Ive Never Been Anywhere Cold as You. escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

obrigada a todos e obrigada a maeli pela indicação.



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Catorze.

And true be told I miss you and true be told I’m lying.

E verdade seja dita, eu sinto sua falta e verdade seja dita, estou mentindo.

When you see my face hope it  gives you hell, hope it gives you hell

Quando você vê meu rosto espero que isso te infernize, espero que isso te infernize.

When you walk my way, hope it gives you hell

Quando você cruzar meu caminho, espero que isso te infernize.

Gives You Hell – The All-American Rejects.

         No dia seguinte à briga, Ryan e Brendon não trocaram uma palavra sequer. Urie recolhia vagarosamente as suas roupas no armário de Ross deixando evidente – embora não proferisse uma palavra sequer – que não queria ir. Que as coisas deveriam ser de outra maneira e que palavras de bêbados não deviam ser levadas em consideração, porque não estão em seu estado normal.

         Embora o álcool seja a droga menos mentirosa do mundo.

Brendon não dormiu naquela noite. Não só pela dor de cabeça da ressaca, pelas horas que passou debruçado no sanitário vomitando, mas porque Ryan não cuidou dele; porque no lugar de carinho enquanto voltava toda a cerveja que tinha tomado, ouvia xingamentos, sobre o quanto era tolo de beber e o quanto era – de novo – mal vindo na vida de quem mais amava. Aquilo doeu mais do que qualquer coisa. Durante a noite, nos pesadelos de Ryan, Brendon não pôde abraçá-lo. Não só porque mal conseguia se mover, mas porque Ross estava agressivo.

“Você tem certeza que quer que eu vá embora?” Brendon perguntou baixinho.

“Você já ficou tempo demais.” Respondeu Ryan, seco. “Volte aqui apenas para trabalho.”

“E a minha monografia?” Virou-se para Ryan enquanto direcionava-se até seu notebook. “Eu não tenho mais tempo de achar outro alguém pra me orientar...”

“Você é um desgraçado, sabia?” Girou os olhos. “Meu nome tá na tua universidade como teu tutor. Eu sou obrigado a te ajudar, porque, hm, é meu nome que vai ficar sujo se você não terminar a escola com honras.”

“Está certo.” Brendon esboçou um pequeno sorriso. “Eu volto ainda hoje para começarmos logo a monografia e você se livrar de mim, logo.”

         Não era isso – nem de longe – que Brendon queria. Ele queria poder reverter o tempo e não falar mais aquele monte de besteiras para Ryan, mas era impossível. As conseqüências teriam que ser suportadas, entendidas e aceitadas. Voltar a obedecer ordens e não passar de um escravo. Voltar a ter Ryan Ross apenas como um ídolo e nada mais. Ele seria novamente inalcançável, porque todo o seu trabalho fora mergulhado na bebida.

“Que seja” Respondeu Ryan, assentindo.

         Ryan não ajudou Brendon com as escadas e ele estava com uma caixa bem grande em mãos. Spencer estava no andar de baixo esperando Brendon que tinha os olhos inchados usava uma roupa qualquer – a velha camiseta da Sublime, uma calça jeans desbotada e chinelos – e entregou a caixa para Spencer.

“Você tá com uma cara péssima.” Murmurou bem baixinho.

“Passei a noite de ressaca” Explicou o menor, encolhendo os ombros defensivamente. “Ele não me quer mais, Spencer.” Olhou uma vez pra Ryan e fechou a porta, deixando para trás tudo aquilo que amava. Deixando para trás o som da risada que mais amava, o sorriso, o carinho que tinha de vez em quando... Estava regredindo tudo outra vez. “Ele não me quer mais.”

“Então ele não te merece, então.” Falou o amigo, fazendo o menor sorrir confortador.

         Urie realmente voltou após as aulas – que ele não prestou atenção alguma – para a casa de Ryan como prometido e o maior foi obrigado a recebê-lo. Ryan soltou qualquer coisa desconfortável, seguido de um palavrão que Brendon – tentou e não conseguiu – ignorou. Entrou pelo apartamento como se nunca o tivesse feito, olhando cada detalhe, mas sem o fascínio da primeira vez, apenas com o gosto amargo das lembranças doces que eles tiveram dentro daquele lugar.

