Inimigos Declarados

  Agora eram oito da manhã, e meu pai me obrigou a passear com Clark. Se o cachorro é dele, por que ele mesmo não o leva para passear?

  Coloquei a coleira no cachorro que parecia uma bicha na passeata gay de tão eufórico, e saí de casa, com o Ipod ligado no último volume. Descemos as escadas, e nessa hora agradeci por morar num condomínio enorme, e não precisa levá-lo para fora de casa.

  Passeei com ele pelas redondezas mesmo.

-All the thing I hate...

  Eu cantarolava, sem nem prestar atenção no que estava exatamente fazendo com o cachorro. Ele estava tão feliz que, se não tivessem me acordado num dia que não tinha aula cedo, eu poderia ate ficar feliz por ele.

  Alguém tirou meu fone de ouvido, e finquei as unhas na palma da mão.

-Quem é o retardado que...

  Quando olhei para trás vi Brian com um sorriso maldoso na cara.

-Ah, é você, retardado.

  Disse, tentando não me irritar. Ele riu e colocou-se do meu lado, acompanhando-me.

-O que pensa que está fazendo?

-Sabe, seu pai me pareceu ser um sujeito legal.

  Disse, me ignorando completamente.

-Meu pai é um sujeito legal, agora rala daqui.

  Disse, colocando o fone novamente.

-Se colocar, eu vou tirar novamente.

-Se tirar, eu solto Clark em cima de você.

  Sorri, entortando a cabeça. Ele olhou para meu rosto e novamente riu, como se achasse engraçado.

-Seu santo não bateu comigo mesmo, não é?

-É isso ou então você fica arrancando meu fone. Ei, espera aí, você arranca mesmo!

  Disse, fuzilando-o com os olhos.

  Por que ele fica sorrindo desse jeito sempre que eu dou uma patada nele? Só pode ser retardado mesmo, to falando!

-Sabe, eu sei que se você quiser, pode fazer um esforço para gostar de mim.

-Não, obrigada.

-Veja seus amigos: eles me acharam legal. E seu pai também.

  Disse, novamente ignorando meu comentário.

-Olha, não é nada pessoal, quer dizer, é sim, mas e daí? Eu não gosto de você, então não fiquei tentando ser meu amigo, por que não importa o que os outros acharem, isso não vai acontecer.

  Disse logo, irritada.

-Passar bem.

  Eu disse, em meio ao seu silencio. Ele ficou me encarando de olhos arregalados, com um sorriso descarado na cara. Eu juro que um dia eu deformo o rosto desse cara...

-O que é, vai ficar encarando?

-Eu até poderia parar, se você não fosse tão linda.

  Fiquei muda durante minutos, e senti minhas bochechas corarem. Arregalei os olhos e engoli a seco.

  Mas tudo isso se transformou em raiva quando ele começou a rir, e declarou:

-Ah, tava pensando que eu estava falando serio?! Ah, coitadinha...!

  E caiu na gargalhada.

-Qual é a graça?

  Ele em fim tentou se controlar, e depois disse:

-Nada, só que você acabou de declarar guerra comigo.

-Ah, to morrendo de medo!

  Eu disse, quase gritando. Ele me encarou com uma sobrancelha erguida, e disse:

-É bom ter mesmo.

-Ah, sei. E o que você vai fazer? Me xingar por que eu não gostei de você?

-Não, isso está mais a sua cara. Eu simplesmente vou fazer você se apaixonar por mim.

  Disse.

  Aí eu não me agüentei. Explodi em risos, e comecei até a chorar. Ele só podia estar brincando, não é? Eu não podia acreditar em como ele era presunçoso! Que comédia!

-Tá de zoação com a minha cara, né, Brian?

-Não. E você vai ver como eu vou conseguir.

-Sei...

  Disse, cruzando os braços em sua frente. Meu celular vibrou no meu bolso, alarme.

-Ah, ta ok, garanhão. Tenho que ir agora.

  Disse, ainda rindo. Quando já estava longe, escutei-o gritar:

-Você vai ver só, Lisa! Você vai se apaixonar por mim, e isso é uma promessa!

  De longe, ardendo em raiva, eu disse entre dentes, sussurrando para mim mesma: -Eu vou dizer o que você tem que fazer com a sua promessa.

  Depois de algumas horas, eu me convenci de que precisava mesmo ir pegar meu fichário na casa dele. E alem do mais, nele havia minhas poesias e tal, e não gostava de que ficassem lendo.

  Tentei me convencer de que ele tinha sido abençoado por um raio divino, e não tinha lido minhas coisas.

  Me levantei da cama, arrastando e colocando uma blusa do The Beatles, e prendi o cabelo num rabo de cavalo, saindo do meu quarto.

-Pai, vou ir no apartamento do...

  Galinha, safado, idiota, esquisito, nada modesto e arrogante...

-Brian.

  Disse, com repulsa.

-O que? Virou amiga dele?

  Papai gritava da cozinha, com um ninguém levemente enciumado.

-Não! Deus me livre, pai! Só quero pegar meu fichário, deixei com ele.

-Ah. Ok, vai lá.

  Peguei as chaves, calçando os chinelos e desci as escadas. Lembro dele ter escrito aqueles números na minha mão, e por sorte tinah memorizado. Era o numero do apartamento dele.

  Vamos, Liss. Coragem.

  Toquei a campainha, e ele logo abriu a porta, sorrindo.

-Heey, eu sabia que você iria aparecer mais cedo ou mais tarde.

  Disse, me olhando dos pés a cabeça com um olhar sugestivo. Senti vontade de dar com a sua cabeça na parede. Cruzei os braços e revirei os olhos.

-Quanta maturidade... Em fim, me de meu fichário, por favor.

-Ah, não quer entrar?

-Não.

  Ele sorriu, novamente com uma ninguém de quem está se divertindo com a situação.

-Ok... Aqui.

  Disse, e me entregou o fichário depois de entrar durante uns segundos.

-Não leu nada, né?

  Perguntei, temendo. Ele deu um sorriso maldoso, e depois disse:

-Talvez sim, talvez não.

-Isso é uma tremenda falta de privacidade! Quem você pensa que é...

  Antes de eu terminar a frase, ele me puxou para perto, sorrindo.

-Espaço, por favor.

-Sabe que você declarou guerra, e agora só estou lutando.

-Não pense em...

  Antes que eu pudesse falar, ele já tinha me puxado ainda mais e me abraçado, colando seus lábios nos meus.