Memórias de Sirius Black escrita por Shanda Cavich


Capítulo 2
Capítulo 2 - Os Marotos




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Acordei cedo naquela manhã. O tão esperado dia havia chegado. Logo que levantei pude ouvir as inúmeras reclamações de Régulo vindas do quarto ao lado. Afinal, apenas eu iria para Hogwarts. Já Régulo teria que ficar em casa. Eu ri da situação com ingenuidade. Mal pude notar que durante o ano todo em que ele ficou sozinho, foi o suficiente para ele aprender a idolatrar Lord Voldemort, a quem ele posteriormente apelidou de Voldy.

Fui até o Beco Diagonal acompanhado de Lúcio e Narcisa, que já estavam no sexto e quinto ano, respectivamente. Os dois jovens Sonserinos se enamoraram o trajeto inteiro, me deixando sozinho várias vezes. Como quando fui comprar minha varinha, meus livros ou meu uniforme, por exemplo. A cada vez que reapareciam, Narcisa carregava um novo presente nas mãos. Lúcio era galante, persuasivo. Em outras palavras, podre de rico. Até posso dizer podre de alma. Contudo, até minha mãe adorava o rapaz, e ainda disse que adoraria ter um filho igual a ele. "Que menino mais lindo! Quanta elegância!", ela dizia. Naturalmente, nunca se referiu a mim desta forma. Para mim ela dizia "Acho bom você não me envergonhar, garoto!".

Quando fomos para o trem, minha prima carregava não menos que oito presentes, dentre eles flores, jóias e chocolates. Corri o mais rápido que pude para não ter que sentar perto dela. Não que ela fosse o real problema. Ciça era mimada, mas só era insuportável se Bella estivesse junto. Entretanto, onde quer que Ciça sentasse, Malfoy e Rosier viriam junto. Esses dois eu tinha motivos para detestar.

Fui até as cabines da frente. A que eu escolhi já estava com três pessoas da mesma idade que eu. Uma delas era um moleque muito estranho, pálido, de cabelos negros e sebosos. Ao lado dele estava uma garota bonita de cabelos acaju. Parecia tímida. Já o outro garoto deu um sorriso desleixado quando eu entrei. Usava grandes óculos redondos por cima de seus olhos castanhos.

"Olá." – disse o garoto dos óculos bizarros. – "Quem é você?"

"Sirius Black." – respondi simplesmente. No início, o garoto pareceu se assustar, mas em seguida riu.

"Você é um Black? Merlin! Um Black!" – o garoto foi para o lado da janela, ainda rindo. – "Me desculpe por isso. Eu me chamo Tiago. Tiago Potter. Meu sobrenome ainda não é tão famoso quanto o seu. Mas acredito que eu possa mudar isso."

Realmente, ele pôde. Tiago tornou-se um notório jogador de quadribol na escola. Foi o melhor apanhador que o time já teve. E acima de tudo, foi como um irmão. Para a minha surpresa, acabei indo para a Grifinória, assim como ele e meu amigo de infância, Remo Lupin.

Potter era corajoso e ousado. Na verdade, parecia-se comigo um bocado. Foram incontáveis as vezes em que levamos detenção. Apesar de parecermos encrenqueiros e incomodativos para grande parte dos alunos, a maioria nos adorava. Ainda que Tiago e eu perturbássemos Severo Snape, o garoto seboso que conhecemos na cabine no primeiro dia de aula, sabíamos ser gentis se quiséssemos. Quando vimos um grupo de Sonserinos zoando um garoto da Grifinória interferimos imediatamente. A partir daí o tal garoto passou a ser um de meus melhores amigos. Seu nome era Pedro Pettigrew. Então um grupo de quatro amigos ficou conhecido como "Os Marotos".

