Segredos Submersos escrita por lovegood


Capítulo 31
Antes do amanhecer


Notas iniciais do capítulo

Um pouco mais curto que o usual, mas tá aí. Não acontece muita coisa para o enredo em si (em termos de desenvolvimento da missão e de todo aquele ~mistério~), mas eu quis pôr um foco maior em Percy/Hermione, porque né. Levou 30 capítulos para acontecer, então merecia um enfoque. Até porque esse capítulo demorou bem mais e eu realmente me desculpo por isso. Era para eu ter escrito mais cedo, mas aí o Nyah ficou fora de ar por um tempinho (o que fez eu acreditar que teria mais tempo para escrever e contribuiu para a minha extrema procrastinação) e eu me embolei toda em um monte de trabalhos para a escola (incluindo umas 20 dissertações e até mesmo um roteiro sobre 1984 - tava foda, perdoem-me o vocabulário)
Mas enfim. Postei só agora também porque hoje também é meu aniversário hehe, 16 aninhos de vida!
Enjoy!



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O beijo começou de modo tímido.

Os lábios de Percy vieram aos meus de modo rápido e súbito, o que a princípio me sobressaltou. Meus olhos abriram-se, arregalados, e por pouco não afastei nossos rostos.

Pelos deuses, isso está errado isso está errado isso está errado

Meu corpo momentaneamente ficou rígido, mas aos poucos relaxou e minha mente permitiu que ele se rendesse ao momento. As mãos de Percy estavam apoiadas em minha cintura e puxaram-me para mais perto. Não recusei o gesto; minhas mãos dirigiram-se às costas de sua nuca e meus olhos se fecharam.

Nossos lábios a princípio iam de encontro um ao outro fechados, mas logo permiti que os meus se abrissem e nossas línguas se encontrassem. A partir de então o beijo tornou-se urgente, como se fosse nossa única chance de que tal momento acontecesse.

E talvez fosse de fato a única chance que tínhamos.

O calor de tudo aquilo subira ao meu rosto, então, quando as mãos de Percy seguraram-no, sua pele nunca pareceu tão fria. Meus dedos entrelaçavam seus cabelos e depois desceram por seu pescoço, parando apenas em seu tórax.

A urgência e freneticidade dentro do beijo então se cessou, dando lugar a um beijo profundo e calmo. Eu sabia que aquilo era errado e que complicaria ainda mais a situação, mas nenhum de nós queria parar. A sensação era boa demais para que pudéssemos. As línguas se entrelaçavam e exploravam a boca um do outro, aproveitando cada centímetro e cada minuto que se passava.

Senti seus dedos correrem por minha cintura, fazendo todos os pelos de minhas costas se arrepiarem. Os meus dedos, em contrapartida, traçejavam as linhas de sua clavícula. Eu conseguia sentir o exalar de sua respiração nos momentos que nossas bocas se separavam momentaneamente, no intervalo de segundos antes de se encontrarem novamente.

Eu já estava sem fôlego quando nossas bocas se soltaram por definitivo.

Olhei para Percy, ofegante. A realidade pareceu cair em nós dois simultaneamente. Ele passou uma mão pelos cabelos em gesto frustrado, como se percebesse apenas agora o quanto aquilo era péssimo. Meu rosto parecia pegar fogo e minha boca estava dormente.

Um silêncio um tanto constrangedor pairou no ar, quebrado apenas por nossas respirações pesadas.

Percy ainda me encarava, com maior intensidade que nunca. Nossos rostos permaneciam próximos, mas eu desviei o olhar do dele e fitei nossos dedos entrelaçados sobre meu colo.

– Isso está errado, Percy – eu murmurei. Minha voz parecia incapaz de sair da garganta.

– Eu sei – disse ele, quase em um sussurro. Seus lábios roçavam minha têmpora e sua respiração batia contra minha pele, arrepiada tanto pelo frenesi do momento como pela brisa que entrava pela janela.

O pensamento de todas as coisas possíveis de se acontecerem agora que nós dois havíamos nos beijado – como o resto do grupo reagiria se soubessem? Como Poseidon poderia reagir, ao ver os próprios filhos fazendo tal ato? Isso poderia (claro que sim!, meu consciente pareceu gritar) afetar o desenrolar da missão? Poderia fazer com que Pallas tirasse proveito disso? (Com toda a certeza...) – veio à tona e fez-me ficar zonza.

Percy segurou meus pulsos gentilmente e eu enterrei a cabeça em um de seus ombros, frustrada.

Isso está errado isso está errado isso está errado, minha mente gritava continuamente. O volume da voz parecia aumentar e repentinamente aos meus ouvidos ela pareceu soar como a voz de Pallas. Zombando de mim com os enigmas de Edgar Allan Poe, torturando-me com a maldição Cruciatus.

O som de tudo ao meu redor aumentou e tornou-se um zumbido agudo e constante. Minha visão borrou e imagens iam e vinham em minha mente como flashes. Pallas, William Wilson e seu rosto coberto de pomada, Annabel Lee morta com a lança do titã atravessando seu tórax. Auguste Dupin e Marie Roget presos no meio da confusão. Uma onda de vertigem subiu por meu corpo e fez-me perder o equilíbrio.

Ainda bem que eu estava sentada.

As mãos frias de Percy em meu rosto ajudaram-me a voltar à realidade. Seus olhos claros pareciam ainda mais brilhantes do que o usual, havia em sua testa uma fina ruga de preocupação. Respirei fundo. A fala parecia estar presa em minha garganta.

Isso está errado, voltei a pensar e desta vez minha mente parecia estar mais calma. Não era para nada disso ter acontecido. Não era para eu ter me apaixonado pelo meu próprio meio-irmão...

