Kurama caminhava calmamente pelo corredor do seu novo palácio, adorava aquele local, cheio de plantas e flores pelas paredes, orquídeas assassinas, mansas como um cachorro que adora o seu dono. Ele adorava olhar ao seu redor e ver a destruição, adorava ver o que se tornara, se sentia completo, por finalmente estar livre, por ter conseguido o que tanto sonhou, algo que foi adiado por sua suposta morte, mas que os anos de espera só fizeram ser muito mais prazerosos. Agora completamente livre e sem a presença de Shuichi dentro de si, podia dizer que enfim estava livre, e enfim mostraria ao Makai inteiro do que era capaz. Todos que se atreveram um dia se por contra ele pagariam, e não somente eles, como os humanos, que ele achava completamente imprestáveis e os seres do Reikai ao qual costumava chamar de “coisinhas sem graça”, sentiriam toda sua ira, guardada durante 18 anos, prestes a explodir de uma só vez.

Continuou andando até uma sala um pouco afastada, ao qual tinha que se atravessar um jardim, lindo a primeira vista, mas cheio de plantas assassinas sedentas por sangue e carne, que para Kurama eram inofensivas, já que o mesmo as criara e cuidava com todo carinho, como se fosse realmente suas filhas.

Adentrou a um pequeno corredor, onde já não se podia mais notar as plantas, era um local escuro, onde a vida era impedida de brotar por conta da pouca claridade contida no local. Assim que adentrou mais fundo ao corredor, chegou em uma pequena sala onde podia ver um garoto, completamente acuado, manchado pelas marcas de seu próprio sangue, que ainda era fresco em sua pele. Sorriu ao vê-lo, e sorriu mais ainda quando sentiu o cheiro de medo no ar. Andou em sua direção, até estar perto o suficiente para sentir o corpo pequeno, comparado ao da raposa de 2,00 de altura, tremer... tremer só em sentir sua presença tão perto de si.

Kurama ficou por muito tempo observando o garoto, tão inocente, ele não tinha culpa de ser apenas um clone da pessoa que ele mais amava e odiava em todo o mundo, ele não tinha culpa de ser idêntico a ele, afinal que culpa Shura tinha em viver? Que culpa ele tinha se Yomi era nojento o suficiente para criar uma copia sua, somente para não morrer em combate, somente para uni-lo a outro corpo vazio sem alma, para assim conseguir concretizar sua ambição?

“Tem medo, não é?” – Kurama disse ainda mais próximo, levando seu dedo indicador ao queixo do garoto fazendo-o encarar – “Já pensou sobre o que eu te disse?” – O garoto não disse nada, apenas olhou fundo nos olhos de Kurama, que continham uma mistura de ódio e curiosidade, fazendo com que a raposa apertasse seu queixo, esmagando suas bochechas atrás de uma resposta – “Acho que eu deixei sua língua intacta! Por que não me responde, sabe que sua vida depende dessa resposta...” – Novamente a resposta não veio e Kurama insistiu calmamente – “Vai fazer como seu pai? Quer ter o mesmo destino que ele?” – Shura continuou quieto imóvel, mas já era possível ver as lágrimas que se formavam aos poucos em seus olhos. Kurama apenas riu, achava patético tudo aquilo – “Por que quer proteger tanto aquele cretino? Sabe que é só uma copia... Sabe também que ele te mataria sem hesitar... Por que o quer proteger? – Indagava mais a si mesmo do que ao garoto, não entendia, talvez essa fosse a maior diferença entre os dois - a compaixão - que já não era mais presente em Kurama – “Pode ser grande ao meu lado, eu sei que tem potencial, é mais forte do que aquele desgraçado por ser bem mais jovem... O que você irá perder?” – perguntou por fim o soltando esperando uma reposta do mais novo, que continuava com seu corpo tremulo pela presença de Kurama, que antes o fascinava e agora o assustada de uma forma incontrolável.

