No Submundo.

A figura que antes estava inerte observando a linda jovem colhendo flores no campo, agora sentava-se em um trono negro, ricamente ornado com pedras preciosas de todos os tipos, formas e cores.

- Vinho mestre? – uma figura aproximou-se, mal tinha forma, em seu rosto apenas a expressão de medo e angustia.

- Não – o homem respondeu a ele friamente, tomando muito cuidado para não exibir um raro sorriso ao relembrar da Deusa da Primavera que virá hoje mais cedo.

- Hades está recusando uma taça de vinho? Deuses podem contrair doenças?

   Uma terceira figura chegou ao local, possuía cabelos negros e encaracolados, olhos tão escuros que mal podia se ver a diferença entre as íris e as pupilas, a pele era pálida,e em seus lábios carmim brotava um sorriso irônico.

- Thanatos, pensei que pudesse ao menos tentar honrar o nome de sua mãe – Hades disse, controlando-se para não matar a própria morte.

- E eu honro meu caro Hades! Já viu Hipnos homenagear tanto Nyx quanto eu?

- Cale-se Thanatos – Hades disse apenas isso, cuspindo o nome da divindade que representava a morte.

   Thanatos continuou exibindo o sorriso de deboche fitando Hades.

- Alguma mulher o deixou dessa forma? Não quer beber, logo mais irá dizer que vai mudar a decoração e colocar alguns vasos de flores... vivas, por aqui.

- Já disse para se calar Thanatos! – Hades desta vez gritou, sua voz ecoava pelo grande salão de mármore negro.

   Hades nunca tivera sorte com mulheres, ele possuía uma bela aparência, mais Deusa nenhuma gostaria de ter em seus domínios o Submundo, e muito menos ser a consorte de Hades.

Thanatos se aproximou, pegando de uma bancada uma taça e despejando vinho nela, e bebendo-a com ardor, saboreando cada gota de uma forma única. Hades o olhou, revirando os olhos e em seguida foi em direção à porta.

- Faça bom proveito da bebida – ele disse a Thanatos – Vou visitar o Olimpo – respondeu antes mesmo de Thanatos lhe perguntar qualquer coisa, então se desfez em sombras deixando o Deus da Morte sozinho no salão, apenas com a taça de vinho entre os dedos.

No Olimpo.

- Mãe? – a voz calma de Córe cortou o silencio do palácio de Deméter, as delicadas paredes caramelo cobertas por diversos vasos de flores.

- Córe! Finalmente chegou! – Deméter saiu de trás de um imenso vaso com folhagens, esboçando um largo sorriso ao ver a filha.

- Desculpe a demora mãe... – Córe tinha uma educação exemplar, do contrário de Thanatos, ela realmente honrava sua mãe.

- Não há pelo que se preocupar minha querida, mandei chama - lá as pressas pois temos um compromisso hoje, com Zeus.

  Córe gelou ao ouvir o nome de seu próprio pai, ela raramente falava com ele pessoalmente, e sempre que descobria que poderia vê-lo, seus ossos gelavam e sua pele ficava pálida.

- Oras, não fique assim Córe – Deméter disse sorrindo, ao ver a reação da filha com a menção do nome de Zeus – Ele pediu para comparecermos a uma pequena comemoração.

- Comemoração? – Córe indagou.

- A derrota dos Titãs.

 Córe sentiu-se mais aliviada com a ocasião, o palácio de festas estaria cheio de divindades, ela mal iria ver Zeus.

- Agora vá se arrumar, faltam algumas poucas horas ainda – Deméter disse à filha que prontamente se dirigia ao seu aposento.