- Ela morreu - Nem foi exatamente uma pergunta mais o delegado respondeu.

- Sim, ela morreu.

- Sentimos muito - Disse o outro policial entregando-me lenços.

Foi então que percebi que estava chorando. Recusei o papel, levantei e sai da sala.

- Selene espere! - Ouvi um deles gritar antes que fechasse a porta.

Comecei a andar rápido, as lagrimas ainda caiam em meu rosto.

- Selene, Selene! - Ouvi alguém gritando atrás de mim.

Me virei esperando ver um dos policiais, mas era o Dylan.

- O que foi? Está chorando? 

Ele limpou as lagrimas que caiam.

- Nicole, ela...

Ele assentiu.

- Eu sei.

- Você sabia? Porque não me contou?

- Não tive tempo, só soube hoje, eu ia contar de manhã mas você não veio para a escola comigo e também não a vi aqui.

Então ele me envolveu em um abraço, não tive tempo nem de recuar.

- Eles disseram que ela foi assassinada - Eu disse um pouco mais calma.

Ele estremeceu.

- Você sabia disso?

- Não - Ele respondeu rapidamente.

Eu me afastei dele, olhando em seus olhos.

- O que foi? - Ele perguntou.

- Nada eu...

- Selene!

Atrás de Dylan vi a mulher que vinhera me buscar, andar furiosa em nossa direção. Dylan me fitava.

- O que você está fazendo aqui? Os policiais disseram que você saiu correndo da sala, sabia que não pode fazer isso.

nem tive tempo de responder e se voltou para Dylan.

- E você Dylan o que esta fazendo aqui? Eu o estava procurando.

- Achou.

- Vamos vocês dois - Ela ignorou o que ele disse e começou a andar.

Dylan deu um sorriso torto para mim.

- Vamos - Ele disse passando seu braço por meu ombro me aninhando ao seu peito.

Normalmente eu teria recuado, mas aquilo me fez sentir melhor.

- Vai ficar tudo bem - Ele sussurrou em meu ouvido.

Seguimos a mulher que até agora desconhecia. Ela já estava bem a frente da gente.

- Andem logo vocês dois ai.

Dylan apertou mais seu braço em meu ombro. De repente ela parou em uma porta.

- Acho melhor você ficar aqui comigo Selene, parece meio pálida. E você Dylan, vá até a sala do diretor.

Dylan e me olhou um longo tempo nos olhos, seu olhar parecia estranho um pouco intimidador, e então saiu.

- Entre - A mulher disse sem paciência.

Olhei para a sala, e com certeza era a enfermaria. Ela entrou deixando a porta aberta para mim vestiu seu jaleco. 

- Você não vai entrar?

- Não, eu já estou me sentindo melhor.

Ela deu de ombros e começou a revirar suas coisas. Eu sai dali antes que ela começasse a falar mais alguma coisa.

Mais para onde eu iria? Definitivamente voltar para a aula de espanhol não era uma alternativa. Então entrei no banheiro das meninas, meu estomago revirava, vomitei.

Eu ainda não acreditava que Nicole havia morrido. Eu queria ir embora daqui, sumir desse lugar horrível, queria voltar para minha ilha, eu não admitia isso mas sentia falta dos meus irmãos, meus pais, sentia falta de tudo.

A ultima vez em que estive aqui, eu apenas sofri, sofri durante anos. E agora eu estava chorando e sofrendo outra vez, talvez eu realmente me importe e goste deles, até mais do que deveria.

Uma garota interrompeu minha conversa mental.

- Tudo bem ai?

- Esta sim.

- Acho que ela estava vomitando - Sussurrou uma outra garota.

- Olha vomitar não é a solução viu, eu digo por experiência própria.

Dei descarga e então foi até a pia do banheiro para lavar a boca. As meninas me encaravam.

As duas tinham cabelos loiros e amarrados em uma rabo de cavalo.

- Tome você vai precisar disso.

Uma das garotas me entregou uma bala de menta.

- Obrigada.

- Talvez você devesse falar com o psicólogo da escola.

Eu ri.

- Eu não preciso de psicólogo, eu estou bem.

- Sabe você é linda do jeito que é, não precisa vomitar para emagrecer.

- Não, não. Eu estava vomitando porque tinha passado mal. 

As duas e entreolharam preocupadas.

- Não está grávida, está?

- Não, é claro que não.

- Você é Selene McConnell, certo?

- Isso

O sinal tocou então ela começou a falar rápido.

- Graças a Deus encontrei você, estamos nas aulas de direção juntas, me pediram para entregar isto a você - Ela me entregou um papelzinho - É o endereço esteja lá no horário que está ai em ponto, não se atrase.

- Tudo bem.

