Flor Negra escrita por Julia


Capítulo 9
Capítulo 9




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Palácio de Ponthus.

 - Eis que temos aqui um fato interessante. – O primordial disse, pondo-se em pé em poucos segundos e caminhando até o parapeito da janela, seu semblante estava sereno e ele demonstrava certa indiferença a presença de Hades. – A Deusa da Primavera concordou em ser sua Rainha?

 - Minhas palavras são verdadeiras em seu todo, Córe, de fato, aceitou ser minha Rainha. – Hades o respondeu, mantendo o tom de sua voz controlado, afinal, queria respostas e menosprezar o primordial ou deixá-lo irritado a ponto de não lhe dar qualquer resposta.

 - E qual é sua pergunta para isso, Senhor do Submundo? – Ponthus permaneceu próximo à janela que tinha vista para a costa onde nereidas brincavam com as ondas do mar.

 - Ela me nega agora, afirma não me conhecer e se quer ter dito que seria minha rainha. – O deus despejou as palavras lentamente para que Ponthus as pudesse assimilar e lhe dar um fato concreto.

   O primordial, pela primeira vez, olhou para Hades de um modo interessado, seus olhos correram a sala como se ele procurasse por algo e ele se calou por tanto tempo que  Hades imaginou que ele não fosse lhe responder.

 - Deméter aprova a união? – Ele falou por fim, fixando seus olhos em Hades.

 - Jamais. – O deus do Submundo respondeu prontamente.

 O sorriso de Ponthus foi jovial.

 - A deusa da plantação também cria venenos poderosos, embora não responda por toda a mágica do universo, Deméter é capaz de manipular certas substâncias divinas.

  Hades sentiu seus músculos relaxarem como nunca naquele instante. Então era isso, a negação de Córe em relação a ele era por conta de uma poção feita por Deméter e não pelo desamor verdadeiro.

 - Há algo que possa quebrar o feitiço?

 - Somente a Deusa que move a Magia pode lhe dar um feitiço que quebre outro feitiço.

  Hades soube o que deveria fazer e estava pronto para tal, procuraria Hécate assim que chegasse a seus domínios e ordenasse ao fiel amigo daimon que mantivesse Córe no Submundo.

 - Obrigado. – A palavra do deus chegou até o primordial que apenas assentiu, como se aquilo não fosse muito para ele.

  Hades seguiu para as grandes portas do palácio de Ponthus onde sua quadriga de corcéis o aguardava.

Palácio de Deméter.

  A deusa praguejou ao notar que nem mesmo seus poderes poderiam penetrar o escudo que deixava invisível o Submundo a qualquer um dos deuses. Ela precisava ver a filha embora soubesse como a mesma deveria estar.

  Perdida. Assustada.

  Deméter não se permitiu culpar-se pelas dores que Córe sentia agora, afinal, era Hades o verdadeiro culpado, ele arrancara sua filha de seus braços e a jogara no Submundo como se fosse apenas um objeto, e se alguém deveria ser punido, esse alguém era ele.

  Porém, ela ainda sentia a falta da filha e a dor corroia algo dentro de si.

  Deméter mudou a cena em seu oráculo e ordenou que o mesmo lhe mostrasse o mundo mortal, onde crianças brincavam nos prados, adultos trabalhavam felizes e pessoas de mais idade contavam estórias sobre deuses e heróis. Aquilo a enojou.

  - Sem minha filha, o mundo mortal padecerá, as flores e frutos deixaram de brotar e as crianças não nascerão mais, eis a minha sentença até que minha filha seja devolvida ou até que nenhum mortal exista sobre aquela terra.

   A Deusa se distanciou do oráculo e adentrou mais a fundo em sua sala.

   Em algum lugar entre os limites do mundo, sentada em um trono de ouro, rodeada de flores e crianças brincando, a Personificação da Noite observava a desgraça que atingia  humanidade com seu fiel guerreiro ao seu lado.

  Palácio de Hades.

   O deus adentrou em sua sala e observou a noite atingir seus domínios, as almas que vagavam próximo ao Elíseos uniam-se e montavam aconchegantes fogueiras repletas de danças, comidas e paz.

   Por um breve instante, Hades as invejou, até ouvir os passos calmos de uma pequena e bela criança adentrar em seu Reino. A visão o surpreendeu, a menina não lhe era familiar, mas a alegria em seus olhos o tranqüilizava, ela trajava roupas simples de uma mortal e deveria estar em seus cinco ou seis anos de idade quando viera afalecer.

   Ela sorriu para ele e fez uma reverencia desajeitada.

   - O senhor deveria mostrar seu amor a ela – a criança falou, saltitante em seus domínios.

   - Amor?

   - Sim! – a menina exclamou com uma alegria surpreendente – Não há nenhum feitiço mais poderoso do que o amor verdadeiro, ele une até mesmo os corações mais sombrios.

  - Hades arqueou as sobrancelhas e manteve seu olhar sobre a criança.

  - Você é apenas uma tola criança mortal, o que poderia dizer sobre o amor, que eu, um deus, não saiba? – a pergunta de Hades foi rude e a resposta inicial da menina foi rir alegremente.

  - O amor cura qualquer feriada, mesmo que ela esteja dentro de você. Quando se morre é o amor que define qual é seu lugar aqui.

  A resposta da criança o deixou surpreso e o sorriso travesso o fez refletir por alguns instantes. O amor cura. Ela lhe dissera e talvez, apenas talvez, a menina estivesse certa.

 - Obrigado. – O deus falou, mesmo não sabendo de onde lhe veio tal palavra.

  A criança riu novamente e colocou o manto negro que até antes, ele não tinha notado que a mesma vestia, e quando ela se virou e correu em direção as portas do castelo, Hades teve a impressão de ver estrelas dançares sobre o mando da menina, como um céu estrelado.


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