Segredos Submersos escrita por lovegood


Capítulo 40
Antes do pôr do sol


Notas iniciais do capítulo

Porque Permione nunca é demais.
Creio que falte em média uns 10-12 capítulos para a fic chegar ao fim... temos de ver como meu ritmo de escrita anda.



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O dia correu tão absolutamente sem nada para fazer que quase fiquei assustada.

Eu havia tanto me acostumado ao ritmo de correria, confusão e perseguição dos últimos dias que agora era estranho voltar a um lugar tão calmo como o Acampamento Meio-Sangue.

Era ainda mais estranho pensar que a missão havia sido terminada, porque não parecia. A profecia havia se completado e, de fato, suas ideias vagas podiam ter sido completadas, mas não aparentavam. A sensação de haver deixado algo inacabado que florescia em meu peito era forte demais para ser ignorada.

Sete jovens em uma jornada irão se arriscar, pensei. Nas mãos do tridente dois mundos terão de se atar. Certo, ok, tudo isso acontecera. Pela morte, dois irão partir – de certa forma aconteceu, mas não quis admitir a mim mesma – para a fúria dos Deuses poderem impedir.

Teria a partida de Harry e Ron impedido o colapso de ambos os mundos?

Na situação em que estávamos – Pallas se reerguendo ao lado de Morfeu, Poseidon ainda exilado, não termos conseguido falar com quase nenhum deus – eu duvidava.

Não pude deixar de sentir uma gigante impotência sobre meus ombros ao perceber que, por mais que a profecia de nossa missão houvesse sido acabada, era ela – por ser tão vaga e incerta – que haveria de definir o rumo restante de minha jornada. O fim da profecia não era algo definitivo e completo, apenas uma condição básica para construir o futuro a minha frente.

Senti-me ainda pior ao perceber que, por causa disso, Harry e Ron pareciam ter partido em vão.


Pelo restante desse dia e dos próximos que viriam ao Acampamento, falei com poucas pessoas. Limitava-me a permanecer com Percy, Nico, Thalia e Annabeth; às vezes com Quíron, outras vezes conversava com Rachel. Mas, em geral, eu preferia ficar sozinha.

Meus amigos entendiam essa necessidade e eu era grata por eles.

Conforme eu andava pela extensão do Acampamento ou no pavilhão de refeições, não fazia esforços para responder aos olhares que me acompanhavam. Buscava não olhar para o chão – só fazia isso quando aquela sensação de impotência se tornava insuportável –, mas nunca para os olhos dos outros. Às vezes, eu sentia que eles me intimidavam tanto quanto os olhos claros e furtivos de Pallas e Morfeu.

Na grande parte do tempo que fiquei no Acampamento – pelo menos durante os poucos dias de paz que lá houve – eu permanecia no chalé de Poseidon ou sentada à frente do lago, embaixo das copas de algumas árvores que conseguiam me esconder parcialmente.

Foi lá, durante um belo final de tarde no qual o sol se punha e sua imagem se mesclava no horizonte com as águas do lago, que Annabeth me encontrou

(e retornamos ao início da história),

fazendo-me ter de rapidamente enxugar as lágrimas que então haviam corrido por meu rosto, de modo que ela não me visse em um momento de tanta fraqueza.

– Hermione! – antes dela aparecer em meu campo de visão, ouvi sua voz exclamar.

As lágrimas haviam cessado, mas tinha certeza que meus olhos estavam inchados e vermelhos.

– Estávamos te procurando por toda a parte! – disse ela, assim que pude vê-la. Sentou-se ao meu lado.

– Não precisava, Annabeth. Eu estive aqui o tempo inteiro.

– Eu não precisava, mas acontece que eu quis.

Não consegui segurar por muito tempo a raiva e as lágrimas. Annabeth compreendeu minha frustração e deixou-me ter meu próprio espaço, pelo menos por alguns minutos. Já fazia muito tempo – desde que William Wilson me capturara, lá na Filadélfia – que eu precisava liberar a jorrada de emoções que saiu de mim nesse momento.

– Foi minha culpa, não foi? – eu perguntei, após os instantes de raiva e lágrimas que joguei para cima da filha de Atena, agora abraçando-a e com a cabeça sobre seu ombro. – Deixei Tânatos pegar Harry e Ron.

– Não, não foi. Era o que a profecia dizia. Mas, sinceramente, Hermione, às vezes eu sinto como se a culpa houvesse sido de todos nós.

Soltei-me do abraço e encarei-a. Seus olhos cinzentos, sempre tão determinados, pareciam cansados e melancólicos. Assenti e tornei a olhar para os meus pés, Annabeth ainda afagando meus ombros.

– Quer vir comigo ao pavilhão de refeições? – perguntou Annabeth, depois de instantes de silêncio e entendimento mútuo. – Daqui a pouco o jantar vai começar a ser servido.

Olhei para o sol que cada vez mais descia pelo horizonte. Era um cenário bonito demais para ser deixado para trás. Naquele misto de sensações entre tristeza, cansaço e nostalgia, eu não queria sair de lá antes do sol partir.

– Vá sem mim – falei, olhando para o ponto em que sol e água se mesclavam ao invés de Annabeth. Acho que ela entendeu a razão; provavelmente deveria estar sentindo algo parecido com o que eu sentia, após uma jornada tão longa e cansativa quanto a que fizemos (e que logo prosseguiria, pensei). – Não estou com fome agora, mas depois eu alcanço vocês lá.

Annabeth concordou com a cabeça e logo foi embora.


Meu desejo havia sido ficar lá até o sol desaparecer e o anoitecer me embalar, o que infelizmente não foi possível.

Pouco tempo após Annabeth ir embora, mas ainda antes do crepúsculo virar noite, quem apareceu foi Percy. Assim como a loira, ele se sentou ao meu lado.

