Coroa de prata escrita por Eleanor Blake


Capítulo 4
Tudo em cheque




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Sabe como você constata que não dá mais,que esse é seu limite?quando você olha para o espelho e não se reconhece,você vê claramente dor,você vê medo,você vê a força da vida se afastar como um grande amigo quando se vai e a dor da separação chega ao ponto de ser física e implacável.

Demorei para me situar no tempo.Ver o crepúsculo caindo e sentir que o fim do dia era mais do que o começo de outro,era a morte de um,e,no meu caso essa morte era a minha.

Eu me sentia com o mundo nas costas e medo do mundo.Talvez se eu  morresse agora não seria de todo ruim.

Me levantei daquele chão desconhecido,sentindo os ossos protestarem,sentido a cabeça quase explodir.Se tivesse ainda alguma lágrima em mim seria de sangue.

Me sentir derrotada doía e estar sem um braço amigo pra chorar fazia tudo pior.

O medo,o frio,não o frio convencional que vem de fora e você sente;o frio que vem de dentro e te deixa torpe e impotente;o que levanta um inferno de gelo em seu coração e te faz parar e crer que não dá mais.

Agora sentada nesta cama horrenda eu tento entender,juntar partes e tentar descobrir o que acontecia.

Motivação enfim me tomava e eu começava a sair da letargia e começar a reagir,neste momento minha mente estava maquinando tudo,revendo cada acontecimento,desde minha mãe estar mais do que estranha na última semana até a sua frase mais usada"o que fiz e farei foi e sempre será para seu bem" que ela me dizia constante e dolorosamente agora tomava um contorno estranho,uma conotação jamais aplicada;será que...não,essa frase era só uma forma de carinho.

Mase a dor com que ela proferia essa frase?de onde vinha?

Escuto a porta bater e passos se aproximarem de mim 

—Senhorita,está aí?-pergunta uma voz  gasta pelo tempo.–Senhorita,vim lhe trazer o que comer e o que vestir,abra por favor,preciso saber se está bem!Por favor senhorita-diz agora num tom próximo ao desespero.

Não posso responder agora,minha voz silenciou-se e escondeu-se aonde nem eu posso achar.Quem é essa que me importuna agora?

Cerrei os lábios e continuei olhando pra porta de madeira escura.

—Façamos uma troca senhorita,você come e se limpa e eu te conto onde está e talvez a introdução do por que  e,dependendo somente de você e das circunstâncias que eu lhe conto o resto.Feito?

Minha curiosidade dizia um sonoro sim,meu medo gritava um estridente não e eu mesma simplesmente cogitava um talvez.

Desisti,a necessidade de prumo geográfico era grande demais no momento.

—Entre-uma voz rouca vinda de mim exclamou quase a ponto de não ser ouvida mas esperando que fosse o suficiente.

A porta se abriu com alguns giros de chave,talvez três trincos.

—Senhorita eu sou...oh meu Deus!-gritava a senhora ,como se eu fosse a morte em pessoa-Senhor da glória,senhorita,o que aconteceu com você?

Não sabia do que ela falava,me sentia bem na medida do possível,com uma dor de cabeça pungente,mas que tornara-se tolerável depois da dor íntima e dilacerante que tive.

—S..senhorita aconselho que se olhe no espelho e veja você mesma.

Com dificuldade levantei cambaleante da cama e me olhei no espelho.

Oque vi foi a visão da derrota e da dor,meu rosto estava desfigurado e sujo a ponto do irreconhecível.Passei a mão e senti uma dor pulsante como um coração assustado.

—Senhorita,o que aconteceu?

—Por que estou aqui?-perguntei

—Mas...

—Por que eu estou aqui?-aquele bate volta estava me tirando do sério.

—Senhorita

—Que droga,você não é capaz de me responder uma simples questão?Por que eu estou aqui?!Se você não souber ou não for me dizer saia daqui por bem ou eu mesma a tirarei-eu estava num estado colérico nunca antes visto por ninguém além de minha mãe.

—Vejo que quem te educou não o fez bem-disse uma mulher do lado de fora do quarto.

Eu explodi.

Minha educação era dada por minha mãe e isso era impecável(com quem merecia é claro),minha visão turvou-se e me guiei por meus instintos,corri desenfreadamente na direção daquela mulher buscando por respostas e principalmente por vingança,agarrei-me a seu pescoço com uma das mãos e com a outra a socava sem parar enquanto estava em cima dela.

—Vadia!Como ousa falar assim de minha mãe,ela é milhões de vezes melhor do que você!-eu gritei num impulso,que fez com que minha força e o ritmo dos socos aumentasse.

—Richard socorro!ela vai matar a Dill!-gritava a mulher em desespero.

Eu podia ser um tanto mole e lenta,mas quando eu realmente me irritava eu não tinha parada;minha força aumentava junto com minha coordenação e me segurar não era algoi fácil e que alguém pequeno seria capaz de fazer.

—Nelli,o que que tá acontecendo aqui?!-gritou a voz de um homem-Oh meu Deus,ela vai matá-la!

O homem me puxava e a outra mulher puxava a vadia que me ofendera.Parei.Mas não por que ele me soltou dela,soltei por que a imagem de minha mãe me falando pra me acalmar me veio à tona como se ela própria estivesse ali.

—Me solte-disse eu ao homem.

Me levantei e a cena que vi chegava ao ponto de ser macabra para mim,a mulher estava no chão com a boca em puro sangue e a outra mulher checando se ela estava bem enquanto o homem olhava atonito a cena comigo.

—Desculpe senhorita,ela não teve a intenção de ofender-Me pedia o homem ao ponto de parecer que ele implorava.

—Ela não vale a pena,está tudo bem agora.-disse uma segura e agora controlada eu.

—Senhorita,perdão não tive a intenção-me pedia a mulher quase em estado de destruição em um ajoelhado um tanto caído.

—Não sou melhor do que ninguém aqui,não se ajoelhe diante de mim.Agora está tudo bem,mas se você falar de minha mãe novamente eu não pararei e nem mostrarei misericórdia.Entendido?

—Mas ela não...-disse a mulher,mas a outra tapou-lhe a boca.

—Sim senhorita nós entendemos-me disseram os dois em uníssono enquanto a outra estava cuspia sangue.

—Desculpem-me por minha atitude,mas não pude me conter,me ofender tudo bem eu me defendo,mas a minha mãe nunca.

—Tudo bem por aqui?- Um rapaz olha pela porta com grandes olhos verdes e sobrancelhas unidas pela tensão.

No instante em que o rapaz olhou a mulher cheia de sangue,e depois olhou pra mim e me viu com o sangue da mulher na roupa ele passou de confuso para aterrorizado e de aterrorizado para submisso em segundo,e,se curvando diante de mim confuso e totalmente assustado ele disse:

—Perdoe-me princesa,não tive a intenção-ele praticamente rogava,mas a parte do princesa me pegou de surpresa.

—Como é que é?-perguntei agora confusa.

—David,agora não é hora-disse a milher.

—É hora sim,que papo é esse?alguém vai me explicar ou vou ter que sair po aí perguntando?

—Bem,acho que agora não dá pra evitar,você tem que saber.Primeiro,meu nome é Nelli e sou sua criada,e segundo,você não é quem pensa que é.

Continua...


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