“Eu sei que to um pouco atrasado,” Brendon tentou justificar e Ryan ergueu a sobrancelha com total descaso e Urie continuou. “eu tive alguns problemas pra resolver.”

“Eu estava feliz que você não viria.” Encolheu os ombros. “Vamos começar isso o mais rápido possível.”

“Huuunf.” Brendon não conseguiu conter a frustração. “Eu não sou só um negócio, Ry--”

“Se continuar a falar sobre a gente, volte pela porta que entrou.” Falou Ryan Ross, interrompendo o menor que arqueou a sobrancelha, desafiador. A diferença da primeira vez que ele esteve ali, é que o de cabelos mais escuros sabia exatamente o que fazer.

“Sabe que eu não importo?” Fingiu descaso, fazendo o outro rir debochadamente. “Vamos trabalhar.”

“Vamos.”

Eles estudaram juntos por um longo tempo e sequer viram o tempo passar. A noite havia chegado e, de repente, uma tempestade de raios e também bastante chuva. Brendon Urie não conteve o pequeno sorriso, porque ia poder ficar um pouco mais de tempo ao lado do seu Ryan. Ao mesmo tempo, ele não sabia se queria isso, já que seu (ex)namorado não estava muito feliz com sua presença. Quando a chuva caiu, Ryan conseguiu xingar Urie em pelo menos quatro línguas diferentes.

Quando sentiram fome, Ross ligou para a sua adorada Starbucks e pediu frapuccinos e tortas de morango. Não era tão longe assim para alguém entregar, bastava querer enfrentar um pouco de chuva. Comeram em silêncio absoluto um com o outro e, quando um raio passou perto dali, a rua inteira ficou sem energia elétrica. Enquanto Bden ajeitava a mesa para o “jantar” improvisado, Ryan buscava algo que pudesse iluminar o local até a companhia de luz poder normalizar as coisas. Ryan achou velas. Acendeu-as e pôs na mesa. Brendon sorriu, entendendo aquilo como uma oportunidade perfeita de ser romântico.

“Velas?” Brendon soltou, doce. “Espero que o entregador não tenha ficado preso no elevador.”

“Velas.” Afirmou. “Prefere o escuro, sobe.”

“Só se você subir comigo.” Brendon brincou, sugestivo. Ryan mandou-lhe nervosamente o dedo do meio. “Quanta agressividade, Ry. É só uma brincadeira. Eu não preciso de meios tão baixos pra te ter.”

“Eu não sei,” Ryan respondeu dando de ombros “eu sempre acho que seu nível é ainda mais baixo do que eu consigo pensar.”

“Você está sendo ridículo.” Brendon cruzou os braços, dando uma pequena risada. A campainha tocou, finalmente, trazendo os alimentos de Ryan e Brendon que foi buscar. Sorriu pro entregador, dando-lhe uma gorjeta generosa ao homem e fechou a porta. “Ridículo e cruel. Eu não sou baixo, Ryan. Se eu quiser você de novo, eu sei exatamente o que fazer. Gato escaldado tem medo de água fria.”

“Que seja.”

Os dois se sentaram à mesa de frente um pro outro. Brendon mantinha um sorrisinho, porque havia conseguido calar a fúria do seu amado. Um pouco de resistência somados a um pouco de cuidado era toda a equação que B precisava para ter aquele homem novamente, além de uma chance de entender tanta decepção. É claro que ele ia extravasar após cada sessão semanal – o que ele não deixou de fazer mesmo depois da briga -, ele realmente bebia, mas jamais havia tentado beijar ou mesmo pedido mais que uma dança com qualquer outra pessoa. Havia desviado o rosto por vários homens que eram bonitos, outros nem tanto. Garotas também esfregavam seus decotes em Brendon que simplesmente desviava os olhos.

O problema do casal era a falta de comunicação, mas como fazer alguém como Ryan falar tudo o que sente? Impossível? Docemente atraente. 

Cada pedaço das tortas de morango eram comidos lentamente, sem comunicação. A parafina queimada irritava a ambos, mas era melhor que o escuro. O maior problema naquele momento era que Ryan começara a bater o queixo com frio. Brendon se preocupou, tirou o agasalho que vestia, deu a volta na mesa e colocou seu agasalho nos ombros de Ryan.

