3 Semanas Depois

Depois das filmagens acabarem em Quioto, os atores tinham voltado a Tóquio para terminarem o trabalho.

As filmagens tinham acabado há dois dias.

Desde então, Kyoko tinha passado quase todas as noites na casa de Ren. Sim, na mesma cama que ele mas, desde aquela noite há três semanas atrás, Ren não lhe tinha posto um dedo em cima com a mesma intenção.

Até já tinham anunciado o noivado publicamente, mas isso parecia não aliviar a consciência de Ren.

Isso irritava Kyoko, que já começara a ter sonhos demasiado explícitos que, na sua opinião, nenhuma rapariga deveria ter. Acordar ao lado dele depois de ter esses sonhos não ajudava em nada.

Com uma cara perturbada, Kyoko olhava para Ren que se encontrava presentemente a ler um livro, no sofá ao seu lado.

Os dois tinham anunciado um hiatus de três meses depois de as filmagens acabarem, que serviria para preparar o casamento e uma casa onde viveriam juntos, depois da celebração.

Até lá, Kyoko tentava conjugar o trabalho no restaurante com as visitas a casa de Ren.

- Hei, Tsuruga. – chamou Kyoko, com um suspiro – Quando é que vamos para a cama? Já se faz tarde.

Ren baixou o livro e olhou para ela.

Atualmente, Ren fazia de tudo para ir para a cama apenas quando estivesse esgotado, de maneira a que já não tivesse forças para atacar Kyoko. Isso tornava-se cada vez mais difícil, por cada dia que passava. Principalmente ultimamente porque, se não a conhecesse, Ren diria que Kyoko estava a tentar seduzi-lo…mas isso era impossível.

- Acho que devias ir primeiro. – respondeu Ren – Como estamos de férias, não temos que acordar cedo e eu queria acabar este livro

Amuada, Kyoko levantou-se e entrou no quarto de hóspedes sem dizer mais nada.

Ren suspirou e pousou o livro. Nem sequer gostava daquele livro.

Os problemas tinham começado há três semanas atrás, algumas horas depois de terem acordado para o primeiro dia do seu noivado.

…

3 Semanas Antes

Kyoko levantou-se depois de quinze minutos a olhar para o anel.

Vestiu o pijama com cuidado pois o seu corpo estava dorido e desgastado do “exercício” na noite anterior.

Felizmente, o pequeno-almoço que Ren lhe arranjara tinha melhorado, se não a dor, pelo menos o seu espirito lutador.

Quando Ren saiu da casa de banho, depois do duche, foi a vez de Kyoko.

Entretanto, Ren ficou a olhar para as roupas espalhadas por aqui e por ali, lembrando-se que Kyoko não tinha roupa limpa no quarto dele.

Com um suspiro, ouviu a água a correr na casa de banho e decidiu ir-lhe buscar qualquer coisa para vestir quando saísse do duche. Saiu silenciosamente e dirigiu-se para o quarto dela.

A porta não estava trancada mas, quando Ren encontrou a mala, deparou-se com a difícil decisão de o que levar. Acabou por escolher um vestido confortável já que ela teria de mudar de roupa outra vez quando fossem gravar.

No entanto, quando chegou à gaveta da roupa interior, congelou. Olhou em volta e sentiu-se como um velho pervertido.

Até se arrepiou quando ouviu uma voz atrás de si.

- Perguntei-te o que é que estás aqui a fazer? – perguntou Kanae de braços cruzados, em frente à porta – Onde é que está a Kyoko?

Ren abriu a boca mas não conseguiu dizer nada durante alguns segundos. – Hum…a Kyoko…

- Ela passou a noite no teu quarto? – perguntou Kanae, com toda a naturalidade.

- Sim, mas…

- Porque é que ela não pode vir buscar as próprias roupas? – perguntou Kanae, preocupada que a amiga estivesse doente.

- Ela está no duche, por isso pensei em vir buscar algumas roupas para poupar tempo. – era uma meia verdade, pensou Ren – Mas…

- Eu ajudo-te com isso. – ofereceu Kanae, avançando para a gaveta. Rapidamente, pegou num conjunto de lingerie e deu a Ren que pegou nele de uma maneira desajeitada – Já não tarda muito para as filmagens começarem.

Com isso dito, Kanae deixou o quarto, seguida de Ren, que também não demorou muito a sair. Quando entrou, a água já tinha parado e ouvia-se o secador a trabalhar para banir a água do cabelo de Kyoko.

Cuidadosamente, estendeu as roupas em cima da cama e sorriu ao pensar que, dali a alguns meses, estariam casados. Saiu quando Kyoko desligou o secador, para que ela tivesse alguma privacidade.

