Sandro andava a caminho da escola, a conversa que tivera com Fay no dia anterior ainda estava em sua mente. Em pensar que ela seria uma Peeira e que sua própria mãe poderia ter sido uma eram noticias chocantes para ele. Foi como se ele tivesse vivido uma mentira a vida toda. E todas as lendas em que ele se apoiava eram a verdade. Enquanto andava pensando nessas coisas, Sandro nem percebeu que Fay estava andando do seu lado.

“Ah, é muita coisa pra se descobrir de uma vez só.” Sandro estava tão perdido que nem percebeu que tinha dito isso em voz alta. Fay, sabendo disso, decidiu dar um susto nele.

“É eu sei, muita coisa mesmo.” Fay dizia isso casualmente enquanto Sandro quase dava um pulo para trás.

“DA ONDE TU SURGIU? Porque você sempre faz isso? Vai acabar me matando do coração.” Sandro agora tentava se acalmar respirando profundamente. Fay apenas observava com uma cara de quem não tem culpa nenhuma.

“A culpa não é minha se você estava tão perdido nos seus pensamentos que nem viu que eu estava andando do seu lado faz uns 3 minutos. E qualquer coisa, eu sei fazer massagem cardíaca então não se preocupe. ” Fay o conhecia a poucos dias mas já tinha percebido o quão tímido ele era e não demorou muito para ela ter o resultado que esperava.

“HAHA, você ficou vermelho só com isso? É por isso que eu adoro brincar contigo.” Fay agora ria bastante porém Sandro não estava tão animado quanto ela, e no momento estava olhando para ela com cara de poucos amigos.

“Me deixa, se já acabou sua zoação matinal melhor corrermos se não vamos nos atrasar para primeira aula”

“Sim, claro eu estou tão animada para não perder a primeira aula de matemática do dia. Essa é uma das coisas que me faz me perguntar porque acordei cedo hoje.” Estava na cara que Fay odiava matemática, não que Sandro gostasse,mas para ele era tolerável.

“ Pense pelo lado positivo hoje não temos física.”

“Nem me fale a próxima vez que o professor disser para eu ir de encontro a felicidade eu vou pegar minhas coisas e ir para casa” Essa mania do professor irritava Fay profundamente, era nessas horas que ela se lembrava de agradecer Sandro por sentarem no fundo da sala. Onde ela podia fazer qualquer coisa menos prestar atenção na aula.

Chegando na escola, a aula seguiu normalmente, era possível ouvir alguns cochichos na aula mas nada fora do normal. Enquanto Sandro tentava prestar atenção na aula, Fay tentava prestar atenção nas conversas paralelas. Ela não se importava em não prestar atenção na aula, ela já tinha visto essa matéria antes e ela iria rir muito da cara surpresa do professor quando chegasse as provas.

Fay prestava atenção em varias conversas ao mesmo tempo tentando achar alguma que valesse apena ouvir. A maioria eram fofocas que ela não entendia já que estava a pouco tempo no colégio. Até que ela ouviu seu nome em uma das conversas e parou para ouvir melhor. Ao começar a ouvir ela teve que segurar o riso. Ao que parecia ela e Sandro eram a fofoca do momento. Todos acham estranho o garoto que não falava com ninguém chegasse junto com ela todo dia e saíssem juntos da escola também. Sem contar que ela também não tinha sido nenhum exemplo de pessoa sociável dese que chegara na escola. O que fazia tudo ser ainda mais estranho. Ela tinha ouvido desde o normal 'devem estar namorando' até coisas como Sandro ser o guarda-costas dela,ou o interprete, ou as duas coisas e ela fazer parte da mafia inglesa . WTH? Até onde ela sabia a Inglaterra nem tinha mafia. Realmente eles tinham muita imaginação.

