Hidden escrita por jduarte


Capítulo 39
Subordinada


Notas iniciais do capítulo

Mais um!!!!!!!!
Beijoooos,
Ju!



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   Dei uma olhada pela janela e vi que em uma das grades havia um ninho de passarinho feito com folhas secas. Dentro havia alguns pequenos ovos desprotegidos – ou assim pensei até ver um pássaro de porte médio atacar meus dedos quando tentei tocar em seus “filhos” – e com frio.

   Cobri meu irmão que se encolhia com o frio, e beijei seu rosto frio por causa da corrente de ar que vinha do banheiro.

   Nem liguei, pegando Rubens no colo e deitando sua cabeça em meu ombro. Queria protegê-lo e cuidar para que suas memórias não fossem em um lugar horrível como esse.

   Ele se mexeu sob meu braço, e o afastou alguns centímetros.

- Calor. – sussurrou abrindo os olhos minimamente e voltando a fechá-lo

   Sorri tirando um punhado de cabelo que caia sobre seu rosto.

   Um barulho de algo como metal sendo torcido chamou minha atenção. Deitei novamente meu irmão na cama, e caminhei até o corredor. Alguns mutantes passaram correndo, outros especiais ficaram somente olhando pela janela das portas. Um homem bruto, com cabelos pretos, olhos cor carmim e os músculos do tamanho de bolas de boliche, passou carregando como se fosse uma sacola. Nessa hora, ouvi-o perguntar a um especial encolhido e escorado por outro na parede.

- Quem é Camila? – perguntou. Engoli seco voltando para dentro do quarto, e grudando na parede.

   Senti uma mão grande enlaçar meu pescoço, e de repente o ar me faltou. Ele levantou-me até eu não conseguir mais encostar a ponta dos dedos no chão, e a cara do homem apareceu na minha frente.

- Achei você. – sussurrou apertando mais um pouco minha garganta, deixando menos espaço ainda para o ar passar, e eu fiquei sem ar quase que totalmente. Meus olhos não se focaram em muita coisa, mas pude ver de prontidão que o homem olhou para meu irmão.

- Deixe meu irmão fora disso! – sussurrei apertando suas mãos com a ponta das unhas.

   O homem sorriu.

- Tudo bem, sofrer em dobro não vai ser um problema... pelo menos não para mim. – disse ele jogando-me  contra a porta, e fazendo com que eu atravessasse-a e fosse parar na porta fechada que se encontrava do outro lado do corredor sem fim. Ele caminhou ligeiro e sem fazer barulhos como se fosse uma raposa, e eu sua presa. Uma dor incomum subiu pelo meu braço, e percebi que havia cortado logo acima do ombro, quando fui jogada na porta e o vidro da janela quebrou. O homem jogou-me meio molengamente sobre suas costas, e caminhando meio que apressadamente para fora do quarto.

   Ele não se importava com o machucado recém-formado pela sua brutalidade, nem se eu tinha morrido – coisa que não aconteceu –, ou se ele seria culpado pela bagunça que eu fizera no corredor. Com seus passos, minha cabeça batia em suas costas, e não era nada confortável. Eu não conseguia raciocinar. Só conseguia enxergar meu sangue que o machucado expelia para fora de meu corpo, e jogava no chão em pequenas gotas, como se formasse algum tipo de trilha.

   Oh, droga, o que foi que fiz desta vez?

   Minha visão estava meio turva por causa da falta de oxigênio no cérebro, e também minha cabeça latejava, como se eu tivesse acabado de ter uma das minhas crises de enxaquecas horrivelmente perturbadoras.

   Ouvia alguns gritos de protesto, xingamentos, e um bando de correria. Sabia que os especiais não ficavam nada alegres quando um de seus ideais era corrompido pela força bruta dos guardas. Um desses ideais era no caso: nenhum mutante seja ele transformador, multiplicador, ou até mesmo malabarista de fogo, poderá ferir outro ser igual, ou humano.

