La Vérité Fermée escrita por MayonakaTV


Capítulo 3
III: Acteur


Notas iniciais do capítulo

(Ator) :3



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O movimento começou cedo na loja de taxidermia. Do lado de fora, ouviam-se os protestos de Mana que, nervoso, debatia-se na cadeira tentando evitar que Közi lhe desse um jeito nos cabelos. Por ordem do mesmo, a maquiagem havia sido reorganizada. Estava usando um longo vestido negro de gola frisada. O cabelo penteado para trás, preso em um belíssimo rabo-de-cavalo. Chique, porém feminino demais para seu "estilo".


– Közi, eu estou parecendo uma... Uma... Argh, estou parecendo uma mulher! Isso está horrível, quero minhas roupas, agora!


– Está? Perfeito! Agora pare de reclamar e vá, o tempo é precioso!


– Não vou sair assim! – As mãos se agarraram firmemente aos braços da cadeira.


– Veremos se não vai!


E então foi puxado até que se separasse do objeto e empurrado para fora da loja, tendo nas mãos uma bolsa feminina. Quando se virou para bater em Közi, este rapidamente fechou a porta, atingindo o rosto de Mana.


– Maldito... Vai me pagar por isso, está ouvindo? – Gritou esmurrando a porta e esfregando o nariz dolorido em seguida. Acertando a bolsa pendurada no ombro direito, deu uma ultima olhada em seu reflexo nos vidros da loja, aprumou-se e iniciou sua caminhada.


Era o plano mais estúpido da face da Terra. Se não desse certo, ele mataria Közi.


Por volta das oito da manhã, Mana chegou ao portão de ferro da imponente mansão Haruna. Mal tocara a campainha, viu de longe o porteiro da família vindo a seu encontro. Um senhor de baixa estatura, rosto marcado e bastante sorridente.


“O mesmo velho” pensou. “Só que com dez anos a mais nesta velhice toda”.


– No que posso ajudá-la, Mademoiselle? – Indagou o porteiro.


O mais novo suspirou e, colocando em prática o que passara a madrugada praticando, alterou seu timbre vocal, tornando-o mais fino e feminino de um modo tão natural que não levantara a menor sombra de dúvida ao idoso.


– Vim para a entrevista com monsieur Haruna.


– Oh, certamente!


O enorme cadeado foi aberto, as correntes retiradas e, com um ranger de causar medo a qualquer até mesmo à luz do dia, as enormes bandas férreas se separaram. Mana ficou se perguntando qual o motivo de tanta segurança, afinal, o portão não precisava de correntes grossas ou um cadeado absurdo como aquele dez anos antes.


Através do precário jardim de entrada, o cross-dresser foi conduzido ao hall, onde várias outras moças de todas as idades e trejeitos (mas em sua maioria, cinquentonas mal-humoradas) aguardavam pela chamada. Não pareceram dar qualquer atenção especial a Mana, afinal, para elas, toda e qualquer mulher que ali entrasse queria a mesma coisa: a vaga de governanta da mansão.


"Este trabalho é mesmo bastante requisitado... Espero que o pagamento seja bom. Embora o meu vá ser maior que o de todas elas caso o plano de Közi funcione."


As moças conversavam todo o tipo de aleatoriedades, comentando sobre os pré-requisitos para o serviço. Mana sorriu de canto, Közi já havia conseguido todos para ele. Em menos de dez minutos uma senhorinha uniformizada anunciou que as moças poderiam vir à sala de estar. Se Mana bem se lembrava, era a faxineira. "Céus, quanta relíquia o juiz guarda nessa casa!"


Seguindo o fluxo das demais, o cross-dresser dirigiu-se à enorme sala de estar da mansão do juiz Haruna Masaki, cuja fama se dera como Klaha e ele não fazia ideia do motivo daquele apelido idiota. Parou ao deparar-se com o juiz sentado em uma belíssima poltrona de couro vinho. Usando óculos, parecia ainda mais severo do que de costume. Ao seu lado, em em uma poltrona menor feita sob medida, estava a pequena Kaya em um vestidinho azul de verão. Seus cachos dourados presos em duas marias-chiquinhas e, no colo, um gato adormecido. Um gato empalhado que causava horríveis sensações a Mana.


– Minhas senhoras – Começou o juiz ao levantar-se, prestando uma breve reverência a todas as mulheres ali presentes. – Bom dia a todas. Kaya e eu-- Kaya, onde estão seus modos? – Deu uma pausa, lançando um olhar autoritário à garotinha que entendeu que devia se levantar e também prestar reverência às moças. – Agradecemos o interesse em preencher a vaga. Por favor, sentem-se. Chamaremos uma por uma para a entrevista pessoal no escritório. A sra. Wakana, nossa cozinheira, preparou chá e alguns doces, fiquem à vontade.