Tiago, além de ser o capitão do time, era um tanto desleixado. Por mais que ele não fosse um exemplo de aluno, sobressaía-se em Defesa Contra a Arte das Trevas. Eu e ele, juntos, éramos os principais causadores de problemas na escola. Com sua capa de invisibilidade conseguimos vasculhar o castelo canto a canto, podendo assim criar o Mapa do Maroto. Orgulho-me muito deste trabalho. Coisa de gênio! 

Logo comecei a perceber que por detrás daquele atleta convencido havia um garoto apaixonado. Ah sim, e como era apaixonado! Não apenas pelo pomo de ouro que lhe custava tanto a reputação, mas também por uma garota. Lílian Evans. A garota que mais o repudiava. Com o passar do tempo os dois se entenderam, graças a mim, que forcei Tiago a parar de maltratar o melhor amigo dela, que não era ninguém menos do que Severo Snape. Apesar de tudo, Tiago era nobre. Tinha um bom coração. Jamais esquecerei do dia em que soube de sua morte. Hoje, levo apenas uma saudade. Imensa e dolorosa saudade!

Mas no fundo eu sei que o verei de novo, querido Pontas.

Pedro era engraçado. Vivia me seguindo, me pedindo dicas em relação às garotas. E mesmo que eu ensinasse a ele tudo o que eu sabia, ele continuava mal sucedido, coitado. Entretanto, era um amigo para todas as horas. Do tipo que sorria quando me via sorrir, chorava quando me via chorar. Nada de máscaras. Ou então nisso eu acreditei por um tempo. Lembro-me de meu segundo ano escolar, em que ele me presenteou com uma miniatura de moto. Na hora eu não soube o do que se tratava aquele faceto objeto de duas rodas semelhante a uma bicicleta. Mas mesmo assim adorei. Como eu não tive muito contato com o mundo trouxa, era previsível a minha ignorância.

A partir daí, motos de marcas famosas e bandas de rock do mundo trouxa passaram a ser minha paixão. Ah, se meus pais soubessem! Acho que teriam me matado. Mas a essas alturas, já não me importava mais.

Entretanto, uma coisa era certa. Nos tempos de escola, Pettigrew conseguiu atingir um nível muito elevado do que eu chamo de amizade. Partilhou comigo os melhores momentos de minha curta vida fora da prisão. Pedro poderia ter sido forte, se quisesse. Poderia ter sido leal.

O que te fez se transformar num monstro, Rabicho?

Remo era o mais cauteloso do grupo. E por muito tempo ele escondeu um segredo, que só fomos descobrir no quinto ano. Todas as desculpas que ele arrumava para faltar a algumas aulas no mês eram por causa de sua maldição. Remo era um lobisomem. Dumbledore nos pediu para que não revelássemos seu segredo a ninguém. E claro, sentíamos pena. O maroto mais centrado e inteligente carregava consigo uma praga daquelas. A partir daí decidimos acompanhá-lo em suas noites de lua cheia, nos tornando animagos. Tiago tornou-se um cervo, Rabicho um rato e eu um cachorro. Escolhi cachorro porque meus pais jamais me permitiram ter um.

Um bom amigo, era o Remo. Generoso e paciente, era o único que não atormentava Snape. As meninas da escola o adoravam por ser do tipo calado, estudioso. Sempre que podia, sacrificava seu precioso tempo para me ajudar com as provas. Então me lembro do dia em que o conheci. Remo estava pescando junto de seu pai, num riacho perto do Largo Grimmauld. Fiquei mais de uma hora espiando pai e filho se divertirem juntos, de modo tão calmo e tranqüilo. Eu estava atrás de um arbusto. Não conseguia parar de olhar. Quando os dois finalmente notaram minha presença, o Sr. Lupin sorriu:

"Sabe pescar, menino?" – o pai ainda sorria.

Desci o barranco quase que num pulo só e fui correndo até os dois, animado como nunca estive antes. A lama do gramado inundava meus sapatos de couro de dragão, enquanto o vento batia em meus cabelos despenteados. Eu tinha sete anos.

"Nunca fiz isso."

