Normal escrita por EmyBS


Capítulo 4
PENSAMENTOS




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Eu tinha que admitir que sentia inveja do vampiro nesse momento, com certeza há essa hora ele devia estar no mínimo junto com outro ser da sua espécie para segura-lo de cometer alguma atrocidade e na melhor das hipóteses há quilômetros daqui.

Eu para meu completo desespero estava trancada no mínimo espaço do carro com todos os vidros fechados devido à forte chuva que caia lá fora com a minha mãe genuinamente humana sentada a poucos centímetros de mim totalmente alheia aos meus sérios problemas que envolviam muito sangue humano derramado - "Derramado não, isso seria um grande desperdício" - uma careta se formou no meu rosto com tal pensamento. Eu estava delirando.

-"Vermelho ou Violeta" - minha mãe ainda decidia sobre qual cor pintar a casa e eu revirei meus olhos com as suas escolhas.

A garganta continuava queimando e ter que respirar não ajudava nem um pouco. Isso era outro ponto para se ter inveja dos vampiros. Seria tão mais pratico simplesmente parar de respirar. Eu tenho que admitir que tentei uma vez, e é claro que eu conseguia prender a respiração por muito mais tempo que um humano, porém simplesmente parar de respirar era impossível e isso era desconfortante nessas horas e a situação só não estava pior porque minha mãe tinha um dos piores aromas que eu já havia sentido.

Mary em toda a sua vida sempre foi vegetariana, mesmo quando ninguém nem sabia o que era isso ela já era. Ela não comia nada de origem animal, nem ovos, nem leite, nem chocolate e eu podia listar mais uma infinidade de alimento que eram proibidos nas suas refeições e isso fazia seu sangue não ser nem um pouco apetitoso. Eu particularmente acreditava que esse era o principal motivo dela ter se tornado minha mãe e não uma refeição, mas não podia ter certeza absoluta. Nunca analisará profundamente a mente dos meus pais, existiam coisas que eu não precisava saber e era difícil selecionar o que se via quando penetrava na mente do outro. Já era suficiente ruim quando ela se lembrava dele em alguns momentos.

Meu coração parou enquanto ela cogitava em ir à cidade comprar a tinta vermelha cor que finalmente decidirá para a fachada, mas antes que eu precisasse fazer algo a respeito à pesada chuva a fez desistir da idéia e eu pude respirar calmamente. Já estava complicado me controlar com minha mãe não queria nem imaginar me deparar com outros humanos perigosamente desconhecidos para o meu olfato.

Antes mesmo que o carro estivesse estacionado corri para a porta a fim de me trancar no meu quarto aonde eu poderia respirar um ar um pouco mais puro. Minha vontade era de sair correndo pela floresta para me distrair, mas a probabilidade de esbarrar em algum vampiro ou lobo me parecia assustadoramente real nessa cidade nublada. - "E como se eu realmente ainda tivesse condições de correr" - fiz uma careta, eu estava fraca, e me joguei na cama fechando os olhos e sorrindo pra mim mesma - "Eu posso fugir para o mundo dos sonhos, mas você não" - e rapidamente adormeci.

As semanas seguintes passaram tranquilamente, Mary me recrutou pra a pintura da casa num tom de vermelho meio vinho que no final acabou combinando bastante, passei boa parte do meu tempo livre escrevendo minha tese para enviar ao curso de pós-graduação que eu estava fazendo on-line e fazendo compras, apesar de não sentir tanto frio eu precisava de roupas de inverno e para minha sorte não encontrei nenhum ser mitológico em nenhuma esquina.

Bom, na verdade eu não arrisquei ficar andando muito pelas ruas.

Mas apesar de toda a minha calma aparente eu não parei de pensar nem um minuto naquele rosto perfeito, de me perguntar o motivo de cada ema das suas cicatrizes e eu tinha certeza que era ele o homem com quem eu havia sonhado na noite passada, pois meu coração acelerava só de imaginar a sua mão gelada na minha tão quente, seu corpo, seus lábios, seus olhos vermelhos com o meu sangue.

- "Você tem que esquecê-lo" - eu berrava para mim mesma, mas era impossível, ele era tão perfeito.

Mary estava encantada com tudo, a cidade, o hospital, meu aparente bom humor, mas principalmente com o Dr. Cullen. Todos os dias que eu não conseguia fugir das refeições ela passava horas comentando sobre a calma, pratica, confiança, maturidade, entre uma série de outros elogios. Se eu não soubesse seus pensamentos teria certeza que ela estava apaixonada, mas não havia nenhum indicio desse sentimento nela, apenas admiração.

Um vampiro médico. Eu tinha que admitir que essa era a coisa mais absurda que eu já tinha visto e não consigo imaginar como ele conseguia se controlar, mas ele era a minha maior prova que tudo era possível com muita força de vontade. Minha mãe não cogitara mais a possibilidade dos Cullens não serem normais, pois o fato deles terem olhos claros e mexerem com sangue foi suficiente para provar que ela estava tendo apenas lembranças demais.

Eu havia acabado de tomar banho quando vi a lista de compras sobre meu laptop na mesa do meu quarto, teria que ir a Seattle, possivelmente em Forks ou Port Angeles não existiam muitas opções de produtos a base de soja para atender a demanda vegetariana de nossa casa. Busquei a panela e acendi o fogo para aquecer minha comida, deixei o cheiro embrulhar levemente o estomago. Depois daquela crise eu estava tomando medidas mais drásticas para aplacar meu organismo e isso resultou em uma briga com minha mãe para incluir carne no MEU cardápio e preparar pratos a base de muito sangue.

