Eu procuro paz.

Eu já não aguentava mais a minha vida.

Não aguentava mais esse mundo.

Eu só precisava fugir. E o mais rápido possível. E foi isso que eu fiz. Peguei meu dinheiro que eu havia guardado por um tempo, algumas roupas, meu notebook, meu celular e algumas lembranças que fizeram bem para mim.

Saí daquela casa enquanto ninguém havia voltado ainda.

Corri. Corri o mais rápido que pude até eu perder meu fôlego e parar em uma praça que havia ali. Me sentei na grama e olhei pro céu. Vi que uma tempestade estava pra chegar. Assim como em minha vida. Mas a única diferença é que a tempestade em minha vida já chegou faz tempo e ela faz questão de continuar e nunca mais parar.

Fiquei olhando as pessoas que passavam em minha volta. Todas elas, por algum motivo, estavam sorrindo, felizes. Crianças brincando com seus pais, casais rindo e trocando carícias, grupos de amigos se divertindo... e eu aqui, sozinha, sem ter ninguém que me apoie ou que me faça ter algum motivo pra sorrir.

Eu tinha que ir embora dali logo. Precisava ir pra algum lugar distante. Mas pra onde? Eu não tenho muito dinheiro, apenas para me sustentar por umas duas semanas no máximo.

Pensei em voltar atrás. Mas eu não posso fazer isso. Não posso desistir.

Então resolvi pegar um táxi. Em menos de dois minutos parou um na calçada e eu entrei. Ele ficou eu esperando eu falar o destino. Eu sinceramente não fazia ideia do meu trajeto.

-Er... a senhora quer que eu te leve pra algum bar, lanchonete ou algo assim? – disse o taxista que devia ter seus 40 anos ou mais –Suponho que esteja fugindo de casa e não faça ideia de onde vai, não é mesmo? – nossa, como ele sabe?

-É, não vou negar que você tem razão... o senhor pode me levar pra algum lugar assim?

-Posso sim. – ele sorriu de uma maneira compreensiva pra mim e arrancou com o carro dali. Depois de uns quinze minutos ele parou em frente a um lugar que parecia um bar e ao mesmo tempo uma lanchonete. Parecia ser bem aconchegante e havia poucas pessoas lá dentro.

-Obrigada, quanto ficou a corrida? – eu já fui pegando minha carteira.

-Hoje ficou por minha conta, boa sorte moça e se cuida! – ele me deu um sorriso sereno.

-Nossa... muito obrigada! – eu não sabia o que dizer naquele momento. Aquele homem deveria ser um anjo mesmo.

-Não precisa agradecer. Só quero que você saiba de uma coisa: você vai encontrar o que você estava procurando. – aquelas palavras me fizeram deixar que uma lágrima escapasse dos meus olhos e caísse lentamente pelo meu rosto. Eu sorri em forma de agradecimento, peguei minhas coisas e desci do carro. Olhei para o céu novamente e agora as nuvens estavam bem mais escuras. Ouvi um trovão. Provavelmente a tempestade vai chegar logo.

Entrei naquele bar/lanchonete e me sentei em uma mesa que ficava mais pro canto e mais discreta possível. Coloquei minha mochila em cima da mesa e deitei minha cabeça sobre ela. Minha cabeça estava a mil e eu já não sabia mais o que pensar. Já não sabia se estava mesmo fazendo a coisa certa. Se bem que depois do que aquele cara disse...

Então levantei minha cabeça e vi que havia um homem parado ao lado da minha mesa. Ele era bem alto e magro. Seus cabelos eram um pouco longos. Batiam em seus ombros e eram negros. Ele mantinha um sorriso simpático e belo em seu rosto. Sim, ele era muito bonito.

-Posso ajudar? – ele disse levantando uma sobrancelha, porém ainda com o sorriso no rosto.

-Hm, você podia me trazer um...

-Te aconselho um suco de maracujá, tenho certeza que vai te fazer bem. Você parece estar um pouco nervosa. – ele disse normalmente como se aquilo acontecesse todos os dias.

-Acho uma boa ideia, mas como você sabe que eu estou nervosa? – eu disse estranhando por hoje ser a segunda pessoa que praticamente adivinha meu estado emocional. Será que eu estou tão acabada assim?

-Pela maneira como você entrou eu percebi que você não está bem.

-Mas você nem me conhece... – nessa hora eu não quis ser grossa com ele, eu só estava achando um pouco estranho, quer dizer, muito estranho ele saber o que eu estou sentindo só pela maneira de eu entrar.

-Eu sei... me desculpe por ser tão abusado, mas é que eu não gosto de ver as pessoas assim, tristes... então eu tento achar alguma maneira de ajudar... nem que seja com alguma palavra motivadora.

-Nossa... muito bonito da sua parte... e como é o seu nome? – eu disse sorrindo pra ele. Esse cara parecia ser uma pessoa tão boa. Só por ele dizer isso eu já percebi.

-Bill, e o seu?

-Ally. – sorri para ele.

-Tom! Traz um suco de maracujá nesta mesa, por favor? – ele gritou para um moço que estava no balcão. Ele também era muito bonito. E por falar nisso ele era bem parecido com o Bill... porém o tal do Tom tinha dreads loiros ao invés dos cabelos longos e negros do Bill.

-Er... não vai ter problema você ficar aqui conversando enquanto ele trabalha?

-Na verdade não... eu e meu irmão somos donos desse bar... aquele cara que eu acabei de chamar, o Tom, ele é meu irmão gêmeo!

-Gêmeo? Quando eu olhei pra ele vi algumas semelhanças entre vocês, porém não achei que fossem gêmeos... – o olhei surpresa. Eu realmente não imaginava que os dois eram gêmeos.

-É, ninguém acha isso mesmo... bom, posso me sentar aqui com você? – ele disse levantando a sobrancelha.

-Claro que pode! – então eu tirei minha mochila dali e coloquei-a na cadeira do meu lado e ele se sentou de frente comigo. Então vi que o tal Tom estava trazendo um copo grande de suco em uma bandeja prateada.

-Aqui está! – ele sorriu educadamente e vi que ele tinha um piercing no canto inferior do lábio. É, ele era realmente bonito. E aparentava ser um pouco mais baixo e mais musculoso quem sabe...

-Obrigada. – eu sorri meio tímida. Ele saiu deixando eu e o Bill sozinhos na mesa.

-Então Ally, por que você está tão triste?

-Ai, aconteceram tantas coisas... – eu disse olhando pra baixo e mexendo meu suco com o canudo.