Acordei com alguém me cutucando. Abri os olhos minimamente e percebi que era Rubens. Seu rosto estava apertado e ele suava frio.

- O que? O que foi, Rubens? – perguntei exasperada.

- Eu tô com vontade de fazer xixi! – sussurrou ele apertando a bexiga.

   Relaxei.

- Não faça isso! Pensei que você tivesse se machucado. – ralhei com ele.

   Ainda estava encostada em um corpo, e percebi que era de Bernardo. Ele estava com a mão caída em meu ombro e dormia suavemente. Tentei coçar os olhos, mas percebi que as algemas em forma oval não deixavam.

    Tentei cutucar Bernardo, mas ele acabou resmungando e virando para o outro lado. Bufei.

   Após alguns minutos de múrmuros vindos de Bernardo e reclamações pela parte de Rubens, o ônibus freou, e parou, mas não antes de dar um belo solavanco para frente, fazendo todos que estavam de pé, irem para frente, desequilibrando.

   Um “especial” caiu na gargalhada por ver seu guarda caindo para frente de joelhos no chão. Ele estava de cabeça baixa e quando eu o olhei, ele rapidamente virou-se para olhar na minha direção, mas o guarda foi mais rápido e lhe deu uma coronhada com o cano da arma, em sua cabeça. Ele gemeu de dor.

- O que foi? O que foi? – perguntou Bernardo abrindo os olhos.

- Ah, olá, Bernardo. – disse eu.

- Uhum. – resmungou. – Já chegamos?

- Pelo que parece...

   Ele se espreguiçou e levantou-se do banco quando um homem grisalho e forte adentrou o ônibus.

- Guardas, formação de retirada! – berrou no ouvido do “especial” que tinha feito a menção de olhar para mim, e ele se encolheu todo. Senti pena dele.

   Todos os guardas, inclusive Bernardo se levantaram e carregaram a arma com um barulho alto. Comecei a tremer e vi que por trás da doçura que Bernardo trazia, seu olhar parecia preocupado e frio. Ele me olhou e pediu para que nós levantássemos.

   Fomos um dos últimos a descer do ônibus e quando levantei os olhos das pedras do chão, encontrei a mais bonita visão de todas!