- Vejo você lá.

Ela deu um sorriso largo e então as duas saíram, sai logo atrás delas

- Agora tenho essa - Murmurei para mim mesma.

- Falando sozinha? - A voz de Cameron me deu arrepios.

Ele estava na minha frente sorrindo como sempre. Arrisquei um sorriso o que não deu muito certo e ele notou.

- Sinto muito pelo o que aconteceu com a Nicole.

Ele deu um passo para frente e eu dei um para atrás.

- Você sabe?

- A escola toda sabe - Ele disse um pouco constrangido.

- Eu só soube agora - Eu disse baixinho.

- Você quer ir embora?

- Como?

- Eu não estou nem um pouco a fim de assistir o resto das aulas, e acho que você também não está - Ele fez uma pausa - Agente podia ir embora, mas pensa rápido que os corredores estão começando a ficar vazios.

- Quer matar aula?

- È - Ele disse e sorriu imaginando a possibilidade.

- Então vamos.

Seu rosto se iluminou.

- Vem - Ele pegou minha mão e saiu andando pelo corredor me levando com ele.

- O portão não vai estar fechado? - Perguntei.

- Acho que sim.

- Então como vamos sair?

- Eu não faço a mínima idéia.

Nos dois rimos.

Portão estava fechado, como prevíamos, Cameron passou as mãos nos cabelos pensando. 

- Você tem um clip ou algo parecido?

Fucei minha mochila até que encontrei um e entreguei para ele.

- Você sabe fazer isso? - Perguntei.

- Não - Ele sorriu - Mas eu já vi nos filmes, não deve ser tão difícil. 

 Ele remexeu o clip dentro da fechadura e depois de alguns minutos tentando ele abriu a porta.

- Estamos livres - Ele disse segurando-a aberta para mim.

- Não estão não - Ouvimos o alguém atrás de nos.

Olhamos para trás no mesmo momento. Ouvi Cameron murmurar alguma coisa.

- O que pensam que estão fazendo?

Eu ia responder alguma coisa inútil, mas Cameron respondeu na minha frente.

- Íamos dar uma volta. 

- Estavam matando aula - O diretor disse respondendo a pergunta que ele mesmo tinha feito.

- A culpa foi minha e não dela.

Ele segurou minha mão como se fosse me proteger.

O diretor pegou o clip da mão de Cameron.

- Um clip? Você sabe o que isso significa?

Nenhum de nos respondeu, então ele pegou um bloquinho e começou a anotar alguma coisa, e entregou um para mim e um para Cameron.

- Vejo vocês depois da aula.

Ficamos parados olhando para ele.

- O que estão esperando? Vão já pra sala.

Cameron e eu saímos juntos ele ainda estava segurando minha mão.

- Que aula é a sua agora?

- Biologia.

- Eu te levo até sua sala.

Caminhamos um pouco em silêncio até que ele quebrou o silêncio.

- Me desculpe - Ele disse por fim.

- Pelo o que?

- Por você ter que ficar na detenção, foi eu quem tive a idéia de matar aula.

Eu sorri.

- Também tive um pouco de culpa nisso, foi eu quem deu o clip.

Ele riu.

Nos chegamos na porta da minha sala.

- Bem que eu gostaria de ter ido embora, hoje é dia de ficar cortando sapos - Eu disse desanimada. 

- Então desculpe-me outra vez.

Ele beijou minha mão.

- Até mais.

- Até mais - Eu disse quase como um sussurro.

Eu bati na porta, e o professor abriu furioso.

- Sabia que está atrasada.

- È eu sei, mas não se preocupe o diretor me deu isso.

Mostrei para ele o papel que o diretor me dera.

- Bom.

Ele deu espaço para que eu entrasse.

- Fizemos uma mudança e seu novo parceiro de biologia é o Dylan.

- Tudo bem.

Olhei para a mesa dos fundos onde Dylan estava sentado, ele deu um sorriso largo quando me viu.

- Eu sinto muito por sua amiga, Nicole.

Eu assenti e fui para meu lugar.

- Onde você estava? - Dylan sussurrou.

- Eu estava com Cameron.

Ele não pareceu gostar.

- Eu não gosto dele.

- Silêncio ai atrás - Gritou o professor - Podem começar.

Olhei para baixo e em uma bandeja estava uma rã de barriga para cima. 

- Você quer fazer isso? - perguntou Dylan.

Eu não disso nada.

- Tudo bem é fácil, toma, coloca essas luvas.

Ele me entregou um par de luvas. Assim que as coloquei ele entregou um bisturi.

- Nossa você ta tremendo.

Ele riu.

- Não tem graça.

- Tem sim, olha eu te ajudo.

