No dia seguinte, o relógio despertou às seis da manhã. Assim que acordei, o rosto de Edward me veio à mente e eu soltei um longo resmungo, enrolando para levantar. Esme não me dera um horário certo para chegar no restaurante, mas eu sabia que abria as 10 – e queria deixar a impressão de que era pontual.

Eram sete e meia quando finalmente fui para o banheiro. Tomei banho, escovei os dentes – durante ele – e todo o resto, logo voltando para o quarto e vestindo uma blusa de manga comprida cinza com a mesma calça jeans do dia anterior. Quando desci, Charlie já havia ido para a delegacia. Não valia a pena cozinhar só pra mim, mesmo que adorasse fazer isso. Com certeza acharia algo na cozinha do The Cullen’s.

Saí de casa em direção à picape que ganhara como presente de formatura, e às 8:10 estava na frente do restaurante. A fachada novamente me convidou à entrar, mesmo que não houvesse clientes. Emmett estava na mesma posição do dia anterior, mas desta vez concentrado em passar o que anotara para o computador. Esme estava em seu escritório com a porta aberta, e um homem de sua mesma idade (no máximo 40 anos) estava apoiado no batente, conversando com ela. Bati a porta dupla com certa força para chamar a atenção, e funcionou. Todos viram que eu estava ali.

- Chegou cedo! – Ela sorriu, levantando e vindo até mim. Sorri de volta, grata pela idéia da pontualidade ter funcionado. – Ah, esse é meu marido, Carlisle.

Ele se virou, e eu parei por dois segundos ao ver seu sorriso estonteante.

- Olá. – Respondi simplesmente, com um mínimo aceno. Emmett pareceu reprimir um riso.

A porta se abriu e bateu de leve em minhas costas, seguida de um “ops” vindo de fora. Dei um passo para o lado, e uma figura pequena entrou carregando várias sacolas. Esme suspirou aliviada e pegou tudo das mãos dela, conversando sobre a razão da demora. Alice era o nome dela, pelo que pude ouvir.

Abriram a porta novamente, e ele entrou, de mãos vazias. Assentiu educadamente para mim e deu um tapa no ombro do irmão antes de entrar no escritório com seu pai e fechar a porta. Não sorriu em nenhum momento, e muito menos falou.

Mordi o lábio, sem ter muita certeza do que fazer ali sozinha com Emmett. Ele ergueu os olhos para mim, divertido.

- Gastronomia, hãn?

Assenti.

- Pff. – Resmungou. – Fácil.

Ergui as sobrancelhas.

- Fácil? Por acaso sabe a diferença entre uma sopa e um caldo? Entre Creme Brülée e Crema Catalana? Consegue preparar um Gugelhupf? E que tal um Crudité? Acho que não.

- Ei, calma Bellinha! – Ele riu. – Só estou dizendo que não vejo razão para existir um curso disso. É um dom que se tem, sabe? Tipo... Ler.

Franzi a testa, desviando o olhar para Alice, que aparecia na porta me chamando. Eu tinha muito o que ouvir antes de meu primeiro dia, mesmo que fosse só observar.

Às 10 horas em ponto, Emmett abriu a porta para os clientes e foi embora, junto com seu pai. Carlisle era médico no hospital da cidade; o restaurante não era nada mais que um hobbie para Esme. O local estava oficialmente aberto, e senti um frio na barriga desnecessário. Somente Esme, Edward e Alice continuaram ali com o resto dos funcionários. Alice não tinha um emprego exatamente, ao contrário de seu irmão, que era gerente. Ela acabara de entrar na faculdade de Moda, e ajudava um pouco enquanto não estava na aula.

Os primeiros clientes chegaram às 10:45, e eu comecei a acompanhar toda a movimentação na cozinha, não parando tão cedo. Havia comido um pouco quando chegara, e as 14:00, quando fui liberada para comer, eu já estava faminta. Preparei um prato como uma espécie de marmitex e, quando estava prestes a comer, Edward me chamou para o escritório. Estranhei, mas obedeci.

- Só queria dizer – começou, me acompanhando com um prato maior que o meu – que gosto do seu entusiasmo com o emprego.

Assenti, mastigando devagar.

- E também quero me desculpar pela maneira que nos conhecemos. Quero começar de novo. - Ergui as sobrancelhas, encarando-o enquanto ele mastigava sem tirar os olhos de mim. - Eu sou Edward Cullen, tenho 25 anos e trabalho como gerente aqui desde que desisti de ser músico.

- Por que fez isso?

- E você? – Perguntou, me ignorando.

- Isabella Swan, 22, formada em gastronomia. Prima dos Hale. – Sorri de leve, dando mais uma garfada. Após engolir, completei. – Você toca?

- Piano. – Disse logo após engolir. Assenti.

- E por que desistiu?

Ele ficou em silêncio e, se já não havia nenhum sorriso em seu rosto, agora menos ainda. Sua boca parecia se retorcer para baixo. Mudei de assunto.

- Então... São só vocês três, mesmo? – Perguntei, me referindo a seus irmãos.

- Sim. Emmett é o mais velho, e Alice a mais nova. – Respondeu sem muita vontade.

- Hm...

- E você? – Ergueu os olhos para mim, mastigando um pouco mais de comida.

- Sou filha única. Meus pais são separados... Meu pai mora aqui.

- E sua mãe é de onde?

- Phoenix.

Agora ele parecia realmente interessado. - Parece quente. Não gosto disso.

Sorri de leve, encarando seu rosto enquanto engolia.

- De quem puxou esses olhos? – Perguntou, abrindo um meio sorriso.

- Meu pai.

- São muito bonitos. Expressivos, quero dizer.

Meus olhos eram bonitos? Ele já havia se olhado no espelho?

- Hm... Obrigada. – Respondi por falta de uma palavra melhor.

Levantei em silêncio, levando o prato e os talheres para a saída do escritório. Quando abri a porta e olhei as pessoas em volta, ele parou ao meu lado, ainda sério. Ou meio triste. Desviei o olhar, resmungando algo sobre voltar ao trabalho. Mal virei, andando por trás do balcão, e alguém trombou comigo antes mesmo que eu pudesse chegar a porta da cozinha. Abri a boca sem saber o que fazer, olhando para o molho de tomate que tomava conta da minha blusa enquanto um garoto ficava parado sem reação na minha frente.

- Jacob! – Esme berrou, aparecendo ao nosso lado com vários guardanapos. – Olha só o que você fez! Eu disse para fechar a embalagem lá. Espera na moto enquanto eu refaço tudo. – Bufou, me ajudando a limpar a blusa.

Edward riu alto, um som que eu ouvi pela primeira vez.

- Desculpe... – Murmurou Jacob, que parecia divertido. Sorriu ao encontrar meus olhos, e eu não pude deixar de rir também. Esme esbravejou novamente, e ele obedeceu, olhando para mim uma última vez antes de entrar na cozinha.