Inner Outer Space escrita por matt


Capítulo 17
Mente e Corpo


Notas iniciais do capítulo

"Enquanto ela me conduzia até sua cozinha, eu desejava muito que essa amizade voltasse a ser o que era antes."



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            Um raio.

            A Terra explodiu.

            Que saco.

            Kasumi, o que vamos fazer?

            - Vamos para Marte!

            Estamos em Marte.

            Tem pipas no céu.     

            Kasumi, o capacete...

            - Ah, sim.

            Beijo.

            Pele. Prata?

            - Ninguém está vendo.

            Prata. Intensa.

            Não posso... Eu quero?

            - Vamos colonizar este planeta.

            Ahh...

            Eu quero. Não...

            Tarde demais.

            A Terra explodiu.

            Nós, também.

            - Me-kun... Eu te amo!

            Eu?

            Ana...

            Ela morreu?

            - Você me fez morrer.

 

            - Ana!

            - Sim?

            Acordei. Ainda estou na calçada, à frente da casa de Ana. Não faço idéia de quanto eu dormi. Deve ter sido pouco, pois Kasumi ainda não apareceu com o outro dispositivo D. Porém, alguém mais estava lá.

            Ana acabava de chegar em casa.

            Não consegui falar nada, inicialmente. Ela tinha me assustado. E o sonho que tive há pouco ainda estava me perturbando. Ela me encarava de pé.

            - Ahn... Matt? Não é por nada não, mas tem algum motivo em especial pra você estar dormindo na porta da minha casa?

            - Ahhh... – “pelo amor de Deus, Matt, pensa em alguma coisa!!”

            - Você tá passando mal?

            - É!! – exclamei, baixando o tom de voz logo em seguida – Eu não estou muito bem. Eu devo ter desmaiado no caminho de casa.

            - Sério? Você não quer entrar, tomar alguma coisa...?

            - Sim... Ah, quer dizer, não! Não precisa! Eu tô bem! – disse, me levantando.

            - Você acabou de dizer que não... Vem, eu insisto, você precisa de medicamentos – ela segurou minha mão e, de repente, parou de se mover.

            - O que foi? – perguntei, preocupado.

            - Não sei. Me deu uma sensação de nostalgia, agora.

            Eu queria poder dizer o porquê, mas não me permiti. Ela ia pirar, ou achar que eu estava pirado. Por enquanto, me contentaria com a nova amizade que surgiu entre nós. Ainda assim, enquanto ela me conduzia até sua cozinha, eu desejava muito que essa amizade voltasse a ser o que era antes.

            Não quero que o sonho de agora se realize.

            Não vou deixar que Ana morra.

            Só não sei como vou fazer isso.

            - Toma.

            - Hã?

            - Água. Bebe um pouco.

            - Ah. Obrigado – tomei um gole.

            - É bom você se sentar, vai se sentir melhor.

            - Não, sério, eu já estou bem.

            - Muita gente diz isso antes de morrer.

            - Eita... Tudo bem, vou me sentar – ela suprimiu um riso quando eu disse isso.

            Quando me recostei sobre o sofá da sala, a mãe de Ana apareceu.

            - Oi, filha! Nem me avisou que teríamos visita.

            - Na verdade, eu também não sabia. Esse é o Matt, um colega da escola. Ele passou mal ali, então eu resolvi trazê-lo pra dentro, para descansar.

            - Sei... Boa escolha, hein! – ela disse, com um sorriso sacana.

            - Mãe!! – Ana corou e virou-se para mim – Não liga pra ela, é maluca...

            - Ha ha ha... De qualquer forma, é um prazer, Matt! Meu nome é Mandy – pelo jeito, Joana também não poupou a memória dela.

            - O prazer é meu – respondi, tentando parecer mais animado.

            - Não quer ficar para o almoço? Eu estou fazendo strogonoff.

            - Ah, não, obrigado, eu não quero ser um incômodo. Além disso...

            - Que é isso! Não é incômodo nenhum, não é, Ana?

            - Ahn... Acho que não, né? – ela disse. Parecia tensa.

            - Ok, então! Daqui a pouco, estará servido – e saiu, deixando-nos sós outra vez.

            Não deu tempo de dizer que eu não poderia almoçar ali porque eu estava acompanhando uma alienígena na tentativa de impedir a destruição da Terra. Como se eu fosse dizer isso algum dia... Não pretendia falar nem para Ana, que, acabei de notar, sentou-se ao meu lado. Olhava para cima e para baixo, parecendo atordoada.

            - Matt?

            - Hm?

            - Tem certeza que eu não te conheço?

            A frase me pegou de surpresa. Apesar de tudo, eu queria responder com sinceridade e acabar com essa ilusão de uma vez por todas. Queria muito.

            - Não, Ana. Somos só novos colegas... – eu continuo fraco. Ou é a coisa certa a se fazer?

            - Então por que é que eu estou com essa sensação? – segurou minha mão e olhou fundo nos meus olhos – Toda vez que eu faço isso, ou só pelo fato de estar perto de você, eu sinto uma vontade enorme de... – parou, desviando o olhar – Desculpa, eu não devia fazer isso. Você deve estar me achando maluca, não? ...Matt?

            É, eu ainda sou um fraco. Ana reparou, mais uma vez, que eu estava cabisbaixo e lágrimas desciam lentamente pelo meu rosto. Não consegui contê-las.

            - Por que...? – ela começou, mas eu a interrompi.

            - Ana... – ela ficou em silêncio – Quem devia pedir desculpas sou eu.

            Ela fez uma expressão confusa, que se desfez em alguns instantes, quando, subitamente, não consegui mais controlar meu corpo.

            Beijei-a.

            Logo pensei que tinha feito uma das maiores besteiras da minha vida. Ela não faz idéia de quem eu sou, como é que eu vou me explicar? Afastei-me. Ana estava olhando para mim, os olhos claros totalmente arregalados. Fiz menção de pedir desculpas outra vez, mas, para minha surpresa, ela não me deu tempo para fazer isso.

            Em algum lugar, ouvi falar que o ser humano tem duas memórias: a da mente e a do corpo. Mesmo que uma pessoa não se lembre de alguma coisa, seu corpo reagiria por si só. Eu não achava que isso fosse verdade, mas no momento em que Ana passou seus braços pelo meu pescoço e puxou meus lábios de volta aos seus, eu acreditei.

            Inconscientemente, ela era a mesma de antes.

 

            Desprendemo-nos após algum tempo.

            - Matt... Por que...? Eu estou feliz... e triste. Eu... – Ana continuava confusa. Ela também tinha lágrimas nos olhos, mas não fazia idéia do por quê. Eu não conseguia suportar aquilo.

            - Ana... – falei baixo – Eu sei por que isso está acontecendo com você. Mas, por mais que eu queira, não posso dizer agora. Não sei como você pode reagir.

            Ela acompanhou com o olhar enquanto eu me levantava e caminhava até a porta. Antes de sair, encarei-a uma última vez e disse:

            - Eu vou te resgatar. Eu juro.

            Andei até o portão. Nenhum pensamento estava forte o suficiente para substituir a única imagem que estava na minha mente. Aqueles dois olhos verdes lacrimosos me acompanhavam. Assim como ela, eu estava cheio de agonia. Mas eu sabia o motivo.

            Eu vou resgatá-la.

            Não importa como.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que esse capítulo não tenha decepcionado muito os fãs da Kasumi (ela nem apareceu xP)
Mas calma, muita coisa ainda deve acontecer... =]