Coroa de prata escrita por Eleanor Blake


Capítulo 20
Boneca




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Pássaros cantavam enquanto a luz do sol começava a tomar a sala fria em que eu estava.

Sentei-me abraçando minhas pernas tentando entender os flashes de memória que disparavam diante dos meus olhos e tentei controlar a respiração que começava a se agitar diante da dor.

Se você se desesperar alguém vai aparecer, fique calada.

Mordi os lábios procurando me manter o mais tranquila possível enquanto eu sentia os pontos repuxarem a carne da minha mão.

Meu corpo pálido estava coberto por uma camisola longa branca que cobria todas as marcas que eu tinha ganhado em meio ao caos.

Enquanto eu tentava organizar meus pensamentos David entrou no quarto puxando a barra da camisa como uma criança que sabe que será repreendida.Soltei as pernas e olhei-o esperando que falasse algo,que me olhasse ou apontasse sua espada pra mim,mas ela simplesmente sentou-se no chão coçando a cabeça.

—De hoje em diante eu fico aqui.

Sua voz era cansada,resoluta mas no fundo apavorada.Seus dedos faziam tanta força contra o tecido que eu podia ver o branco dos nós de seus dedos.

—Como era antes de eu chegar aqui?

Minha pergunta fez suas sobrancelhas se encontrarem e seus lábios serem mordidos enquanto ele procurava nas suas memórias algo que pudesse dizer.

—Era...frio.Ninguém falava enquanto estivesse nos corredores, não havia agitação além dos gritos do rei quando algum problema acontecia.Seu irmão vivia no quarto há anos,com a saúde frágil e nunca ouvíamos dele a não ser que estivesse doente.

Segurei meu pulso e olhei as faixas enroladas sob os pontos que ardiam e busquei os olhos de David que estavam cravados no chão.

—Você chegou a conhecê-la?

Intrigado,finalmente seus olhos encontraram os meus enquanto seu peito se enchia de ar por baixo do colete de couro preto e de sua camisa branca amassada.

—Ela era a pessoa mais doce que você poderia imaginar.Você é exatamente igual a ela a não ser pelo a cabelos,que eram pretos como a noite.

Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa além disso,Jenna vinha ao lado de Maggie que carregava um embrulho grande nas grandes mãos.

David permaneceu sentado, porém virou dando as costas para mim e as duas se aproximaram me circulando como se eu fosse fugir se permitissem.

—Viemos trazer suas roupas senhorita,seu pai e seu irmão estão em conferência com um nobre e não poderão acompanhá-la até que acabe.

A voz de Jenna era fria,distante e firme enquanto ela levantava minha camisola e Maggie colocava o embrulho sob a cama.

Fui enfiada num vestido azul claro,com um pesado casaco cor de creme fechado por botões de bronze e botas cor de caramelo foram colocadas em meus pés.Nas orelhas,brincos de pedras azuis foram colocados,na minha mão inteira ela colocou um anel dourado com brilhantes quadrados no indicador e no anelar um anel feito de galhos dourados coroados com pequenas pedras azuis e vermelhas enquanto na outra mão uma luva de couro creme cobria as faixas.

Maggie logo assumiu a posição e com cuidado veio e penteou meus cabelos soltando a franja pra frente e prendendo a parte de cima em uma longa trança presa com uma presilha dourada em forma de folhas,pra logo abrir uma pequena bolsa preta tirando de lá o que eu nunca mais imaginei ver.

Maquiagem.

Seus dedos hábeis iam e vinham cobrindo meu rosto com tantas coisa quanto seriam possíveis.

Uma máscara.

Em silêncio ela tirou do embrulho um espelho prateado coberto por pedras azuis emoldurando a imagem de uma desconhecida.

As olheiras,hematomas e cortes haviam desaparecido sob uma hábil camada que formava um rosto que eu não conhecia.

Eu não parecia ter mais os meus quinze anos,parecia mais velha,mais segura de mim e meus grandes olhos azuis cintilavam emoldurados naquela máscara.

Eu tinha mudado,mas não sabia se gostava disso.