“O que você pensa que está fazendo?”

“Te protegendo do frio.” Encolheu os ombros com falso descaso. “Você é muito fraco com esse tipo de coisa, Ryan. Uma gripe qualquer já te derruba.”

“Eu não quero nada que venha de você.” Ameaçou tirar o agasalho, mas foi interrompido pelas mãos de Brendon.

“Eu não me importo.” Girou os olhos “Se eu fosse me importar com seus disparates eu não estaria mais aqui.”

“Você é mesmo um idiota.” Girou também os olhos e deixou uma gargalhada invadir os ouvidos do menor. Ruidosamente, repentinamente, dolorosamente. Ele mordeu o lábio logo após terminar o último pedaço da sua torta. Ainda estava escuro e, então, Ross pegou o castiçal de cima da mesa e começou a subir as escadas. “Vou dormir.”

“Tenha uma boa noite, Ryan.” Sorriu falsamente feliz. “Sonhe com os anjinhos e qualquer coisa eu vou estar aqui em baixo.”

“Espero não te encontrar amanhã para o café da manhã.” Ryan falou seco e Brendon arqueou a sobrancelha desafiadoramente. O maior não viu o gesto e por isso sorriu vitorioso, achando ter calado a sede de Brendon por atenção, por carinho, por tê-lo de volta.

Urie subiu as escadas momentos depois, segurando o celular como lanterna. Pegou por si próprio algumas cobertas e, por estar com os pensamentos longe dali, tropeçou e caiu na cama de Ryan que – por instinto e por gostar muito daquele garoto – tentou segurá-lo, fazendo com que ele caísse em seu colo. Brendon sorriu fraco em agradecimento e murmurou se levantando:

“Desculpe.”

“Pega logo essas cobertas e saia do meu quarto.” Ryan falou ríspido, abaixando os olhos para que eles – mesmo no escuro – não se encontrassem com os de Brendon que numa medida desesperada e com uma pitada de malandragem tocou docemente o rosto de Ryan Ross. “O q-que você pensa que está fazendo?” Perguntou falhando.

Era tarde demais para negar o amor, Ryan. Era tarde demais para negar carinho. Brendon já havia ensinado que sem sentimentos é impossível qualquer convivência conjugal e, mal haviam se passado vinte e quatro horas, e seu coração queria – mesmo – tê-lo de volta, mas para quem já ensinou seu coração por uma vez a não sentir, era uma questão de tempo para se voltar a estaca zero, certo?

“Sabe que eu acho completamente injusto o que você tá fazendo comigo?” Murmurou, sem recolher a mão ou parar a carícia, mesmo Ryan tendo virado o rosto, indicando que não queria nada daquilo. “Eu só disse o que carregava no coração...”

“Vá dormir, Brendon.” Falou baixo, mais autoritário. “Ou eu vou chutar você escada a baixo.”

“Eu ainda acho que precisamos conversar.” Recolheu a mão com relutância. “Porque, de alguma forma, você precisa por tudo o que sente para fora, [i]Ryro[/i]. Ninguém é feliz guardando o que sente para si mesmo.” Abaixou os olhos um momento, mantendo os ombros encolhidos defensivamente. “E eu não posso ser feliz, se você não está feliz. E eu posso viver sem você se isso te fizer sorrir, só... Quero que, por favor, cuide de si mesmo e se abra. Você precisa.”

Ryan deu um suspiro e tateou a cama. Achou um travesseiro por ali e sem muito aviso, começou a jogá-lo contra Brendon, com toda a força que tinha e começou a exigir que Urie saísse do seu quarto e, vendo que isso não deu certo, Ryan jogou escada a baixo tudo o que Urie tinha ido pegar. Ross estava extravasando. Punindo Brendon por tê-lo traído, mas Ryan poderia ao menos, tentar saber o que havia nessas festas, porque as desconfianças dele eram completamente infundadas.

Butch precisava aparecer, só não havia brechas para ele fazer alguma coisa.

Brendon andou até Ryan, segurando-o pelos cotovelos uma força que ele desconhecia, fazendo com que Ryan parasse o que fazia imediatamente. Com passos cuidadosos, Brendon colocou Ryan na cama e abaixou-se na frente dele. Sentiam os olhos uns nos outros, impedindo que eles vissem qualquer vestígio de sentimento. Talvez se houvesse energia, naquele momento, Brendon teria percebido que Ryan só estava farto de traições.

