“pick me up
been bleeding too long
right here, right now
i'll stop it somehow

i will make it go away
can't be here no more
seems this is the only way
i will soon be gone
these feelings will be gone
these feelings will be gone

now i see the times they change
leaving doesn't seems so strange
i am hoping i can find
where to leave my hurt behind
all the shit i seem to take
all alone i seem to break
i have lived the best i can
does this make me not a man?”

koRn – Alone I Break

Shou estava deitado na banheira do hotel mais barato e mais longe de casa que pôde encontrar até estar cansado demais ou com frio demais para continuar andando. A água quente que o cobria, de algum jeito dava uma falsa sensação confortante, mas mesmo assim já era o bastante. Olhava o teto, mexendo distraidamente na água com uma das mãos. Nunca havia se sentido tão perdido, tão sozinho. Já se sentira assim antes, quando fora expulso de casa, mas ainda tinha Hiroto e Saga, mas agora nada havia restado. Tudo que havia acontecido no dia passava em sua cabeça, mas o que insistia em voltar com mais freqüência era Hiroto não se importando se a escola inteira soubesse o que acontecia com ele, Saga dizendo pra ir embora e seu pai lhe dando aquele tapa.

 Deixou as lágrimas descerem, indiferente. Não se importava mais se estava sendo fraco ou não. Odiava ser tão pessimista, mas sentia que nada nunca voltaria ao normal. Logo seu dinheiro acabaria e não teria mais onde ficar, e sinceramente não fazia a mínima idéia de pra onde ir quando isso acontecesse. Sentiu que não agüentaria esperar pra ver. Sentiu que não agüentaria mais nada. E a dor de cabeça que sentira pela tarde estava insuportável.

 Levantou da banheira, pisando no chão frio até o espelho, abrindo-o, e depois de procurar por um tempo em meio aos frascos, achando um para dor de cabeça que parecia forte o bastante para quem sabe decepá-la. Afundou-se na água até o pescoço novamente e abriu o pequeno frasco de vidro. Olhou todas as pílulas que continha e não pôde evitar de pensar em como seria se apenas terminasse com toda essa dor de uma vez por todas. Tentou de verdade afastar o pensamento, mas o típico “vão sentir minha falta” não o convencia mais.

 Enquanto olhava o frasco, lembrou de Hiroto. Lembrou de quando brincavam na casa dele quando eram pequenos, e de como Hiroto vinha correndo toda vez que Shou caía. Lembrou de como costumavam ir juntos caminhar no parque à noite, e de como não faziam isso há anos. Lembrou de como ficara apavorado quando soube que Hiroto estava com pneumonia, e como fora bom vê-lo recuperado quando voltou de viagem. Lembrou de ter afastado Hiroto por ser idiota e de ver sua expressão magoada.

 Lembrou de seus pais, de como sempre tentaram lhe dar o melhor, e de como sempre o trataram bem e tiveram orgulho dele. Lembrou da expressão dos dois quando o viram no sofá de casa com Saga, e de como preferiam vê-lo fora de casa do que aceitá-lo como é.

 E lembrou de Saga. De quando se sentou ao seu lado quando Hiroto não fora na aula, e de como o apoiara quando estava pra baixo. Lembrou do primeiro beijo dos dois, e de como havia resistido mesmo querendo mais que tudo estar com Saga. Lembrou da primeira vez, de como Saga havia sido carinhoso e de como o abraçara depois. Lembrou de ter se sentido tão protegido e confortável, como provavelmente nunca sentiria de novo. E lembrou de Saga dizendo que podia ir e depois lhe dando as costas.

 Respirou fundo e virou o frasco na garganta, largando-o vazio do lado da banheira. Recostou a cabeça e fechou os olhos, lutando contra as lágrimas que insistiam em pingar na água agora nem tão quente e confortante da banheira. Não demorou muito tempo para que apagasse, a pulsação caindo drasticamente.

[...]