O suor escorria pela cara de Kyoko quando ela entrou na cabina de Ren, no restaurante, ao ver Sho sentado entre Kanae e Chiori. Pelos vistos Ren já sabia mas não parecia estar contente com isso.

Como Brian tinha dito, Ren estava à espera dela à porta do restaurante, o que a deixava um pouco desconfortável, mas contente por ele o ter feito.

Sentou-se à mesa redonda com Ren e pôs-se a olhar para Sho que, depois de a ter cumprimentado, virou-se novamente para Chiori e continuou a falar.

Ela franziu as sobrancelhas e olhou para Ren que encolheu os ombros imediatamente. Kyoko notou que eles estavam a falar de trabalho mas havia mais alguma coisa na cara de Shotaro.

- Sabes, eu também estava assim, há algum tempo atrás.

Kyoko arrepiou-se quando sentiu Ren a sussurrar ao seu ouvido e só depois é que notou que ele tinha-se inclinado sobre ela e a sua cara estava demasiado próxima da dela.

- Apaixonado? – perguntou Kyoko com receio que os lábios dos dois colidissem se ela fizesse o mínimo movimento.

- Estou cada vez mais apaixonado por ti. – murmurou Ren caso ela pensasse que o “estava” referia-se a isso – Mas ele está a amá-la de longe. – completou ele sem hesitar ao usar aquela palavra.

Ao ouvir isso, Kyoko arregalou os olhos mas forçou-se a não olhar para Sho.

- Porque é que ele está apaixonado por ela? – era uma pergunta estúpida mas Kyoko não conseguiu conte-la. Como é que podia ter a certeza que aquilo não era só uma fachada e ele não iria magoar a amiga como tinha-a magoado – Ela só discute com ele.

- É um daqueles mistérios da vida. – respondeu Ren sorrindo – Como é que eu consigo amar uma rapariga tão obstinada?

Ela cruzou os braços e virou a cara, virando-se para James. – Amanhã, precisava da tua ajuda.

James ficou calado durante alguns segundos, surpreso com o pedido de Kyoko. A história dos dois não tinha sido a melhor e, depois de Tora o ter despedido a meio da digressão pela América, Kyoko nunca mais tinha falado com ele.

- Sim. – concordou imediatamente mesmo sem saber o que ela queria – É só dizeres.

- Consegues reunir uma banda até amanhã? – perguntou Kyoko sabendo que seria quase impossível – E podias mexer com alguns fios no X-Show?

James franziu as sobrancelhas, enquanto pensava no que é que ela andava a tramar mas anuiu com a cabeça e pegou no telemóvel, começando a mandar mensagens. – É como se já estivesse feito.

Apesar de Kanae estar a olhar, não disse nada que contrariasse a amiga. Sabia que o namorado estava em divida para com Kyoko.

- Obrigada. – agradeceu Kyoko sorrindo – Depois mando-vos umas pautas.

James abriu a boca quando Kyoko baixou a cabeça em agradecimento e sentiu uma dor no peito tal como tinha sentido depois de Tora ter dito a Kyoko o que ele tinha feito e ela ter olhado para ele com mágoa e tristeza na cara. Naquele dia, James acreditava que Kyoko ficara mais infeliz do que zangada.

E depois tinha ficado a saber que ela tinha dito a Kanae que ele era um bom rapaz? Mas…

- O comer. – o empregado pôs os pratos em cima da mesa, interrompendo os pensamentos de James.

Como sempre, Kyoko notou que Ren não se tinha poupado a despesas. Sorriu enquanto o empregado punha vários e variados pratos com comida no meio da mesa.

- Então, estás preparado para comer? – perguntou Kyoko referindo-se a Ren.

- Se me deres. Ahn… - Ren continuou de boca aberta ao ver Kyoko abanar a cabeça firmemente e depois corar quando notou que o resto do grupo estava a olhar para eles.

- Está bem! – gritou Kyoko pegando num pedaço de sushi e pondo-o na boca de Ren – Contente?