Até que algo, que nao eram teorias malucas, lhe chamou a atenção. Alguns alunos contavam sobre um ataque e como os que foram atacados tinham enlouquecido falando que um monstro os tinha atacado. Fay conhecia essa história já. Tinha sido a mesma que Sandro lhe contara. Ouvindo sobre o que tinham feito ela não sentia pena nenhuma dos garotos. Mas o que mais lhe intrigava era porque um lobo ajudou Sandro?

Fay estava tão concentrada nisso que nem percebeu quando deu a hora do recreio. E nem percebeu que Sandro estava falando com ela faz algum tempo.

“Quem está distraído agora?”

“Pelo menos eu não quase dei um mortal carpado.”

“Não exagera, e já falei você é uma ninja não há outra explicação de como você consegue surgir do nada.”

“Existe e ela se chama distração, mas não me importo de ser uma ninja.”

“Aliás porque você estava rindo tanto na aula?”

“Eu estava rindo tanto assim?”

“Não mas parecia que você queria.”

“A imaginação dos nossos colegas de classe é incrível. Aliás nós viramos a conversa da turma sabia?”

“Imaginei depois de ontem. O que eles disseram?”

“Que eu faço parte da mafia inglesa e você é meu guarda-costas e interprete.”

“O que aconteceu com o velho 'eles devem ser namorados' ou coisa assim?”

“AH... quer dizer que você preferia que falassem isso?”

“Calada.” Sandro agora tenta se virar para não mostrar o quão vermelho ele estava

“AHA. Dois a zero para mim agora. É muito fácil te deixar deixar sem graça”

Não demorou muito e o recreio já havia acabado e a aula de química havia começado. Sandro se impressionou ao ver que Fay estava realmente prestando atenção nessa aula. Enquanto ele lutava para manter a atenção a explicação do professor. Após uma longa aula, finalmente já estava na hora da saída. Sandro e Fay se aprontaram para irem embora o mais rápido possível. Nenhum dos dois aguentava mais ficar na aula. Não demoraram nem alguns minutos para estarem saindo pelos portões da escola.

“Finalmente a aula de química acabou.” Sandro disse aliviado.

“Ah não demorou tanto assim. Até que a aula foi boa” Fay dizia com uma voz entusiasmada.

“Credo, eu não via a hora da aula acabar.” Os dois continuaram a conversar sobre as aulas até chegarem na rua onde seus caminhos se dividiam.

“Bem eu vou indo agora, se quiser conversar um pouco me liga”

“Tá bom então Fay, tchau.”

“Tchau.” Após dizerem isso ambos seguem seus caminhos.

Fay andava agora sozinha pelas ruas desertas que levavam a sua casa. Ainda esta claro então ela não se preocupava muito. Além disso ela já tinha feito um acordo com uma das alcateias da cidade para deixá-la em paz, porém era a outra alcateia que lhe preocupava. Após a pergunta de Lúcio, ela começou a perceber que a presença da outra alcateia era um pouco diferente . E isso a assustava um pouco pois ela não entendia o que isso significava.

Ela já estava perto de casa quando começou a sentir a presença estranha ficar cada vez mais forte .Porém ela continuou andando como se ela não tivesse percebido nada. Se o dono da presença fosse idiota o bastante de segui-la até em casa ela soltaria seus dois cachorros em cima dele . Nem mesmo um lobisomem sairia ileso do ataque de um elkhound e um kangal. Ambas raças criadas especialmente para serem capazes de enfrentar lobos. Mas parecia que ela não teria essa sorte. Ela sentiu a presença se adiantar até um pouco na frente dela, Fay se preparou para não demonstrar emoção nenhuma e continuou andando até conhecer o dono da presença.

Era um garoto que não parecia ser muito mais velho que ela, ele tinha cabelo preto um pouco espetado e olhos cor de carvão. Porém ela sentiu algo que não sentiu em Lúcio, esse garoto tinha uma aura assassina. Ela conseguia sentir que se ele tivesse que matar alguém mataria sem pensar duas vezes. Fay parou a uma distancia considerável do garoto e mesmo a essa distância ela ainda se sentia um pouco desconfortável com a presença dele.