David voltou a se virar e engoliu em seco enquanto ficava em pé e mordia seu lábio.

—Está linda princesa…

Seu sussurro me fez soltar o espelho enquanto Jenna me colocava em pé e testava a firmeza de minhas pernas.

—David e Maggie não sairão do seu lado a não ser por alguma razão completamente necessária,mas você está livre pra circular.Apenas não faça muita bagunça ok?

Maggie conteve uma risada enquanto David me dava seu braço e começávamos a andar.

—O que faremos hoje?

A voz de Maggie era incômoda,animada demais enquanto seu corpo permanecia tenso.Soltei-me de David e fui até a porta começando a sentir o leve cansaço do esforço.

Caminhei com os dois colados as minhas costas enquanto outros criados arfavam e cochichavam entre si.

Eu tinha virado o assunto do palácio.

—A princesa louca age novamente.

Sussurrei entre dentes tentando controlar meu coração agitado.

Giordano vinha com uma trupe de outros criados carregando sacos de farinha na cabeça enquanto ele sorria preocupado pra mim.

—Mas olhe pra você,como cresceu de um dia pro outro! Belíssima como sua mãe!

Pela primeira vez no dia eu sorri.

Ele não falava com pena, não estava assustado ou questionando minha sanidade.Giordano apenas sorria e vinha me puxando num abraço caloroso.

—Está com fome?Venha,quero saber a opinião da princesa sobre uma questão importante da cozinha.

Giordano não dava margem pra questionamentos,com seu abraço gentil nós marchamos pra cozinha e eu fui sentada numa cadeira diante da grande mesa de madeira escura e logo uma fila de cozinheiros carregando nervosamente pequenos potes se formava diante de mim e Giordano vinha com uma cesta de pães e uma faca e as colocava diante de mim.

—Hoje temos diante da princesa uma importante decisão.Todos eles estão competindo pelo título de melhor geléia.O que isso vale você me perguntaria e eu te digo: Nas grandes ceias dos convidados da realeza elas são servidas e o prestígio de sermos reconhecidos pelos talentos diante do reino aparece.Então hoje você será a nossa jurada e decidirá quem deles terá a honra de servir sua arte.

O pedido era estranho,mas Giordano tinha firme convicção em suas palavras.

Desviei o olhar suspirando e David logo se colocou ao meu lado.

—O que houve? - ele perguntou tocando meu ombro.

Olhei pra todos aqueles rostos esperançosos e voltei a baixar a cabeça.

—Me desculpem...Eu não sou uma pessoa qualificada pra isso,acho que seria melhor alguém mais...nobre para perguntarem algo assim.

Um murmúrio se instalou e uma pequena mulher com um turbante amarelo vivo se colocou diante de mim batendo seu pote na mesa.

—Nunca ouvi tamanha besteira!

Levantei a cabeça encontrando olhos castanhos tão intensos como se chocolate derretido tivesse derramado naqueles olhos.

—A senhorita nos olha com respeito,como iguais,aprendeu conosco,nos ouviu,riu conosco.Quem melhor pra julgar nosso amor pelo que fazemos do que alguém que também pode fazer?

A agitação ao meu redor aumentava enquanto todos concordavam e eu sentia minhas bochechas queimando de tanta vergonha.

Limpei a garganta e peguei a pequena faca prateada entre os dedos.

—Se insistem…

Rendi-me e Giordano me passou um pedaço de pão que logo eu cobri com uma pasta vermelho viva.

Por um tempo que não medi tudo parecia bem.

De geléias muito doces,muito azedas e muito exóticas eu sentia a paixão de todos que me contavam como fizeram,qual a história deles com aquela fruta,de onde vieram e como era o seu povo.

Uma velha senhora dançava ao som das palmas quando sua geléia de frutas amarelas me fez sorrir e declará-la vencedora.

David rua enquanto comia,Maggie acompanhava as palmas, Giordano cantava num idioma apaixonado que eu não conhecia enquanto eu absorvia todo aquele calor guardando nas memórias tudo o que eu podia.

Depois disso eu decidi me ocupar.