A primeira mulher foi selecionada e, juntamente com Klaha e a filha, adentrou o escritório, cuja porta fora fechada. Enquanto as candidatas restantes a seu redor preocupavam-se em provar o tão famoso chá da mansão, Mana repassava mentalmente tudo o que Közi havia lhe dito na noite anterior.


"– Desde o incidente, Klaha dá o sangue pela segurança da mansão. Nenhuma governanta dura mais de um mês, o que faz com que as trocas sejam frequentes. De empregados antigos, acredito que só tenham sobrado a cozinheira, o porteiro e a faxineira. E essa preocupação só dobra em relação à filha. A garota jamais frequentou a escola, é ensinada em casa por professores particulares escolhidos a dedo. Inclusive, é ela quem dá a palavra final na escolha das governantas pois, além de ter responsabilidade com a casa, a mulher também deve cuidar da criança já que nenhuma dama-de-companhia parece confiável o suficiente para vigiar a preciosa filha do juiz. Agora que você voltou, com certeza ele vai trocar de novo.


– Mas por que tudo isso, Közi?


– Elas geralmente perguntam demais.


– E o que acontece com elas?


– São despachadas para casas de amigos do juiz, em lugares tão distantes que nunca mais se ouve falar delas. Lembre-se disso. Garanta o emprego, siga as regras e não faça perguntas."


Passou um bom tempo ali sentado, revendo aquelas informações tão relevantes e murmurando-as para si próprio até ser tirado de seus devaneios pela estranha sensação de estar sendo vigiado. Levantara as pálpebras tingidas de sombra negra, encontrando o curioso rostinho de Kaya a lhe encarar.


– Papai mandou chamar você – Anunciou a menina.


Mana olhou ao redor, percebendo que era o último candidato. Levantou-se, arrumando as alças da bolsa no ombro esquerdo e, assentindo, seguiu a loirinha em direção ao escritório, engolindo em seco com o estrondoso fechar da porta atrás de si.


– Sente-se, por fav-- – O juiz se sentiu descoordenado ao levantar o rosto, largando a caneta que tinha nas mãos. Um arrepio lhe subiu pela espinha; a semelhança daquela mulher com Mana era simplesmente surreal. – Perdão, estou meio cansado. Sente-se aqui, hm. Seu nome, jovem?


– Kouji Shiroi – Respondeu-lhe prontamente o cross-dresser, sentando-se na cadeira que lhe fora indicada. Portava-se com leveza de graciosidade, devia incorporar o papel em todos os seus detalhes e fazia aquilo com perfeição.


"Não é possível. Os traços são praticamente idênticos!"


– Srta. Kouji, hm. Se me permite, quantos anos tem?


– Trinta e dois.


“A idade também é a mesma... Mas o nome... Não, ele não seria capaz de fazer uma coisa dessas. E se fosse Mana... Kaya teria sentido. Teve noção do perigo quando o encontramos naquele café, o sexto sentido de minha filha não falha nunca.”


– Casada? Tem filhos.


– Não para ambas, sr. Haruna.


– Trouxe-me uma folha de referências?


Levara os dedos à bolsa, abrindo-a e retirando dali uma folha escrita à máquina contendo nomes, endereços, telefones e assinaturas de próprio punho, estendendo-a ao mais velho.


"Közi é realmente eficiente, tenho que admitir. Conseguir falsas referências com essa mulherada toda... Ele ganharia mais trabalhando em um cartório do que naquela loja apavorante."


Klaha não conseguia manter os olhos na folha, não quando a tal srta. Kouji se parecia tanto com alguém que gostaria de ver morto. Entretanto, era uma mulher realmente bonita e, pelo que conseguia ver, tinha bastante experiência com crianças. Sua postura já mostrava que era diferente das demais, e seria interessante confirmar na prática. Entretanto, a moça anda precisava da aprovação de Kaya.


– Kaya, o que acha da srta. Kouji?


A menina não respondeu, entretida com o gato sobre o colo. Havia sido empalhado com tanta perfeição que nenhuma das candidatas anteriores foi capaz e perceber que o animalzinho não respirava.


– Gosta de animais empalhados, srta. Haruna? – Sorriu Mana, pendendo levemente a cabeça para o lado.


A garota levantou a cabeça em direção à moça. Os olhos azuis brilharam furiosamente, felizes por alguém ter percebido a diferença. Assentiu em resposta, voltando o olhar pedinte na direção do pai.


– Papai, é ela.


– É o que quer, Kaya?


– Sim. Até agora, nenhuma das mulheres tinha percebido que o Hi-chan é de mentira.


Em dez anos cuidando sozinho da educação da filha, Klaha reconhecia o potencial da menina para fazer escolhas que envolviam seu próprio bem-estar. Entre escolher ele mesmo e colocar a menina sob a responsabilidade de alguém severo demais que acabasse a maltratando longe de seu campo de visão, preferia deixar que a sensibilidade da garota apontasse o que era melhor para ela. Afinal, tinha um instinto aguçado como o da mãe, mesmo que não fossem parentes de sangue.


