Hoje eu estava completando 16 anos. Eu sempre quis ter uma festa de aniversário, com bolo, brigadeiros, vestidos e musica. Mas não tem como fazer festas aqui no orfanato. No Maximo cantavam parabéns e tinha no lugar do bolo uma torta, fina, grande e sem gosto, sem nada.
Aliás, esse não é o meu único desejo. Eu sempre tive sonhos, só que pareciam impossíveis pra alguém como eu. Em modéstia parte, eu tenho uma voz incrível e sempre quis ser cantora... Um sonho impossível para muitos, impossível para mim, já que eu não tenho capacidade de comprar nada e nem ter aulas de canto. Também sempre quis ser rodeada de amigos e familiares... Outro sonho totalmente impossível, como eu conseguiria isso? Se minha mãe me deixou, quem mais vai ser capaz de me querer?
Me joguei na cama fitando o teto rachado e úmido do meu quarto. Peguei um fio de cabelo meu e fiquei ali, distraída com ele. Eu também não tinha amigos aqui no orfanato, a não ser a Megan, só que ela foi adotada e me deixou aqui. Eu não tenho esperanças pra viver, passei tantas coisas, tanto sofrimento para ficar viva, que a qualquer hora eu penso em desistir de tudo isso. Aliás, se eu morrer, ninguém vai sentir minha falta, não é?
- Amy querida, você tem visita. – disse a irmã, uma das supervisoras do orfanato, ou algo assim.
- Visita? – dei um pulo da cama. Olhei em volta e vi minhas duas colegas de quarto me fitarem com um olhar de desprezo. – Mas... Eu não tenho nenhum parente, lembra?
- Não são parentes. – ela sorria.
Um sorriso surgiu no canto de meus lábios. Isso não acontecia todo dia. Será que finalmente eu teria uma “família”? Uma das coisas que aprendi é não criar expectativas antes do acontecido, depois não acontece o que você esperava e então você se machuca.
Me olhei no espelho e eu continuava a mesma. Meus cabelos pretos e sem vida iam até minha cintura e minha franja cobria o meu rosto pálido. Minhas sardas estavam clarinha e meu olho verde brilhava cheio de esperança.
Me dirigi até a sala onde aparentemente estava as pessoas. Antes de entrar pude ouvir vozes que me fizeram perder a coragem de entrar ali. Em um momento eu quis voltar.
- Mãe, tem certeza disso? Quer mesmo adotar uma filha? – a voz rouca de um garoto ecoava na sala. – Já não ta bom só eu de filho?