“Você está agindo feito uma criança mimada, Ryan.” Falou Brendon, mordendo o canto do lábio. “Você já mostrou pra mim o homem por trás do moleque travesso, haja como tal.” Falou, baixinho.

“Vai dormir, Brendon, antes que eu jogue você mesmo escada a baixo.” Ameaçou, cruzando os braços à altura de seu peito e Brendon sorria ao imaginar a cena que agora ele se apoiava. “Se eu sou uma criança mimada, eu não quero você perto.”

“Eu não vou sair daqui até a gente conversar, Ross.” Respondeu, suspirando. “Eu só estou tentando te entender, Ry...”

“Só não suba na minha cama.” Ross deitou-se e cobriu-se. Brendon acabou por soltar uma risada nervosa ao ver aquela maldita criancice. Se era para agir como uma criança, ele também faria. Sentou-se ao pé da cama, cruzando os braços e fazendo um bico adorável.

         Os pesadelos de Ryan logo voltavam a incomodar e Brendon não conseguiu não controlar a maldita vontade de abraçá-lo. E foi o que ele fez, abraçou-o sem pensar duas vezes no que lhe aconteceria. Pra variar - e como imaginado – Ryan rejeitou o abraço do menor. Era uma nova etapa e, realmente, tudo tinha que ser reiniciado do zero. Mas a rejeição de Ryan doeu um bocado.

“Ryan?” Chamou baixinho e o outro só mexeu debaixo das cobertas. Para fazê-lo dormir novamente, começou a cantarolar baixinho. “And, so I have to say before I go that I just want you to know... I’ve found the reason for me, to change I use to be, a reason to start over new... and the reason is you.”

Ryan ficou apenas ouvindo cada palavra da música que Urie cantava baixinho e ainda estava na sua cama e não havia força alguma para expulsá-lo. Nunca havia ouvido um pedido de desculpas como aquele. E talvez nunca  mais ouviria, justamente porque Brendon era o mais doce dos amores que Ryan já pôde ter. Peter fora como um pai, como um melhor amigo, supria-lhe as necessidades, mas não era doce como Brendon.

I’ve found the reason to show a side of me you didn’t know, a reason to all that I do. And the reason is you.” Enquanto cantava, Urie fazia carinho em Ryan, como se ele fosse – e era – a coisa mais valiosa de quem ele fosse chegar perto.

“Brendon?” Chamou bem baixinho. “Você não devia estar na minha cama.”

“Eu só tava sem sono.” Respondeu, soltando os cabelos de Ryan. “Estava...” Não terminou a frase.

“Eu não me importo.” Disse com descaso. “Saia do meu quarto, amanhã você tem faculdade.”

“Eu não vou ter cabeça pra arquitetura.” Encolheu os ombros. “Eu só preciso entender você.”

“Não começa.” Ryan disse. “Eu quero dormir.”

“É claro que quer, pra ter esses malditos pesadelos.” Respondeu Brendon, irritado. “Para que eu me preocupe com você e venha que nem um tolo cuidar de você. É o teu jogo, Ryan e... Eu gosto de cuidar de você.”

“O que você quer pra calar a boca e me deixar dormir?” Apelou. Eram quatro horas da manhã e logo mais ambos teriam que acordar.

“Quero uma chance pra te conquistar,” respondeu imediatamente “já que eu nunca tive um espaço real em seu coração, eu quero ter a chance de conquistar. Eu quero te mostrar que o amor pode ser a melhor coisa que houve na sua vida... Exatamente o que você é pra mim.”

“Definitivamente, você é um idiota.” Ryan girou os olhos.

“Um idiota apaixonado, não é?” Brendon suspirou. “Eu prometo que a partir de amanhã serei diferente...”

“Não.” Falou rápido, para si mesmo, mas Brendon ouviu. “Eu gosto de você assim.”

Brendon ajeitou-se na cama e o abraçou. Talvez fosse só uma questão de tempo que Ryan viesse a dizer pra ele o que estava sentindo, o que passava em sua mente. Os corações de ambos batiam rápido, quase que num mesmo ritmo.