O Sr. Lupin me ensinou passo a passo como se pescava. Então por alguns minutos, pude sentir o que é ter um pai de verdade, orientando-me com doces palavras. O pequeno garoto chamado Remo me ofereceu uma isca. Seu olhar inocente e assustado parecia encobrir um passado recente, repleto de obscuridade.

Se em algum dia eu tive consciência e compaixão, foi graças a você, Aluado.

Eu sou o maroto da contradição, protetor da desgraça e defensor da inconseqüência. Seria sutileza minha ao dizer que apenas sou forte por isso. Afinal, ser um Black tem lá as suas vantagens. Vantagens que a maior parte de minha família não soube aproveitar da maneira certa. Ficaram loucos! Todos eles! "A Mui Doida e Sinistra Família dos Black", meus colegas caçoavam. E eu apenas ria. Ria como meu pai, minha avó, até mesmo como Bellatrix. De cada um dos Black, nascia um riso prestigioso. Poucas vezes atuavam para o bem.

"Que aconteceu, Bella? O que é tão engraçado que te faz rir desta maneira?" – perguntei, muito manso, já esperando algo terrível.

Bella não parara de rir. Histérica e desvairada como era, ignorou a mim completamente. Ciça se colocou a frente dela, como se tivesse orgulho em responder pela irmã mais velha.

"Estamos apenas felizes." – a voz de Narcisa era gélida como um sopro de dementador, fazendo um tremendo contraste com seu rosto embonecado. – "Você não leu o Profeta, Sirius? Mais de quinze sangues-ruins, incluindo aurores, morreram este mês. E tudo isso graças ao nosso querido Lord das Trevas."

Sinto ao dizer que conheci o tal Lord, que de Lord não tinha nada.

"Então você é o pequeno Sirius..." – disse ele, com uma voz que naquela época eu só conseguia descrever como 'cobrástica'.

"Não sou tão pequeno assim. Daqui a alguns anos serei quase do tamanho do senhor. Aliás, quantos anos o senhor tem? Bella me disse que gosta de homens mais velhos. Agora entendo o motivo pelo qual ela é tão amiga do senhor. Afinal..."

"Ora, quanto atrevimento! Mas que garotinho inconveniente!" – Lord Voldemort interrompeu-me bruscamente, bagunçando meus cabelos com violência. Seu queixo tremia de ódio, enquanto seu rosto disfarçava os olhares confusos de Rodolfo.

"Aaaai! Doeu!" – dei um pequeno berro, o que foi suficiente para meu pai me mandar calar a boca e parar de importunar o futuro Salvador do Sangue com perguntas cretinas.

Tom Riddle era cruel, maldito e fortemente ganancioso. Lord Voldemort, como era conhecido, foi o bruxo responsável pela destruição da minha vida. O conheci através de meus familiares e só me rebelei de verdade quando perdi a calma. Tenho certeza de que ele teria adorado nascer na família Black. E sinto mais ainda ao lembrar que convivi junto de Comensais da Morte e assassinos durante toda a minha infância, sem poder fazer nada a respeito.

Com dezesseis anos de idade pude perceber o mau que me cercava, a sujeira que estava se formando ao meu redor. Então fugi de casa e passei a morar junto de Tiago. Deixei uma carta a minha mãe, demonstrando pelo menos parte de meu sentimento. E tenho quase certeza de que ela nunca a leu. Quando pus o pé para fora da porta, tornei-me o que chamam de traidor do sangue. Logo me queimaram o nome, e não apenas o da parede na sala de estar. Fato esse que não me permite esquecer o quão vingativos e rancorosos são os Black.

Então juro solenemente que não vou fazer nada de bom. O que isto significaria para eles? Exatamente o contrário do que todos poderiam pensar. Eu seria o bom homem da árvore genealógica. Apenas Sirius, e não Sirius Black.


"Todo esse discurso para dizer que sou Almofadinhas, o cão das patas brandas. Correto, malfeito e feito. Isto, até que se prove o contrário."


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