[Me dê a porcaria do microfone, Justin]

Oi. Ahn... Eu e Justin resolvemos começar uma gravação para contar os bastidores da My World Tour, é. Bom, me chamo Leslie Marie Braun. Hm, eu sei o que deve estar pensando. Braun? Não é o sobrenome do Scooter, o empresário do Justin Bieber? Sim, é. Eu sou a ‘filha’ de Scooter, para todos os efeitos. Scooter me adotou há um ano e seis meses atrás. Antes dessa loucura toda de astro de R&B. Eu sou órfã e morava em uma droga de orfanato, e eu tinha quase 15 anos na época, meu tempo estava se esgotando quando Scooter, por sorte, apareceu e me tirou daquele lugar. E desdaí eu viajo pelo mundo na turnê chata de ninguém mais, ninguém menos que Justin Bieber, a sensação mundial. Eu já li todos os tipos de livros imagináveis e inimagináveis, afinal, vivo em ônibus de turnê, aviões, e preciso de algo para me ocupar. Já passei por situações tão absurdamente ridículas, que fica difícil de acreditar em mim quando conto. Scooter, Kenny, Justin e eu fazemos de tudo para que os paparazzi nunca descubram que eu acompanho a turnê, o tempo todo. Fizemos muitas loucuras por conta disso. Do tipo quando cercaram Justin num aeroporto em Paris e eu tive que perder o voo propositalmente para que ninguém desconfiasse de uma garota, sozinha, indo na primeira classe, no mesmo avião que Justin Bieber. E só pude ir para a Inglaterra – nosso destino - no dia seguinte às uma da manhã. Você tem noção do quanto é nojento passar dois dias sem tomar banho? [Não me olhe assim, Justin, a culpa foi sua!]

Justin está prestes a entrar no palco para seu último show no Brasil, Rio de Janeiro. Eu não consigo ouvir os gritos das garotas daqui, acho que é por que as paredes são isoladas por concreto. Já fizemos uma oração e agora o pessoal só está revendo mínimos detalhes para que o show dê realmente certo. Justin está esfregando as mãos freneticamente, sinal de que está nervoso, muito nervoso.

-Qual é dessa vez? – perguntei rindo. – Você já esteve no Globo de Ouro.

Justin sentou-se na cadeira ao meu lado apreensivo.

-Eu cheguei a uma conclusão – ele disse sério.

-Qual?

-Estamos no Brasil.

-Disso eu sei, duh. – bufei.

-Não, o Brasil, dude, e...

-Não me chame de ‘dude’, eu não sou ‘dude’...

O garoto do cabelo para o lado me ignorou,

-... Tem milhares de garotas super gatas lá fora! Eu não posso dar mancada!

-Qual foi à última vez que Justin Bieber deu mancada em um show? – perguntei irônica, Justin não respondeu – Pois é, nunca. Então trate de ir lá e dar um show para as meninas brasileiras.

-É! – Justin levantou-se cheio de pique para um show.

-Você é Justin Bieber! – gritei ficando em pé também, as vezes eu servia de animadora de torcida para ele – EU DIGO JUSTIN E VOCÊ BIEBER! JUSTIN...

-... BIEBER! – ele dava pulinhos no mesmo lugar, como um lutador de vale-tudo se aquecendo.

-JUSTIN...!

-... BIEBER!

-É ISSO AÍ, GAROTO! VAI, VAI, VAI!

E assim, Justin foi para o palco, fazer mais um milhão de garotas felizes.

E assim continuamos aquela...

-CONSEGUI! – gritou uma voz irritantemente conhecida. Quase jogo meu livro na cara dele.

-Ei! Eu estava terminando de ler Amanhecer! – resmunguei.

-E assim continuamos aquela parte pequena e perfeita da nossa eternidade. – recitou ele batendo os cílios. Olhei para o livro para ter certeza, o garoto estava certo. Justin tem memória fotográfica, não deveria me surpreender ele ter decorado a última frase do livro. Guardei o mesmo na minha bolsa e olhei para o astro de R&B.

-Eu não ouvi a plateia pedindo bizz. – cruzei os braços. Justin me mostrou a língua.

–As paredes... – começou Justin e eu o cortei com uma gargalhada.

-Eu sei que pediram bizz três vezes em One Time, Justin. – revirei os olhos. Estendi meu punho para ele, e Justin bateu o dele no meu – Parabéns, derreteu o coração das brasileiras mais uma vez.

-É, agora eu vou pro meu camarim dar alguns autógrafos. – disse ele se livrando daqueles microfones pequenos que eu sempre esqueço o bendito nome – Algumas garotas pagaram caro por um.

-Vai lá. – virei-me para pegar minha bolsa. – Cadê o Usher?

-No palco.  – Justin já estava no fim do corredor, quase virando-o.

-Fazendo...?! – falei alto o bastante para que ele pudesse ouvir, mas assim que ele abriu a boca para responder, Kenny apareceu e arrastou-o com ele. Dei de ombros e fui para o backstage para ver o que Usher fazia no palco. Quando cheguei lá, Usher estava cantando Dj Got Falling In Love Again para as garotas, muitas gritavam e dançavam. Analisei algumas com os olhos. As brasileiras eram mesmo muito bonitas, imaginei-me na frente delas, nunca seria igual, eu era bem menos bonita. Quando Usher acabou a música ele veio para o local onde eu estava. Deu um tapinha amigável no meu braço e disse:

-Durma bem hoje a noite, amanhã vamos viajar bem cedo para o Reino Unido. – pude ver o suor caindo do rosto do padrinho do Justin Bieber.

Suspirei exasperada, essa era a minha vida. Uma noite se passa, e uma manhã em uma nova cidade começa.