Naquela manhã, Rena acordara um pouco mais confiante. Talvez por que tenha dormido muito bem. Ela olhou ao redor, mas não viu Toeto. Ela decidiu procurá-lo, coisa que não seria tão difícil, já que ele era gigante.

Rena vê seu amigo sentado em um gramado bem próximo dali, comendo suas pedras. Ela lembrou-se que também estava com fome.

- Toeto, vou procurar o meu café da manhã! – Ela grita, acenando para ele.

O gigante olha para a garota. Claro que ele não entendeu o que ela disse, mas ele levantou-se e caminhou em sua direção.

- Não precisava ter vindo, eu já volto.

O colosso sinaliza para a menina. Ele quer lhe mostrar uma coisa que ele viu, mas não compreendeu. Talvez ela soubesse o que era aquilo.

Ela não entendia o que seu grande amigo estava tentando lhe dizer, mas bastaram alguns passos para que ela visse. Naquela área gramada, uma mensagem escrita com roupas coloridas, deixou a menina pasma.

Estava escrito: “SOCORRO, SOBREVIVENTES AQUI”.

Rena não acreditava no que seus olhos viam. Havia pessoas naquele mesmo lugar que ela e Toeto passaram a noite. Talvez aguardaram por dias por um resgate.

 De repente, seu coração encheu-se de esperança, mas apenas por um instante.

- Mas aonde eles estão?

 Toeto não entendia nada daquilo, mas conseguia perceber que Rena estava preocupada. A menina correu em direção das roupas no gramado, tentando encontrar mais algum indício daquelas pessoas que passaram por aquele lugar. Ela revirou as roupas, procurou nos bolsos, mas não encontrou nada. Algumas daquelas roupas tinham manchas que pareciam ser de sangue.

- Nossa, o que será que aconteceu à essas pessoas? - Pensou a menina em voz alta.

 Rena estava com o olhar perdido, olhando para o horizonte. Como sempre, a vista não era bonita, mas dessa vez, ela olhava mas nada via.

Toeto preocupou-se com a garotinha. Há muito tempo ele não a via daquele jeito. Ele queria muito alegrar a menina. Ele sentou-se à sua frente, fazendo o chão tremer. Ele olhava para ela com  uma expressão amistosa, tentando faze-la sorrir.

A menina estava preocupada, mas mesmo assim sorriu para Toeto.

- Não se preocupe Toeto. Vamos encontrá-los e eles vão nos ajudar a ir embora daqui...

Suas palavras sairam sem força. Ela estava dizendo aquilo para tentar tranquilizar sua mente, mas na verdade ela não tinha certeza daquilo que dissera. Ela já estava ali a dias, mas não havia nenhum sinal de vida. Talvez aquele pedido de socorro estivesse naquele gramado ha muitos dias. Ou meses.

 Rena pensou que não deveria perder as esperanças e não deixaria que Toeto ficasse preocupado com ela. Ela aproximou-se dele e tocou sua enorme mão.

- Vai ficar tudo bem. Só precisamos continuar a andar. Não podemos deixar que o cansaço nos abale, nem que o medo nos consuma. Se não desistirmos, tudo dará certo!

O gigante olhava para a garota sem entender uma só palavra. Mas ele sorriu mesmo assim. Conseguia sentir a determinação no coração daquele pequeno ser. Ele não iria permitir que o medo o dominasse novamente. Se aquela pequena garotinha podia fazer isso, ele também conseguiria.

E com essa determinação preenchendo seus corações, eles continuaram a caminhar, sempre na mesma direção. Caminharam seguindo o sol.

Rena concentrava seus pensamentos em como iria encontrar aquelas pessoas e se elas conseguiriam ajudá-los. Talvez essas pessoas não tivessem nem como se ajudar. Mas ela decidiu afastar todos os pensamentos ruins nesse momento. Rena, então, resolveu tocar um pouco o seu violino. Assim talvez ela alegrasse o seu grande amigo. Talvez se alegrasse um pouco também.

Teoeto adorava ouvir a menina tocando seu violino. Era o momento que lhe trazia mais alegria. Ele se lembrava da sua própria casa, de sua família. O pobre gigante não tinha a menor idéia se voltaria a revê-los, mas não podia perder a esperança. Não agora, com aquela garotinha tão forte e determinada o guiando. Em seu coração havia naquele momento uma nova resolução: ele não desistiria, não deixaria que seu medo ou suas dúvidas o dominassem novamente. Ele seguiria aquela menina até conseguir encontrar o seu caminho se volta.

Rena terminou a sua canção. Guardou cuidadosamente o instrumento em seu estojo. Ainda pensava em como ela aprendera a tocá-lo com tanta perfeição, já que nunca tocara nenhum instrumento musical em sua vida.

A fim da tarde já chegara, trazendo um tom alaranjado para a paisagem. Rena já começava a olhar em volta à procura de um local que servisse de abrigo para aquela noite. Ela avistou um grande galpão, parecia com um hangar.

- Perfeito! Toeto, já temos onde dormir essa noite! - Disse a menina animada, apontando para o galpão.

O gigante sorriu por ver a animação da menina. Ele quase conseguia entende-la. Ela era muito transparente com seus sentimentos, e isso ele compreendia perfeitamente. Quando rena sorria, certamente estava feliz. E quando sua expressão mudava, sua face parecia tensa e seus olhos brilhavam certamente ela estaria preocupada. Diferente dele, que não conseguia expressar-se dessa forma. Seu rosto não era tão exato em demonstrar suas emoções. Ele gostaria de poder se comunicar melhor com a garota, de fazê-la perceber que ele confiava nela. Ele a olhava se afastando dele, caminhando em direção do galpão. Notou que ela caminhava prestando muita atenção ao chão. Ele notou que ela não pisava nas flores. Ele olhou para o seu próprio pé, entristecendo-se pelo fato do seu pé ser muito grande. Em quantas flores ele deve ter pisado? Ele decidiu que plantaria muitas flores, assim que os dois encontrassem o que estivesse procurando. Ele faria um belo jardim e daria à garotinha, para compensar as flores que ele havia pisado sem querer.

O galpão ficava bem próximo à uma grande colina. Rena decidiu ir até o pé da colina para ver se haveria como descer por aquele caminho, ou se deveriam fazer a volta, no dia seguinte. Quando ela chegou próximo à beirada da colina, seu coração congelou com a vista. Distante, era possível ver alguns pontos iluminados, como se houvesse uma cidade. Quase era possível ver algum movimento. Seria mesmo uma cidade? Haveria pessoas lá?

- Toeto! Venha ver! - Gritou a menina, gesticulando freneticamente para o gigante.

O colosso estava perdido em seus próprios pensamentos quando ouviu o grito da menina. Ele caminhou em sua direção. Quando ele chegou próximo a ela, olhou para frente e viu as luzes. Ele pensou exatamente a mesma coisa que Rena. Deveria haver mais vida naquele lugar. Estava longe, mas já estava à vista.

- Vamos chegar lá amanhã, Toeto. Com certeza!

Seu coração batia rápido. Será que ela finalmente iria poder voltar para casa? E será que ela conseguiria ajudar Toeto a voltar para sua casa também? Não poderiam continuar a caminhar naquele momento, já que a noite já caíra. Eles continuariam a jornada no dia seguinte. Mas estava ansiosa, cheia de esperança.

Então ela olhou para o seu amigo, e por um momento, ela conseguiu entender o que ele estava sentindo, naquele momento: esperança.