– Pois bem, srta. Kouji, creio que já conheça a fama deste serviço, não?


– Sim senhor, já estou a par dos requisitos. Só preciso conhecer os horários da casa e estou pronta para começar com o que for necessário.


“Até agora ela tem se mostrado perfeita. Talvez Kaya tenha razão.”


– Perfeito. Posso providenciar quem vá buscar seus pertences em casa?


– Não precisa se incomodar – Respondeu Mana polidamente, levantando-se e ajeitando com as pontas dos dedos algumas dobras na saia do vestido. – Não há muito a ser trazido.


– Se assim deseja... Aguardaremos sua chegada amanhã às oito. Permita que eu a acompanhe.


Como um cavalheiro, Klaha se levantou e abriu a porta permitindo a passagem de sua nova governanta. Surpreendeu-se ao ver o cunhado sentado em sua poltrona, servindo-se de um bolinho amanteigado.


– Tio Kamijo! – Adiantou-se Kaya, correndo para o colo do tio junto a seu inseparável gato.


– Olá, Ka-- – A surpresa do loiro também foi grande ao se deparar com a silhueta esguia da mulher que tanto se assemelhava a Mana. Porém, maior ainda foi sua atração por aquela figura. Devolvendo a sobrinha ao chão, aproximou-se da moça e segurou-lhe a mão direita, aproximando-a dos lábios para lhe selar o dorso. – Mademoiselle...


– Sr. Kamijo.


– Já nos conhecemos? – Sorriu mal-intencionado, sem soltar a mão da donzela.


– Creio que, neste país, não há quem não o conheça – Amão de Mana foi timidamente retraída e afastada do contato com a outra. – Com sua licença, sim?


Reverenciando-o formalmente, deu as costas a ambos os homens e saiu, sendo levada até a porta pela velha faxineira. Suspirou de alívio ao sair daquela casa, livrando-se do olhar desejoso de Kamijo às suas costas. Apertou a bolsa a tiracolo, balançando a cabeça em negação. Teria mesmo que passar por aquilo?


“Primeiro o maldito gato, e agora isso! Força, Mana, é por uma boa causa! Tudo para limpar seu nome...!”



– Que mulher interessante! – Exclamou Kamijo, apoiando-se na mesa. – Klaha, onde a encontrou?


– Aparece de tudo nessa mansão quando se está na hora de trocar a governanta. Inclusive gente parecida com “o homem”. – Baixou o tom de voz, sempre evitava tocar no assunto da morte da esposa na presença da filha, que nunca soube o verdadeiro motivo, criada sob a mentira de que Hizaki havia morrido de uma doença. – Kaya, querida, vá brincar em seu quarto, papai precisa conversar com seu tio Kamijo. – Esperou que a loirinha saísse da vista para puxar uma cadeira ao lado, sentando-se e convidando o velho amigo a fazer o mesmo. – Bom, o que conseguiu ?


– Mana está realmente estabelecido na França, todos os meus informantes garantem que o viram pelos bares – Dizia o loiro orgulhoso de desempenhar a função de espião do cunhado. Realmente possuía diversos “contatos” pelo país, a maioria, mulheres da vida e mercenários de baixo preço. – Até agora, não fez nada que se considere um crime. Está limpo.


– Bêbado maldito... E onde está instalado?


– Não posso dar certeza mas, pelo que me disseram, passou a noite numa loja de taxidermia no subúrbio.


– Taxidermia?


A atenção se voltara ao gato esquecido por Kaya sobre a mesa. Deu um passo para trás, arregalando os olhos de um azul assustado.


– Irmão? – Chamou Kamijo, sem entender o motivo do desnorteio do cunhado.


– Sabe Kamijo, este gato empalhado misteriosamente apareceu em casa na noite em que Hizaki foi morta. Não me lembro de tê-lo comprado, mas nunca me desfiz ele porque Kaya não o larga desde que era um bebê, e o chama de Hi-chan por causa da mãe...


– Klaha, se este gato apareceu naquela noite, e agora... – O loiro pareceu ter o mesmo choque de inteligência que atingira o mais velho. – Por Deus, é uma prova!


– Exatamente. Tive uma prova debaixo de meu nariz por dez anos e sequer me dei conta! Agora ela vai nos ajudar a reabrir o caso. Amanhã – Disse o juiz, autoritário. – Você irá a essa loja.


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Notas finais do capítulo

É galeros, voltei das trevas com Kuraha e Kamiojo bancando Poirot e Hastings à procura de provas... Mas... ManaMaid, ai meu cacete inexistente HDUASIOHDUASHIODUOSAIHUDOIAUAS *ROLANDO*
E sim, todos os capítulos serão meio monstruosos e a história ainda vai parecer sem sentido por algum tempo, mas não se preocupem, uma coisa puxa a outra e se eu enrolo desse jeito, aprendi com Tolkien. 8D ~



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