Ressaca. Acordei seis horas da manhã sentindo que cochilei às dez horas da noite e acordei meia hora depois. O céu era de um breu só, a forte chuva ainda caia e fazia frio, apesar de o aquecedor estar ligado. Àquela hora da manhã, e nenhum sinal de vida pelos aposentos da casa, todos ainda deviam estar dormindo.

Fui até a cozinha e preparei um chá de camomila. Estava tão frio que resolvi usar o cobertor como casaco e fui observar a chuva cair na varanda dos fundos da casa. Ignorei a ventania ao passar pela porta e sentei numa cadeira de embalo para tomar meu chá. Encolhi os pés sobre a cadeira e continuei concentrada em aquecer meu corpo com o líquido quente. Ver a chuva cair é tão agradável e fazia lembrar a noite passada - ainda sentia os arrepios e o efeito que Zayn tinha sobre mim, eu o desejava.

Ouvi a porta se abrir e as ondulações no ar, -calor corporal- alguém estava próximo de mim. Continuei a encarar a chuva, por mais que minha intenção fosse outra.

Harrry passou por mim e sentou-se na cadeira ao lado, também vestia um cobertor e tinha uma xícara com chá nas mãos.

— Oi, Giulia. – falou, encarando a chuva e dando um gole no chá.

— Oi, Harry. – respondi, buscando o agradável, mas curiosa. Harry falando comigo? Isso é curioso, não?

— Você dormiu bem? – perguntou sem variar no que fazia.

— Muito bem e você? – perguntei, disfarçando.

— Ótimo, obrigado. – simplesmente respondeu e voltou a tomar seu chá.

Harry mostrando-se simpático depois de um dia inteiro de resmungos era incomum, eu não esperava. Tentei passar indiferença, continuava olhando o temporal e encolhia-me ainda mais com os ventos que sopravam sobre mim.

— Achei que não fosse acordar cedo. – disse e em seguida olhou-me, fazendo-me desviar minha atenção a ele – Não parecia com sono ontem de madrugada.

Meu. Deus. Do. Céu.

Aquela conversa estava normal demais para ser verdade, a pretensão de Harry era outra, não meu conforto.  Gelei de imediato, desviei o olhar para a água caindo novamente e pensava em algo urgente para dizer. Droga. Talvez ele não tivesse visto nada demais.

— Zayn tira o sono de qualquer garota, não é? – riu sarcástico e deu mais um gole no chá, eu congelei e sentia meu coração batendo mais depressa.

Nossa, ele viu. Não falaria algo desse tipo se não o tivesse visto, por mais idiota e implicante que fosse.

— A maioria das garotas deve pensar assim, tenho certeza. – o que ele quis dizer? – A da semana passada elogiou os momentos com Zayn.

Semana passada? Harry estava provocando-me, querendo torrar minha paciência, eu estava me sentindo enganada, mas não queria acreditar no que ele falava, ele não gostava de mim e talvez estivesse fazendo aquilo para me bloquear.

— Talvez não acredite, mas é verdade. – riu com seu sarcasmo imbecil – Admiro Zayn por um desses motivos, ele é bem prático e está abandonando a vida monótona. Mudar toda semana é o que há.

Eu era “a garota dessa semana”? Que raiva eu senti, a palma da minha mão estava formigando e minha cabeça ardendo, eu poderia chorar ali mesmo. Harry estava partindo meu coração sem mesmo tê-lo. Ele queria me magoar, me irritar, mas eu estava acreditando em tudo que ele falava. Ele tinha jeito de me convencer, pois não era segredo algum que Malik desfilava com garotas diversas por aí. Eu devia estar pensando que me tornaria exclusiva, algo assim. Mas ele disse que gostava de mim, não disse?

— Zayn é impulsivo às vezes. – continuou, só para cultivar sua tortura – Não se assuste se ele falar coisas antes do tempo, ele não tem certeza mesmo.

”Eu acho que eu gosto de você”. Meus olhos estavam ardendo, meu nariz entupiu e eu não conseguia mais respirar. Eu levantei, não olhei para Harry e corri para dentro da cozinha, subi as escadas o mais rápido que pude e deitei em minha cama, cobri-me com todos os cobertores possíveis e comecei a chorar, eu realmente gostava de Zayn.

