O perfume dos jasmins no enorme jardim da mansão dava ao ar o toque fresco da manhã, a costureira Heiny abriu as janelas da colossal sala deixando entrar luz e ar puro no ambiente. Não demorou a aparecer uma figura bastante conhecida que passou pela sala saltitante e pulou direto no saiote da mulher.

- He-chan! He-chan! – Festejou Isabel.

- O que foi minha pequena? – Respondeu doce a costureira.

- Onee-chan quer que a senhora costure um vestido novo!

- “Vestido novo”? – Estranhou – Mas por quê?

- A prima Amélia irá vir hoje para cá! – Alegrou-se mais ainda – Ela irá vir junto de tio Tomás!

- Ai meu pai... – Suspirou fortemente a costureira – Então eu já vou preparando os meus melhores tecidos, veja se sua irmã está acordada a esta hora da manhã.

Isabel sorriu como um anjo e foi indo em direção ao andar de cima, ela subiu mais que dois lances de degraus em pouquíssimos minutos, parecia que sua alegria não iria acabar nunca mesmo. Entrou no quarto de sua irmã e viu que ela lia um pequeno livro de capa negra enquanto observava os cantos do quarto.

- Isabel-nee-chan? – Chamou pouco surpresa Lohanny.

- Onee-chan! – Isabel pulou em cima da cama que Lohanny estava sentada – Eu já mandei o recado para He-chan! – Sorriu – Mas eu estou muito feliz que o tio Tomás tenha aceitado vir aqui hoje!!!

- Sim, mas é claro que está! – Lohanny deixou o livro em um canto da cama para prestar mais atenção em sua irmã – Só me prometa uma coisa...

- O quê? – Perguntou Isabel.

- Não deixe de forma ou jeito algum... – Sussurrou – Deixar o tio Tomás perto das garrafas de vodka...

- PODE DEIXAR ONEE-CHAN! – Se alegrou rindo Isabel.

A pequena garotinha de cabelos esbranquiçados foi saindo do cômodo deixando por lá apenas sua irmã sozinha.  Lohanny pegou o livro novamente e continuou lendo ele, uma sombra surgiu ao seu lado e ela notou-a sem preocupações.

- Oh, Kurt... – Observou o mordomo intacto ao seu lado – Já fez o que te pedi?

- Yes, my lady – Reverenciou o mordomo – Todos os relatos de exorcistas nas regiões próximas foram checados e repassados para a polícia local.

- A polícia não irá ajudar muito, mas pode servir como uma cobaia ou alguma distração para eles... – Lohanny esfregou o livro de capa grossa com as unhas fazendo ruídos ensurdecedores.

- O que a deixa inquieta, lady?

- Nada... Só estou pensando em como tio Tomás tem sido tão bondoso com nossa família nesses últimos anos... – Sorriu tristemente Lohanny relembrando de algo do passado.

- Mas por que então esse sorriso melancólico? – Kurt tirou o livro de suas mãos para checá-lo – Um livro de romance? Para que está lendo algo assim, lady?

- Não é por mim, é mais por conta de Ciel sabe...

Kurt congelou na hora e processou rapidamente os principais conteúdos da conversa:  CIEL + ROMANCE + FILHA + DEMÔNIO = PAI EM APUROS.

- COMO ASSIM??? VOCÊ PENSA MESMO QUE VAI NAMORAR TÃO NOVA NESSA IDADE??? – Kurt começou a balançar os ombros de Lohanny em desespero – V-VOCÊ NÃO TEM IDADE!!! EM QUE MUNDO EU TE METI??? QUE DROGA EU FIZ!!!

- Não é o que está pensando – Lohanny estava rindo por dentro dessa situação cômica – Eu estou fazendo isso para dar dicas à Ciel, não é que eu queira namorá-lo!

- Poderia pelo menos ter explicado mais corretamente – Suspirou acalmando-se o mordomo – Depois daquela cena com você e aquele conde na despensa eu tinha que surtar...

- Me deixe ver se eu entendi... Você me deixa casar com um idiota... MAS NÃO ME DEIXA NAMORAR ALGUÉM? – Gritou indignada.

- Eu somente quero essa aliança por conta de nossa família, você irá casar com Henrique, irmão de Antônio, por conta de nossa própria família! – Respondeu em tom de superioridade o mordomo.

- Só iremos receber mais lucro, somente isso e mais nada!

A porta do quarto foi aberta e de lá saiu a mesma figurinha de antes parada do outro lado estática e com um pequeno sorriso formando-se em seus lábios.