Fizemos pães,aprendi sobre doces,frutas e temperos que eu nunca tinha visto,sobre países do oriente,sobre histórias de uma terra muito maior do que eu poderia sonhar.

Tanto fizemos que acabamos com uma quantidade absurda de comida que colocamos numa grande cesta trançada e Giordano carregava alegremente me seguindo pelos corredores.

Andamos pelo lado contrário ao jardim,até uma movimentação que deixava David tenso e Maggie agitada.

—Está chegando ao espaço de treinamento da guarda real minha senhora.

A voz de Maggie era tensa enquanto eu ouvia o tilintar de espadas,gritos cada vez mais altos e via uniformes vermelhos cobrindo grandes corpos que se atiravam uns contra os outros.

—Princesa,acho que deveríamos sair daqui... Não é o melhor ambiente pra você.

Ergui uma sobrancelha e ignorei o comentário de Maggie enquanto continuava a caminhar ouvindo David reclamar sobre o quanto meu pai ficaria irritado se me visse por aqui.

Com um cabelo esbranquiçado preso num coque firme,um homem completamente vestido de preto gritava ordens e bradava uma espada prateada que reluzia contra o sol.

Até que ele me viu.

Sua espada caiu entre seus dedos enquanto seus olhos encontravam os meus e ele caía em seus joelhos enquanto toda a comoção de dezenas de soldados se silenciava.

—Este é Dario,meu pai e o comandante de toda a guarda real -David murmurou sem tirar os olhos daquele homem que parecia ter sido congelado no tempo por que não mexia um músculo enquanto aqueles olhos não desgrudavam de mim.

—Bom dia - eu disse o mais firme que consegui.

Com um pigarro na garganta ele se levantou pegando sua espada e virando-se pra tropa ele bateu suas botas no chão.

—Saúdem lady Annice,sua majestade real!

Seu grito colocou todos os olhares em mim enquanto joelhos eram dobrados e Maggie me empurrava pra mais perto deles.

Aproximei-me das fileiras e todos se levantaram com olhares firmes e sorrisos orgulhosos.

—Bem vinda ao seu lar!

Um soldado de voz tão suave quanto a brisa disse e logo corou violentamente enquanto Dario guardava sua espada.

Com grandes olhos verdes,a pele queimada de sol e um sorriso lindo que ele tentava conter , aquele soldado me fez corar enquanto Maggie se aproximava.

—Quem é você? - eu perguntei tentando não olhar pra camisa branca que tinha os botões abertos mostrando seu pescoço e o começo de seu peito.

—Capitão James,da primeira esquadra da guarda do castelo majestade.

Seus olhos brilhavam enquanto ele me olhava,seus dentes perfeitos eram cobertos por grandes lábios que tentavam formar palavras.

Ouvi um pigarro incomodado de David e dei um passo pra trás segurando um sorriso enquanto eu ouvia um ronco terrivelmente alto de um estômago escondido na multidão.

Dario veio batendo suas botas e seu rosto brilhava carmesim de tanta vergonha enquanto ele se punha ao lado de David.

—Perdão majestade,temos treinado durante o dia todo e alguns de nós estão ficando com fome.

A voz de James era constrangida e macia enquanto ele tentava se justificar diante de mim.

Não pude controlar o riso que me veio.

—Pessoas têm fome capitão, é normal -eu respondi cobrindo a boca.

—Mas a hora de comerem ainda não chegou se ainda estão treinando.

Virei-me para David que parecia conter a irritação e falava tão firme quanto eu nunca tinha ouvido.

E aí tive uma ideia.

—Comandante,posso dividir do pão que fizemos com seus soldados?

Minha pergunta iniciou um murmúrio e agitação entre eles,que logo se silenciaram apenas com um olhar firme de Dario.

—Minha senhora...Somos soldados,servimos a seu pai,o rei,por que nos daria algo feito pelas mãos reais? - ele perguntou o mais baixo que sua voz de trovão o permitia.

—Por que eu tenho pães demais e eles estão com fome...Eu acho.-Respondi começando a corar.

—Suas ordens capitão? - James perguntou vendo os murmúrios recomeçarem.