“Boa noite, Ryan.” Murmurou.

“Não há como algo que estragou minha vida ser a melhor coisa que há nela.” Ryan proferiu, meio que sem querer, sentindo Brendon apertar o abraço que ele tentava se livrar. “Peter me deixou ser exatamente quem eu sou hoje em dia.”

“Esqueça o Peter por um momento.” Brendon choramingou “Ele não está mais entre nós, querido. Vamos deixá-lo descansar em paz de uma vez por todas.”

“Não é tão simples quanto parece.” Ryan encolheu os ombros. “Me solte.”

“Você sabe que eu não vou, pare de relutar.” Brendon exigiu. “Poxa, eu não sou como o Peter...”

Bingo! Eis aí o ponto que levaria os dois ao entendimento completo, mas ao oposto disso, Ryan deixou uma risada irônica invadir todo o seu quarto e, finalmente, a luz acender-se no apartamento todo. Ambos fecharam seus olhos, soltando algumas palavras de calão baixo quando a claridade encontrou com seus olhos. Urie escondeu o rosto em Ryan que deu um suspiro baixinho.

“Você é.” Confessou. “Igual ou pior.” Afastou Urie com certa força e se levantou. Aquilo intrigou completamente o menor que franziu o cenho e antes que ele pudesse perguntar qualquer coisa, Ryan entrou no banheiro irritado. O menor olhou no relógio e ainda eram cinco da manhã. Saiu apagando as velas e luzes que foram distribuídas pelo loft e voltou a deitar na cama de Ryan Ross. Ele não ia escapar da conversa.

Brendon tentou de todos os jeitos possíveis conseguir conversar, mas Ryan parecia mais áspero que nunca ao voltar do banheiro e se deitar na cama. Dormiu rápido – ou fingiu que dormiu – e não teve nenhum pesadelo. O universitário foi para o banheiro e tomou um banho longo e foi para a escola. Claro que não tinha cabeça para estudar, estava pensando no porque de Ryan Ross lhe comparar com a pessoa que mais invejava no mundo.

Isso deveria ser bom, já que Ryan tinha amado Wentz verdadeiramente, mas o que o outro não sabia era da traição, do amor ferido entre outras coisas relacionadas a isso. Na sala de aula, como esperado, Urie não sabia absolutamente nada sobre aquela comparação e realmente queria saber. Voltou pra casa de Ryan para trabalharem na monografia juntos e no elevador encontrou Alex. Talvez ele pudesse esclarecer algumas dúvidas.

“Você mora com ele?” Alex perguntou, segurando firmemente sua pasta.

“Não mais.” Encolheu os ombros, pondo as mãos nos bolsos, ao que fingia descaso. “Ele está me ajudando na monografia.”

“Como diria o Ryan... Tanto faz.” Riu baixinho e Urie o acompanhou. Os olhos do menor ficaram parados por um momento grande no arquiteto que sorriu para o menor. “O que houve?”

“Ahm... Uhm.” Urie mordeu o lábio, meio receoso. O elevador parou e os dois saíram, porém Alex não deu nenhum passo a mais em direção ao apartamento do Ryan, apenas encarava o outro que agora olhava os próprios pés. “Como era o Peter Wentz?”

Greenwald apenas sorriu em resposta antes de responder:

“Um gênio da arquitetura.” Falou fazendo Brendon sorrir um bocado.

“Como era...” Brendon mantinha o olhar nos próprios pés ainda, corado por ter que perguntar ao chefe, mas feliz de ter sido respondido. “...o Ryan e o Peter, juntos? A relação deles...”

“O Ryan era exatamente como você, Brendon.” Alexander segurou o queixo de Brendon, olhando-lhe diretamente nos olhos. “Ele era cheio de vida, de alegria. Peter tinha suas variações de humor, suas preferências doidas e por isso, o Ryan acabou pegando o Wentz na cama com a Lindsay. Depois daquele dia, ele mudou um bocado.”

“O que aconteceu?” Mordeu o lábio, curioso.