- Deveras. – disse Ren anuindo com a cabeça depois de saborear demoradamente o sushi que Kyoko lhe tinha dado – Dás-me outro?

Quando o viu a começar a abrir a boca outra vez, ela tapou-a com a mão recebendo um beijo e uma mordiscada.

- Podem parar com isso? – pediu Chiori – Há certos parvos que não sabem a diferença entre namorados e colegas.

Só depois repararam que Sho estava pacientemente com a boca aberta na direção de Chiori e parecia não ter intenções de fechá-la.

- Não tenhas muitas esperanças. – avisou Chiori virando-lhe a cara – Devias fechar a boca. Ainda te entra uma mosca.

-Tch! – Sho fechou a boca e começou a tirar arroz para a sua tijela vazia, enquanto Ren lançava olhares a Kyoko que diziam “Vês, eu tinha razão”, irritando-a.

- Bem, que tal se nos despachássemos? – propôs Kyoko – Ainda tenho que viajar até Kyoto.

Sabendo que isso chatearia Ren que já lhe tinha pedido para passar a noite em sua casa, outra vez, Kyoko sorriu vitoriosamente.

- Ai, sim? – Ren decidiu ripostar – Assim como é que vais chegar a tempo para o X-Show e para o teu playback?

- Certas pessoas que têm certos segredos não deviam falar muito. – avisou Kyoko sentindo-se um pouco mal por usar Kuon – Ou certas pessoas podiam deixar escapar certos nomes.

Bem, Ren não se sentiu nada ressentido por ela ter usado Kuon porque agora já não iria sentir-se mal por fazer aquilo que queria fazer desde que ela chegara. Por isso, pôs-lhe a mão por trás do pescoço e puxou-a para ele até terem os lábios colados. A cara dela estava tão vermelha que parecia que ia rebentar e os olhos arregalados diziam claramente “O que é que estás a fazer!?” mas Ren parecia ignorar aquilo eficazmente.

Só a largou quando ela parou de respirar e sorriu-lhe. – Temos que trabalhar nisso.

Kyoko abriu a boca e ficou assim, sem coragem para olhar para os outros.

- Raio de americanos, não é? – querendo dar forças a Kyoko, Kanae pôs-lhe uma mão no ombro – Eu percebo.

Ela aproveitou que estava entre Ren e Kanae para abraçar a amiga. – Moko-san! Ele é tão mau!

- Pronto, pronto. – Kanae decidiu tolerar aquilo e fez-lhe festinhas no cabelo – Porque é que não vens dormir a minha casa e podemos falar sobre o James e o Ren?

Kyoko anuiu com a cabeça dando a oportunidade a Kanae de dar outro olhar “Ganhei!” a Ren. Este franziu as sobrancelhas mas não disse mais nada. Talvez aquilo fosse bom. Talvez Kanae conseguisse prepará-la para o passo seguinte da sua relação porque, francamente, Ren não fazia a mínima ideia de como explicar-lhe qual era o passo seguinte.

Só de pensar nisso ficou desconfortável. Sentia-se um monstro que ia desflorar uma qualquer princesa inocente. Pôs uma mão na cara e tentou não rir. Podia não ser uma princesa mas era certamente inocente e ele iria certamente desflorá-la.

Quando já tudo tinha acalmado e já todos tinham acabado de comer, os homens decidiram dividir a conta em três e ser cavalheiros para as suas damas. O fato de Sho estar disposto a pagar o que Chiori comera tinha surpreendido Kyoko. O fato de Chiori se ter aproveitado disso para comer ainda mais não a surpreendeu assim tanto.

- E que tal se te levasse a casa da Kanae? – ofereceu Ren já cá fora.

- Não é preciso. – respondeu Kyoko espreguiçando-se – O James disse que nos dá boleia às duas.

- Eu insisto. – Ren baixou-se até ter a boca quase encostada ao ouvido dela – Não queres que te beije em público, pois não?

