(narrado pelo Bill)

Ódio. Isso era tudo em que eu me resumia agora.

Ódio.

O sangue corria rápido pelas minhas veias e eu sabia que meus olhos estavam vermelhos. Não,não igual a quando sua mãe está brava e algumas veias de seus olhos ficam vermelhas.

Eu sei que não é assim. Meus momentos de raiva sempre foram perigosos para os outros anjos. Meus olhos ficavam completamente vermelhos e minha força triplicava,e convenhamos que ela já não era pouca.

A voz tinha uma histeria irritante em seus risos.

Uma chuva começou a cair lá fora.Trovões ecoavam pelas portas e paredes da caverna. Ela ia ficando cada vez mais fria,a ponto d’eu poder ver a respiração que saia em forma de vapor da minha boca.

Eu queria agir e salvar Faye,que não ia durar mais de 10 minutos dentro daquela coisa,mas minhas pernas não obedeciam ao meu corpo,elas estavam pesadas.

-Então,Bill,amado filhinho de Cate.Como se sente estando sobre meu controle? – A voz havia parado de rir.

-Seu controle? – Perguntei,incapaz de mentalizar tudo o que estava acontecendo.

-Exatamente. Qualquer criatura sobrenatural,a menos nefilins,entraria em meu controle,só do fato de pisar nessa caverna você já estaria se rendendo ao meu poder.

-Interessante. – Disse pacificamente.

-Interessante?Nada mais? – A voz irritante parecia frustrada.

-Sabe o que seria mais interessante ainda?Um combate na chuva.Por que não saímos? – Perguntei inocentemente.

Eu queria ver seu rosto.Seria tão mais fácil matar olhando para seus olhos.

-Realmente,seria interessante. Vamos lá para fora.

-ESPERA!Você não pode deixar ela ali dentro!! – Gritei exasperado.

-Quem?

-Faye,seu grande imbecil.

-Ah,claro. Tinha me esquecido da bela dama.

-Pare de chamá-la de bela dama ou linda garota,seu inseto imundo!

-Está com ciúmes,meu pequeno anjo caído? – O cinismo tomou conta da voz.

-Eu não sou um anjo caído.

-Mas eu posso torná-lo um. Se não parar de reclamar e não agir conforme as regras,eu juro que  você virá me fazer companhia.

Arregalei meus olhos.Só uma pessoa extremamente habilidosa poderia fazer isso. Pelo jeito terei de tomar mais cuidado do que eu pensava com esse nefilin.

-Georg,solte a garota. – Ordenou a voz.

Eu espero que ela não esteja muito machucada. Apesar dela com certeza poder me ouvir,eu não posso ouvir ela aqui de fora. Ela pode estar gritando de agonia nesse exato momento.

Listing se encaminhou,lentamente,até a Donzela de Ferro. A cada passo vagaroso dele,meu coração dava um pulo.

O tempo parece que demorou muito mais a passar. Finalmente ele alcançou a Donzela. Soltou todas as correntes que mantinham suas portas fechadas e a abriu: Suas lanças saíram do corpo da garota que lá estava presa. Seu rosto pálido e seus olhos sem vida se viraram para mim. Seus lábios mexeram e formavam algo como “Bill”,mas não pude identificar direito. Lanças saíram da carne de seu ombro,coxa e barriga. Eu sabia que isso era um instrumento para torturar,não para matar. Logicamente aquilo não devia ter atingido nenhum ponto vital.

Seus cabelos escuros estavam manchados de sangue e um filete vermelho escorria de seus lábios.

Ela tombou. Seus joelhos cederam e ela caiu no chão gelado. O sangue se espalhou. Uma enorme poça de sangue se formou de baixo de seu corpo inerte.

A única coisa que passava pela minha cabeça era “Ela não irá morrer. Ela não irá morrer!”

Eu queria correr ao seu encontro,mas a voz ainda tinha o controle das minhas pernas e eu mal podia me mexer.

E pela primeira vez uma lágrima escorreu de meu olho. Eu nunca  tinha chorado,mas nesse instante eu estava tão aflito que várias lágrimas caiam de meus olhos.

-Pronto Bill,Faye já está solta. Depois eu vou aproveitar muito bem este sangue. Agora vamos lá fora. Georg,leve o corpo da menina.

Minhas pernas voltaram a me obedecer. Eu corri em direção a Listing e disse de modo frio:

-Eu mesmo a carrego.

Peguei seu corpo em minhas mãos. Seu rosto tombou para o lado e encostou no meu peito. Sua respiração era extremamente fraca.

Andamos até a entrada da caverna.

-Ponha ela ai. – Georg gesticulou para uma moita.

-Você acha que vou deixá-la na chuva? Não vou acabar com o resto de esperança que eu tenho de deixá-la viva.

Coloquei essa sentada,encostada na parede,da entrada da caverna.

Um riso ecoou pela região. A voz se aproximava e logo um rapaz da minha idade se formou em minha frente.

A neblina me impedia de ver seu rosto completamente,mas logo a distância entre nós foi diminuindo,diminuindo...Até que finalmente eu pude ver seu rosto.

Na hora que vi quem era o rapaz que sorria para mim,meus olhos se arregalaram.

-Não pode ser você!

Perto de meus pés,a respiração de Faye fraquejava. Eu estava em choque pelo o que eu havia visto,mas eu tinha que mante-la viva.

-Não vá,por favor! – Eu sussurrei perto de seu ouvido.

Pus a mão em seu peito: Os batimentos cardíacos eram lentos.

Seus batimentos e sua respiração eram tão fracos,que pouco tempo depois,eles pararam.

-Não,não,não! – Eu gritei,louco de raiva e tristeza.

Abracei seu corpo gelado e morto e chorei. Sim,eu chorei.

Soltei ela,me levantei e apontei um dedo para o rapaz:

-Você a matou!

-Acho que pelo jeito sim. – Ele voltou a rir.

-Eu vou destruir você.

Ao dizer isso,voei para cima dele.

Eu só ficaria feliz ao vê-lo morto.