“O Peter trabalhava pra mim, era um grande amigo meu...” Explicou, desviando os olhos. “Ele me disse que o Ry estava mais frio com ele, mas que vez ou outra tentava agradá-lo. O Ross começou a ficar mais tempo na Starbucks, mais tempo acordado. Até que aconteceu uma segunda vez e o Peter morreu.” E abaixou a cabeça, logo dando de ombros. “Antes disso, Peter costumava ir a festas – o Ryan o acompanhava raríssimas vezes – mas na maioria delas e o Peter era um sacana, um traidor.”

Então estava aí o problema de tudo. Brendon chegou a sorrir aliviado ao ouvir atentamente cada palavra proferida pelo chefe. Agora sabia como se desculpar, entendia Ryan muito melhor. Mordeu o lábio para conter um sorriso bem maior que o seu usual.

“Por quê?” Alex perguntou curioso e Brendon fez um gentil aceno para que fossem ao apartamento.

“Ontem à noite ele me disse que eu era igual ao Peter.” Explicou, afundando a mão livre no bolso. “Eu só queria descobrir o porquê, já que o Ross que nós dois conhecemos, jamais me contaria tudo isso.”

“Verdade.” Sorriu, tocando a campainha.

“Não conta pro Ry sobre nossa conversa?” Pediu baixinho. “Por favor.” Alex apenas assentiu enquanto Ryan abria a porta com uma das mãos e a outra segurava seu café. Alexander passou pelos dois e Brendon se inclinou para Ryan, dando-lhe um beijinho longo no canto dos lábios. “Bom dia.” Murmurou.

“Idiota.” Ryan girou os olhos, fechando a porta com violência. O chefe segurou a risada enquanto Brendon deu pequenos passos ao sofá e se instalou. Ross virou seu café e foi até os dois.   “O que você tá fazendo aqui, hm?”

“Brendon, pode pegar alguma coisa pra eu beber?” Alex perguntou enquanto o menor  se levantava preguiçosamente do sofá. Alexander sentou-se sem ser convidado a tal ato, fazendo Ryan rosnar baixo e perceber que as coisas tinham voltado a ser como eram antes de se relacionar com Brendon.

“O que quer beber, Alex?” Brendon perguntou sorrindo.

“Cerveja.” Urie assentiu em direção à cozinha e Alexander manteve o olhar soberano para Ryan. Alguma coisa ia ter que ser feito, mesmo que de forma errada. Alguém acordaria Ross pra uma realidade que, com certeza, não era a que ele queria viver. “O que você tá fazendo com o garoto, hm?”

“Brendon?” Ryan franziu o cenho, abaixando bastante o tom de voz. Greenwald assentiu, apenas. “Eu não to fazendo nada, Alex. É apenas uma boa dose de manha desse garoto idiota. Logo passa.”

“Daqui a pouco voltamos a falar disso.” Alex falou, suspirando. Ele sabia que se o primeiro assunto fosse o que Ryan fazia com Brendon, o fato de destruí-lo aos poucos, ele que morreria sendo jogado escada abaixo e não conseguiria dar o emprego ao seu arquiteto favorito. “Eu preciso de você trabalhando pra mim novamente.”

“O que você quer, exatamente, Alex?” Brendon logo apareceu com a cerveja do chefe que lhe agradeceu com um sorrisinho doce. Brendon fez questão de sentar-se ao lado de Ryan e prestar atenção na proposta do chefe que mordeu o cantinho do lábio. “Brendon, eu acho que estou trabalhando, idiota, quer me dar espaço?” Perguntou, áspero.

“Não.” B encolheu os ombros. “Eu só estou sentado ao seu lado e quero saber o que nosso estimado chefe quer que façamos por ele.”

“Alex, quando acaba o estágio dele mesmo?” Franziu o cenho, apontando o menor com descaso. “Quero ele longe de mim o mais rápido possível.”

“Eu não me meto em briga de marido e mulher.” Encolheu os ombros. “Ainda mais quando a mulher é parece uma criança mimada que não sabe o que quer, como você, Ryan Ross.”

         Ryan suspirou de forma pesada, encolhendo os punhos. Brendon tratou de repreender o chefe respeitosamente enquanto seu ex-namorado tentava se acalmar. Era difícil para ele ouvir as coisas desse modo, tão jogadas na cara com certa ironia e regada a um deboche meio desajeitado. Ele não estava acostumado com pessoas que fizessem com ele o que ele faz com todo mundo.

