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  Ela não conseguia dormir... Os últimos acontecimentos a deixaram atordoada demais para ter sono. Levantou-se de sua cama e, de pijamas, saiu caminhando pela casa. Seus pés descalços a levaram até o salão principal. Ver aquele ambiente a lembrou da festa que ali ocorrera mais cedo. Embora fosse um fato recente, em sua mente, parecia estar num passado remoto. Talvez Alice nunca mais visse seus pais novamente. Aquilo a assustava...

  Fechou os olhos, como o fez anteriormente. Ouvia a música, sentia as luzes iluminando o lugar, a luz da lua, o aroma das flores... De repente, uma sensação estranha. Alice abriu vagarosamente seus lindos olhos claros. Já não se encontrava em sua casa. Mas sim, num luxuoso salão. A lareira acesa, o som do piano, as magníficas pinturas. Um belo rapaz loiro, pouco mais velho do que ela se aproximou por trás da garota.

  - O seu perfume é muito bom. - Sussurou num tom suave e sereno, perto do seu ouvido.

  - Miguel? - A jovem virou-se para encará-lo. Tinha uma expressão confusa.  

  - Sim, sou eu. 

  Silêncio.

  - O que você quer? - Disse, de um jeito frio e vazio, após ambos ficarem encarando-se por alguns instantes.

  - Conversar. - Respondeu simplesmente - Bem, meu irmão teve a chance de ficar alguns momentos a sós com você. Achei justo falarmos em particular também.

  - Não temos nada a conversar. - Alice falou cabisbaixa, quase que num murmúrio - Não me sinto bem... Além do que, já me decidi por ajudar Sam e Dean. Por isso, se quer falar sobre a guerra...

  - Não quero falar sobre a guerra.

  - Por que?

  - Não sei...

  A música para, se escuta o som do vento... Silêncio.

  - Meu Pai foi embora - O anjo prosseguiu, virando-se de costas para a jovem distanciando-se uns poucos passos - , eu fiquei responsável por cuidar dos meus irmãos. Mas falhei. Às vezes me sinto tão... só. - voltou-se para a garota.

  Alice estava surpresa. Aquele olhar, aquelas palavras: repletos de emoções diversas. Ela não compreendia.

  - Por que está me dizendo isso? - A menina fitava o anjo de uma forma terna.

  - Eu não sei...

  Silêncio.

  - Acho melhor eu ir... - Alice andou em direção a porta, mas sentiu uma mão a segurando por um dos braços, obrigando-a parar.

  - Por favor! - Miguel pedia como uma súplica - Não vá... não quero ficar sozinho. 

  - E-eu... - As faces da adolescente tomaram um tom rubro. Ela sorriu - Tudo bem. 

  O coração dele batia mais rápido, sua respiração estava alterada... O que era aquilo? Por que sentia-se daquele modo? Miguel não sabia o que era aquela sensação, mas ele gostava... e muito.

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  Conversaram por horas. Já estava muito tarde. Alice sabia que precisava voltar. Miguel também. Mas ele não queria que ela partisse. Não agora. Sentia-se a vontade para lhe contar qualquer coisa. Até esquecera-se da guerra, de Lucífer... seus pensamentos focavam agora um único ser: Alice.

  - Agora eu realmente preciso ir. - A jovem se levantou - Foi um prazer!

  - Espere. - O arcanjo olhava em outra direção - Vamos nos ver de novo?

  - Claro... Sempre que quiser. - Sorriu - Mas tenho que voltar.

  - Adeus. - Ele disse.

  - Até logo. - Ela desapareceu.

  O anjo não sabia o porque daquelas palavras terem o deixado tão... feliz? 

  - Vamos nos ver de novo?

  - Claro... Sempre que quiser.

  Miguel sorriu. Não sabia porque, mas Alice mexia com ele de uma forma que nem mesmo o próprio sabia explicar. Ela era a sua Rapunzel. Tão solitária como ele. E Miguel, o príncipe que a libertava da torre onde a menina estava aprisionada...

  "Alice..."

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