- Amélia e tio Tomás já chegaram! – Isabel pronunciou bastante contente.

- Está de brincadeira! – Lohanny ficou desesperada – KURT! RÁPIDO! Esconda todos os indícios de relatos, investigações e... Arranje uma boa desculpa para termos hóspedes novos dentro da mansão.

- Yes, my lady – Sorriu Kurt.

O mordomo saiu do quarto para cumprir o seu objetivo, enquanto ele ia em direção a sala onde ficavam todos os relatos de exorcistas espalhados em cima da mesa, observou a janela e viu que o tio Tomás estava girando a maçaneta da entrada.  Como um raio, o mordomo arrumou todo o local e trouxe Ciel e Sebastian consigo.

- Para que a pressa toda? – Perguntou Ciel ao mordomo em prantos.

- Quando Lady quer algo, eu tenho que cumprir! – Respondeu Kurt.

- Disso eu sei, mas precisava me arrastar para a entrada? – Falou Ciel em um tom de raiva – Afinal de contas, quem é que está vindo?

- Tomás Valentine, o tio da Lady – Respondeu sério o mordomo que fitava a porta esperando o tal humano entrar na mansão.

Ciel calou-se e prestou severa atenção a porta de entrada (colossal) da mansão. A maçaneta da porta girou e em seguida um homem na flor da idade com cabelos bastante loiros e espetados, olhos extremamente verdes, de aparência um tanto que informal e um sorriso gigantesco nos lábios, surgiu do outro lado da porta, tinha um tom bastante claro em sua pele e lembrava um anjo.

- Olá a todos! – Disse Tomás sorrindo felizmente – Há quanto tempo eu não passo por estas paredes?

- Faz realmente muito tempo, Tomás Valentine – O mordomo cumprimentou Tomás com um ligeiro aperto de mãos que parecia bastante amigável a qualquer um que via a cena.

Sebastian analisou severamente o homem loiro de baixo para cima com um rápido suspiro de decepção, talvez esperasse alguém mais casual, não algo que pudesse lembrar algum anjo.

- O que significa isso? – O loiro apontou para as duas figuras conhecidas, Ciel e Sebastian – Novos hóspedes vieram aqui sem nenhum aviso prévio de minha parte?

- Tomás-san – Chamou o mordomo Kurt – Saiba que não devemos ser rudes com nossos convidados da corte.

- Ora! Por que não me disse antes que eles pertenciam a corte Borboleta da rainha? – Sorriu com admiração o loiro.

- Borboleta? – Sussurrou Ciel a Kurt.

- Explico-te depois – Falou Kurt em um ligeiro suspiro falso.

Uma garota ruiva e de olhos castanhos bastante conhecidos adentrou na mansão, era Amélia, prima de Lohanny e sua professora de violino.

- Onde está minha querida prima que tanto amo??? – Falou em um tom de voz alto Amélia.

- Ela está bastante ocupada com seus deveres da academia de medicina, Amélia-san – Respondeu Kurt.

- Mas isso deve ser a mais pura mentira já dita em toda a história da humanidade!!! – Falou incrédula a ruiva – Desde quando essa piralhinha se importa com estudos tão difíceis? – Ironizou Amélia.

Uma figura saiu descendo as escadas em uma velocidade incrivelmente rápida e saltou fortemente em direção as costas da ruiva Amélia.

- Amélia-chan!!! – Gritou mais que alegre a pequena Isabel ao ver sua prima – Por que não veio mais cedo??? Você me jurou que ensinaria a tocar aquela música divertida!

- Isa...! – A ruiva interrompeu seus pensamentos odiosos – Bem... Deixe pra lá... Onde está sua irmã?

- Em seu quarto como de costume.

-Chame-a – Ordenou Amélia.

- Nãoo!!! – Isabel saiu saltitante.

Antes que Amélia pudesse dar algum tapa em Isabel ou xingá-la de Deus-Sabe-O-Que, sua irmã Lohanny desceu as escadas trombando levemente com Isabel e por um rápido movimento Kurt conseguiu segurar a garotinha que havia tombado para trás.

- BRAVOO!!! – Tomás elogiou admirado – Quem me dera ter um mordomo como esse para servir minha família e proteger minhas queridas filhas!!! – Dramatizou o loiro – Talvez até para servir algumas garrafinhas significantes de vodka... Hehe... Hehehehehe!

- Eu só faço o que as Ladys pedirem senhor Tomás – Sorriu demoniacamente o mordomo de olhos esverdeados.