- Shit. – Kyoko tinha-se habituado praguejar em inglês já que não gostava de o fazer em japonês – Está bem. Mas nada de brincadeiras.

- Eu nunca brinco contigo. – murmurou Ren mas ficou contente por ela não ter ouvido. Depois falou mais alto, empurrando-a para o carro – Vamos!

…

Ren deixou Kyoko à porta da casa de Kanae e dirigiu-se para casa.

Decidiu que até era melhor não tocar nela por uns tempos, pelo menos até ela estar preparada. Tinha medo de ser impulsivo e fazer alguma coisa que a magoasse depois.

Por outro lado, tinha ficado interessado em como James tinha aceitado imediatamente o pedido egoísta de Kyoko. Parecia-lhe que havia ali mais alguma coisa do que a relação entre cantora/guitarrista. O que era, não sabia. Mas iria descobrir.

…

- Então, ele riu-se.

Depois de ouvir a história sobre a noite quase íntima de Kyoko e Ren, Kanae tentou conter o riso que tentava desesperadamente, sair. Havia tantas coisas erradas naquilo que ela nem sabia por onde começar.

O quarto não tinha mudado muito com o passar dos anos. Agora havia alguma roupa de James nas gavetas e no armário mas nada muito notável. Kyoko também tivera alguma roupa na casa de Ren, por isso não achou isso estranho.

- E não falaram sobre isso? – perguntou Kanae, interessada.

- Sim, ele disse qualquer coisa sobre não se importar e começou a rir-se outra vez. E perguntou se eu sabia onde é que íamos chegar se ele não tivesse parado.

- E o que é que tu disseste? – perguntou Kanae.

- Moko-san, eu fiquei embaraçada mas não percebi muito bem. – confessou Kyoko – E a Miranda…eu não percebo porque é que ela me mentiu. Talvez se sinta sozinha. Talvez lhe devesse fazer companhia mais vezes.

Kanae decidiu deixar o assunto de Miranda de lado, por enquanto. Agora, era a abstinência de Ren que mais a preocupava.

- Então, não sabias onde é que o Ren queria chegar? – perguntou Kanae.

- Eh? Não. – Kyoko viu Kanae abanar a cabeça – Porquê?

- Querida… - Kanae suspirou. Como é que lhe devia explicar aquilo? – Já fizeste cenas de cama, não foi? – Kyoko anuiu com a cabeça – Bem, o que os personagens fazem nessas cenas era o que ia acontecer na casa do Ren se ele não tivesse parado.

Demorou algum tempo, mas Kanae viu Kyoko a processar a informação e depois a passar de vermelha que nem um tomate a branca que nem cal.

- E-E-Ele queria…Ele… - gaguejava Kyoko – Ele e eu…Ele queria-me…Ele…

- Sim! Já percebi! – exclamou Kanae – Ele queria fazer o que a maioria das raparigas da tua idade já fez!

- O quê? – por alguma razão, Kyoko estava surpreendida – Já?

- Sim, já! – confirmou Kanae levantando-se. Sob o olhar de Kyoko, ela começou a vasculhar no armário até encontrar o que queria. Virou-se e mostrou-lhe o conjunto de lingerie preto que tinha tirado – Também tenho um branco. Qual é que preferes?

- O…o qu…

- Não vais começar a gaguejar outra vez, pois não? – Kanae sentou-se na cama, em frente a Kyoko e pôs-lhe as peças no colo – Olha, não te vou falar sobre isso porque cada experiência é diferente. Mas não te vais arrepender.

- N-Não…o q---

- Vamos dormir, está bem? – perguntou Kanae, desistindo por enquanto – Coitado do Ren.

Depois de suspirar, deitou-se ignorando Kyoko que continuava a gaguejar.

- Quando terminares apaga a luz. – disse simplesmente e fechou os olhos.

Kyoko olhou mais uma vez para a lingerie e franziu as sobrancelhas. – O quê?