Inner Outer Space escrita por matt


Capítulo 10
Busca e Apreensão


Notas iniciais do capítulo

"Era engraçado que a gente se divertisse em um momento tenso como aquele..."



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                Fomos até a cozinha. A falsa empregada não estava lá. Olhamos a casa toda, mas não a encontramos. Reparei que Ana estava meio apavorada, o que era de se esperar, considerando a situação.

                - Ei – eu disse, na tentativa de acalmá-la – Ela só se colocou na sua cabeça, mas não tirou nada de lá. O SPIPA teria acusado isso também. Não se preocupe.

                - Que bom. Mesmo assim, tô com medo dela fazer alguma coisa ruim.

                - Se eu conheço a Kasumi, ela não vai fazer mal a você.

                - Você conhece? – ela olhou pra mim com um ar pensativo.

                - ...Espero que sim.

                - Ah, isso não ajuda muito – ela segurou meu braço com força, apoiando a cabeça sobre meu ombro. Eu também não sabia o que pensar sobre a Kasumi, só tinha em mente encontrá-la e dar uma bronca por tudo. Mas a Ana tinha razão, não tinha idéia do que, realmente, ela é capaz. Ainda assim, passei minha mão por volta do pescoço dela e disse:

                - Vai ficar tudo bem. Pra ela te atingir, só por cima do meu cadáver.

                - Não fala isso! Eu não quero que ela me atinja!

                - Ei, o que você quer dizer com isso?

                - Tô brincando! – ela disse e me olhou nos olhos. Sorria, apesar de ainda demonstrar um pouco de pavor – Eu não quero que você morra, Matt.

                Continuei olhando pra ela por algum tempo como se fosse uma estátua. Eu tinha ficado sem reação, pra variar. Felizmente, a Ana reagiu por mim: aproximou seu rosto do meu (ainda mais) e me beijou. Por alguns minutos, horas, dias, décadas, eu deixei de ligar para o fato de talvez haver uma alienígena maligna nos arredores. Só queria que aquele momento durasse pra sempre.

                (“Afe, Matt, que pensamento clichê!”)

                Um dia, aquele momento acabou, e voltamos ao ponto de partida. Ana me abraçou com força, como se quisesse me impedir de ir pra uma guerra, e disse:

                - Eu não quero que você me proteja, Matt. Eu não quero que você sofra por minha causa. Você não precisa...

                - Não, mesmo. Mas eu vou te proteger, ainda assim.

                - Por quê?

                - Porque sozinha contra a Kasumi, você não tem nem chance.

                - O que você quer dizer com isso?

                - Brincadeira!

                - Ah, vingança é ruim, seu chato!

                Caímos na risada. Era engraçado que a gente se divertisse em um momento tenso como aquele... Pensando bem, o que tem de tenso nisso? É a Kasumi! Se ela  seguir seu plano, não pode me fazer mal. Mesmo assim, não tenho certeza de nada, então não vou abaixar minha guarda.

                Em meio a pensamentos sobre a situação, Ana me abraçou outra vez.

                - Eu gosto muito de você, viu? – ela disse.

                - Eu também.

                - Então não vai se matar, hein!

                - Tá – dei uma risada. Mais uma vez, ficamos em paz, num abraço carinhoso e caloroso. Por que, antes, era tão difícil que isso acontecesse? Ah, não importa. Resolvi parar de pensar no passado, que o presente era o único tempo importante.

                - Oooh, que bonitinho! – veio uma voz da porta da sala.

                - Mãe?! Você tava em casa?? – Ana corou completamente.

                - Ué, minha filha, por que eu sairia hoje? Além do mais, eu não posso deixar vocês dois sozinhos em casa. Sabe lá o que vocês podem fazer...

                - Mãe!! – ela ficou mais vermelha ainda.

                - Brincadeira, Ana! – ela riu.

                - Ah, Sra. Mandy – perguntei, desviando logo do assunto – A Ka... quer dizer, a Joana já foi embora?

                - Ela foi fazer umas compras. Provavelmente, já tá no final da rua.

                - Obrigado! – corri em direção à porta, e Ana veio atrás de mim – Com licença!

                Droga, espero que ela não tenha fugido!

 

                Corremos para fora do portão, tentando enxergar uma empregada no final da rua, mas não tinha ninguém. Ou ela fugiu e não voltaria tão cedo, ou simplesmente tinha virado a esquina. A segunda opção foi o que resolvemos seguir, só pra ter certeza.

                Quando estávamos chegando, ouvimos uma voz saindo de um beco escuro:

                - Ei, eu estou aqui!

                - Hã? Quem disse isso? – perguntei.

                - Isso foi alguém falando? Parecia um animal com dor de barriga... – disse Ana.

                - Como assim? Foi alguém chamando a atenção, não foi?

                - Só se quiser que a gente ache que é um alienígena.

                De repente, caiu a ficha.