Dentro de meia hora, já estavam no local das filmagens.

…

Pela terceira vez em duas horas, as filmagens pararam para que Tora entregasse um copo de água a Kyoko e a maquiadora compusesse a maquilhagem.

- Kyoko, se não estás a sentir-te bem, podemos adiar as tuas partes para amanhã. – sugeriu Tora, enquanto olhava para a cara pálida de Kyoko.

- Estou bem. – garantiu Kyoko.

- Tens que considerar o humor do diretor que já teve que parar de filmar três vezes. – lembrou Tora – Ele próprio já sugeriu que voltasses para o hotel. A tua saúde também é importante. Devias ser assistida por um médico.

- Nem pensar! – exclamou Kyoko. De qualquer maneira, sabia qual era a sua “doença”. O pior era a cara que Ren estava a fazer. Via-se que sentia-se culpado – Não vai acontecer outra vez.

- Se acontecer, voltas para o teu quarto. – avisou Tora, afastando-se para as gravações continuarem.

Realmente, não houveram mais paragens. Mas Kyoko não estava nas melhores condições. No entanto, não o mostrava nas filmagens. Quando o diretor dizia “ação”, ela parecia perfeitamente bem.

Estiveram toda a manhã a filmar e, depois de um almoço rápido, continuaram durante a tarde inteira. Ren nem teve oportunidade para falar com Kyoko.

Depois de um dia inteiro de filmagens sem mais interrupções, o diretor avisou que, provavelmente, poderiam voltar a Tóquio no dia seguinte.

É claro que houve festa depois disto, para comemorar as filmagens em Quioto e o noivado de Kyoko e Ren. Foi dito a Kyoko e a Sho que podiam trazer alguns colegas dos tempos de escola, já que tinham crescido naquela área.

Kyoko também não pode fugir à festa e até levou algumas das suas “amigas” que estavam mais do que disponíveis para conhecer o seu novo noivo.

Mais uma vez, Ren foi rodeado e não conseguiu aproximar-se de Kyoko.

A festa acabou às três da manhã, mas Kyoko conseguiu escapar duas horas antes, seguida por Ren. Voltaram para o quarto e trancaram a porta. Mesmo que alguém viesse bater-lhe à porta, Ren nem pensaria duas vezes antes de os ignorar.

- Vou preparar alguma coisa para comeres. – avisou Ren, vendo-a a sentar-se no sofá, lentamente.

- Já comi na festa. – disse Kyoko, deitando-se no sofá.

- Sake e Sushi não contam como comida para uma pessoa debilitada. – replicou Ren, procurando no frigorifico por alguma coisa com que pudesse fazer algo saudável. Infelizmente, não encontrou nada – Achas que podem trazer-nos comida ao quarto a esta hora?

Mas, quando Ren entrou na sala, encontrou Kyoko a dormir.

Gentilmente, pegou nela ao colo e levou-a para a sua cama. Só quando a pousou é que reparou que ela tinha uma febre ligeira.

Completamente arrependido, Ren sentou-se ao lado dela e pôs uma mão na cara.

Levaria um longo tempo até que ele tivesse a coragem de fazer aquilo outra vez.

…

Presentemente

Os problemas tinham começado assim e, desde então, não voltara a fazer a mesma coisa.

Sim, ela parecia chateada e Ren já tinha pensado e pensado. Afinal, na cabeça dela, devia estar a pensar alguma coisa disparatada.

E Ren tinha razão.

De roupa interior, Kyoko encontrava-se em frente ao espelho da casa de banho preparada para os hóspedes.

- Provavelmente, ele não gostou do que viu. – murmurou Kyoko, afastando-se um pouco para conseguir ver o corpo todo – Isso explicaria tudo.

Kyoko suspirou e vestiu o pijama. Não havia nada que ela pudesse fazer se assim fosse.

E se ele quisesse retirar o pedido, pensou Kyoko enquanto preparava a cama. Não podia culpá-lo. Afinal, seria uma tortura viver com alguém de quem não gostava para o resto da sua vida.

Quando estava prestes a deitar-se, ouviu Ren a chamá-la e arrepiou-se. Talvez fosse agora…se calhar não devia ter trocado de roupa.

Se calhar podia fingir que estava a dormir.

…

Mas, no final de contas, Kyoko acabou por voltar à sala, com o coração aos pulos.

- Podes sentar-te? – pediu Ren, vendo-a sentar-se no sofá em frente ao seu – Acho que precisamos de falar.

- Olha, foste tu que me pediste para casar contigo. – disse Kyoko imediatamente – Se vais dizer que queres cancelar…

- O quê!? – Ren franziu as sobrancelhas – Quem é que disse que eu queria cancelar o casamento?

