La Vérité Fermée escrita por MayonakaTV


Capítulo 2
II: Complice




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Complice
(cúmplice)

Era uma tarde comum, com pessoas comuns, comendo comida comum num restaurante comum.
Ou talvez não tão comuns assim. Entre os rostos sorridentes nas mesas, um se destacava. O rosto inexpressivo de Mana, com sua habitual maquiagem forçada e o cabelo de aspecto assustador. E, como da última vez, olhava para Klaha, sentado na mesa do lado oposto. O juiz, é claro, também não desviava sua atenção do homem que tanto odiava. Não piscavam, não se moviam, permanecendo naquele jogo de olhares que não parecia ter fim até que um jovem garçom aproximou-se de Mana, oferecendo-lhe o cardápio. O andrógino não precisou olhar a lista de refeições para decidir-se, logo dizendo algo em voz baixa ao rapaz, que anotou e logo voltou à cozinha. Klaha ficou pensando no que o infeliz teria pedido.
O que estaria fazendo ali? Como podia, pela segunda vez, estar no mesmo lugar que ele, com as mãos nos bolsos do sobretudo como se fosse uma simples pessoa em horário de almoço?

"Coincidência? Não. Ele está me seguindo."

Do outro lado, Mana tinha um pensamento parecido.

"Isso não foi coincidência. Ele está atrás de mim."

Logo, um outro garçom também aproximou-se de Klaha, perguntando-lhe se faria o pedido. Educadamente, o juiz recusou, dizendo que o chamaria mais tarde. Observando a recusa, Mana prontamente deduziu que ele deveria estar esperando alguém. Quem?
Não precisou esperar muito para obter sua resposta. Um homem de cabelos louros e olhos brilhantes entrou no restaurante. Vestia-se com classe, usando uma camiseta branca de traços nobres sob um casaco negro e calças da mesma cor. Era alto, mas ainda assim usava botas com consideráveis saltos plataforma. Apesar de muito bonito, tinha um quê de arrogância que Mana jurava reconhecer. Mas de onde?
O homem olhou ao redor. Parecendo encontrar o que procurava, sorriu. Caminhou até a mesa de Klaha, que levantou-se e, sério, cumprimentou-o com um forte aperto de mão. Imediatamente, Mana associou o nome à figura.

"Oh sim. Claro que me lembro. É Yuuji Kamijo... o irmão."