   Isso não era legal. Não mesmo, e essa história não ia acabar bem. Eu arfava com a garganta meio sufocada e apertada por causa dos punhos de ferro do homem que pareciam apertar meu pescoço, mesmo que ele já houvesse tirado-os.

   Os degraus que estavam logo abaixo de nós pareciam sussurrar alguma coisa, mas eu estava andando muito rápido para descobrir. Eles pareciam ter vida própria, e reclamavam do peso desse brutamonte que me carregava como um saco de arroz.

   Tentei falar alguma coisa, mas a única coisa que saiu foi uma catarrada bem ferrada, e uma tosse de tuberculoso repetidamente.

   Depois de um belo tempo sendo carregada pelo cara, o homem colocou um saco em minha cabeça, e amarrou minhas mãos atrás de meu corpo.

- O que...? – perguntei abrindo os olhos mais ainda para tentar enxergar as coisas, mas sendo inútil.

- Cale a boca. – o homem sussurrou para mim, batendo com algo em minha cabeça, deixando-me desnorteada novamente.

   Resmunguei de dor.

- Meu caro, - disse alguém – o que ocasiona sua vinda para mim?

   O homem riu.

- Acho que já sabe. Bem, essa mutante está causando muita bagunça entre os outros, e por mim, já teria sido sacrificada. – disse o cara.

- Caph, - disse o homem – deixe nossa convidada ali, ela deverá pagar a sentença na frente dos outros.

   O homem empurrou-me, e eu cai de joelhos.

- Quem é? – perguntou uma voz familiar. Muito familiar. Bernardo?

- Uma mutante. Qual é o seu problema, vai esperar junto com os outros.

   Meu joelho podia estar ralado, minha boca poderia estar sangrando, mas eu ainda tinha esperanças de sair dessa roubada.

- Ok. – disse ele.

   O homem sussurrou algo como incompetente, e pegou meus braços, me arrastando no chão. A coisa que tampava minha visão foi tirada de minha cabeça, e pareceu por alguns segundos, que o Sol estava bem na minha cara.

   A roupa que eu usava – devo acrescentar que não era sexy e nem me favorecia, estava muito fina, e estávamos na época de frio. Eu tremia de frio e medo.

   Meus olhos se acostumaram, e eu pude ver que Adam, Norbert, Bernardo, Grayse, e alguns outros guardas que eu não conhecia, estavam na parede, olhando diretamente para mim. Norbert fingia que não se importava, mas eu via a dor em seus olhos. Bernardo, esse parecia pedir desculpas pelo olhar, mas nada falava.

   O amor é uma droga. Você ama a pessoa, quer ficar com ela pelo resto de sua vida, mas saí você percebe que o sentimento não é mútuo, e você acaba se decepcionando. Algum dos dois sai machucado, e ai vai a verdade sobre o amor: o amor te deixa alucinado, louco e retardado, disposto a fazer tudo para ficar com a pessoa. O amor mata aos poucos, mexendo com sua cabeça, fazendo tudo girar, mas no final, vale à pena ficar com cicatrizes.

   Bernardo olhou para o lado quando alguém o cutucou. Ela devia ter seus vinte anos, seus cabelos eram loiros, e olhos acinzentados, realmente a descrição que Adam tivera me dado, não fazia jus à sua beleza. Ela era linda. Seu corpo distribuído de maneira graciosa pelo lugar parecia ocupar o lugar da rainha da beleza ao lado de Bernardo.

   Se eles estivessem no colégio, em um dos bailes de formatura, ele seria coroado o rei e ela a rainha. Não tenho dúvidas.

- Quem é você? – perguntei olhando para o homem que se esticava graciosamente na cadeira.

   Ele era o homem que havia entrado no ônibus quando agente chegou aqui, e era o homem que Bernardo havia tirado sarro. Ele tinha cabelos grisalhos, o perfil de machão do militarismo.

- Prazer, Shenid. – disse ele.


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Notas finais do capítulo

continua?