Saga e Shou sentaram no fundo, onde haviam sentado da última vez que subiram no ônibus. Estavam finalmente voltando para a casa depois de três dias de “diversão intelectual”, como os professores preferiam chamar o tédio extremo. Mas a viagem não havia sido nada má para Shou, principalmente quando lembrava da noite anterior, quando teve Saga tão perto... O mesmo se encontrava sentado ao seu lado, tentando empurrar a mochila cheia demais para baixo do banco, mas não era a mesma coisa. Shou tivera a oportunidade de ser de Saga por completo e recuara. Mas não se odiava por completo por isso: sentia que se o momento acontecesse de novo ele faria o mesmo. Tinha medo. Medo de que fosse um desastre e Saga se afastasse, medo de que doesse muito, medo do que as pessoas pensariam se descobrissem, mas o principal: medo do que ele mesmo pensaria de si mesmo. Já estava bem confuso com o fato de beijar outro homem, mas até então estava tudo bem. Tentou por várias vezes se convencer de que isso era cada vez mais comum e normal, mas nunca realmente se imaginou nessa situação. E não era nada fácil ter preconceito contra você mesmo. Tentou afastar esses pensamentos.

 - Você acha que vão dar uma prova sobre isso?

 - Como? – Saga desistira finalmente de sua mochila, pondo-a em seu colo.

 - Você sabe...sobre os museus e...coisas.

 - Provavelmente. Acho que eles não têm vida e fazem o máximo pra a gente não ter também. – Saga falara baixo, apontando os professores e fazendo Shou rir.

 O ônibus com os felicíssimos e nada cansados estudantes chegou na frente da escola por volta das 17 horas. Todos desembarcaram, arrastando suas mochilas de volta para a casa. Os amigos de Saga que não tinham ido o esperavam, e o cercaram, falando sobre qualquer coisa. Shou então percebeu: estava acabado. O que ele tinha com Saga, seja lá o que fosse, estava acabado. Os dois não teriam mais quartos de hotel pra dividir, não teriam mais tempo pra conversar sozinhos, não haveria mais nada. Shou sentiu o coração apertado, mas respirou fundo e deu as costas a Saga e seus amigos. Pensou ter ouvido Saga o chamar, mas não se virou, seguiu reto para casa, deixando só algumas lágrimas escaparem.

 Por volta das 19 horas Shou batera na porta da casa de Hiroto – que ficava do outro lado da rua de sua casa. A mãe de Hiroto o atendera, fazendo o escândalo de sempre, o abraçando e dizendo para entrar porque estava frio lá fora. Shou achava que a hiperatividade era de família, mas gostava disso. Shou foi arrastado até a sala, onde Hiroto estava jogado no sofá vendo um programa qualquer. Deu um pulo o viu entrando.

 - Shou! Cara! – Hiroto pulara do sofá, correndo até Shou e o abraçando com força. Este o abraçara de volta, nunca sentira tanto a falta de Hiroto antes.

 - Você tá bem? Tá melhor? – Shou largara Hiroto, o segurando pelos ombros e sacudindo de leve. Hiroto riu.

 - To sim, maníaco, não dá pra ver? – Hiroto bagunçou o cabelo de Shou, fazendo-o ter certeza de que estava melhor mesmo.

 Hiroto o arrastou para o quarto, onde ficaram fazendo o que sempre faziam: rindo, conversando sobre tudo, e, eventualmente, jogando alguma coisa um no outro. Shou sentira muita falta de Hiroto, e em vários momentos pensou em contar tudo sobre Saga, mas não sabia como começar. Nunca escondia nada do outro, mas agora era diferente. Quando deu por si eram 23.

 - Eu preciso ir embora! Tem aula amanhã e eu nem arrumei nada e...

 - Relaxa Shou. Dorme aqui hoje e amanhã agente sai mais cedo pra pegar suas coisas.

 Shou aceitou, claro, Hiroto sempre achava um meio de resolver tudo do melhor jeito. Ligou pra casa e avisou que dormiria lá.

 Por terem ido dormir às duas da madrugada – porque ficaram jogando vídeo game –, os dois acordaram atrasados e correram pra conseguir chegar a tempo na escola, mas mesmo assim tendo que entrar na sala com todo mundo já lá dentro. Shou olhou brevemente para Saga, que sentava no fundo, cercado de seus amigos como sempre, mas seu olhar também caía em Shou. Hiroto o cutucou de leve o trazendo de volta pra aula. Shou se sentou no lugar de sempre e a aula aconteceu normalmente.