadne.

- Não?

- O fato do seu pai ser um gigante e você um pássaro pequeno mostra, no mínimo, que você e seu pai são distantes, para não dizer que ele mantém um certo controle sobre você. Acertei?

 Na mosca. Assim como sua mãe, o pai de Monalisa era calado e distante. Ele deixava o dinheiro que a filha precisaria para o dia, mas raramente conversava com ela. Também trabalhava aos sábados e usava os domingos para dormir. Monalisa já ficou mais de uma semana sem sequer trocar uma palavra com ele. 

- Sim...não converso muito com meu pai. Isso é verdade - revelou a mocinha, meio receosa e preocupada.

- Isso também justifica o fato de você não poder soltar sua voz no sonho. Significa que você simplesmente não tem diálogo com seu pai. É...isso vai ter que mudar.

- O que quer dizer?

- Bem, vamos falar com seu pai. Falar com ele nas condições certas irá ativar o evento que queremos.

  Então era isso...seu pai era o Mestre das Chaves o tempo todo? Que tipo de tutor ele pode ser?

(*)

"Tudo é uma charada, e a chave para uma charada...é outra charada"

~ Ralph Waldo Emerson


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