“Porque toda essa distância garota? Eu não vou te morder.”

“Prefiro não arriscar quando se trata de animais selvagens.”

“Pelo jeito todas as Peeiras são arrogantes , mas espero que nem todas sejam idiotas. O que você acha de me ajudar ? Posso lhe garantir que sua ajuda será recompensada.”

“E se eu recusar?”

“Bem, ai teremos que ir para a parte desagradável das negociações. Tem certeza que não vai nem considerar uma parceria comigo?”

“Tenho certeza que uma parceria com você não me trará nada que eu queira, então não, obrigada.” Fay falava com um tom visivelmente arrogante. Embora ele a amedrontasse ela sabia que ele não podia fazer nada contra ela.

“Bem temia que você dissesse isso. Pelo visto todas as Peeiras são idiotas. Bem e se a recompensa for sua vida você ainda irá discordar?” O garoto falava com uma voz profunda e baixa porem ameaçadora. Fay conseguia sentir a verdade naquelas palavras, ele realmente estava falando sério.

“Han, é muita audácia sua ameaçar minha vida assim . Você não pode fazer nada contra mim.” Fay cada vez mais tenta se esconder pro trás de sua mascara de arrogância para não deixar transparecer o medo que sentia. Porém sua tática começava a falhar, seu medo começava a transparecer a cada palavra dita.

“Tsc,tsc,tsc. Pobre garota ingenua , você é a única que não pode fazer nada aqui. Não me confunda com seus cachorrinhos.”O garoto agora mexia o dedo de um lado para outro negativamente como se desaprovasse as ações de Fay. Como se ela fosse uma criança que tinha acabado de fazer algo muito errado e merecesse um castigo. Quando Fay percebeu o garoto a estava segurando por trás e tinha uma faca a milímetros de seu pescoço. E agora ele começava a sussurrar em seu ouvido.

“Se eu quisesse você já estaria com sua garganta cortada sangrando até a morte no chão. Então aceite meu conselho, não tente parecer ameaçadora na minha frente garotinha arrogante pois eu sou o único realmente ameaçador aqui.”

Fay estava verdadeiramente assustada. A ameça na voz dele era clara, ele realmente a mataria se ele quisesse. Nesse momento que sua mascara caiu, ela agora não conseguia mais esconder o fato de que ela estava com muito medo dele e isso pareceu deixá-lo feliz , o que a deixava mais perturbada.

“Se você me matar não vai poder ter minha ajuda.” Ela começava a ficar desesperada. Tudo que ela queria agora era dar a ele um motivo para não matá-la.

“É isso seria algo ruim para mim, mas se você me irritar muito eu não irei me importar em acabar com sua vida. Lembre-se disso.” Ele então guardou a faca mas a continuou segurando para não lhe dar a chance de fugir, embora Fay estivesse imóvel como se tentasse não provocá-lo.

“Mas é claro,se isso não for o suficiente eu posso ameaçar mais alguém como seu amiguinho da escola.”Fay gelou ao ouvir essas palavras, ela nunca quis envolver Sandro em seus problemas. Só lhe restava uma opção agora.

“Eu... vou te ajudar.” Fay falou derrotada , ela havia perdido essa luta. Durante toda sua vida ela nunca tinha se sentido tão impotente. O garoto pareceu contente a o ouvir a resposta dela e a soltou.

“Sabia que poderíamos chegar a um acordo muito bem garotinha pode ir quando eu quiser sua ajuda eu entro em contato. Até logo.” Ele então saiu andando cinicamente como se nada tivesse ocorrido enquanto restava a Fay se recompor para continuar andando até em casa, mas por mais que ela tentasse não conseguia segurar as lagrimas de medo e de raiva por não ter conseguido fazer nada.