Kamijo era o irmão mais velho de Hizaki, assim sendo cunhado de Klaha, tio de Kaya e também a principal testemunha do assassinato da mesma por estar presente na cena do crime. Devido a isso, ainda culpava-se por não ter sido capaz de salvar a vida da irmã. Não era casado, por isso muito ligado à Klaha e principalmente à pequena sobrinha, de modo que a tratava como a filha que não tivera. Puxou a cadeira frente à Klaha, sentou-se, e acenou para um garçom.
- Desejam fazer o pedido, senhores?
- Por hora, apenas whisky. Klaha, o que vai querer?
- O mesmo que você.
- Então, dois copos, por favor.
Quando o rapaz se retirou para buscar a bebida, Kamijo indagou:
- Me deixou preocupado quando ligou. O que aconteceu? Algo com Kaya?
- Não não, Kaya está perfeitamente bem. Ou pelo menos por enquanto está.
- O que quer dizer com isso?
O juiz curvou-se um pouco sobre a mesa, baixando o tom de voz como se fizesse uma confidência ao cunhado.
- Ele está de volta à França.
- Ele? Você não quer dizer...?
Klaha assentiu. Diante da confirmação, o loiro arregalou os olhos. Torceu a expressão em visível desagrado e bateu os punhos na mesa; levantando a voz, visivelmente nervoso.
- O que aquele maldito quer aqui?
- Shh...! - reprimiu o outro. - Contenha-se! Não quero que ele nos ouça.
- Nos ouvir? Está dizendo que ele está aqui, agora?
- Atrás de você - Klaha tornou a recostar-se na cadeira de veludo vermelho, apoiando as mãos sobre o colo. - Na mesa próxima à janela. Seja discreto.
Kamijo olhou para trás como quem não queria nada. Sentiu-se ser dominado por um ódio intenso ao deparar-se com a figura de sobretudo e perceber que, ao invés de prestar atenção ao peixe grelhado em seu prato, o homem estava olhando para ele.
- Foi por isso que me chamou?
- Exatamente. Sei que, depois de mim, você e a pessoa mais interessada na prisão desse desgraçado. Encontramo-nos ontem, num café não muito longe daqui.
- Oh. Ele te reconheceu?
- É certo que sim. Não parava de olhar para a mesa onde eu estava com Kaya.
- Céus, ele viu Kaya? Isso não é nada, nada bom.
- Por isso decidi conversar com você. Mas não sabia que ele estaria aqui. O que eu achei muito estranho... - levou a mão ao queixo, pensativo.
- Ele pode estar seguindo você.
- Sim, já cogitei isso. Preciso da sua ajuda, meu velho.
- Já tem, irmão. Diga-me o que posso fazer por você, e farei. Não medirei esforços para ver esse monstro pagar pelo que fez à minha amada Hizaki. Minha pequena irmã... - a voz de Kamijo assumiu um tom derrotado. - E pensar que eu estava lá, mas não pude protegê-la...
- Não se culpe por isso, Kamijo. Sei que fez o possível - Klaha procurou confortar o loiro, tocando seu ombro com a mão esquerda. - Bom, escute. Deve haver um bom motivo para esse homem voltar à França depois de tanto tempo, e eu certamente vou descobrir o que é. Mas, para isso - fez uma pausa como se hesitasse, embora já imaginasse a próxima reação do cunhado. - Terei de seguí-lo.
- Ficou louco? Esse marginal pode matar você e Kaya! E pode me matar também, afinal, eu depus contra ele!
- Não posso e não vou arriscar a vida de Kaya. Tomarei providências quanto a isso. Sei que esse homem não está aqui para fazer uma coisa boa, e pretendo apanhá-lo, como dizem, "com a boca na botija".
- Está certo, está certo. Dê no que der essa loucura toda, estou com você.
Então, ouviram passos se aproximando. Era Mana, passando próximo à mesa deles. Estava indo embora, mas não antes de parar na porta e lançar mais um olhar frio na direção da dupla. Poderia outro olhar no mundo ser tão vazio e ameaçador quanto aquele?
- Dez anos, e o olhar desse homem ainda me dá calafrios.
- Eu sei - concordou Klaha, pesaroso. - Com certeza eu sei.


Mana caminhou durante um bom tempo pelas ruas de Paris, olhando sem muito interesse para os manequins nas vitrines das lojas, ignorando completamente os olhares de espanto das pessoas que o viam passar. Já estava acostumado a chamar atenção onde quer que fosse, mesmo que sua intenção passasse longe de ser aquela. Odiava ser notado ou, no pior dos casos, reconhecido, mas mesmo assim não parecia ter pressa alguma em voltar para o local que provisoriamente estava chamando de casa. Passeou nesse ritmo até o pôr-do-sol, já disposto a voltar para casa quando uma velha loja com toldo vinho sobre a portaria chamou sua atenção.