Não olhei para ele. Mantive meus olhos fixos à frente, assim como ele também fez comigo. Ficamos assim por algum tempo, sem nada a dizer, dentro de uma bolha de compreensão mútua e silenciosa entre nós dois.

No momento em que a luz solar já adquiria um tom de laranja escuro e o céu anil, da mesma forma em que as nuvens tornavam-se arroxeadas, Percy se virou para mim.

– Tudo bem com você? – questionou.

Observei-o pela primeira vez. O tom laranja do mundo pintava sua pele e seus olhos. Sua expressão estava séria e simultaneamente reservada. Era quase como se ele receasse fazer tal pergunta.

Não é a pergunta que ele receia fazer, idiota, meu subconsciente se manifestou. É a reação que receberá que o assusta.

Apenas dei de ombros, olhando para o chão e fazendo minhas mãos se ocuparem em arrancar pedaços de grama.

– O que você diria? – desta vez fui em quem perguntei. Olhei para Percy; agora era ele que havia desviado o olhar. Em direção ao sol. Suas pupilas contraíram. Ele também deu de ombros. – Acha que estou bem?

– Não sei dizer. Você anda mais reservada nesses últimos dias.

Lancei-lhe um olhar que ironicamente perguntava “poxa, por que você acharia isso, Sherlock?”. Percy claramente percebeu e levantou as mãos em um gesto que pedia desculpas. Suspirei e arrependi-me de ter sido tão grossa apenas com um olhar.

– Não, eu que me desculpo – falei. – É que... sei lá! É muita coisa para sentir. A estranheza de toda essa situação, de termos acabado com a missão e ainda assim ter a impressão de que ela nunca terminará antes que eu ache Harry e Ron outra vez, é o pior de tudo.

Percy riu baixinho. Não em um gesto de zombaria, mas de entendimento.

– A sensação de ter algo incompleto – disse. Concordei com um aceno. – Sei bem como é. E eu também estou me sentindo assim.

– Annabeth também.

– Acho que todos nós estamos, de alguma forma. Parece errado a missão ter acabado assim, não é? Servindo só de premonição para o fato de que as coisas piorarão.

– Pois é.

– É.

Outro momento de silêncio. Lembrei-me da madrugada na casa de repouso, na noite de meu aniversário. Observei Percy outra vez e tive a impressão dele estar pensando nisso também.

Voltei rapidamente os olhos para a grama, onde eu já havia aberto um buraco com os espaços dos quais eu arrancara o mato pela raiz. Olhei-o novamente e percebi que, de algum modo, havíamos nos aproximado.

Talvez nós não houvéssemos nem percebido. No que antes estávamos sentados a pelo menos meio metro um do outro, agora estávamos situados à metade daquela distância. Agora era claramente possível perceber que Percy pensava exatamente sobre a mesma noite que eu.

– Você sabe que uma hora ou outra teremos que conversar sobre isso, não é? – minha voz saiu meio falhada, quase em um sussurro.

Percy mordeu o lábio e desviou os olhos de meu rosto novamente.

– Sobre o quê? – fingiu não saber do que eu me tratava (e era óbvio que ele sabia, agora não era simplesmente uma questão de homens serem mais lerdos) e isso me irritou um pouco.

–Você sabe muito bem – eu disse e minha voz saiu mais áspera do que eu pretendia. Percy encolheu os ombros de uma forma irritantemente mesquinha.

– Não sei do que está falando.

Revirei os olhos e aprumei meu corpo, agora ajoelhando-me sobre a grama que minha mão deixara cheia de falhas. Mais tarde eu me arrependeria de fazer o que fiz.

– Disso, seu idiota! – exclamei. Em uma demonstração súbita de raiva e do não-pensar-de-modo-sensato, agarrei seu rosto com as mãos e fiz com que nossos lábios se encontrassem desajeitadamente.

O beijo de modo algum foi romântico ou digno de Hollywood, mas ainda assim aconteceu. Ao contrário da noite de meu aniversário, desta vez foi ele quem se retesou ao toque. A coisa foi tão repentina que por pouco nossos dentes não se bateram. Entretanto, depois de milésimos de segundo, suas mãos já estavam em minha cintura, as minhas por trás de seu pescoço e já era possível sentir o gosto de seus lábios de forma tão clara como acontecera noites atrás.

(Faz apenas quatro dias, Hermione, meus pensamentos gritaram e imediatamente mandei-os calarem a boca, ao passo que ainda sentia a boca de Percy contra a minha.)

O beijo acabou de modo bem mais suave do que começara e aos poucos senti seus lábios desencostarem dos meus, até o ponto que seu toque virava apenas um fantasma em minha boca.

Pigarreei desajeitadamente quando a ficha do que havia acabado de acontecer finalmente caiu em cima de mim. Não tive coragem de encarar Percy, mas pelo canto do olho percebi que ele pusera uma das mãos sobre a boca, como se não acreditasse no que havia acontecido. Parecia embasbacado e sem reação. Eu tinha certeza que não era o sol poente que trazia aquele aspecto avermelhado a sua face. Eu tinha ainda mais certeza que eu devia estar em estado parecido.

Levantei-me às pressas, esfregando as mãos freneticamente uma na outra ou nas minhas roupas.

– Eu vou ao pavilhão de refeições – falei, com aquela nuvem de constrangimento ainda parada entre nós. Percy permanecia na mesma posição. – Annabeth disse que o jantar já ia ser daqui a pouco. Nossa, que fome!

Sem despedidas, apressadamente saí daquele local. Achava que nunca mais conseguiria colocar os pés lá sem sentir uma vergonha extrema.


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Notas finais do capítulo

E voltamos ao ponto inicial da história de onde o prólogo partiu. Yay!



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