Capítulo 3 –

Os dedos de Yumi já estavam dormentes e feridos de tanto tocar seu violão. Ainda assim, ela não conseguira o suficiente para pagar o aluguel que já estava atrasado dois meses. A água e a luz ela deixou a cargo de Kyo e Rui. Comida já não era prioridade naquele momento. É, não se pode ter tudo. Yumi resolveu tocar uma música que refletia seu humor, e como seus amigos disseram que sua voz lembrava a de Aimee Mann, então Aimee Mann seria.

I don't know how to break the news, but

It's pretty clear you'll be asked to choose between

What you lack and what you excuse in this

Tug of war

You can't say that they didn't warn you

Though you'd rather that they just ignore you

'Cause your devices are not working for you

Anymore

What you want

You don't know

You're with stupid now

Nesse momento, um bolo de notas foi jogado dentro do estojo. Ela olhou embasbacada. Nunca conseguira tanto dinheiro de uma vez só, ainda mais antes de terminar uma música.

Ela olhou para seu benfeitor. Um homem lindo, alto, loiro e com um cigarro na boca.

- Faça um intervalo – ele disse. – Você já está nisso há horas.

- Meu Deus, é muito... Obrigada, não devo aceitar, mas realmente preciso. – disse Yumi, recolhendo as notas. – Diga-me, o senhor realmente gostou do que ouviu ou foi só para que eu parasse?

Ele riu, e ela viu que ele tinha lindos olhos dourados que brilhavam na escuridão.

- Eu sou muito crítico, mas realmente gostei do que ouvi. Você tem algum CD?

- Não... Eu na verdade raramente toco minhas composições, acho que elas são fracas. E não sou realmente cantora. Toco numa banda, Garage Sale. Não somos nada famosos, mas o vocalista a contragosto é meu amigo, Kyo. Nós tocamos um pouco de tudo o que mais nos agrada, principalmente L’Arc e Glay.

- Eu não gosto muito desse tipo de música, mas as que você estava tocando me agradaram. Toque uma de suas composições.

Yumi realmente ficou nervosa.

- Eu... Eu... Bem, elas ainda estão muito cruas...

- Vamos. O que você tem a perder? Se eu gostar, pago mais. 

Yumi mastigou o lábio inferior e respirou fundo. Começou a dedilhar o violão e a cantar.

"I wonder why you were not there

When I thought I saw your face

I saw your face in the crowd

The face of my Nightmare"

O estranho ficou em silêncio, ouvindo respeitosamente. Yumi até se esqueceu de que ele estava lá. Seus dedos corriam ligeiros pelo violão, sua voz fluía.

"I've always wondered who you were

And why you haunt my days

 I must seek you always

 My Nightmare, for the rest of my days"

Quando ela terminou, abriu os olhos o estranho ainda estava lá, a olhar para ela. Mas Yumi não sabia o que pensar de sua expressão. Então, ele jogou mais um bolo de notas e um cigarro novo dentro do estojo.

- Bom trabalho por hoje, garota. Arrume um produtor.

- Muito obrigada, estranho. – disse Yumi, com sinceridade. – Você acaba de pagar meu aluguel e meu jantar. Posso saber o seu nome? Só para saber a quem devo um favor.

- Não se preocupe com isso. Às vezes apareço onde há boa música.

E se foi, deixando um rastro de fumaça de cigarro que se confundia com o vapor que as luzes da praça criavam na noite.