Não vi a expressão de Harry quando saí correndo, mas pude sentir um sorriso vitorioso formado em seus lábios. Eu o odiava.

...

Zayn’s POV ligado.

*Sonhei com Giulia. Ela tem um sorriso maravilhoso, um toque sem igual. Eu acho que realmente gostava dela, não queria ter falado, mas era isso. Gostar.

Por tanto tempo não sentia, nem imaginava sentir alguma coisa em especial por alguma garota. Mas o jeito dela, a risada, me prendia os pensamentos. Eu não queria a ter beijado, mentira, eu queria sim, mas não do modo que aconteceu. Não pude fazer nada, a sua pele era tão atrativa, seu cheiro me proporcionava o prazer e quando ela sussurrou ao meu ouvido foi tudo de que precisei pra me deixar render completamente e beijá-la. Ela tem um gosto bom. Beijei a ternura em pessoa.

Ao acordar ainda conseguia sentir o cheiro dela impregnado ao meu corpo. Eram sete e meia e decidi descer para comer alguma coisa depois de poucas horas de sono. Desci as escadas normalmente e vi todos sentados à mesa, menos... ela.

— Ei, Zayn.  – disse Niall – Vem comer.

— Tudo bem. – respondi e perguntei – Giulia já esteve aqui com vocês?

— Harry acordou cedo e disse que não a viu hoje. – respondeu Liam.

— Ok, - parei e pensei rapidamente – Vou primeiro tomar um banho, estou precisando.

Menti. Subi as escadas e caminhei até a porta do quarto onde ela estava.  Não pensei em aviso prévio, apenas abri a porta com calma e segui até a cama onde destacava-se um tumulto de lençóis e imaginei se Giu estaria ali embaixo.  Sentei na beirada da cama e procurava um jeito de desmanchar aquele ninho de tecidos.

— Giulia, - ela estava lá, encolhida, tirei o cabelo do seu pescoço e dei um selinho ali – Bom dia.

Ela recuou, puxou os lençóis de minha mão e cobriu-se novamente. O que estava acontecendo?

— Você tá bem? – perguntei confuso, preocupado.

Ela não respondia, então a descobri novamente e a virei de modo que me encarasse. Seu rosto...

— Por que você tá chorando? – sim, estava em prantos e fechava os olhos com força, evitando olhar para mim.

—Zayn, - sua voz estava falha, em meio à soluços – me deixa sozinha, por favor.

— Me diz o que está acontecendo. – pedi, tendo como resposta balanços negativos com a cabeça – Responde, por favor.

Ela sentou-se e continuava a chorar. Era demais para mim, vê-la chorar e não saber o motivo, ela não queria falar.

— Me responde! – meu tom de voz tinha certo desespero, raiva, confusão,  mas era isso.

— Você gosta mesmo de mim? – perguntou em voz baixa, quase inaudível.

— Muito, - ela chorava por isso? – Gosto muito de você, Giulia.

Abracei-a e sentia seus batimentos fortes e sua dificuldade para respirar. Ela não respondia, só continuava a chorar.

— Por que você perguntou isso?

— Eu não queria me decepcionar. – simplesmente falou.

— Eu nunca vou te decepcionar, Giu. – beijei sua testa – Eu gosto muito de você, nunca gostei de alguém assim, estou sendo sincero, espero que acredite em mim.

—Eu quero acreditar. – falou – Mas eu tenho muito medo.

— De se decepcionar?

— Não, - retomou o ar e saiu dos meus braços – Tenho medo de que você esteja mentindo.

Ela não acreditava em mim. Se isso serve de alguma coisa, eu estava disposto a fazê-la acreditar.

— Eu não estou mentindo. – puxei-a pelos braços e colei seu corpo ao meu.

— Eu não acredito.

Deitei-a novamente na cama, prendendo seu corpo com minhas pernas e segurando seus braços com força.

— Eu podia te beijar agora. – sorri – Mas eu não vou.

—  Nunca fala mais comigo. - ela falou - Eu te odeio, eu consigo ver você mentindo, seus olhos entregam.

Saí de cima dela e caminhei para fora do corredor. Giulia irresistível.

Zayn’s POV desligado.

Fiquei deitada ali mesmo, assistindo Zayn ir embora, com minha visão turva. Zayn, seu desgraçado.