“Sua testa franzida era tão rara quanto ver algo por ali.”

     Estávamos já a aproximadamente duas horas e meia dentro daquela vã e só víamos neve por trás do vidro. Frio,tedioso e preocupante.

     - Que horas são? – me perguntou CL com bater de dentes.

     - Duas e quinze.

Duas e quinze da manhã. No banco carona da frente,GD olhava o caminho como se estivesse caçando algo. Empoleirava em frente ao vidro e o esfregava para que a visão melhorasse nem que fosse 0,5 por cento,já que o motorista estava perto de desistir e nos obrigar a parar por não poder ver o caminho,era assim que ele ajudava. TOP também dava uma mão para o colega até certa hora,mas foi obrigado a parar porque o frio estava o fazendo passar mal. Uma tremedeira só.

As malas todas abertas e as roupas mais quentes sobre o corpo de todos. Vista tudo o que puder! Era a regra.

Passando mais uns minutos,eu,Sandara,olhei para trás e vi todos a dormir. Até o diretor de vídeo que viajava conosco. Acordados apenas eu,o motorista e o destemido G dragon. Mais nem se quer dois minutos depois dessa minha visão,a vã parou.

GD respirou fundo encostando a cabeça no banco desconfortável em que estava sentado.

- Não temos lugar para ficar.

- Ficaremos aqui. Não tem condição nem pra abrir a porta da vã. – disse o motorista assustando todos que o ouvira.

- E amanhã? Como vamos abrir as portas com neve por todos os lados? – eu disse alto.

- Sandara! Não acorde os demais. – disse GD lançando um olhar serio a mim.

Ele passou as mãos pelo rosto e olhou pela greta aberta da janela.

- Não tem condição de ficar aqui. O que a Dara disse está certo. Eu vou procurar algum lugar pra gente ficar lá fora.

- Agora? Você quer se matar? Não conseguiria nem respirar lá fora!

- Não devemos estar muito longe do hotel. Eles sabiam que viríamos e essa tempestade já era esperada. Não vou morrer coisa nenhuma...

Ao ouvir aquelas palavras eu tremi da cabeça aos pés. Como assim ele iria sair? Não pode! Se aqui dentro está frio assim...

- Eu vou no seu lugar.

- O que? – disse os dois homens ao me ouvir.

- Ta ficando maluca?

- Você não pode ir. Ficou acordado a viagem inteira,eu teria mais capacidade que você numa circunstancia assim...

- Não!

- G dragon...ela tem razão. – nos interrompeu o motorista.

E por alguns segundos o silencio prevaleceu.

- Como você mesmo disse,estamos perto e essa tempestade já era esperada. Deve ter alguém nos esperando lá,ou quem sabe até nos procurando.

- Então acorde um dos garotos. Ela não vai sair daqui. – completou GD bloqueando com uma das mãos a maçaneta que abria a porta do qual estava ao meu lado.

- Qualquer um deles acordaria sonolento e não serviriam de nada. Ela viu o caminho que agente fez e seria difícil se perder.

- Difícil ser perder? Você quer que ela saia com possibilidade de se perder? Você não vai! Eu não vou deixar você sair sozinha. – terminou a frase olhando pra mim outra vez.

A toca de ursinho que ele usava dificultava saber quando ele estava falando serio numa situação comum,mais naquele momento eu ouvia a voz dele rouca e com vontade de chorar. Ele estava mais cansado e preocupado do que qualquer um. Tinha um passado que não o abandonava nunca...Um acidente de carro envolvendo neve,e portas que já não se abriam mais,haviam matado seus pais e um dos seus irmãos. Exatamente como naquele momento.

E quando eu percebi aquela situação,colocando as mãos em seu rosto disse:

- Eu vou ficar bem. Se eu não sair,nenhum de nós vai sobreviver...

Ele franziu novamente a testa e mordeu o lábio inferior.

- Eu vou. Não estou cansado assim.

- Vão os dois. Você toma conta dela e ela de você...

Alguns poucos minutos depois do homem dizer o que devíamos fazer,com muito esforço nós convencemos GD a deixar que eu fosse com ele.

Forçando a porta que estava ao seu lado ele conseguiu abri-la. Realmente o horizonte lá fora tinha apenas uma aparência e cor: Branco.  Tudo Branco.

Eu desci logo depois. Coloquei os pés devagar pois a neve os fazia afundar cada vez mais. A neve que vinha com o vento machucava as partes livres do meu rosto mas quando eu consegui desocupar uma das mão para me tampar,ela foi tomada por uma outra coisa. Uma camada grossa de luvas era apenas o que eu conseguia sentir,mas meus olhos o denunciaram. GD estava segurando uma das minhas mãos.

- Vamos logo. – disse seriamente me puxando junto a ele até contornarmos a tal vã branca de neve.

O motorista fechou a porta e eu pude ver Minzy olhar pra fora no exato momento em que eu ia para longe. Sua cara de preocupada me fez um nó na garganta. Olhei para GD que caminhava com pressa e observava bem tudo ao seu redor. Fomos andando,andando,e poucos segundos depois,não víamos mais o veiculo do qual saímos.