—Se é o que vossa majestade deseja…

James então começou a agir fazendo os soldados formarem uma fila enquanto Maggie se aproximava com Giordano e a cesta.

—Então vamos servi-los - ela disse enquanto se preparava.

—Não,eu faço isso.

O murmúrio aumentou consideravelmente enquanto Dario se rendia murmurando para si mesmo e se colocava ao meu lado.

Pra cada um deles entreguei um pão que tínhamos feito e Giordano ria comigo enquanto eles tocavam na massa como se fosse uma jóia inestimável.

“Não mereço um presente assim”,”Vou levar um pedaço pra minha mulher”,”meus filhos não vão acreditar quando ouvirem”, eram as frases que eu ouvia enquanto eles agradeciam e pegavam seus pães.

Com murmúrios agradecidos e bocas cheias eles pareciam mais contentes enquanto traziam uma cadeira pra mim.

—Majestade, permita que demonstremos um pouco da arte da espada de nossos melhores homens.Aceita?

Dario perguntava firme enquanto eu assentia e James se posicionava a poucos passos de mim tirando seu casaco vermelho.

—Quem virá contra mim? - ele perguntou sacando a espada e batendo suas botas no chão de terra vermelha.

—Eu vou.

Com um rosnado David saiu do meu lado sacando sua espada enquanto Maggie me entregava um lenço branco.

Franzi a sobrancelha e ela se abaixou ao meu lado enquanto eles se posicionavam.

—Quando quiser que comece,jogue o lenço no ar,eles terão três minutos pra render o outro,quem vencer te devolve o lenço e você agradece.É uma grande honra um membro da família real dar o lenço ao vencedor. - ela sussurrou.

Pigarreei enquanto corrigia a postura e levantei o lenço atraindo a atenção de todos.

Quando o tecido branco tocou o chão tudo começou.

Com espadas em punho eles avançavam um contra o outro como animais,estocando, desviando e tentando ao máximo encurralar o outro.

David era rápido,ia e voltava como se flutuasse no ar, já James vinha como um urso, avançando e desviando e eu podia jurar que a cada passada dele o chão tremia.

Espadas batiam,os soldados torciam e eu arfava vendo David cair no chão e se esquivar de James.

Mais do que uma demonstração os dois avançavam como se quisessem a cabeça um do outro e meu coração batia frenético até que uma palma bateu ao meu lado e os dois pararam um com a espada apontada pro pescoço do outro.

Todos se silenciaram enquanto eles baixavam as espadas e olhavam em expectativa pra mim.

—Estão esperando que você declare o vencedor - Dario sussurrou.

Cruzei as pernas,mas logo me pus em pé e diante de mim os dois estufavam o peito.

—Acho que...foi empate.

Toda a confiança de ambos foi substituída por sorrisos sarcásticos enquanto eu esperava que alguém dissesse algo.

—Posso saber o que a senhorita está fazendo aqui?

Jenna vinha afoita se colocando ao meu lado enquanto uma criada a acompanhava a passos ligeiros.

—Vim conhecer o lugar e declarar um empate. - eu disse levantando a sobrancelha.

—E o que fazemos então? - David perguntou guardando a espada.

Abaixei-me e peguei o fino lenço branco e mostrei a Dario que me questionava com o olhar.

—Parta ao meio por favor.

Giordano fechava a cesta confuso e segurando o riso enquanto Dario partia o lenço com a lâmina de sua espada.

Peguei as duas metades e me aproximei entregando o tecido aos dois.

David me olhou confuso e guardou o pedaço de lenço no bolso do peito na camisa suja de terra, já James fez uma pequena reverência e beijou delicadamente o lenço,dobrando-o e o guardando no bolso do casaco.

Agradeci corando e me despedi dos guardas voltando aos frios corredores do palácio.

—A senhorita apronta cada coisa logo cedo…

A voz de Jenna era de reprovação mas havia um olhar divertido ali.

Um punho se fechou ao redor de meu pulso e senti meu coração quase explodir em desespero.