“Ele é meu papa! Eu sei que não iria fazer nada contra mim... Eu o amo, não vou me juntar a você, já disse, se quiser me matar vai em frente. Mas eu nunca vou me juntar a você...” – disse por fim, com dificuldades pelos machucados pelo seu corpo.

Apesar de estar naquele quarto, ele era livre e sabia disso, mas também não ousava sair da onde era seu cativeiro, as plantas não hesitariam em matá-lo. Pensava em acabar com seu sofrimento de vez, e ir ao encontro de sal morte, mas não sabia por que, não conseguia nem ao menos por os pés para fora daquele corredor. O medo e a ansiedade o controlavam e nem ao menos podia se quer levantar, a presença de Kurama estava em todos os lugares, e isso o assustava muito.

“Não acredita em mim, não é?” – Kurama se aproximou e se ajoelhou a sua frente, ficando assim a sua altura, segurou novamente seu queixo e o fez encarar novamente – “Ia ser apenas uma arma! Ele iria te usar pra obter poder, você sabe disso... da pra ver no seu olhar. Mas entendo que não queira se salvar... já que insiste tanto em morrer eu vou te usar, como ele te usaria, mas pra um propósito mais nobre – sorriu maniacamente e o beijou com fúria – “Vou abrir reabrir o buraco das trevas, mais em dimensões muito maiores... Já ouviu falar da grande raposa negra?” – Shura fez um sinal negativo com a cabeça e Kurama sorriu continuando – “Ele é um Youkai supremo, que fui aprisionado em uma dimensão além dos três mundos, os meus poderes comparados aos dele não são nada! Ele é bem mais forte do que Raizen foi... Um kitsune negro magnífico de nove caudas, que reinava soberano sobre todas as criaturas, antes mesmo do mundo ser dividido em três! Ele foi aprisionado, e agora eu darei a liberdade a ele... E o destino de todos estará nas mãos dele, mas tenho certeza que ele será grato aos que mostrarem lealdade!” – sorriu não mostrando interesse nenhuma na lealdade que citara a pouco, chegou mais perto do ouvido do garoto e disse sussurrando, provocando arrepios pela pele do menor, como se contasse um segredo – “Na verdade pouco me importa o que ele irá fazer... Só que demonstrar meu poder perante a ele, e me tornar absoluto como ele foi no passado” – Sorria cada vez mais maníaco, assustando ainda mais Shura – “Já que não irá se juntar a mim, eu não vou desperdiçar seu Youki a toa, juntando o sei e do seu querido papa, já terei uma boa quantia para reabrir a dimensão onde ele esta!” – fez uma pausa – “Só vai faltar um pouco mais, mas isso é questão de tempo, já que com certeza Koenma esta mandando seus soldadinhos pra cá... É só uma questão de tempo e tudo estará acabado!” – Kurama soltou finalmente o menor se levantando indo em direção a porta.

“Você é completamente louco!” – Shura disse ao finalmente ter coragem para rebater – “Por que quer tanto soltar essa raposa negra? Quer que suicidar? – sem entender.

Kurama riu ainda mais, mostrando toda sua coragem e loucura, o que fez Shura tremer mais ainda, com arrepios de puro horror na sua pele.

“Eu quero provar pra ele, que eu sou superior... Vou destruí-lo e me tornar a lenda viva do Makai!” – A face de Kurama era cada vez mais sinistra, o pálido de seu rosto se tornava de um tom cinza estranho, algo obscuro, como se uma sombra negra pairasse sobre ele, Youko estava totalmente dominado pela luxuria e poder, iria chegar a pontos extremos para mostrar do que era capaz, sem nem ao menos hesitar perante as conseqüências – “Não se preocupe Shura, sua agonia logo acabará, mais tarde eu volto, quero me despedir de você” – Sorriu doce, deixando toda sua obscuridade de lado – “Vai ser bom... Prometo que vou fazer de um jeito que você nunca mais vai esquecer, e ainda vai implorar por mais” – Saindo pelo corredor, deixando Shura novamente sozinho com seus medos, pensando em vão em alguma maneira de para a loucura que consumia a raposa prateada.