No início ela torceu o nariz, mas quando ameacei sair de casa ela cedeu e agora eu estava me obrigando a comer três vezes ao dia. O meu prato preferido era a galinha ao molho pardo, no qual eu colocava três vezes mais sangue que a receita original e pelo menos estava ajudando. Não era o ideal, mas por enquanto eu estava conseguindo engolir e se eu pretendia viver num lugar lotado de pessoas era bom eu ter a fome controlada.

Após minha breve refeição peguei o carro, abri os vidros e liguei o som no máximo. Nada melhor que a estrada para limpar o ar dos meus pulmões, apesar da nova alimentação ainda era uma luta estar num lugar fechado lotado de humanos.

O mercado nem estava tão lotado como eu imaginava e rapidamente terminei a lista de compras, estava agora analisando a parte de carnes para as minhas refeições. O cheiro de carne congelada não era bom, mas tinha que servir. Inspirei profundamente pra achar algum que fosse mais agradável, mas não foi exatamente isso que senti. O aroma era muito mais peculiar, suavemente repugnante, e eu sabia que era de um dos lobos de Forks, deixei meus olhos e mente buscar pelo mercado e logo o encontrei.

Era um adolescente, tinha quase dois metros de altura, seus cabelos negros e brilhantes lembravam os meus se fossem mal cuidados, sua pele era castanho-avermelhada, os olhos escuros e sua voz rouca soou bem mais nítida agora que eu prestava atenção, ele estava no setor de biscoitos de braços cruzados observando uma menina de uns nove anos decidir qual levar.

- "Como alguém pode ter tantas duvidas para escolher um biscoito?"

- Nessie, você sabe que não temos o dia todo não é? - a doçura com que ele pronunciou essas simples palavras me deixaram desconcertada havia uma adoração nelas e seus pensamentos faziam daquela criança a razão da sua existência e uma necessidade inexplicável de fazê-la feliz.

Busquei a menina pelo canto do olho com uma curiosidade acentuada e estremeci ao encontrar os seus olhos de chocolate derretidos por um breve segundo. Eu podia sentir por todo o meu ser que ela era igual a mim, muito nova, devia ter entre três e quatro anos ainda, nossa espécie se desenvolvia rápido. Fazia alguns anos da ultima vez que tinha encontrado um dos nossos, éramos raros, tão raros que boa parte dos vampiros nem sabiam da nossa existência, evitávamos ao máximo o contato com eles, principalmente pela maioria de nós não termos boas lembranças de nossos pais.

- Jake, você é tão irônico - ela sussurrou enquanto mostrava a pequena língua e voltou sua atenção para a prateleira. - "Chocolate, morango ou quem sabe menta?" - seus olhos percorrendo os vários sabores enquanto mordia suavemente o lábio inferior.

- Querida, você pode levar um de cada. Tenho certeza que Jacob, Seth e os outros irão ajudá-la com eles. - a voz melodiosa vinha da esquerda do lobo fora da minha visão. Busquei a mente da criança e prendi a respiração ao reconhecer a vampira que tinha visto nos pensamentos de Edward, só que ela tinha os olhos intensamente dourados como os dele naquele dia. - "Interessante, porque será que a lembrança era dela recém-nascida?" - estremeci ao me lembrar do outro vampiro balançando a cabeça para clarear a mente. - "Esqueça".

- Obrigada, ma... Bella. - ela corou ao olhar compreensivo da vampira. -"É tão difícil não chamá-la de mãe em público".

- "Mãe?" - Se aquela era a mãe da criança então possivelmente Edward era o pai e eu tinha que concordar com ela eu lembrava dos primeiros anos, era realmente estranho chamar minha mãe de Mary.

Eu já estava pedindo no balcão acompanhando parcialmente enquanto os três se afastarem para o caixa rindo de alguma coisa que eu havia ignorado quando o choque passou pelo meu corpo ao tomar conhecimento que eu não havia escutado nenhum pensamento da vampira chamada Bella.

- Impossível! - eu murmurei para mim mesma buscando os três novamente.

- "Acho que vou levar Nessie para tomar sorvete amanhã, Alice disse que estaria quente" - é claro que os pensamentos do lobo - "Como era mesmo que a menina tinha chamado? Jake?" - estavam concentrados na sorridente menina de cabelos castanhos levemente ondulados de mãos dadas com ele.

- "Será que papai já voltou da viagem de caça? Odeio quando ele e tio Emmet vão pra longe." - os pensamentos da pequena Nessie eram saudosos.

Então tentei me concentrar na mulher de cabelos castanhos e olhos dourados parada no caixa próximo e não ouvia nada, simplesmente um vazio.- "Como isso é possível?" - normalmente conseguia quebrar barreiras de defesa mental, mas a dela estava impenetrável e eu não podia tentar encará-la para obter respostas, porém outro pensamento chamou minha atenção nesse instante.

- "Queria que o tio Vincent voltasse também, faz tanto tempo, sinto tanta falta dele." - Nessie estava suspirando seus olhos chocolates estranhamente fixos nos meus.

Desviei meu olhar, paguei as compras e sai. Estava agindo automaticamente. O ultimo pensamento da menina martelando na minha cabeça. Ele realmente tinha ido embora e ainda não tinha voltado, ele não estava por perto, mas estranhamente não senti o alivio normal por não ter que temer um ataque do vampiro. Meu coração estava apertado mal conseguindo bater. Entrei no carro e me dirigi de volta para casa correndo mais do que o normal e me dando conta pela primeira vez, que secretamente, eu realmente havia desejado que Vincent entrasse pela minha janela para tomar o meu sangue, eu podia sentir seu hálito frio no meu pescoço e mesmo assim eu estaria particularmente feliz por poder vê-lo mais uma vez.

- "Mais suicida que idiota pelo jeito" - o estranho prazer por imaginar um vampiro sugando o meu sangue não era nada normal.


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