Num segundo Nathaniel me soltava e me olhava preocupado. Todos os sorrisos tinham se apagado enquanto eu tentava me recompor.

—Me desculpe...eu só queria te segurar pra te abraçar.

A voz de Nathaniel ela dolorosamente triste enquanto seus dedos apertavam o botão da camisa branca.

Engoli em seco e o abracei enquanto parecia que todos ao nosso redor voltavam a respirar.

—Onde estava esse tempo todo que não o vi? - perguntei arrumando uma mecha dourada que caía nos olhos dele.

—Eu estava em conferência com um nobre que nos fornece alimentos,junto com nosso pai - ele disse franzindo as sobrancelhas enquanto tocava meu rosto.

—Está linda minha amada - ele murmurou sorrindo de lado.

—Você também está muito bonito hoje -eu disse pegando sua mão.

No segundo seguinte eu tentava segurar as lágrimas.

Sem perceber a idiotice que tinha feito,eu peguei nas mãos de Nathaniel com minha mão cheia de pontos e os senti queimar um a um.

Meu irmão me puxou em seu colo disparando pelos corredores com Maggie,David e Jenna vindo atrás.

Instantes depois ele abria a porta da enfermaria e o médico vinha preocupado ao nosso encontro enquanto ele me sentava na maca.

—Querida me fale onde dói - ele perguntou segurando meu rosto.

Estendi a mão trêmula com a luva e a enfermeira a retirou relevando bandagens que começavam a ser manchadas de sangue.

Jenna arfou, Nathaniel me puxou num abraço desajeitado e eu tentei não ter uma crise de choro enquanto o médico cortava as faixas e a enfermeira jogava um líquido frio que ardia como o inferno.

—Seus pontos não chegaram a abrir, é normal que eles sangrem um pouco mas vossa majestade não pode fazer força com a mão ainda. - o médico dizia enquanto começava a enrolar uma nova faixa.

— Eu estou bem - eu murmurei encarando minhas botas.

Nathaniel beijou minha testa e logo eu saí pra dar de cara com o rei com a expressão amarga.

—O que houve aqui?- ele perguntou tocando meu rosto.

—Os pontos… - eu sussurrei mostrando a faixa nova.

—Algum problema pai? - Nathaniel perguntou.

—Precisamos voltar e discutir, há um problema, são muitos fornecedores que repassam suas colheitas ao fornecedor final do reino e isso causa problemas com preços e com as entregas,vem muito de algo,pouco de outro e isso desequilibra as contas,no entanto não podemos dispensar Lorde Drent e escolher um novo alguém no momento. - ele disse coçando a cabeça .

—Posso ir junto?

Nathaniel e o rei se olharam e dois pares de olhos azuis nervosos encontraram os meus.

Me soltei dos dois e dei um passo pra trás encarando o chão.

—Tudo bem...Eu sou só um enfeite no final das contas.Vamos Jenna - eu sussurrei engolindo em seco.

O rei não sabia o que dizer, Nathaniel igualmente e o clima pesado se instaurava enquanto eu tentava controlar a frustração.

—Vamos.

A voz do rei era firme enquanto Nathaniel se colocava ao lado dele e eu era puxada pra debaixo do manto do rei.

—Só tente se comportar tudo bem?Lorde Drent é...mau humorado e difícil de agradar.

Nathaniel tinha o cenho fechado enquanto segurava meus dedos bons e entrávamos ali diante de um homem pequeno e com o rosto completamente queimado pelo sol.

—Lorde Drent,essa é a princesa .

Me revelando como um presente por debaixo de seu manto eu vi Lorde Drent levar as mãos a boca e se aproximar curvando-se diante de mim.

—Tão linda quanto sua santa mãe - ele disse se levantando.

Nathaniel me conduziu até uma cadeira,o rei sentou-se no meio segurando minha mão e Nathaniel do outro lado.

—Como eu venho dizendo majestade...Os camponeses todos precisam vender seus produtos,mas as safras são irregulares por plantarem de tudo,muitos querem exclusividade por terem mais terras e isso gera conflitos - ele disse

—Mas não podemos mandar as tropas pra conciliar a situação, vão entender como repressão e isso prejudica todas as negociações internas e externas -Nathaniel disse coçando o pescoço.- precisa ser algo pacífico,que concilie e organize a todos.