- Bem, não tens feito nada ultimamente, por isso conclui que…

- Tens que parar de concluir coisas. – pediu Ren, abanando a cabeça – Lembraste do dia depois daquela noite? – ao ver Kyoko anuir, ele continuou – O teu desempenho nas filmagens foi horrível.

- Ah, obrigado. – disse Kyoko, ironicamente.

- Foi horrível por minha causa. – terminou Ren – Devia ter esperado por um dia quando não tivéssemos filmagens, mas não consegui controlar-me.

Kyoko abriu a boca, já que não sabia o que dizer. Nunca imaginara que Ren estivesse a sentir-se culpado.

- O teu corpo ficou debilitado. – já que Kyoko não falava, Ren prosseguiu com a explicação – Podes não sabê-lo, mas tiveste febre durante a noite.

- O meu corpo ficou dorido durante um par de dias. – lembrou Kyoko – Não é nada com que tenhas que te preocupar. Não é nenhuma doença incurável e nós estamos em hiatos. Portanto, não há hipótese nenhuma de afetar o meu trabalho.

Ren olhou para ela durante alguns segundos e depois levantou-se.

- Só queria explicar isso. – finalizou Ren – Agora já é tarde. Acho que devias ir para a cama.

Para não lhe dar tempo para contestar, Ren apressou-se e entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. Perante isto, Kyoko cruzou os braços.

- O que fazer?

…

No dia seguinte, Kyoko acordou mais cedo e saiu sem Ren notar.

Meia hora depois, já estava no estúdio onde Kanae gravava a primeira serie onde seria a personagem principal.

Felizmente, estavam a fazer uma pausa de quinze minutos, por isso não foi difícil falar com ela.

- Moko-san! – exclamou Kyoko, correndo para a abraçar – Como é que estão a correr as gravações?

- Larga-me. – pediu Kanae, suspirando quando Kyoko a largou – As gravações vão maravilhosamente. O que é que estás a fazer aqui? Não devias estar com o teu noivo?

- Esse é o problema. – resumindo o que se passava, Kyoko contou tudo a Kanae – E foi assim. O que é que achas, Moko-san?

- Bem… - Kanae pensou seriamente no assunto. De alguma maneira, já adivinhava que aquilo aconteceria – Eu acho que, lá no fundo, o problema é que o Ren ainda te vê como uma criança, já que começou a gostar de ti quando tu tinhas dezasseis anos. Por isso, quando te viu magoada, sentiu-se mal com ele próprio.

- O que é que eu posso fazer? – perguntou Kyoko, inocentemente – Já tentei seduzi-lo, mas não parece funcionar.

Kanae ergueu uma sobrancelha, enquanto imaginava a amiga a tentar seduzir Ren, mas não se riu. – Porque é que não tentas maneiras diferentes de fazer isso?

- Como assim? – perguntou Kyoko.

- Olha… - Kanae levou uma mão à cara quando o diretor a chamou – As filmagens acabam às cinco da tarde. Porque é que não nos encontramos no café aqui ao lado e falamos sobre o assunto?

…

E tinham falado, pensou Kyoko corando para si mesma, enquanto preparava o jantar e esperava que Ren chegasse.

Há meia hora, Ren recebera uma mensagem de James, que dizia que precisavam de falar sobre a música para o casamento deles.

No entanto, Kyoko sabia que era apenas uma estratégia para lhe dar tempo.

- Como é que ela quer que eu faça isto? – murmurou Kyoko, desligando o fogão. Frustrada, olhou para o avental que tinha pendurado em cima do sofá.

Hesitando, pegou nele e entrou no quarto de hóspedes. Uma vez lá dentro, tirou a camisola e as calças de ganga que tinha vestido de manhã. Devagar, levou as mãos ao fecho do sutiã, mas não conseguiu abri-lo.

- Talvez não faça diferença. – disse Kyoko, referindo-se à roupa interior branca.

Deixou as duas peças no corpo e vestiu o avental e apertou-o com um laço atrás das costas. Depois, olhou-se ao espelho para ver o resultado e perguntou-se se os homens gostariam mesmo daquele tipo de coisas.

Nervosa, decidiu praticar as falas que Kanae lhe tinha dado.

- Bem-vindo a casa, querido. – sussurrou Kyoko – O jantar está pronto. Preferes tomar banho primeiro ou será que preferes provar-me em vez diss…

Quando ouviu a porta da frente, o seu coração saltou uma batida mas correu para a entrada, tal como Kanae lhe tinha instruído.

Parou em frente à porta da frente e preparou-se.