Ele segurou minha mão e então começou a cortar a rã. Mas ai eu soltei o bisturi.

- Dylan, eu não posso fazer isso.

- Tudo bem, eu faço.

Eu fiquei olhando ele cortar a rã, tinha muita técnica com isso. Eu estava com vontade de vomitar.

- Vai ficar na detenção hoje? - Ele disse apontando o papel que estava em cima da mesa.

- Vou. Não se importa se eu chegar um pouco atrasada na loja hoje, né?

- Não se preocupa não vamos abrir hoje, por causa da Nicole.

Eu assenti.

Então ficamos em silêncio até o final da aula, eu tamborilava os dedos nervosamente na mesa esperando desesperadamente que a aula acabasse.

E foi assim durante todas as aulas, nada prendia minha atenção nas aulas.

Eu estava quase saindo da escola quando alguém parou na minha frente impedindo minha passagem.

- Onde você pensa que vai? - Disse o diretor.

- Hnh...eu tinha esquecido.

- Com certeza - Ele disse me virando e me fazendo entrar na escola.

O diretor me acompanhou até uma sala, onde Cameron estava parado na porta.

O diretor abriu a porta e deu uma olhada na sala, bufou quando viu que o professor que na verdade deveria estar cuidando da detenção estava dormindo.

- Nem pensem em sair daqui - Ele disse apontado o dedo para nos dois.

Assentimos e entramos na sala, fomos sentar direto no fundo da sala. Cameron puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado.

O professor deu um suspiro alto e então começou a roncar.

- É sempre assim aqui?

- E o que faz você pensar que eu venho sempre aqui?

- Você não parece ser do tipo, mau aluno, mas já sabia o caminho. 

Ele riu.

- Na verdade é a segunda vez que fico na detenção. È a sua primeira vez, não é?

- É sim.

Na verdade era minha primeira vez em uma escola.

- Então, o que está achando de Phoenix?

- È legal, muito quente, mais é bem legal.

Ele deu aquele sorriso lindo.

- È bem quente aqui. E falando nisso tem um lago não muito longe daqui, agente sempre combina de ir lá para se refrescar em pouco. Talvez você pudesse ir próxima vez.

Ele parecia envergonhado.

- Eu não acho uma boa idéia, não me dei muito bem na ultima festa que fui. E você sabe que eu não sei nadar muito bem, na verdade eu nem sei nadar.

- A maioria das garotas só ficam sentadas tomando sol, e eu não vou deixar ninguém tocar em você, e pulo milhões de vezes na piscina para te salvar se for preciso.

Eu o encarei durante um tempo, não conseguia parar de sorrir com o que ele disse, e também não podia dizer não para ele.

- Acho que estou precisando tomar um pouco de sol mesmo.

Ele sorriu mais ainda.

- Precisa mesmo está muito pálida, e se por acaso quiser nadar eu posso te ensinar.

- Na verdade eu não gosto muito de piscinas, lagos ou rios.

- Tem algum trauma de infância?

- Mais ou menos.

Na verdade eu tive meio que uma briga com Poseidon e ele me amaldiçoou com tudo que tivesse relação com o mar.

Ficamos conversando durante a detenção inteira. Na verdade ficar um tempo a mais na escola porque tinha feito algo, não é tão ruim assim, como todos pensam.

Fui direto para o endereço que a garota me entregou, tive que perguntar para varias pessoas onde ficava o tal lugar, até que finalmente encontrei.

Na verdade eu só achei realmente o lugar porque as meninas loiras estavam juntas perto de um carro com outra garota e um homem.

- Selene McConnell, Certo?

- Certo.

Ele marcou alguma coisa na sua prancheta.

- Bem como todas sabem será um teste coletivo, Lauren você primeiro. 

Uma das garotas loiras assentiu e foi se sentar no banco da frente.

- Vocês três podem sentar atrás.

- Espera ai, teste? - Disse quando me toquei o que estava acontecendo.

- È, estamos com pressa querida, então entre logo no carro.

- Não eu...

Ele abriu a porta para mim e praticamente me forçou a entrar.

A garota começou a dirigir, e ele prestava atenção em cada coisa que ela fazia.

- Escuta... - Eu comecei a falar para ele.

- Não vê que está atrapalhando ela - Disse a outra loira ao meu lado.

Depois que a tal da Lauren deu varias voltas, o homem finalmente pediu que ela parasse.

- Muito bem, Selene você é aproxima.

- Eu não sei dirigir.

Todos olharam para mim.

- Claro que sabe - Ele disse ficando claramente com raiva.

- Não eu não sei.

- Você é do orfanato de Tolleson certo? Lá eles começam a dar aulas de direção assim que você faz 15 anos. Então sem frescura.

- O que?