— E a senhorita o que pensa disso? Já que participa da família real também deve lidar com seu povo não é?

A sala se silenciou.Lorde Drent olhava me desafiando a responder enquanto os dedos do rei firmavam seu aperto contra os meus.

Pensei por um segundo,tentando entender como a realeza pensaria nisso,mas me dei conta que não adiantaria de nada resolver um conflito do povo como uma princesa.Eu precisava ser simplesmente eu e tinha que bastar.

—Não é uma questão da realeza, é uma questão do povo,de orgulho do que produzem,de poderem dizer que são os fornecedores que alimentam o reino e seu governante, então por que não resolver um assunto do povo com o povo? - eu perguntei formando a ideia.

Nathaniel me encarava preocupado,o rei estava sério mas não tinha me calado então resolvi continuar.

—Tenho a certeza de que Nathaniel pode lapidar essa ideia, então o que acham de uma competição?Uma feira incentivando os produtores a mostrarem o que de melhor eles produzem e fazer com que eles produzam mais do que tem de melhor ao invés de muita gente produzir uma coisa só em excesso?Tipo uma exclusividade de certo produto.Isso os deixaria orgulhosos do que fazem e ainda pode divertir o povo.Eu gostava de ver feiras onde eu estava e sempre havia alguém competindo pra mostrar o que fazia de melhor então é essa a minha ideia.

Lorde Drent levantou-se,o rei corrigiu a postura e Nathaniel olhava o horizonte como se montasse um quebra-cabeça.

—O que pensa disso vossa majestade?- ele disse puxando a ponta de seu bigode.

—Uma feira de atrações?Uma competição mostrando o que produzem,a qualidade dos produtos avaliados ,o que poderia criar um contrato,assim mapeando tudo o que precisamos,podemos criar até uma lista,anunciar e cada produtor se registrar e no dia final poderemos ir até lá e avaliar os que forem ganhando e chegarem numa etapa final.É fácil de fazer,barato e ainda envolve a população.Eu acho que é completamente viável, é uma ideia simples que pode colocar fim aos conflitos entre eles.

Nathaniel explicou andando animado até por as mãos em meus ombros,o rei girava seu anel e soltava meus dedos enquanto Lorde Drent olhava em expectativa.

—Bem...em duas semanas  teremos a grande celebração do aniversário da minha preciosa princesa, então isso nos dá três semanas para organizarem esse projeto.A princesa estará apresentada devidamente ao seu reino e já que ela deu a ideia e o príncipe a refinou então ambos vão decidir os vencedores enquanto nós negociaremos com os produtores depois.De acordo?

Lorde Drent e o rei conversavam enquanto meus ouvidos zuniam e minha cabeça começava a doer.Aniversário?Me apresentar a um reino?Quem disse que eu queria isso?

Fechei a expressão e  acenei fazendo Jenna se aproximar e Nathaniel soltar meus ombros.

—Foi um prazer ajudar a idealizar o projeto da feira, agradeço a oportunidade Lorde Drent,mas agora eu preciso atender a outro... compromisso.

Levantei-me fazendo uma pequena reverência encontrando o olhar confuso do rei e me soltei do toque de Nathaniel seguindo até a porta e caminhando até o corredor começando a me sentir sufocada com tantos passos seguindo os meus.

—Quero ficar sozinha.

Ninguém contestou.Algo na minha expressão fez o silêncio reinar entre nós enquanto eu seguia pelas escadas até meu quarto fechando as portas atrás de mim.

Começou.

Eu seria mostrada,usada e moldada feito um brinquedo enquanto fosse útil.

E aquilo me fazia surtar.

Lavei o rosto tirando a maquiagem e voltando a ver o rosto machucado e pálido que eu tinha.Aquela não era a princesa,era só a Annie,uma garota exausta, não a boneca,apenas eu.

Mas depois da festa em que queriam me apresentar a todos não haveria mais a chance dessa garota existir.










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