Minha mente dizia que aquilo era errado, mas os instintos não. Inclinei-me em direção a Percy, apoiando-me em seus ombros e beijei levemente seus lábios. Ele não protestou, parecendo até um tanto surpreso. Não soube dizer se foi impressão minha, mas as bochechas dele pareceram ficar levemente vermelhas. Talvez ele tivesse percebido a burrada que nós dois cometemos e talvez estivesse tentando se redimir do constrangimento assim como eu fazia.

– Isso está errado – quem disse desta vez foi Percy.

Não me diga, pensei involuntariamente. Não era como se eu já não estivesse pensando nisso.

– Ninguém pode saber disso – murmurei. Percy assentiu. – Pelo menos não por enquanto. Talvez quando as coisas acalmarem...

Minha voz morreu. Talvez quando as coisas acalmarem. Se algum dia as coisas acalmassem, no entanto, eu nem ao menos conseguia imaginar a mim mesma tentando explicar tal situação.

Ah, é assim, um possível cenário foi aos poucos sendo criado em minha mente. Eu e Percy em frente a Harry, Ron, Nico, Annabeth e Thalia. Quem sabe Quíron e Poseidon pudessem estar lá. É uma coisa bem básica, sabe como é. É só que eu acho que posso estar gostando “gostando” do meu meio-irmão. Simples, né? Só um incesto bem básico... a gente pode ter se beijado e tudo o mais, mas nada além disso. Não é como se fôssemos ter um relacionamento ou algo parecido...

Eu realmente não conseguia me imaginar explicando algo desse tipo a eles, muito menos pensar em qual seria sua possível reação.

Errado, errado, errado! Minha mente parecia neurótica agora, com tais palavras martelando em minha cabeça, ao mesmo tempo que ainda crescesse em mim uma vontade intensa de retornar a beijá-lo. Deuses, o que estava acontecendo?

– Percy – retomei a palavra –, só, por favor, me responda uma coisa. O que é que existe entre nós dois?

Com um suspiro, os olhos de Percy desceram às suas mãos. Levantei-me da cama, afastando-me dele e de toda aquela proximidade entre nós. Era preciso e ambos de nós sabíamos, por mais que no fundo eu não quisesse.

– Eu não sei, Hermione – disse ele. – É complicado.

Realmente era.

– Eu... – Percy pareceu hesitar ao dizer – é só que... ah, sei lá. Desculpe por ter feito isso. A gente realmente não devia.

– Não se desculpe – falei. – Porque senão eu terei que me desculpar junto, porque não foi como se eu houvesse tentado parar o beijo.

E também não era como se eu não houvesse gostado. Pelo contrário.

Voltei a me sentar ao lado dele na cama, desta vez um pouco mais distante. Por pouco não joguei-me em cima dele novamente, extasiada pelo beijo e querendo mais; por mais que quisesse, às vezes a razão tinha de falar por cima.

– A gente realmente não devia – repeti o que ele já dissera.

Ultimamente eu não entendia qual era essa minha necessidade de reafirmar constantemente o que me diziam.


– Hermione... – uma voz parecia me chamar ao longe.

Grunhi em resposta. Não sabia localizar exatamente de onde essa voz vinha, mas eu não queria saber. Tudo ao meu redor estava tão quentinho e aconchegante que eu não queria sair daquela posição.

– Hermione... – a voz permanecia lá, irritando-me.

Meus olhos demoraram a abrir, e quando abriram, estavam com a vista embaçada e as pálpebras pesadas pelo sono. Revirei mais um pouco na cama, dentre todos aqueles fantásticos cobertores, e deparei-me com Nico me encarando.

– O que foi? – perguntei, esfregando os olhos e sentando-me no colchão.

– Já é de manhã, temos que sair logo se quisermos continuar a missão.

Mas eu não queria continuar a missão, pensei porém não disse em voz alta.

Limitei-me em concordar com a cabeça, apoiando-a em uma mão e deixando-a pender devido ao sono. Eu dormira feito uma pedra, o que tornava o acordar uma tarefa demasiada difícil. Nico deu um tapinha gentil e desajeitado em meu ombro.

– Troque de roupa e arrume suas coisas logo – disse ele. – Vamos tomar café da manhã daqui a pouco e Annabeth não quer se atrasar para sairmos daqui.

– Tanto faz – murmurei e Nico riu baixinho. Ele então saiu do quarto, fechando a porta atrás de si e deixando-me a sós.

Esfreguei os olhos, tentando fazê-los se abrirem, por uns dois minutos completos. A preguiça na hora do despertar era tanta ao ponto de eu momentaneamente me esquecer por completo do que ocorrera durante a noite. Por breves segundos, ao me relembrar – dos lábios de Percy contra os meus e o roçar de sua pele na minha – perguntei a mim mesma se aquilo não teria sido apenas um sonho.

Teria sido muito bom se aquilo houvesse sido apenas um sonho...

Mas o conjunto de sensações daquele momento que voltou à minha mente era vívido demais para ser um sonho. Toquei meu lábio inferior com o dedo indicador e aquela agradável dormência que eu sentira logo após o término do beijo pareceu retornar, mesmo que brevemente.

Puxei a gola de minha camiseta e encostei o nariz nela. O cheiro – bem agradável, diga-se de passagem – de Percy, por mais leve que fosse, ainda parecia estar preso ao tecido.

Tudo aquilo não fora um sonho, portanto. Não sabia dizer se eu me sentia frustrada ou, de certa forma, feliz.

Finalmente saí da cama e fui me arrumar. O dia ainda havia de ser longo.


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Notas finais do capítulo

Aos fãs de Permione de plantão que há muito esperavam por esse momento - eu realmente não sei se ficou bom, creio que essa é a primeira cena de beijo detalhada que eu escrevi em minha vida. Enfim. Espero não tê-los desapontado.



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