TAXIDERMISTA

Parou diante dele, procurando pela numeração do lugar. 630.
- Deve ser aqui.
Vasculhou um dos bolsos do sobretudo, e retirou dele um pequeno pedaço de papel. Leu o endereço em péssima caligrafia; um sorriso de canto formou-se em seus lábios.
- É aqui.
Botou a mão na maçaneta e a girou, a porta estava aberta. Não espantou-se muito com o que viu ao adentrar o prédio. Cães, gatos, capivaras, periquitos, entre outras centenas de espécies, todas empalhadas com perfeição, deixando a leve impressão de que ainda estavam vivas. O responsável não estava por perto.
- Animais empalhados - exclamou sem emoção, aumentando o tom de voz para que o dono o ouvisse e aparecesse. - Espero que essa espelunca esteja te dando um bom dinheiro!
- Mais do que pensa - disse uma voz grossa e naturalmente rouca, saindo de trás do balcão. O homem tinha orbes amarelos, cabelos avermelhados, um cigarro no canto da boca e palha nas mãos.
- E então, o que realmente vende aqui, Közi? Venenos? Armas de fogo? - perguntou Mana, passeando as pontas dos dedos pela poeira das estantes.
- Tudo isso e mais um pouco - o homem sorriu debochado. - Quando chegou?
- Há uns quatro dias.
- Acha que vai dar certo?
- Não sei. Tudo já começou a dar errado, meu chapa. Me encontrei com ele ontem, e hoje nos encontramos de novo.
- Ele te reconheceu?
- O que você acha?
- Droga.
- É. Talvez ele esteja me perseguindo. Duvido muito que, nesses anos todos, ele tenha esquecido do que aconteceu. Deve estar louquinho pra me degolar.
- Um juiz cometendo um crime desse nível?
- Isso não o impede, seu idiota.
- Por isso veio até aqui, huh? - Közi se aproximou, apoiando-se no ombro do amigo. - Para pedir ajuda ao cérebro do grupo.
- Na verdade - Mana sorriu, desvencilhando-se do comparsa preguiçoso. - Você se ofereceu pra me ajudar. Quando fugi do país, você me deu seu endereço por livre e espontânea vontade.
- Oh, é verdade. - Közi riu. - Tem algum dinheiro?
- Sim. Consegui uma boa quantia fazendo bicos por aí. Não dá pra morrer de fome.
- Menos mal. Mana, acha que vai conseguir, depois de dez anos...?
- Tenho que tentar. Você sabe melhor do que ninguém o que está acontecendo aqui, e também sabe por que aquela vadia loira morreu. Sem contar que, se estou metido nisso, a culpa também é sua.
- É, eu sei. Como pretende começar?
- A filha.
- Se ele já sabe que você voltou, não vai deixar a guarda baixa, muito menos a da menina.
- Já vi. O irmão estava com ele no restaurante ontem, já deve estar a par de tudo.
- O irmão? Você quer dizer...?
- Exatamente. Yuuji Kamijo.
- Mas que droga! Isso complica muito mais pra nós! Não será fácil tirar o almofadinhas de perto da menina!
- E também não podemos matá-lo. - Mana foi até a janela, olhando a rua que escurecia através de uma fresta na cortina. - Mas se eu quiser fazer isso dar certo, tenho que me aproximar dela a qualquer custo.
- Ok, ok.
- Além do mais - acrescentou o andrógino, voltando-se na direção do balcão e erguendo-se na ponta dos pés para olhar seu interior. No chão, havia o corpo de um corvo com um corte no estômago, cujo espaço vazio estava sendo preenchido com palha. Mana arqueou a sobrancelha esquerda. - Não acredito que um grande espião como você tenha passado dez anos inteiros só empalhando animais. Credo homem, que trabalho esquisito.
Közi suspirou. Por mais que considerasse Mana e quisesse ajudá-lo, sabia que o que ele queria fazer era absurdo. Não podia deixar tudo como estava e continuar escondido no Japão?
- Közi?
- Hm?
- Me dá os arquivos. Vamos começar agora mesmo.
O taxidermista sorriu. Por mais arriscado, por mais idiota que fosse um plano ou a falta de um, não havia forma de fazê-lo desistir. Ele era Mana, e aquele era seu jeito de fazer as coisas.
- É pra já.


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Notas finais do capítulo

Capítulo meio chato, mas eu precisava apresentar mais dois personagens que farão parte da história. :3
Logo menos respondo os reviews, hn.