“Bom, eu quero um trabalho seu.” Suspirou. “Seu e de Brendon Urie.” Brendon inclinou o corpo para frente interessado no assunto, enquanto o outro recostou-se no sofá, meio desacreditado. Claro, aquilo deveria ser a primeira vez que ele diria não a um pedido do seu chefe, mas ao oposto disso, decidiu escutar. “Quero minha tese para o doutorado na mão de vocês dois.”

“Qual é.” Disse Ross prolongando uma risada. “O Brendon não tem qualidade pra isso e creio que nem eu.”

“Por favor, Ryan.” Alex riu baixinho. “Você tem mestrado e já vai ter uma tese de doutorado, isso não é incrível!”

“Isso é crime.” Suspirou. “E embora eu tenha uma monografia pra orientar, eu faço. Só vai custar um pouco mais que o normal, porque eu farei sozinho.”

“De jeito nenhum!” Alex argumentou. “Que se ferre você com o Brendon e essa vida conjugal incompleta. Vocês precisam se resolver logo, mas desde que o Peter traiu você, seus projetos sozinho são... sem ousadia, Ryan e Urie tem exatamente o toque que te falta. Quero os dois nisso.”

“Acabou, Alex. Eu não vou mais trabalhar com esse bastardo.” Respondeu o arquiteto, com um sorriso cínico no rosto.

“Eu vou acabar com a sua vida, Ryan e você sabe disso!” Alex se levantou e Brendon foi até ele, segurando-o pelo braço.

“Por favor...” Pediu baixinho. “Eu faço pra você, de graça, mas não estraga a pouca reputação que o Ryan tem, até porque, quem vai ser prejudicado com isso vai ser você.”

         Ao ouvir aquele pedido, Alex não conseguiu negar e muito menos Ryan que sabia que Brendon não conseguiria se mover naquele projeto de tese, já que ele tinha dificuldades até mesmo para fazer sua monografia. Por Brendon e, claro, pela própria reputação, Ryan pegou o serviço. Até porque, Ryan, na realidade viu nisso uma desculpa para ter Brendon por perto e fazê-lo pagar por algo que não tinha feito e Brendon viu ali uma chance para reconquistar Ross. Um pouco mais de tempo juntos não lhes faria mal. Alexander e Ryan conversaram sobre a tese e Brendon subiu para se concentrar em sua monografia. A partir daquele momento ele começou a se sentir ainda mais sozinho do que nunca. Não só no trabalho, mas na sua vida sentimental, também.

Quer matar um homem? Prive-o da amizade, da paz. Ele as buscará por toda parte e quando não encontrá-las, ele mesmo se destruirá.” Oz.

Brendon abriu seu notebook e no lugar de escrever sobre o assunto de sua monografia, ele abriu uma página de word para escrever sobre seus sentimentos. Sobre a dor que sentia por não ter mais Ryan ao seu lado, mesmo que daquele jeito frio que ele tanto odiava. Brendon percebeu então que deveria ter ido ainda mais devagar. Que assim que tudo aquilo acabasse, era de Peter que ele ainda amava. Ao olhar no armário de Ryan – porque queria tomar um banho -, viu que o lugar que pertencia às suas roupas – e antes dele eram lugar das roupas de Peter, mas isso não importava – estava intacto. Aquilo lhe deu um pouquinho de felicidade. 

“Se eu pude agüentar sua indiferença, seu desinteresse, seus beijos frios e mesmo assim, te entreguei minha vida sem pensar em mais nada, Ryan, eu posso suportar tudo outra vez e quantas vezes mais você achar necessário. Porque o que me disseram hoje sobre você, me fez te compreender mais um pouco e era exatamente isso que eu precisava para te mostrar que eu ainda sou o homem certo pra você.” Escreveu, deixando o notebook aberto ao que se encaminhou ao banheiro, deixando o notebook aberto. 

Após Alex ir embora para sua casa, Ryan gostou das propostas do chefe e, mais que isso, quando ele subiu, leu o que Brendon havia escrito. Não acrescentou ou tirou qualquer coisa das palavras de Brendon, apenas digitou em baixo “Brendon Boyd Urie” e abriu um joguinho de paciência, entristecido. Algo em seu Brendon ainda mexia fundo com ele. 


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