O loiro calou-se e ficou calado com os olhos arregalados por certo tempo, parecia que havia se lembrado de algo bastante importante para aquela ocasião. Virou-se para sua sobrinha mais velha e dirigiu a palavra a ela.

- Preciso mostrá-la algo muito importante Loha-san! – Desesperou-se o loiro – R-Rápido! Venha comigo ao salão principal!

O loiro puxou Lohanny bruscamente e saiu arrastando-a para os andares de cima, parecia que o que ele queria dizer iria custar a vida do universo ou que era alguma cura para o câncer.

Sebastian que estava observado toda a cena desde o inicio com certa paciência, olhou para Kurt que se mostrava bastante ansioso naquele instante.

- O que pensa em fazer? – Falou Sebastian o mais direto o possível ignorando totalmente a presença de Amélia e Isabel.

- Como assim, Sebastian Michaelis? – Perguntou Kurt com um sorriso de canto.

- Parece que planeja algo para esta noite... – Manteve-se sério Sebastian.

- Nada realmente... – Admitiu Kurt – Somente adivinhei de primeira o que Tomás quer dizer para a Lady.

Sebastian notou um rápido sorriso melancólico se formarem nos lábios avermelhados do mordomo negro e de olhos esverdeados a sua frente. Ciel voltou seus olhos aos dois mordomos e logo virou-se para Isabel com indignação.

- Tem alguma chance de me mostrar o quarto de sua irmã? – Perguntou Ciel diretamente.

- NEM PENSE EM ASSALTAR AS PRECIOSAS LEMBRAÇAS DE LOHANNY! – Interrompeu Amélia atenta a conversa.

Ciel deu de ombros ao alerta da ruiva e dirigiu-se novamente a pequena.

- Então? – Hesitou o conde.

Isabel notou o conde hesitante e logo foi indo em direção a escadaria com tamanha rapidez que nem mesmo os olhos de Sebastian puderam acompanhar.

- Venha! – Sorriu a pequena.

- ISABEL! – Gritou a ruiva Amélia impaciente – VOCÊ NÃO DEVE MOSTRAR O QUARTO DA SUA IRMÃ PARA ESTRANHOS!

- Não somos estranhos, somos hóspedes – Respondeu direto e irônico o conde Phantomhive.

- Lady não irá se importar com isso, sua ordem fora a que deixe nossos hóspedes a total vontade – Comentou Kurt irônico.

- Haha! – Riu Amélia – Não mudou nada! Continua sendo um reles conde da corte Borboleta!

“Mas que diabos de corte é essa?” pensava Ciel ao ouvir o comentário agressivo de Amélia contra si próprio. Sebastian se intrometeu na conversa colocando o rosto bem próximo da ruiva em um sorriso um tanto quanto muito diabólico e medonho.

- Por favor, não gostaria que conhecêssemos nossa própria hospedagem? – Sorriu maquiavelicamente o mordomo com olhos de pura fúria.

- KYAHHH!!! C-CLARO Q-Q-Q-QUE SIM!!! – Amélia queria enfiar-se em algum buraco de tatu para se esconder com toda a certeza – S-SEJAM B-B-BEM-VINDOS A MANSÃO!!! A-A VONTADE!!!

O mordomo sorriu por fim e se distanciou da ruiva apenas dando-lhe um terno beijo em sua mão direita cordialmente, a ruiva sentiu todo o seu corpo se congelar de medo e pavor e apenas conseguiu seguir com os olhos Isabel, Ciel, Kurt e Sebastian indo em direção aos andares de cima e obviamente ao quarto de Lohanny.

- Ela irá me espancar depois... – Falou depressivamente a ruiva – Por outro lado Heiny-san não está aqui hoje...

- O que disse mesmo, Amélia? – Uma voz ressoou claramente no ambiente.

Heiny surgiu de uma das portas do armário da cozinha como uma total assombração, sendo acompanhada pelo outro mordomo (inútil) Faustus.

- KYAHHHH!!! – Amélia desmaiou quase que imediatamente ao ver as duas figuras surgindo do armário minúsculo.

- Er... Esqueci de avisá-la que eu estava no galpão do armário... – Heiny observou o (cadáver) corpo da ruiva jogado ao chão frio do hall de entrada.

- Não mandei a Lady enfiar um galpão de doces secreto bem no meio do maldito armário microscópico – Faustus começou a chutar o (cadáver) corpo de Amélia para ver se ainda tinha jeito de revive-la.