                - Me-kun, eu tô aqui! – a voz repetiu.

                - É ela! É a Kasumi! – falei. Ana olhou pra mim, depois para o beco e para mim de novo, numa mistura de medo e estranhamento.

                - Como isso é a Kasumi?! Eu não entendo nada do que ela diz!

                - Deve ser porque ela tá sem o SPIPA. Ela tá falando na língua dela.

                - Mas então, como é que ela tava lá em casa, agora há pouco, falando com todo mundo?

                ...Não tinha pensado nisso. Se a Kasumi me deu o SPIPA, como era possível que ela fizesse tudo o que ela fez? Só se ela não fez. Ou então...

                - [Eiii, alguém presta atenção em mim!] – disse uma humanóide prateada com uma turbina nas costas que apareceu do beco.

                - WAA!! – Ana deu um salto pra trás, quase caindo no chão.

                - É, Ana, essa é a Kasumi – lembrei que ela nunca tinha a visto na sua forma real antes. Ela continuou perplexa por um tempo, mas logo contraiu uma expressão mesclada de “Ah, meu Deus, tem uma alienígena na minha frente!” e “Ah, não é tão ruim”.

                - [Me-kun, o que foi?] – disse Kasumi, notando a minha expressão de raiva e um pouco de medo direcionada a ela.

                - [Precisamos conversar.] – falei. Ana olhou assustada para mim:

                - Você fala a língua dela?!

                - Eu não, o SPIPA traduz.

                - Ah. É verdade, tinha esquecido.

                - [Posso pegar o SPIPA de volta, pra facilitar?] – Kasumi perguntou.

                - [Não precisa, pega o outro.]

                - [Outro?]

                - [Sim. A versão antiga, que você “deixou de usar”.] – Era isso, só podia ser. A única explicação para ela conseguir fazer o que fez na casa da Ana era essa. Ela estava encurralada.

                - [Mas tá na sua cabeça, como é que eu vou pegar?]

                - [Você me deu a versão antiga??]

                - [É a mesma coisa! Eu só baixei uma atualização.]

                - [É?] – “Não, Matt, você está se deixando levar...” – [Prove!]

                - [Aahn... Você não vai gostar muito disso.]

                - [Eu preciso saber. Se isso for mentira, você está encrencada com a gente.]

                - [Por quê?]

                - [Não vou dizer, você sabe muito bem.]

                - [Ah, não sei, não!... Mas tudo bem, já que você insiste, pensa em “desatualizar”.]

                - Matt, o que vocês tão falando? Eu me sinto meio excluída aqui... – Ana lembrou.

                - Ah, a Kasumi explicou umas coisas. Eu vou desatualizar o SPIPA pra ver se é o mesmo de antes e provar que ela não tem outro pra usar na sua casa.

                - Ahn... Tá...

                “Desatualizar”.

                - Deseja fazer um backup do sistema atual? – uma voz na minha mente indagou.

                “...É bom. Sim”

                - Backup completo. Desatualizando... – o mundo desapareceu. Eu já estava um pouco acostumado com aquilo. Depois de um tempo, tudo voltou ao normal – Sistema restaurado à versão 7.01XXX.

                - [Ahn... Deu certo?] – perguntei.

                - [Se você ainda tem dúvida, só resta uma coisa a fazer.] – Kasumi respondeu – [Pensa em “agradar” alguém. Por precaução, usa na Ana, senão vai piorar sua situação com ela.]

                - Hm... – pensei no que a Kasumi fez usando este capacete, o que me deu calafrios – [Não vai piorar de qualquer jeito?]

                - [Ah, você quem sabe. Só acho que se você tentar comigo, vai ser ainda pior.]

                Tá, eu não tenho escolha. “Agradar Ana”.

                De repente, perdi o controle do meu corpo. A única coisa que eu conseguia fazer era sentir o que eu estava fazendo (Ah, isso é confuso!). Meu corpo, sozinho, se aproximou da Ana e (...AH!) deu um beijo bem à televisão na boca dela. Quando se soltou, ela exclamou:

                - Matt, o que deu em você?! É o capacete, não é? Desliga essa coisa!! – ela estava vermelha, de vergonha e de raiva.

                - Ana, eu te amo! É incondicional! – “Ah, meu Deus, eu estou falando... a verdade? Mas não vem ao caso, eu preciso parar com isso!!”

                - Comando recebido: parar com isso – Logo antes de voltar ao normal, houve um flash de luz e Ana caiu, inconsciente. Numa ação rápida, Kasumi a segurou antes que ela atingisse o chão e a deitou com cuidado.

                - [Posso pegar o SPIPA, agora?]

 


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Notas finais do capítulo

É, esse capítulo esclareceu algumas coisas...
=3

Na minha opinião, a história tá caminhando a passos curtos. Mas grandes eventos estão por vir, então não se preocupem! (ou melhor, se preocupem!! x_x)